Lucas 15 — Comentário Evangélico

Comentário Evangélico de Lucas 15




Lucas 15

Esse capítulo apresenta parábolas que Jesus usou como resposta às crí­ticas dos escribas e dos fariseus por ter recebido e até compartilhado uma refeição com pecadores. Esses “pecadores” eram judeus que por não obedecerem à Lei ou às tradi­ções dos anciãos eram “proscritos” de Israel. Jesus já deixara claro que viera para salvar os pecadores, não pessoas legalistas como os escribas e os fariseus (5:27-32; 14:21-24). Jesus via quem esses “pecadores” eram de verdade: ovelhas perdi­das que precisavam de um Pastor, moedas perdidas que tinham valor e precisavam ser postas em circula­ção, filhos perdidos que precisavam ter comunhão com o Pai.

I. Busca (15:1-10)

O pastor é responsável pelas ove­lhas, e ele deve ser responsabili­zado se alguma delas se perder ou morrer. As ovelhas perdem-se por causa de sua estupidez e tolice, pois perambulam e não vêem o pe­rigo que correm. Jesus “veio buscar e salvar o perdido” (19:10). Note a ênfase na alegria: o pastor sente júbilo, os vizinhos se alegram, e o céu jubila-se.

O colar de dez moedas era uma faixa de cabeça que as mu­lheres usavam a fim de mostrar que eram casadas. A perda de uma das moedas estragava o co­lar, além de ser motivo de vergo­nha e embaraço para a mulher. Os pecadores, como a moeda, têm a estampa da imagem de Deus e são valiosos (20:24-25), todavia estão perdidos e “fora de circulação”. Os pecadores podem ser úteis e servir ao Senhor de novo quando são encontrados. Mais uma vez, a família regozija-se com a recupe­ração do perdido.

II. Espera e boas-vindas (15:11-24)

É importante o fato de o pai ficar em casa à espera da volta do filho, em vez de sair à sua procura. O pai cor­re ao encontro do filho, quando este retorna. Alguns pecadores, como a ovelha perdida, desviam-se por causa de sua tolice, e outros, como as moedas, perdem-se em consequência do descuido alheio. Toda­via, o pai tem de esperar até que o filho fique alquebrado e se torne submisso, pois ele se perdeu por causa de sua própria obstinação.

O filho reivindicara herança an­tes do tempo é o mesmo que desejar a morte do pai. Isso deve ter partido o coração do pai, mas ele deu ao filho a parte que lhe cabia em seus bens! Da mesma forma. Deus repar­tiu suas riquezas com um mundo de pecadores perdidos, e eles têm-nas desperdiçado (Atos 14:15-17; 17:24-28. O filho readquiriu o bom senso não por causa da má qualidade de sua vida, mas pela bondade do pai (v. 17; Rm 2:4).

No Oriente, era incomum uma pessoa idosa correr, todavia o pai corre impelido pela compaixão que sente pelo rapaz. Além disso, o ra­paz poderia ser apedrejado, pois trouxe desgraça para sua família e sua vila (Dt 21:18-21). Assim, eles atingiriam o pai se jogassem alguma pedra! A melhor roupa era a de festa do pai, a mais cara; as sandálias in­dicavam que o filho não era um ser­vo (apesar de seu pedido); e o anel provava sua filiação. Mais uma vez, há alegria na volta do perdido!

III. Conciliação (15:25-32)

Nessa parábola, o filho mais velho é a chave da história, apesar de ser a pessoa esquecida. Ele representa os escribas e fariseus, os líderes re­ligiosos, já que o filho pródigo sim­boliza os “publicanos e pecadores”. Há pecados tanto do espírito como da carne (2 Co 7:1). Os líderes reli­giosos podem não ser culpados dos pecados grosseiros cometidos pelo irmão mais moço, mas mesmo as­sim eram culpados, pois tinham um espírito crítico, desamoroso, orgu­lhoso e relutante em perdoar, mes­mo que não tenham feito tudo que o filho mais moço fez.

A propriedade pertencia ao fi­lho mais velho, pois o mais moço já recebera sua parte na herança, e o pai administrava-a e ficava com os lucros. O filho mais velho não quer que o irmão volte para casa, e não foi ao seu encontro, pois, se o mais moço voltasse, isso traria ainda mais confusão para a herança.

Agora, descobrimos que o fi­lho mais velho tem um “desejo se­creto”, o sonho de dar uma grande festa para os amigos. Ele sente raiva do irmão por ter voltado, e do pai por dar as boas-vindas ao irmão e perdoá-lo. Ele, como os escribas e os fariseus, não participa da alegria e da confraternização dos que são perdoados.

O filho mais velho humilha o pai e o irmão ao ficar fora da casa. O pai prefere sair e conciliar-se com ele, em vez de ordenar que entre. Jesus fez isso com os líderes judeus, mas eles não se deixaram persuadir. Eles pensavam que estavam salvos por causa de sua conduta exemplar, no entanto não comungavam com o Pai e precisavam se arrepender e pedir perdão.