Estudo sobre Isaías 8

Isaías 8

Conforto e advertência (8.1-10) 
v. 1-4. A ação simbólica de Isaías aqui descrita brevemente tinha a intenção de reforçar o aspecto confortante da mensagem do cap. 7, a saber, a completa derrota das duas pequenas nações que no momento estavam atacando Judá. O nome do seu segundo filho, dado no nascimento, foi Maher-Shalal-Hash-Baz, significando “rapidamente até os despojos, agilmente até a pilhagem” (nota de rodapé da NVI), e simbolizando a rapidez com que Damasco e Israel iriam cair diante dos assírios (cf. 7.16). Para acrescentar significado ao nome simbólico, Isaías elaborou uma escritura normal de propriedade no nome de Maher-Shalal-Hash-Baz e fez que fosse atestada publicamente, para simbolizar a transferência da riqueza de Damasco e dos bens de Samaria ao rei da Assíria (Tiglate-Pileser III).

v. 5-10. Assim como no cap. 6, também nesse texto, que começa com uma nota de advertência e termina com um forte tom de esperança, encontramos temas de promessa e ameaça entrelaçados. Não está bem claro em que ponto ocorre a mudança de tom (v. comentários, NEB), mas a versão da NVI pode ser seguida com certo grau de certeza.

O oráculo (v. 5-8) deve ter seguido a decisão final do rei Acaz para chamar a ajuda militar dos assírios contra Rezim e Peca; isso era como pegar uma marreta para quebrar uma noz, diz o oráculo, contrastando a provisão de água relativamente pequena de Jerusalém com o poderoso Eufrates. v. 6. as águas de Siloé: gr. “Siloam”; aqui simbolizando a provisão e proteção de Deus para o seu povo — desprezadas e rejeitadas pelo povo. (O túnel de Siloé só foi construído uma geração depois desses fatos.) As forças assírias, convidadas para a Palestina por Acaz, não respeitariam divisas, mas “inundariam” Judá também. Judá é descrito como tua terra, ó Emanuel, i.e., a terra em que tantas jovens mães estavam jubilando com a certeza de que Deus estava com elas (v. a discussão de 7.14).

O oráculo terminava aqui com uma observação apavorante; mas para o leitor foi inserido um breve hino (v. 9,10) nesse ponto, retomando o tema da presença de Deus. O hino é muito semelhante ao salmo 46; pode ter sido escrito por Isaías numa época posterior do seu ministério, ou ele pode ter citado o cântico de um salmo muito conhecido dos seus dias. Provê conforto sempre que inimigos humanos ameaçam derrotar o povo de Deus; a longo prazo, nenhum império ímpio pode prevalecer. E o tipo de hino que deve ter sido usado na cerimônia de coroação de Acaz (v. comentário de SL 2); mas o rei tinha perdido a confiança no Deus que ri das maquinações de povos ímpios e ateus.

A escuridão invade... (8.11-22)
Ao concluir o seu mandamento (v. 16), Isaías primeiramente dá uma explanação da sua atitude na presente crise política (v. 11-15). Deus tinha falado a ele diretamente, advertindo-o a que evitasse os temores e as fantasias predominantes entre o povo em geral. O texto é um tanto obscuro, provavelmente porque já não sabemos com certeza que rumores (conspiração, v. 12) estavam circulando em Jerusalém. (Algumas versões [cf. NTLH e NEB, esta em inglês] fazem mais sentido, mas são especulativas demais.) Para Isaías e pessoas de opinião semelhante (os imperativos nos v. 12,13 estão no plural), que de fato temiam a Deus e o adoravam em verdade, a presença de Deus se tornaria um templo e uma rocha de proteção; para o restante da nação, de norte a sul, o simples fato da presença de Deus traria o castigo, ao serem capturados (v. 15) pelos assírios. Essa dicotomia de atitudes não cessou nos dias de Isaías; v. o tratamento que o NT dá aos v. 14, 15 em Rm 9.32,33 e IPe 2.8. O profeta em seguida dá orientações para que se sele o seu ensino (lei, v. 16); ele não vai mais pregar a ouvidos surdos, mas vai deixar o mandamento (“testemunho”, ARA) em um livro, consistindo provavelmente nos caps. 6ss e talvez alguns oráculos anteriores, para provar a verdade das suas advertências e da palavra de Deus quando os eventos históricos se realizarem. Além disso, ele e seus dois filhos, com seus nomes simbólicos, seriam lembretes vivos em Jerusalém de que Deus tinha falado (v. 18). Muitas pessoas iriam buscar ajuda em rituais supersticiosos (práticas já condenadas havia muito tempo; cf. Lv 19.31), contra os quais o profeta expressa a sua indignação: todos recorrem a seus deuses e aos mortos em favor dos vivos. Mas os discípulos de Isaías (cf. v. 16) devem se voltar para os seus ensinos escritos (lei, NVI), pois ninguém que consultasse os médiuns ou feiticeiros receberia luz ou orientação alguma (v. 20). (Acerca de outras formas de interpretação do v. 19, v. comentários mais extensos e outras versões.) Longe de receber luz, grande parte do povo se envolveria na crescente e temível escuridão das condições apavorantes causadas pelos assírios (v. 21,22). Observação: o v. 18 é citado em Hb 2.13 e aplicado a Cristo; a discussão que G. F. Hawthorne faz do texto deve ser consultada neste comentário (p. 1.510).