Estudo sobre Isaías 3

Isaías 3

A derrocada da sociedade (3.1—4.1) 
v. 1-15. O tema da liderança une três oráculos distintos, v. 1-9, v. 10,11 e v. 12-15. Os líderes contemporâneos de Jerusalém são repreendidos, e a nação é advertida de que o pior está por vir; até mesmo governantes opressores são melhores do que a anarquia sem liderança que Judá vai enfrentar.

v. 1-9. Esse oráculo talvez tenha sido dirigido à corte, mas é digno de nota que não se diz nada acerca do rei. Isaías prevê o dia em que a terra ficará órfa de homens de experiência e conhecimento, no estado geral de fome que vai vigorar. O vívido retrato sugere a situação que seguiria a invasão e a deportação. O exército assírio geralmente deixava um rastro de grande devastação atrás de Sl; os assírios deportavam os cidadãos e administradores principais dos Estados que consideravam rebeldes, embora com frequência deixassem um rei nativo para governar a sua terra arruinada. Em tal situação, diz o profeta, os cidadãos vão estar desesperados para que alguém assuma a liderança, e vão escolher o sujeito mais relutante com o mínimo desejo de ser promovido (v. 6,7). Possivelmente o manto era uma marca de distinção muito insignificante; ou talvez fosse uma veste muito pobre, mas melhor do que nada. O v. 7a é difícil, mas provavelmente o sentido é: “Não sou eu quem vai remediar [a situação]”. Cf. CNBB: “Não sou eu quem vai curar isso!”.

O oráculo termina (v. 8,9) com a condenação de toda a presente administração; mais uma vez, se faz a comparação com Sodoma (cf. 1.10). Os líderes são evidentemente descarados nos seus pecados; o simples “olhar para as suas faces” já os revela. Não podemos deixar de observar que entre os líderes de confiança estavam o conhecedor de magia e o perito em maldições (v. 3), que eram evidentemente preferidos aos sacerdotes como fonte de conduta e orientação.

v. 10, 11. Esses dois versículos são de aplicação completamente geral, similares a muitos textos de Provérbios; cf. também o salmo 1. O profeta adota aqui o papel de mestre, encorajando e admoestando os seus ouvintes. No contexto, entretanto, talvez esteja se dirigindo aos líderes nacionais, levando uma palavra de encorajamento aos que entre eles temem a Deus.

v. 12,15. O v. 12 tenta tornar explícita a presente situação difícil do cidadão comum; mas há problemas de texto e de língua hebraica. O significado é ou que a administração é fraca e conduzida por mulheres (assim a NVI), ou então que “agiotas” e usurários estão dominando o cenário (assim a NEB). De todo modo, a conclusão do profeta é: Meu povo, os seus guias o enganam.

O breve oráculo que segue (v. 13ss) é um clímax eficaz; Isaías emprega a linguagem da adoração, que relembrava a todos — talvez na grande festa a cada ano novo — que Deus se levantaria para julgar as nações (no hebraico, a palavra traduzida por povos está no plural), e a LXX traz “o seu povo”. 0 Senhor toma o seu lugar no tribunal como juiz; mas dessa vez o veredicto judicial é pronunciado contra o seu povo, ou melhor, contra as autoridades e os líderes, cuja avidez causou tanta aflição para os necessitados. (Precisamos tomar cuidado para que a familiaridade com a fraseologia não embace o nosso entendimento da acusação final do v. 15.) A menção da vinha (v. 14) provavelmente ocorreu para mostrar que proprietários de terras sofreram, como também as classes mais pobres; por outro lado, pode ser uma metáfora que representa a nação toda, como em 5.1-7.

3.16—4.1. Esse oráculo, que parece refletir um período de paz e prosperidade no início da carreira de Isaías, é uma continuação adequada da condenação dos líderes (homens) da sociedade mencionados anteriormente no cap. 3; o profeta agora aponta um dedo acusador contra o luxo e o orgulho das mulheres da alta sociedade. Ele interrompe o poema para dar um catálogo, em prosa, de alguns dos preciosos e caros enfeites (v. 18-23). Não foi tanto a ostentação que ofendeu esse profeta do século VIII, mas o fato de que o dinheiro que pagou esse luxo havia sido extorquido dos pobres; cf. Am 4.1. Isaías prediz que a ostentação pública vai ser substituída pela humilhação pública; a última frase do v. 17 significa ou nudez (“desnudará”, BJ) ou então uma marca na testa (cf. NEB).

O profeta em seguida volta sua atenção das mulheres da elite para a cidade de Jerusalém como um todo (v. 26). Tantos homens vão morrer no combate (v. 25) que as mulheres vão ficar desesperadas em busca da posição mais baixa na sociedade (4.1) — exatamente o oposto da sua elevada posição presente, junto com os símbolos da ostentação do seu status.