Estudo sobre Isaías 29
Isaías 29
Os assírios e Jerusalém (29.1-12)
Essa seção combina três ou
talvez quatro mensagens separadas dirigidas ao povo de Jerusalém: os v. 1-4,
5-8 e 9-12, dos quais os v. 11,12 estão em prosa e
provavelmente funcionem como uma nota de rodapé. A melhor forma de
compreender os dois primeiros oráculos é que tenham sido pronunciados
em festas sagradas.
Os v. 1-4 anunciam desgraça
para Jerusalém e transmitem uma advertência do cerco imposto à cidade por
Senaqueribe em 701 a.C., considerado castigo de Deus sobre o
seu povo. Jerusalém é descrita como a cidade onde acampou Davi,
depois de tomá-la dos jebu-seus, para contrastar com a situação presente, quando
o exército do castigo de Deus vai acampar ao redor da mesma cidade. Ela
também é chamada pelo nome misterioso de Ariel (mais um dos títulos
enigmáticos de Isaías; cf. 21.1), um termo hebraico que parece
ter tido ao menos dois significados diferentes, sendo um deles uma fornalha
de altar (v. 2), que parece caber bem no contexto aqui. Em outras
palavras, Jerusalém era conhecida por seus fogos e sacrifícios no altar;
durante o cerco imposto por Senaqueribe, o fogo e o derramamento de sangue
de outro tipo iriam caracterizar a cidade!
Os v. 5-8 retomam o tema do
primeiro oráculo, mas agora oferecem esperança e salvação: em linguagem mais
prosaica, as forças de Senaqueribe não serão bem-sucedidas no final, visto
que Deus vai se opor a elas, e o exército assírio vai desvanecer-se como
um sonho\ v. 37.36,37 acerca do cumprimento dessa promessa. A
promessa é colocada no contexto da vitória final de Deus contra todos
os exércitos gentios, que muitos estudiosos crêem ter sido um tema importante
das cerimônias regulares de ano novo no templo de Jerusalém (v.
comentário de SL 2). Jerusalém tinha trazido um enorme problema sobre Sl; mas
Deus nunca permitiria que ela fosse eliminada, e nos dias de Isaías ele
nem permitiria que ela caísse cativa da Assíria.
Os v. 9,10, dirigidos aos
falsos profetas que estavam cegos para a realidade, devem vir de um
período ligeiramente anterior ao ministério de Isaías, talvez do tempo em
que Ezequias estava iniciando o seu plano de revolta contra a Assíria,
encorajado por conselheiros ineptos e profetas enganados. Os v. 11,12 são
um acréscimo profundamente sarcástico ao oráculo dos v. 9,10. Sem dúvida,
esses profetas ainda estavam recebendo visões, mas tudo era um rolo lacrado;
e, pior, as suas “revelações” não revelavam coisa alguma aos que lhes
davam ouvidos. (Não se tem em mente aqui literalmente um “rolo”.) Em lRs
22.5-23, temos a descrição mais detalhada do AT das atividades de falsos
profetas.
e) A certeza dos planos de Deus (29.13-24)
Esse texto também é
composto de diversos oráculos breves, originariamente não conectados. A
expressão pelo avesso (v. 16) nos apresenta algo como um tema
unificador, pois lemos do comportamento humano perverso, por um lado, e da
transformação realizada pelo Senhor, por outro.
O primeiro oráculo (v.
13,14) lembra o tema de 1.10-15, a saber, a perversidade da adoração
hipócrita; como castigo, Deus vai transformar a sabedoria humana em tolice
e vai trazer desgraça sobre desgraça contra Jerusalém (o v. 14 deve
significar surpresas desagradáveis, e não milagres de salvação; v. BJ). O
contexto histórico é o período imediatamente anterior à revolta de
Ezequias, quando os políticos mais confiáveis de Judá foram
conduzidos à loucura de conspirarem contra a Assíria junto com o Egito. O
oráculo seguinte (v. 15,16) é uma alusão a essas intrigas secretas com o
Egito, que foram realizadas sem o conhecimento de Isaías; ele interpreta
isso como esconder seus planos do Senhor. Essa loucura é
equivalente a acusar o Criador de falta de sabedoria e compreensão. O v.
17 prenuncia uma transformação, mas não se tem certeza se isso deve
significar a desolação ou o contrário, a fertilidade miraculosa;
provavelmente devemos interpretar o versículo em conjunto com o que o
precede e entendê-lo como a iminente e destruidora invasão da
Palestina realizada pelos assírios, via Líbano.
Os v. 18-21 mudam o tom de
juízo para esperança, olhando além dos ataques assírios e enxergando um
futuro melhor, quando Deus vai reverter o presente quadro. Os
oprimidos se alegrarão, enquanto os opressores serão removidos de
cena. Embora a promessa seja geral, a advertência implícita no v. 21 se
aplicava com intensidade especial aos juízes injustos de Judá (cf.
1.16,17,21ss).
E difícil encontrar o exato
pano de fundo histórico dos v. 22ss. Esse oráculo também promete
transformação, dessa vez para Israel, e não para Judá; o v. 23 talvez seja
uma alusão à deportação do Reino do Norte realizada pela Assíria após a
queda de Samaria. O v. 24 indica claramente que Isaías estava muito
insatisfeito com as atitudes da Samaria dos seus dias.
Não está claro por
que Abraão (v. 22) é mencionado, nem o que significa a sua redenção.
Pode ser uma referência ao fato de que Deus o tinha trazido da distante
Mesopotâmia para Canaã; isso teria significado e relevância especial se de
fato o v. 23 alude às deportações assírias de cidadãos de Israel da
Palestina para diversos lugares da Mesopotâmia. (No AT, essa palavra hebraica
traduzida por “redimir”, pãdãh, normalmente significa resgatar, com
frequência por um preço; o paralelo mais próximo desse texto é lRs
1.29.)Índice: Isaías 1 Isaías 2 Isaías 3 Isaías 4 Isaías 5 Isaías 6 Isaías 7 Isaías 8 Isaías 9 Isaías 10 Isaías 11 Isaías 12 Isaías 13 Isaías 14 Isaías 15 Isaías 16 Isaías 17 Isaías 18 Isaías 19 Isaías 20 Isaías 21 Isaías 22 Isaías 23 Isaías 24 Isaías 25 Isaías 26 Isaías 27 Isaías 28 Isaías 29 Isaías 30 Isaías 31 Isaías 32 Isaías 33 Isaías 34 Isaías 35 Isaías 36 Isaías 37 Isaías 38 Isaías 39 Isaías 40 Isaías 41 Isaías 42 Isaías 43 Isaías 44 Isaías 45 Isaías 46 Isaías 47 Isaías 48 Isaías 49 Isaías 50 Isaías 51 Isaías 52 Isaías 53 Isaías 54 Isaías 55 Isaías 56 Isaías 57 Isaías 58 Isaías 59 Isaías 60 Isaías 61 Isaías 62 Isaías 63 Isaías 64 Isaías 65 Isaías 66