Estudo sobre Isaías 13

Isaías 13

II. ORÁCULOS SOBRE NAÇÕES ESTRANGEIRAS (13.1—27.13)
E interessante especular acerca da medida em que povos e nações estrangeiros estavam conscientes dos oráculos proferidos a seu respeito pelos profetas de Israel e Judá. Pode bem ser que a intenção principal desses oráculos transmitida por meio de instruções, advertências e palavras de esperança fosse direcionada ao próprio povo de Deus.

Quando combinados nesses capítulos, no entanto, os oráculos proféticos apresentam uma visão abrangente do governo universal de Deus. Os caps. 1—12 falaram do futuro de Jerusalém e de Judá; os caps. 13—27 revelam algo dos propósitos mais amplos de Deus.

A palavra de Deus para as nações (13.1—23.18)
Embora os propósitos precisos dos oráculos individuais nessa seção difiram um pouco, juntos apresentam duas lições específicas: a opressão estrangeira vai cessar, e os aliados estrangeiros (em potencial) vão fracassar. Há, portanto, uma mensagem de esperança para o povo de Deus quando oprimido por potências estrangeiras, e uma mensagem de advertência de que a sua confiança deveria ser depositada somente em Deus, e não em intrigas e alianças políticas. Assim, o conselho do profeta a Acaz (cap. 7) é na verdade reforçado em um contexto mais amplo.

O oráculo acerca da Babilônia (13.1 —14.27)
Esse é o mais longo oráculo entre os dirigidos a nações estrangeiras. Essa profecia pode ser dividida nas seguintes partes: (1) 13.1, título; (2) 13.2-16, a queda de todos os impérios; (3) 13.17-22, a queda da Babilônia; (4) 14.1,2, a salvação de Israel; (5) 14.3-21, o escárnio de Israel contra o rei da Babilônia; (6) 14.22-27, o destino da Babilônia e da Assíria. É muito provável que a maioria dos oráculos dessa seção fossem oráculos independentes, dirigidos a situações diferentes na carreira do profeta. As seções (1) e (5) (que agora fornecem a estrutura literária do restante) podem ter sido anunciadas em qualquer época da vida de Isaías; a Assíria era terrivelmente forte no início do seu ministério e um império todo-poderoso no final dele. O propósito principal desses dois oráculos era dar conforto e segurança ao povo da Judeia. A seção (2) contrasta a arrogância da Babilônia com o destino reservado para ela; esse oráculo pode bem ter servido como uma advertência para Ezequias evitar qualquer aliança com a Babilônia, cujo rei, Merodaque-Baladã (v. 39.1), tentou envolver Judá numa revolta malsucedida contra os assírios em 705 a.G.

O cântico de escárnio (14.4b-22) em certa época era um oráculo falado independente, e dá vazão à raiva contra o monarca babilônico, o que teria sido inadequado para Merodaque-Baladã (que, além disso, não era um rei que abalava os reinos, 14.16). A maioria dos comentaristas associa esse texto com uma época posterior, quando os reis da Babilônia já tinham substituído os assírios como governantes de todo o Oriente Médio; por isso, muitos eruditos atribuíram o escárnio a um autor do século VI e negaram que pudesse ser da mão de Isaías, enquanto comentaristas evangélicos em geral tratam o texto como uma predição a longo prazo.

Ainda outros comentaristas pensam que o escárnio é dirigido ao rei da Assíria, e não da Babilônia; aliás, como destaca Erlandsson, o rei da Assíria teve o título adicional de “rei da Babilônia” durante a maior parte da carreira de Isaías. De todo modo, é de se duvidar que o texto esteja se ocupando com um rei específico; é o governante geral do mundo que é o objeto desse escárnio profético. Provavelmente, então, o escárnio foi mais um dos oráculos de Isaías que tinham o objetivo de dar conforto às pessoas dos seus dias e das gerações posteriores que estavam sofrendo debaixo das crueldades e da arrogância dos imperadores mesopotâmicos.

A seção (3) faz parte da prosa que introduz o cântico de escárnio; esses versículos (l-4a) provavelmente nunca foram um oráculo falado, mas foram escritos para dar um novo contexto ao escárnio.

A profecia como um todo (13.2—14.27) pode ser agora considerada brevemente; nesse contexto mais amplo, o nome “Babilônia” provavelmente já é simbólico, como no NT (cf. Ap 18), a respeito do imperador mundial ímpio de qualquer época. A derrocada final de todos os orgulhosos impérios dos homens é o ensino desse texto como um todo; uma vez que Deus deu a salvação final ao seu povo, ele nunca mais vai ficar à mercê dos caprichos arrogantes de qualquer governante humano.

(1) 13.1. A seção contra a Babilônia é descrita como um “oráculo” em algumas versões (BJ; ou “sentença”, ARA) e Advertência na NVI; a palavra hebraica é massã’, que em outros contextos pode significar “peso” (assim na ARG). O oráculo veio ao profeta por meio de uma visão.

(2) 13.2-16. O próprio Deus é quem fala, colocando a queda iminente da Babilônia no contexto do seu juízo final sobre as nações gentílicas, o dia do Senhor (v. 6). O quadro geral é semelhante ao de J1 2 (q.v.); acerca do conceito do “dia de Javé”, v. comentários de Am 5.18ss. Aqui vemos Deus, à frente do seu próprio exército, convocando as nações à batalha; os guerreiros de Deus não são definidos, mas são simplesmente caracterizados como meus santos [...] meus guerreiros (v. 2; ”meus santos guerreiros”, BJ). A revista das tropas (v. 2-5) é seguida da descrição de terror a ser sentido pelas nações (v. 6ss). Aí finalmente o dia da batalha chega, um desastre de proporções não somente mundiais mas cósmicas (cf. v. 10,13). Em toda descrição fulgurante e terrível nesse texto, não há referência explícita à Babilônia, a não ser que a frase portas dos nobres (v. 2) seja um trocadilho com o nome Babilônia, que na língua dos babilônios significava “porta dos deuses”. O v. 11 deixa claro que os inimigos de Deus são os ímpios e arrogantes, uma descrição muito apropriada da Babilônia no seu apogeu, mas também igualmente aplicável a qualquer sucessão de impérios orgulhosos da terra.

(3) 13.17-22. Agora o oráculo é dirigido à Babilônia especificamente; o primeiro nome próprio mencionado é o dos medos (v. 17), que exerceram um papel cada vez mais importante na política do Oriente Médio a partir do tempo de Isaías, e que em conjunto com os persas provocaram a queda do Império Babilônico em 539 a.C.

Os caldeus (v. 19, nota de rodapé na NVI) eram um povo que tinha conquistado posição de liderança dentro da Babilônia na época de Isaías; Merodaque-Baladã (cf. 39.1) e Nabucodonosor eram ambos caldeus. Foi sob Nabucodonosor (605—562 a.C.) que a Babilônia alcançou o auge do poder, pompa e esplendor, mas o seu império caiu somente uma geração após a sua morte. A cidade da Babilônia sobreviveu até próximo do tempo de Cristo, quando se tornou o sítio abandonado descrito nos v. 20ss. O primeiro estágio do cumprimento do oráculo talvez possa ser observado no ataque assírio devastador contra a Babilônia em 689 a.C. (cf. Er-landsson); talvez o próprio Isaías tenha vivido para testemunhar esse evento (observe a afirmação: O tempo dela está terminando, v. 22). E em virtude da arrogância da Babilônia que a cidade é condenada (v. 19). O seu destino é ficar totalmente abandonada, não sendo repovoada nem mesmo por nômades (v. 20), e deixada como antro de animais selvagens.