Estudo sobre Rute 3
Rute 3
III. RUTE REIVINDICA A
PROTEÇÃO DO PARENTE PRÓXIMO (3.1-18)
v. 1. Noemi, falando de forma característica com uma
pergunta retórica, levanta a questão de procurar um lar seguro (“encontrar
descanso”, nota de rodapé, NVI); heb. mãnôah (v. 1.9 acerca da
palavra quase idêntica nfnuhãh). Não é simplesmente um lar.
É o fim das incertezas
associadas à vida de uma jovem mulher solteira ou viúva naquela sociedade
e um relacionamento com um marido que possibilite o nascimento de filhos,
a realização pessoal e a segurança financeira, v. 2. O sentido da sua
segunda pergunta retórica está relacionado à função do gõ ’êl, “parente
próximo”. A raiz verbal significa “servir como parente próximo” cuja
responsabilidade era restaurar à propriedade familiar aquilo que
havia sido desapossado, zelar pelos direitos familiares e vingar qualquer
injustiça. O termo era bem comum na lei civil. Daí significava “resgatar”
ou “comprar de volta”, ”vingar”, “defender”. Javé mantinha o direito de
posse sobre a terra (Lv 25.23); por isso não era possível comprar
propriedades livres. Os israelitas receberam o uso e os produtos da terra
por sorteio e por herança. Em épocas difíceis, o direito de
arrendamento podia ser vendido, mas era tarefa legal do parente próximo
resgatar a propriedade ao comprá-la e reavê-la para os seus proprietários
originais ou seus descendentes. Se isso não fosse feito, a propriedade era
devolvida sem compensação no ano do jubileu seguinte (v. Lv 25.10,13-16,24-28).
Era tarefa do gõ ’êl casar com a viúva do seu irmão, se
ele tivesse morrido sem deixar filhos, para que o nome do seu irmão
(ou do seu parente) não fosse eliminado de Israel. Embora essas
duas instituições não estivessem ligadas à Lei mosaica, elas combinavam
com naturalidade, e, de acordo com 4.5, era então prática tradicional
exigir que o gõ’êl que resgatasse a propriedade também casasse com a viúva
(ou com a herdeira da viúva, como é o caso aqui) para que a família não
se extinguisse mas continuasse com a posse daquela propriedade, v.
2b-4. Noemi afirma que Boaz estaria na eira naquela noite e
instruiu Rute a se tornar bem apresentável e colocar-se diante
dele na hora correta e de forma apropriada, v. 5. Rute
concordou em fazer isso.
2) Rute na eira
(3.6-13) v. 6,7. Depois de
esperar que Boaz tivesse terminado a sua refeição e tivesse deitado perto do monte
de grãos, Rute veio silenciosamente e deitou-se aos pés
dele. v. 8,9. No meio da noite, Boaz percebeu a presença dela
e perguntou: Quem é você? Rute contou-lhe e, usando o
eufemismo Estenda a sua capa sobre a sua serva, pediu-lhe que
casasse com ela, acrescentando ainda: pois o senhor é o resgata-dor.
A palavra traduzida por sua capa pode ser traduzida também por “asas”
em 2.12, mas são figuras de linguagem diferentes, v. 10. Boaz invoca
sobre ela a bênção do Senhor e elogia a devoção dela dizendo, na
verdade, que a lealdade dela ao seu falecido marido ao casar com um gõ’êl
de meia-idade para perpetuar o nome e a herança dele, em vez de procurar
um marido entre os mais jovens (lit. ”mais desejável”), era evidência
maior de sua dedicação do que a demonstrada por ter voltado com
Noemi. v. 11. Ao se dirigir a ela mais uma vez com minha filha, ele
prometeu cumprir com as suas obrigações, acrescentando ainda: Todos os
meus concidadãos respeitam você, lit. “toda a porta do meu povo” (v. Gn
34.24; Dt 17.2), ou seja, todos sabem que você é mulher virtuosa,
v. 12. Boaz enfaticamente reconhece que ele é o resgatador (parente
próximo), mas diz que há um parente mais próximo do que eu. v. 13.
Ele pede a Rute que passe a noite ali e promete com juramento resgatar a
propriedade se o gõ’êl com o primeiro direito não quiser fazê-lo.
3) Rute volta para
Noemi (3.14-18) v. 14. Para salvaguardar a reputação deles, Rute saiu
antes que houvesse luz suficiente para ser reconhecida, v. 15. Boaz
despejou seis medidas de cevada no manto dela. A medida não é
especificada, mas, de acordo com o Targum, eram seis seás, um fardo de
aproximadamente 40 quilos, v. 16,17. Ao retornar para Noemi, Rute
contou-lhe o que aconteceu, acrescentando que Boaz tinha enviado a cevada
dizendo que não deveria voltar de mãos vazias para Noemi, que
certamente lembraria a sua própria queixa (1.21). v. 18. Noemi tinha
certeza de que Boaz trataria do assunto naquele dia e disse a Rute
que descansasse.