Estudo sobre Deuteronômio 21

Estudo sobre Deuteronômio 21

Estudo sobre Deuteronômio 21 



Deuteronômio 21

Homicídios não desvendados (21.1-9)
Trata-se certamente de um ritual muito antigo, mais próximo da magia do que qualquer outro ritual na Bíblia, mas elevado acima da magia por meio da liturgia do v. 8 e da aplicação do v. 9. v. 2. A comunidade que for ameaçada pelo sangue não expiado é identificada e aceita a responsabilidade, v. 3. A novilha, embora não seja sacrificada, é escolhida como se fosse a vítima para o sacrifício, v. 4. Será que a terra virgem (tetras nunca aradas') é escolhida para que, como o animal virgem, ela possa aceitar a profanação do derramamento de sangue? Ou para que o sangue, transferido para o solo, nunca seja perturbado pelo arado? Ou é vista como o deserto (cf. o bode expiatório em Lv 16.22)? De qualquer forma, a morte da novilha não é sacrificial (talvez apotropaica?), pois o seu pescoço é quebrado e não se realiza nenhum ritual com o sangue, v. 5. Os sacerdotes são provavelmente de um santuário local teofânico; dificilmente viriam de um santuário central, v. 6. Esse lavar das mãos é uma formalidade com significado menor que o de Pilatos; sente-se nitidamente a ameaça do sangue não expiado. v. 7,8. A purificação (propiciação) do v. 7 é transposta drasticamente, por meio do apelo no v. 8, para o relacionamento da aliança, v. 9b. Aliás, visto que Javé é quem estabeleceu o ritual, é ele quem revoga a culpa da comunidade. A culpa coletiva é um conceito estranho no mundo moderno, mas textos como esse desafiam o leitor a levá-la a sério.
Mulheres tomadas como prisioneiras (21.10-14)
Talvez seja importante que tanto aqui quanto nos v. 15-17 os direitos de um marido sejam delimitados. Mas o v. 10 coloca a lei no contexto da guerra santa (20.1), e a referência a uma mulher em 20.14, que se aplica a uma cidade distante, talvez explique por que 7.3 seja ignorado, v. 12. O significado dessas ações é desconhecido (mas cf. 34.8; Nm 20.29). v. 13. Após um período humanitário de luto e adaptação, a mulher alcança o status pleno de esposa, v. 14. Por consequência, ela não poderia ser reduzida à escravidão. Aqui há mais um exemplo do status mais elevado que Deuteronômio dá às mulheres.
Os direitos do filho mais velho (21.15-17)
Mais uma vez, o homem é proibido de agir com arbitrariedade. O costume antigo de favorecer o filho mais velho (Gn 27; 48.14) aqui passa a ser obrigatório. A ausência de qualquer referência à situação imaginada em Nm 27.1-11 é mais um lembrete de que Deuteronômio é pregação, e não promulgação de um código legal. Esses versículos são um bom exemplo de como ódio/amor sugerem preferência, e não reação emocional (Mt 6.24; Rm 9.13). v. 17. Cf. 2Rs 2.9.
Os filhos rebeldes (21.18-21)
Aqui também a autoridade do pai é limitada. Somente a comunidade pode tratar desse delito que ultrapassou a jurisdição da família. Contraste com Gn 28.24. Mas dessa forma a autoridade do pai é fortalecida, visto que a comunidade está dando apoio a ele. Será que essa lei está na base de Is 1.27? v. 19. Pai e mãe precisam concordar acerca da seriedade do caso. v. 20. Supostamente podem ser citadas ainda outras infrações, v. 21. Nesse caso, os acusadores não participavam da execução. Não há registro de que alguma vez esse procedimento tenha sido invocado. Mas cf. Mc 7.10, onde talvez haja uma referência.
A exposição de um cadáver (21.22,23)
Não é uma referência à crucificação, que não era um castigo hebreu, mas à exibição de um cadáver após a execução (Js 8.29; 10.26,27; 2Sm 4.12; 21.8,9). A associação de uma maldição com essa prática provavelmente se deve ao fato de que o destino do criminoso demonstra o juízo de Javé contra o pecado. Mas não é fácil entender por que essa prática, que demonstra que a terra foi purificada do mal, poderia contaminá-la. Talvez trata-se de uma testemunha do pecado do qual o transgressor era culpado. Não é difícil, no entanto, entender por que esse texto reverberou na mente de Paulo (G1 3.13).

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