Estudo sobre Lucas 21

Estudo sobre Lucas 21




Jesus observa a viúva pobre (21.1-4)

Cf. Mc 12.41-44. Jesus contrasta a espiritualidade falsa dos fariseus e escribas com a contribuição sacrificial da viúva que coloca duas pequeninas moedas na caixa de ofertas, enquanto os ricos fazem suas nobres doações. Mas não é a quantia dada que mostra a medida do sacrifício; é a quantia que o doador retém depois de dar. Essa .viúva não guardou nada para si. V. comentário de Mc 12.41-44.

O discurso apocalíptico (21.5-38)

Cf. Mc 13.1-37; Mt 24—25. Os Sinópticos introduzem um longo discurso entre a conclusão do ministério público de Jesus e os eventos das últimas horas. Esse discurso é, com frequência, chamado de “Pequeno Apocalipse” e tem sido o assunto de muitas discussões.

Em primeiro lugar, muitos que não tratam com muita estima a idéia da profecia preditiva afirmam que Jesus não estava predizendo eventos futuros, e que os trechos que afirmam que ele o fez são meras ideias da igreja primitiva acerca das últimas coisas, ou suas “profecias” ex post facto concernentes a incidentes como a queda de Jerusalém que já havia acontecido na época da composição dos escritos. Em resposta a essas críticas, pode-se dizer com segurança que já por muitos anos agora tem-se reconhecido de forma crescente o papel essencial que a apocalíptica e a escatologia tiveram no ensino de Jesus; ele de fato falou de coisas que ainda não tinham acontecido.

Outros aceitam esse fato, mas enxergam no discurso um sermão composto, constituído de ditos de Jesus cognatos ao tópico, alguns ou todos eles autênticos, mas proferidos em diferentes épocas e ocasiões durante o seu ministério.

Em terceiro lugar, o discurso mencionado em Mt 24.3 foi causado por duas perguntas dos discípulos: Quando seria a queda de Jerusalém? e: Qual seria o sinal da sua vinda e do fim do mundo? O resultado é que os dois eventos, o iminente e o remoto, estão em vista, e nem sempre é fácil distinguir entre eles no capítulo.

Em quarto lugar, temos a questão da relação dos relatos do discurso entre si. T. W. Manson (Sayings, p. 323) analisa a versão de Lucas e conclui que metade do seu conteúdo é extraído de Marcos, outro quinto definitivamente não provém de Marcos (i.e., vem da fonte do próprio Lucas), e o restante não pode ser atribuído com certeza a nenhum deles. Ele interpreta isso como resultando em duas possíveis opções: (a) que Lucas tinha o relato de Marcos à sua disposição e o reescreveu livremente (o que por diversas razões Manson considera improvável); (b) que o que nós temos é a fonte do próprio Lucas complementada por trechos de Marcos. A discussão é interessante, mas talvez se dê valor insuficiente à possibilidade de que Marcos e Lucas tinham, cada um, um resumo cuidadoso e confiável de um discurso de fato pronunciado nessa ocasião. Esses resumos podem ter sido independentes um do outro e, mesmo assim, terem coincidências verbais especialmente em pontos importantes. Nem mesmo a formulação idêntica exige a explicação de que um dependeu do outro.

Mateus, como já foi observado (v. comentário de Lc 17.30-37), inclui na sua versão não somente o material de Mc 13, mas também o de Lc 17; ele também faz o discurso ser seguido de uma série de parábolas apocalípticas (cap. 25) que nem Lucas nem Marcos registram. Os comentários de Mc 13 devem ser consultados para estudos detalhados; as presentes observações serão particularizadas somente quando Lucas e Marcos diferirem.

Lucas 21:5-7. Cf. Mc 13.1-4. Nos versículos iniciais, Lucas omite as indicações de lugar e pessoas que Marcos e Mateus fornecem. Marcos contextualiza os ditos dos v. 5,6 da seguinte forma: “Quando ele estava saindo do templo”. Seus companheiros são “discípulos”. Lucas omite totalmente o lugar e diz simplesmente que Alguns falaram do templo. O v. 7 é colocado por Marcos “no monte das Oliveiras, de frente para o templo”, e Pedro, Tiago e João estão com Jesus; aqui simplesmente: “Mestre”, perguntaram eles. O discurso começa com uma referência às pedras do templo, uma recorrência do tema de 19.40 e 20.17,18.

Lucas 21:8-11. Os sinais do juízo vindouro significarão o surgimento de falsos messias, e a ruína tanto da ordem social quanto da natural das coisas ocorrerá com guerras, rebeliões, terremotos, fome e pestes, v. 8. Lucas acrescenta o seguinte ao versículo de Marcos: Não os sigam.

Lucas 21:12-19. Os próprios discípulos vão experimentar severas perseguições das autoridades e até mesmo dos seus parentes e amigos, v. 12. Aqui não há referência a açoites, que Marcos prediz (13.9); Lucas descreve mais tarde em Atos alguns dos açoitamentos que os discípulos sofreram, v. 14,15. Esse trecho diverge de Mc 13.11, do qual, no entanto, encontramos um paralelo próximo em Lc 12.11,12. v. 18. A promessa de que nenhum fio de cabelo da cabeça de vocês se perderá está faltando em Marcos. E uma referência à experiência dos três amigos de Daniel na fornalha (Dn 3.27). Cf. At 27.34.

Lucas 21:20-24. Cf. Mc 13.14-20. Esse trecho, que relata as catástrofes que seguirão a queda de Jerusalém, difere em dois pontos importantes do paralelo de Marcos: (a) A referência em Mc 13.14 e Mt 24.15 ao “ ‘sacrilégio terrível’ no lugar onde não deve estar” (Dn 9.27; 11.31; 12.11) se torna em Lucas Jerusalém rodeada de exércitos. Muitos críticos citam esse fato como evidência de que Lucas deva ser datado após a queda de Jerusalém, mas essa referência geral a exércitos rodeando a cidade não sugere em si conhecimento detalhado dos eventos de 70 d.C. Mais provável é a sugestão de Geldenhuys (p. 532) de que ”Lucas está escrevendo para leitores gregos que não entenderiam o que Jesus queria dizer com a expressão judaica e, assim, a parafraseia”. (b) Lucas omite o dito em Mateus e Marcos (13.20): “Se o Senhor não tivesse abreviado tais dias, ninguém sobreviveria”, substituindo-o pela declaração de que Jerusalém será pisada pelos gentios, até que os tempos deles se cumpram (v. 24). Isso se refere, provavelmente, ao final da presente ordem mundial.

Lucas 21:25-28. O Grande Final (Mc 13.24-27). Antes dessa seção, Marcos e Mateus introduzem um trecho que Lucas traz em 17.20-23; Mateus também insere o dito de Lucas (Lc 17.24) acerca do dia do Filho do homem. A descrição que Lucas faz do final mostra duas diferenças da de Marcos: (a) depois da predição de sinais no sol, na lua e nas estrelas, ele diz que haverá calamidades paralelas na terra: as nações estarão em angústia e perplexidade com o bramido e a agitação do mar. Os homens desmaiarão de terror, apreensivos com o que estará sobrevindo ao mundo (v. 25,26); o mar, com frequência, é uma figura do mundo atribulado no AT (cf. SI 107.26-28; Is 57.20 etc.); e (b) Marcos, seguido por Mateus, coloca imediatamente após a real aparição do Filho do homem na glória o envio do anjo para reunir os eleitos dos quatro cantos. Lucas diz em lugar disso: levantem-se e ergam a cabeça, porque estará próxima a redenção de vocês.

Lucas 21:29-31. A parábola da figueira (Mc 13.28,29). Uma breve parábola acerca do discernimento dos sinais dos tempos; muito semelhante nos Sinópticos, exceto que, à figueira de Marcos, Lucas acrescenta todas as árvores (v. 29).

Lucas 21:32-36. Ditos finais. Os três evangelhos contam como essas coisas (presumivelmente as coisas associadas à queda de Jerusalém) vão acontecer na presente geração. Marcos, no entanto, não estabelece um tempo fixo para a última parousia. A palavra de Deus é mais segura, sobrevivendo ao céu e à terra, mas ele não revelou a data precisa em que esses eventos vão ocorrer, nem aos anjos nem mesmo ao Filho (Mc 13.32). No lugar dessa declaração direta e franca, Lucas traz uma advertência contra uma vida de prazeres e indulgência que cegam os olhos diante da crise vindoura e uma exortação geral para a vigilância. E nessa seção final que Mateus insere as advertências de Lc 17.26-30. v. 37,38. Lucas acrescenta como um tipo de nota de rodapé do discurso uma declaração semelhante à de 19.47,48 que Jesus pregou diariamente no templo a grandes congregações, comentando ainda que ele passava as noites no monte das Oliveiras.