Estudo sobre Lucas 17

Estudo sobre Lucas 17

Estudo sobre Lucas 17


Mais quatro ditos (17.1-10)
Segue agora uma breve série de ditos, aparentemente quase uma miscelânea, e mesmo assim, como diz Geldenhuys (p. 531): “Parece-nos que existe uma unidade entre os diversos pronunciamentos e o fato de que (embora Lucas não diga isso expressamente) foram feitos em uma mesma ocasião”. O seu tema geral é a responsabilidade geral do discípulo em relação a outros, advertindo-os da pecaminosidade de desviar pessoas mais fracas do caminho, da necessidade de um espírito perdoador e de fé real e prática, e do perigo de confiar no mero cumprimento de obrigações para obter méritos.
v. 1,2. Ocorre em Mt 18.6,7 e Mc 9.42. Quem são esses pequeninos do v. 2? Não há indicação alguma de crianças presentes nessa ocasião; a maioria dos comentaristas interpreta a expressão como uma referência a irmãos mais fracos entre os discípulos. Essa leitura é sugerida pelo paralelo em Marcos; Mateus, no entanto, coloca o dito no contexto de um de seus trechos acerca das crianças (18.1-5). Não há razão, sem dúvida, por que não deveriam estar em perspectiva ambos os aspectos, v. 3,4. Uma das marcas do discípulo é a disposição para perdoar. O pecado não pode ser negligenciado, nem tratado com leviandade; o transgressor precisa ser advertido, seu pecado precisa ser discutido abertamente, e não pelas suas costas. O arrependimento deve preceder o perdão. Mas, satisfeitas essas condições, não há limite para o número de vezes em que o perdão deva ser concedido. Em Mateus, o trecho é mais amplo e, em resposta a uma pergunta de Pedro, é seguido de uma parábola do credor incompassivo (18.15-35).
v. 5,6. A magnitude da responsabilidade que esses ditos sugerem suscitou nos discípulos um sentimento de insuficiência; eles disseram ao Senhor: “Aumenta a nossa fé!”. Com a hipérbole caracteristicamente oriental, Jesus lhes dá um vislumbre das inesperadas possibilidades da fé. As raízes da amoreira eram consideradas particularmente fortes pelos orientais. Strack-Billerbeck (citado por Geldenhuys, p. 434) diz: “Supunha-se que a árvore durava 600 anos”. Desarraigá-la seria algo virtualmente impossível, replantá-la no leito do oceano, mais difícil ainda, mas a fé em Deus ultrapassa as possibilidades. Marcos 11.23/Mt 21.21 trazem um dito semelhante no contexto da figueira que seca; aí é uma montanha que deve ser lançada no mar.
v.7-10. Uma parábola de serviço. Jesus falou da fé e agora passa a falar de obras, inadequadas, pois o melhor que conseguirmos fazer não é nada mais do que nossa tarefa (v. comentário de 12.37). servos inúteis'. Não sugere que os servos tenham sido desleixados ou feito menos do que era sua tarefa, mas que simplesmente fizeram o que o seu senhor tinha direito de esperar deles.

3) A última viagem para Jerusalém (17.11—19.27)
Jesus está agora diante da última etapa da viagem: A caminho de Jerusalém, Jesus passou pela divisa entre a Samaria e Galilãa. Ao longo de toda essa extensa viagem, com que Lucas tanto se ocupa, Jerusalém, com os tenebrosos eventos que ali devem ocorrer, está sempre em vista.

a) O ministério em Samaria e na Galiléia (17.11—18.14)
(1) Dez leprosos são curados (17.11-19)
Na entrada de uma vila, dez leprosos, a uma distância considerável em virtude da sua enfermidade, pedem que Jesus tenha misericórdia deles. Ele os envia aos sacerdotes para se certificarem da purificação que ele operou neles. Somente um, e este um sama-ritano, mostra a educação de voltar e agradecer seu benfeitor, que destaca o fato de que foi um samaritano que fez isso.
v. 14. A cura em si não é descrita mas aceita como fato. Em 5.12-15, “Jesus estendeu a mão e tocou nele”, não temendo o contágio do contato físico, v. 16. O agradecimento do samaritano era evidência do fato para aqueles que consideravam a parábola do bom samaritano uma mera história.

(2) A vinda repentina do reino (17.20-37)
Alguns fariseus se aproximam do Senhor com perguntas acerca do tempo da vinda do Reino de Deus. Ele responde que, embora essa pergunta esteja na mente de muitos, a coisa importante que eles devem saber é que a vinda será inesperada, e não anunciada, e que antes da vinda o Filho do homem será rejeitado e sofrerá nas mãos dos pecadores. Nos dias de Noé e Ló, o povo vivia totalmente despreocupado, sem a menor suspeita de que o Dilúvio e a destruição estavam às portas. Será assim também na vinda do Filho do homem. O reino estará sobre as pessoas antes que se dêem conta, suas manifestações serão inconfundíveis, e sua irrupção romperá todos os tipos de relacionamentos humanos de classe ou parentesco.
Lucas tem três grandes seções que se ocupam com as últimas coisas: (a) 12.34-59. A crise iminente, que está para irromper sobre eles; cf. Mt 24.43-51. (b) 17.20-37. A vinda não anunciada do “dia do Filho do homem”; cf. Mt 24.23-28,37-41. (c) 21.5-36. A parú-sia do Filho do homem, a versão de Lucas na maior parte do capítulo apocalíptico de Marcos (cap. 13). O “pequeno Apocalipse”, como Mc 13 é às vezes chamado, aparece quase completo em Mateus e Lucas; o material de Lc 17 aparece entretecido por Mateus na sua versão de Mc 13.
v. 20,21. Esses versículos não têm paralelo em Mateus, e não são fáceis de compreender, visto que a expressão entre vocês é bastante ambígua; o grego entos não é a palavra comum que Lucas usa quando quer dizer “no meio de vocês” (na verdade, não é encontrada em nenhum outro lugar do Evangelho). Assim, a expressão é diversamente interpretada por “entre vocês”, i.e., o próprio
Rei está de fato entre vocês, ou “dentro de vocês”, o reino espiritual no coração dos homens. E difícil imaginar que este último seja o significado aqui, visto que as palavras são dirigidas aos fariseus (v. 20). Outras possíveis traduções são “em seu poder” e “ao seu alcance”. v. 22,23. V. comentário de Mc 13.21 (Mt 24.23). v. 24. V. comentário de Mt 24.27. v. 25. A terceira predição da Paixão (somente em Lucas), v. 26-30. V. comentário de 24.37-39. v. 31. V. comentário de Mt 24.17,18. v. 32. Uma advertência peculiar a Lucas, evocada pelas palavras ninguém deve voltar atrás por coisa alguma (v. 31). v. 33. Mc 8.35 e Mt 16.25 trazem esse dito no contexto das advertências de Jesus após a confissão de Pedro. v. 34,35. V. comentário de Mt 24.40,41. v. 37. Cf. Mt 24.28. No v. 20, os fariseus perguntam “Quando?”, agora perguntam Onde?, mas Jesus se nega a satisfazer a curiosidade dos que querem estabelecer a data e outros detalhes da vinda.

Índice: Lucas 1 Lucas 2 Lucas 3 Lucas 4 Lucas 5 Lucas 6 Lucas 7 Lucas 8 Lucas 9 Lucas 10 Lucas 11 Lucas 12 Lucas 13 Lucas 14 Lucas 15 Lucas 16 Lucas 17 Lucas 18 Lucas 19 Lucas 20 Lucas 21 Lucas 22 Lucas 23 Lucas 24