Estudo sobre Lucas 13

Estudo sobre Lucas 13



Advertências (13.1-5)

Jesus toma dois itens de interesse do momento para apontar para o princípio da necessidade urgente de arrependimento.

v. 1-3. Jesus recebe a notícia de um grupo de peregrinos galileus que vieram a Jerusalém para uma das festas e que haviam se rebelado contra o procurador romano, Pôncio Pilatos. Ele ordenou a sua execução, e o sangue deles escorreu junto com o dos seus animais de sacrifício. Os seus ouvintes parecem ter considerado isso evidência da maldade excepcional desses homens sobre quem Deus permitiu que caísse tal catástrofe, como também fizeram os amigos de Jó e até os discípulos (Jo 9.2). Mas Jesus não concorda com esse ponto de vista; ele nem mesmo condena a ação de Pilatos, mas adverte seu público da sua própria necessidade de arrependimento: Mas se não se arrependerem, todos vocês também perecerão (v. 3). T. W. Manson (Sayings, p. 273) acha que os mensageiros trouxeram a notícia na esperança de induzir Jesus a fazer um comentário imprudente acerca de Pilatos; Plummer (p. 338) não concorda com isso.

v. 4, 5. Uma segunda catástrofe é mencionada, o desmoronamento da torre de Siloé, desconhecido, como o incidente anterior, fora desse trecho. Dezoito pessoas perderam a vida no acidente durante as operações de construção realizadas, provavelmente, para melhorar o suprimento de água de Jerusalém. Jesus novamente tira a mesma lição.

Parábolas e um milagre (13.6-21) 

A nota severa de Jesus advertindo que o que aconteceu a outros poderia acontecer aos seus ouvintes e que a prudência, portanto, aconselhava o arrependimento é seguida no relato de Lucas pela parábola da figueira sem frutos destinada à destruição, o milagre da cura da mulher deformada e as parábolas da semente de mostarda e do fermento.

(1) A parábola da figueira sem frutos (13.6-9)

O proprietário de uma vinha ordena ao seu jardineiro que corte uma figueira improdutiva que cresce no seu terreno porque está ocupando espaço valioso, mas cede ao pedido do jardineiro por mais uma oportunidade.

Essa parábola não ocorre em Mateus nem em Marcos, e, visto que Lucas não menciona a figueira que seca (Mt 21.19-22; Mc 11.12-14,20-22), muitos afirmam que a parábola de Lucas é uma forma mitigada do ato, e outros, que é a base da história da maldição da figueira em Marcos. “Isso não é mais do que uma conjectura”, diz Balmforth (p. 225); Plummer (p. 339) diz que a sugestão é arbitrária. Em todo caso, os dois trechos são totalmente diferentes na sua ênfase. A parábola de Lucas, seguindo o ensino acerca dos desastres, põe o destaque no arrependimento; os outros dois sinópticos, na inevitabilidade do juízo.

v. 6. em sua vinha: Onde a figueira está crescendo; lembra a vinha de Javé em Is 5. v. 7. Já faz três anos: Tempo suficiente para se esperar o fruto depois que a árvore atingiu a maturidade. A árvore certamente vai dar frutos após mais um ano se ela tem condições de algum dia dar frutos. Não sabemos com certeza se devemos reconhecer nos três anos uma referência à duração do ministério do nosso Senhor ou ao número de suas visitas a Jerusalém. Corte-a cf. 3.9.

(2) A cura de uma mulher enferma no sábado (13.10-17)

Tendo curado uma mulher terrivelmente aleijada no sábado, Jesus é censurado pelo líder da sinagoga por ter violado o sábado. Ele responde ao defender a necessidade de socorrer um vizinho em angústia, em oposição à interpretação meramente tradicionalista da Lei.

v. 10. numa das sinagogas: Essa é a última vez que Jesus é visto ensinando na sinagoga, v. 11. tinha um espírito que a mantinha doente: Cf. 11.14, em que um demônio mudo significa “um demônio que causa a mudez”, v. 13. Essa é a única expulsão de demônios nos Evangelhos acompanhada de imposição de mãos. v. 14. Plummer corretamente chama a atenção (p. 341) para a “pomposidade do líder da sinagoga, com suas leis fixas e inflexíveis sobre boas maneiras e decoro”, e enxerga nesses detalhes da vida real que “tudo foi extraído diretamente da vida”. Em vez de enfrentar diretamente um oponente tão formidável quanto Jesus, esse líder dirige as suas observações à congregação em geral. Que ele tenha usado sua posição de autoridade para condenar um ato de misericórdia porque fora feito no sábado, dá oportunidade ao nosso Senhor de ensinar a necessidade urgente de arrependimento, v. 15,16. Jesus responde, em primeiro lugar (v. 15), que todos sairiam correndo para cuidar dos seus animais no sábado; assim, quanto mais importante era que necessidades humanas fossem atendidas. Em segundo lugar (v. 16), que o dia de descanso do sábado era um dia absolutamente adequado para que a mulher aleijada obtivesse descanso dos dezoito anos de escravidão de Satanás, v. 17. Os adversários recuaram abatidos; o povo comum, como em outras ocasiões, o recebeu alegremente.

(3) Duas parábolas do reino (13.18-21)

Lucas coloca aqui as parábolas do grão de mostarda (Mt 13.31,32) e do fermento escondido em três medidas de farinha (Mt 13.33). Mateus coloca ambas na sua coletânea de parábolas do reino no cap. 13.

V. detalhes no comentário de Mt 13.3133.

Outras advertências (13.22-30)

A caminho, de novo, com Jerusalém como destino, Jesus ouve a pergunta de se é verdade que somente poucos serão salvos. Ele responde, não para satisfazer a curiosidade, mas para aconselhar que se esforcem para entrar pela porta estreita, pois senão vai haver o perigo de a entrada no Reino de Deus lhes ser negada, e isso vai ser ainda mais irritante, pois se verá que as nações dos gentios estarão entrando no seu lugar com os patriarcas. As expectativas dos homens serão completamente confundidas.

v. 23. Nada se sabe da identidade do questionador nem da motivação da sua pergunta, se é que de fato foi causada por algo mais do que mera curiosidade, v. 24. Esforcem-se: A palavra grega é cognata da palavra portuguesa agonize, e é uma das palavras favoritas de Paulo; e.g., l Co 9.25; Cl 1.29; 4.12; v. tb. 1 Tm 6.11 e 2Tm 4.7; nestas últimas duas referências, ocorre tanto como verbo quanto como substantivo, “combata o combate”. Está associada com a disputa atlética, em que competidores dão tudo de si para atingir a vitória, porta estreita [...] muitos tentarão entrar e não conseguirão: Um eco de Mt 7.13, 14, mas não um paralelo real; lá, há dois caminhos; aqui, somente uma porta. v. 25. O fato de o dono da casa negar a entrada daqueles que ele diz não conhecer lembra a parábola das virgens em Mt 25.10-12. v. 26,27. Esses versículos lembram em termos gerais Mt 7.22, 23. v. 28,29. Mateus acrescenta um dito semelhante (8.11,12) ao seu relato do centurião em Cafarnaum (Mt 8.5-13; cf. Lc 7.1-10). Descrevem-se as condições em ambos os lados da porta. Dentro, patriarcas e profetas estão sentados com gentios arrependidos no grande banquete messiânico; fora, há desespero daqueles que tentaram depender de favoritismo (“Abraão é nosso pai”, Lc 3.8), e não do arrependimento para a salvação. O castigo deles é pior por perceberem o que poderia ter sido. v. 30. Um breve resumo da seção; o último dia vai revelar muitas inversões de valores humanos.

A mensagem a Herodes e o lamento sobre Jerusalém (13.31-35)

O avanço do nosso Senhor para Jerusalém é interrompido por uma mensagem trazida por emissários dos fariseus, que vieram da parte de Herodes, sugerindo que ele deveria fugir para evitar a morte que Herodes estava planejando para ele. Ele responde que não está preocupado com os planos de Herodes, mas com o caminho estabelecido para ele em direção a Jerusalém. Completamente consciente do que espera por ele quando chegar à cidade, sua preocupação é com ela, e não consigo mesmo.

O Herodes mencionado é Herodes Antipas, tetrarca da Galileia (cf. 3.1,19; 9.7ss), filho de Herodes, o Grande; ele é o Herodes do julgamento do nosso Senhor (23.7-12). Não sabemos se Lucas entende a advertência dos fariseus como um gesto amigável ou é corretamente interpretado por N. B. Stonehouse quando sugere que “eles estavam praticamente associados a Herodes no desejo de que Jesus fosse morto” (The Witness ofLuke to Christ, p. 120).

v. 32. Jesus responde, primeiro, que ele vai quando for conveniente a ele, e não a Herodes; e, em segundo lugar, que a palavra de Herodes não é confiável; ele é desprezível e desonesto, e não é grande nem direito, v. 33. Jesus sabe que vai morrer, mas vai morrer no lugar designado, em Jerusalém; e no tempo designado, não hoje, nem amanhã, mas no terceiro dia. Isso, evidentemente, não é uma indicação literal do tempo, mas, “visto que o período é medido em termos de dias, Jesus parece estar indicando que a consumação não está distante” (Stonehouse, p. 122). v. 34,35. Mateus coloca o lamento após o Domingo de Ramos, Jesus já está em Jerusalém (23.27). Ao matá-lo, Jerusalém está vivendo à altura da sua antiga fama de assassina de profetas (Jr 26.20-23; cf. Lc 20.10-12; At 7.52). Jerusalém, Jerusalém: O duplo vocativo é um sinal de afeição e preocupação; cf. 10.41; 22.31. como a galinha reúne os seus pintinhos: Uma figura familiar do AT, e.g., Dt 32.11; SI 17.8; 36.7. v. 35. O destino inevitável dos caminhos que Jerusalém escolheu vai ser a ruína completa. Quando eles dirão ”Bendito o que vem em nome do Senhor”? Enxergar no Domingo de Ramos o seu cumprimento é algo muito limitado; é, antes, sempre que, em todos os tempos, um judeu se arrepende e se converte (v. Plummer, p. 353), e especialmente, talvez, se refira ao bem-vindo que os judeus vão lhe oferecer na sua segunda vinda.

Jantar com um fariseu (14.1-24) 

Ainda a caminho, Jesus aceitou o convite para uma refeição na casa de um fariseu no sábado. Depois de obter a reprovação do seu anfitrião ao curar um homem que sofria de hidropisia no dia de descanso, ele fala dos princípios da verdadeira hospitalidade e cortesia. Seu discurso inclui as parábolas da escolha dos lugares à mesa e do grande banquete.