Estudo sobre Levítico 23
Levítico 23
7) O calendário religioso (23.1-44)
As festas anuais de Israel
são apresentadas na ordem de sua ocorrência, mas primeiro é feita a menção do
sábado, visto que era uma instituição fundamental e também ocasião de
apresentação de sacrifícios (cf. Nm 28.9,10). Essas estão todas incluídas na
expressão as festas fixas (v. 2). Em alguns casos, as festas têm
significado histórico; em outros, um significado puramente
agrícola. Mas é possível que as festas com significado histórico
(especialmente a Páscoa, pães sem fermento e tabernáculos) fossem originaria-mente
agrícolas em natureza, assumindo o seu significado histórico após os
eventos que celebram. Para mais listas de festas, v. Dt 16.1-17; Êx
23.14-17; 34.18,21ss. As ofertas adequadas a cada festa são listadas
em Nm 28.9—29.38. No NT, vemos que várias festas têm significado na
nova ordem estabelecida por nosso Senhor (v. infra).
a) O
sábado (23.1-3)
v. 3. “E interessante
observar que há uma referência ao sábado em cada um dos últimos quatro livros
do Pentateuco. Gênesis apresenta o descanso divino; os quatro
livros restantes destacam a legislação do sábado” (NBD, p.
1.042). Não realizem trabalho algum'. a primazia do sábado pode ser
vista na forma em que as festas anuais tendem a incorporar essa
característica (cf. v. 7,21,25,28,31,32,35, 36,39).
b) A
Páscoa e a festa dos pães sem fermento (23.4-8)
v. 5. A Páscoa era
celebrada no décimo quarto dia do mês de abibe (Ex 13.4),
mais tarde conhecido como nisã (cf. Et 3.7). Para mais detalhes, v.
especialmente Êx 12 e Dt 16.1-8. no entardecer
(cf. Ex 12.6) é lit. “entre os dois anoiteceres”, e pode significar entre
o meio-dia e o anoitecer ou entre o pôr-do-sol e o anoitecer,
provavelmente este último (assim NEB; NTLH: “A Festa da Páscoa
[...] começa ao pôr-do-sol”). Paulo nos conta em ICo 5.7 que “Cristo,
o nosso Cordeiro pascal, foi sacrificado”, v. 6. Imediatamente após
a Páscoa, vinha a festa dos pães sem fermento (cf. Êx
12.14-20; 23.15), em comemoração à saída apressada dos israelitas do Egito (cf.
Dt 16.3). Durante sete dias
os pães sem fermento deveriam ser a comida-padrão, e a festa deveria
começar e terminar com uma reunião sagrada (v. 7,8). Como essa
festa vinha logo depois da Páscoa, assim, Paulo instrui a igreja em
Corinto, a conduta cristã santificada deveria ser a reação dos corindos à
oferta pascal de Cristo em favor deles (ICo 5.7,8).
c) Os
primeiros frutos (23.9-14)
v. 10,11. Como
reconhecimento simbólico da provisão da chuva e da colheita enviadas por Deus,
os israelitas deveriam participar de uma cerimônia de apresentação do primeiro
cereal da colheita na presença de Deus (cf. Êx 23.19; 34.26).
Somente depois da realização dessa cerimônia, eles teriam liberdade para usar a
colheita para Sl mesmos (v. 14). A ocasião da apresentação é o dia
seguinte ao sábado, que o “judaísmo normativo” entende que é o segundo
dia da festa dos pães sem fermento; o sábado significa o primeiro
dia dessa festa (cf. v. 7). Os saduceus e outros compreendiam o sábado
no seu sentido comum de sétimo dia da semana, e, visto que a festa das
semanas vem 50 dias depois da cerimônia dos primeiros frutos e é assim afetada
pela forma de contagem usada, a questão foi muito debatida, v. 13. oferta
derramada'. cf. Nm 15.5ss; 28.7,31 etc. Referências pós-bíblicas
parecem indicar que o vinho era derramado na base do altar dos
holocaustos (Eclesiástico 50.15; Josefo, Ant. III. 9,4).
De acordo com o método mais comum de contagem, a cerimônia dos primeiros
frutos sempre caía no dia 16 de nisã; esse era o dia da ressurreição do
nosso Senhor, e o significado do dia era evidente para Paulo quando
escreveu acerca da ressurreição do Senhor como ”as primícias dentre
aqueles que dormiram” (ICo 15.20-23).
d) A festa das semanas
(23.15-22)
A festa é chamada assim
porque vinha sete semanas completas depois da cerimônia dos primeiros
frutos (v. 15). Era conhecida também como “festa da colheita” (Ex
23.16) porque marcava o encerramento da colheita da cevada (cf. Dt
16.9), e como o dia dos primeiros frutos (Nm 28.26), visto que anunciava o
início da colheita do trigo (cf. Ex 34.22). Do grego “cinquenta (dias)”
(cf. v. 16), vem o termo posterior “Pentecoste”. Por meio de um
processo simples de assimilação, a festa de Pentecoste, que era realizada
no terceiro mês (siwan), veio a ser reconhecida como a ocasião em que
foi dada a Lei (cf. Ex 19.1). v. 15. dia seguinte ao sábado', cf.
comentário dos v. 10,11. v. 16. oferta de cereal novo: segundo a
tradição talmúdica, essa oferta era de trigo, enquanto a dos primeiros
frutos era de cevada (cf. v. 13). v. 17. O fermento era permitido
porque os pães não eram queimados no altar (cf. 2.12). É claro que em
geral o fermento era usado no preparo da comida; os dois
pães eram alimento para o sacerdote (v. 20). v. 21. O
Pentecoste ocupava somente um dia no calendário de festas, mas devia ser
um dia de alegre celebração (cf. Dt 16.10,11). v. 22. Cf. comentário
de 19.9,10. Embora em certo sentido o versículo “não se encaixe
na estrutura do calendário de festas” (Noth), a expressão do cuidado
pelos destituídos dificilmente pode ser considerada fora de lugar quando é
acrescentada à seção das festas da colheita.
e) A
festa das trombetas e o Dia da Expiação (23.23-32)
Essas são as primeiras duas
das festas do sétimo mês. v. 24. A “festa das trombetas” caracterizava o
antigo dia do ano novo e ainda era celebrada como início do ano
civil quando foi adotado o ano da primavera babilónico. toques de
trombeta'. A trombeta ainda é usada para anunciar o ano novo civil
judaico. A NEB traduz a palavra por “aclamação”, que é uma versão
aceitável em outros contextos (e.g., ISm 4.5,6), mas que não leva
em consideração o costume antigo de se tocar a trombeta nessa
ocasião, v. 27,28. A cerimônia do Dia da Expiação é delineada no
cap. 16. Visto que esse é um calendário leigo, os detalhes do culto
que interessavam aos sacerdotes não são repetidos aqui. Lv 25.9 tem a
única outra ocorrência da expressão Dia da Expiação, v. 29. Quem
não se humilhar, deveriam se abster de comida e outras
atividades geralmente prazerosas (cf. 16.29). v. 32. Esse uso de sábado
para denotar um dia solene de descanso está em concordância com a
compreensão tradicional do mesmo termo no v. 11. (v. comentário acerca dos
v. 10,11). do nono dia\ visto que era algo tão grave
falhar nas regras do Dia da Expiação (v. 29ss), a exata duração desse
sábado é deixada absolutamente clara.
f) A
festa das cabanas (23.33-44)
Essa festa tinha
significado tanto agrícola quanto histórico. Era também conhecida como a “festa
do encerramento da colheita” (Êx 23.16; 34.22) porque marcava o fim
da vindima e o fim de todas as colheitas do ano.
A construção de
cabanas (“tabernáculos”) lembrava o tempo em que os israelitas viveram nesses
frágeis abrigos no deserto (v. 43; cf. Ne 8.14-17). O Dia da Expiação era “o Jejum”
(At 27.9), e a festa das cabanas era a celebração (lRs 8.2; Ez 45.25); uma
quantidade especialmente grande de sacrifícios era apresentada durante os
oito dias da sua celebração (v. Nm 29.12-38). Em Zc 14.1619, vemos que ela
tinha significado apocalíptico. Após os terríveis juízos de Deus sobre os
povos, aqueles que sobreviverem serão intimados a se apresentar anualmente
em Jerusalém “para celebrar a festa das cabanas” (v. 16). v. 36. Não
há menção de um oitavo dia em Dt 16.13ss, do que se deduz com fre-quência
que isso foi um acréscimo posterior à festa. Mas Deuteronômio dá poucos
detalhes acerca da observância da festa das cabanas, e essa conclusão
seria por demais descuidada. Jo 7.37 (o “último e mais importante dia da
festa”) provavelmente alude a esse oitavo dia (cf. também Nm 29.35;
lRs 8.66 [?]; 2Cr 7.9; Ne 8.18). reunião solene'. Noth explica
a palavra dizendo que significa “dia sagrado, dia especial de festa”; há
versões que usam a expressão “cerimônia de encerramento” (NEB; cf. Snaith,
NCentB). A diferença surge da relação incerta entre a palavra e
sua raiz básica (‘ãsar, “restringir, fechar”). Os v. 37,38
constituem um resumo mal localizado, visto que os v. 39-43 voltam ao tema
da festa das cabanas. Talvez os v. 39-43 tenham sido acrescentados
mais tarde. v. 40. Carregar frutas cítricas numa procissão da festa das
cabanas é atestado em época posterior (Josefo, Ant. XIII. 13,5), e é
possível que árvores especiais tenham sido “sempre-vivas” (a NEB
chega a ponto de dizer “árvores cítricas”); há apoio talmúdico para esse tipo
de explicação do hebraico, galhos', cf. SL 118.27. v. 42,43.
As tendas eram usadas por trabalhadores na época da colheita (Is 1.8),
mas é a sua associação com a peregrinação dos israelitas no deserto que
deve ser comemorada. As tradições do deserto no Pentateuco falam de
tendas, v., porém, Ne 8.14-17.Índice: Levítico 1 Levítico 2 Levítico 3 Levítico 4 Levítico 5 Levítico 6 Levítico 7 Levítico 8 Levítico 9 Levítico 10 Levítico 11 Levítico 12 Levítico 13 Levítico 14 Levítico 15 Levítico 16 Levítico 17 Levítico 18 Levítico 19 Levítico 20 Levítico 21 Levítico 22 Levítico 23 Levítico 24 Levítico 25 Levítico 26 Levítico 27