Estudo sobre Romanos 4

Romanos 4

4:1–8 Paulo já disse que esta ‘justiça de Deus... independentemente da lei’ é atestada pela Lei e pelos Profetas – isto é, pelo Antigo Testamento. Isso agora deve ser mostrado mais plenamente, e Paulo se compromete a mostrá-lo principalmente a partir da história de Abraão, com um olhar de relance para a experiência de Davi.

De todas as pessoas justas no registro do Antigo Testamento, nenhuma poderia superar Abraão — ‘Abraão, meu amigo’, como Deus o chama em Isaías 41:8. O próprio testemunho de Deus a Abraão está registrado em Gênesis 26:5: ‘Abraão obedeceu à minha voz e guardou meu mandamento, meus mandamentos, meus estatutos e minhas leis’. E quanto a Abraão, então? Se é pelas obras que uma pessoa é justificada aos olhos de Deus, Abraão teria um título melhor do que a maioria e teria o direito de receber algum crédito por isso. Mas esse não é o caminho de Deus. O caminho de Deus é claramente indicado no registro de Gênesis 15:6: quando a promessa divina veio a Abraão, apesar da extrema improbabilidade de seu cumprimento por todas as considerações naturais, ‘ele creu no Senhor; e isso lhe foi imputado como justiça.’ Paulo já havia feito dessa afirmação a base de um argumento ad hominem às igrejas da Galácia, quando alguns de seus membros se dispuseram a abandonar o princípio da fé pelo das obras legais. Agora ele o torna o texto para uma exposição mais sistemática do princípio da fé.

A aceitação de Abraão por Deus claramente não foi baseada em suas obras, por melhores que fossem. O argumento de Paulo não é meramente textual e verbal, dependente de uma seleção de Gênesis 15:6 em detrimento de outros textos da narrativa patriarcal que poderiam ter apontado em outra direção. Pois as boas obras de Abraão, sua obediência aos mandamentos divinos, foram fruto de sua fé inquestionável em Deus; se ele não tivesse acreditado primeiro nas promessas de Deus, nunca teria partido para a terra prometida ou conduzido sua vida ali à luz do que sabia sobre a vontade de Deus. Não; quando Deus deu a Abraão uma promessa (no cumprimento da qual, incidentalmente, todo o evangelho estava vinculado), ele simplesmente aceitou a palavra de Deus e agiu de acordo.

Agora marque a diferença, continua Paulo. Quando um homem trabalha por alguma recompensa, essa recompensa lhe é devida; quando ele simplesmente coloca sua confiança em Deus, é por pura graça que sua fé lhe é imputada como justiça.

Tampouco Abraão é um exemplo isolado do princípio da justificação pela fé: outro exemplo do Antigo Testamento está à mão no caso de Davi. Paulo agora cita as palavras iniciais do Salmo 32, nas quais o salmista, em alegre alívio com a certeza do perdão divino, celebra a bem-aventurança daquele ‘cuja transgressão é perdoada, cujo pecado é coberto... a quem o Senhor não imputa iniquidade’. Aqui, claramente, está alguém, de cuja culpa não poderia haver dúvida, que, no entanto, recebeu o perdão gratuito de Deus e foi declarado ‘inocente’ perante o tribunal do céu. E se examinarmos o restante do salmo para descobrir o motivo pelo qual ele foi absolvido, parece que ele simplesmente reconheceu sua culpa e lançou-se com fé na misericórdia de Deus.

Assim, além do texto dos Profetas (Hab. 2:4b) já citado em 1:17, Paulo agora apela para textos da Lei (Gn. 15:6) e dos Escritos (Sl. 32:1– 2), mostrando que o caminho de justiça de Deus pela fé é atestado em todas as três divisões da Bíblia Hebraica.

4:1. O que então diremos sobre Abraão...? Várias outras versões adotam a leitura mais completa (e preferível): ‘O que então diremos que Abraão encontrou?’ Para a pergunta desta forma a resposta seria: justificação pela fé, por meio da graça de Deus. Nosso antepassado segundo a carne. Em vista da frase qualificadora ‘segundo a carne’ (cf. 1:3; 9:3, 5), ‘nosso’ significa ‘de nós judeus’; em outro sentido (cf. versículos 11–12, 16–17 abaixo), Abraão é o pai de todos os crentes, sejam eles judeus ou gentios de nascimento.

4:3. ‘Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado como justiça’. Veja Gálatas 3:6 para a citação anterior de Paulo e aplicação de Gênesis 15:6.

4:5. Àquele que... confia naquele que justifica o ímpio, sua fé lhe é imputada como justiça. O Deus cuja graça Paulo proclama é o Deus que sozinho faz grandes maravilhas. Ele criou o universo do nada (1:19-20), chama os mortos à vida (4:17), justifica os ímpios. Essa é a maior de todas as suas maravilhas: a criação e a ressurreição são manifestações do poder do Deus vivo e doador de vida, mas a justificação do ímpio é prima facie uma contradição de seu caráter como o justo juiz de todos.

Abraão não era ímpio; ele era um homem de notável piedade e retidão. Mas o princípio pelo qual Abraão foi justificado, sendo aquele que exclui a ideia de acumular mérito por obras de piedade e retidão, é aquele que está igualmente disponível para os ímpios, que não têm tais obras em que confiar. Assim, o cobrador de impostos da parábola foi para casa ‘justificado’ em vez do fariseu, não porque seu mérito fosse maior (era muito menor), mas porque, percebendo a futilidade da autoconfiança, ele se lançou inteiramente na graça de Deus (Lucas 18:9–14). Mas a descrição de Deus como aquele que ‘justifica o ímpio’ é tão paradoxal que chega a ser surpreendente — para não dizer chocante. No Antigo Testamento, a absolvição do culpado e a condenação do inocente são repetidamente denunciadas como atos de juízes injustos. De fato, para melhor orientação dos juízes na administração da justiça, o Deus de Israel se oferece como exemplo: ‘Não absolverei os ímpios’, diz ele (Êxodo 23:7) - ou, como bem pode ser traduzido, ‘Não justificarei o ímpio.’ Na versão LXX dessas palavras, os mesmos termos gregos são usados para transmitir o que Deus proíbe na lei, como Paulo aqui usa para declarar o que Deus de fato faz no evangelho. Não é de admirar que Paulo tenha considerado necessário afirmar acima que Deus, ao justificar os pecadores, preserva sua integridade pessoal. Uma vez que eles são justificados, de fato, os ímpios devem deixar de ser ímpios, mas não é com base em qualquer alteração prevista de seus caminhos que eles são justificados. Se falhamos em avaliar o problema moral envolvido na graça perdoadora de Deus, pode ser porque ‘ainda não consideramos quão sério é o pecado’. 14 O paradoxo da justificação do ímpio é resolvido em 5:6, ‘Cristo morreu pelos ímpios’.

4:6. Assim também Davi... O Salmo 32 é atribuído a Davi nos títulos de MT e LXX. Existe uma ligação formal entre o Salmo 32:1–2, citado nos versículos 7–8, e Gênesis 15:6, citado no versículo 3, em que o verbo ‘considerar’ é comum a ambas as passagens. Na exegese rabínica, tal ligação foi mantida para encorajar a interpretação de uma passagem pela outra, pelo princípio chamado gĕzērâ šāwâ (‘categoria igual’). Paulo usa esse princípio aqui, mas o vínculo não é meramente formal: a não imputação do pecado, na qual o salmista se alegra, equivale à imputação positiva de justiça ou pronunciamento de absolvição, pois não há veredicto de ‘Não provado’ no tribunal de Deus.

4:9–25 Voltando agora a Abraão: surge outra questão crucial. Que relação existe entre o fato de Abraão ser justificado pela fé e o rito da circuncisão? Para um judeu, isso era um assunto de grande importância: a circuncisão era o sinal externo e visível da aliança de Deus com Abraão. Nenhum homem incircunciso poderia reivindicar qualquer participação nessa aliança; a circuncisão dava direito aos judeus ou prosélitos gentios16 a todos os privilégios da aliança, exceto aqueles que, por deliberado repúdio aos mandamentos divinos, se isolavam do povo da aliança. Alguém poderia, portanto, pensar em um judeu respondendo ao argumento de Paulo aqui: ‘Concedido que a fé de Abraão em Deus lhe foi creditada como justiça, este princípio é aplicável apenas a Abraão e sua descendência circuncidada.’ Mas Paulo tem uma resposta pronta para isso. Qual era a condição de Abraão quando foi justificado pela fé? Ele era circuncidado ou incircunciso? Para isso só poderia haver uma resposta. Ele era incircunciso. A aliança da circuncisão só foi introduzida em um estágio posterior da vida de Abraão (Gn 17:10-14) — pelo menos quatorze anos depois, de acordo com a cronologia de Gênesis. Quando finalmente Abraão foi circuncidado, sua circuncisão era apenas o selo externo daquele status justo que Deus lhe havia concedido muito antes, em virtude de sua fé. Muito claramente foi a fé, não a circuncisão, que Deus exigia dele. Aqui está a esperança para os gentios: o exemplo de Abraão mostra que a circuncisão ou incircuncisão é irrelevante para o status de um homem diante de Deus.

Abraão, portanto, é o verdadeiro pai de todos os que, como ele, acreditam em Deus e o aceitam em sua palavra. Ele é o pai dos crentes incircuncisos, pois ele mesmo era incircunciso quando sua fé lhe foi imputada como justiça; ele é o pai dos crentes circuncidados também, não tanto com base em sua circuncisão, mas com base em sua fé.

Se a circuncisão nada tinha a ver com a justificação de Abraão por Deus, com todas as bênçãos prometidas que a acompanhavam, a lei tinha menos ainda a ver com ela. Pois, como Paulo havia apontado aos gálatas, a lei foi dada 430 anos depois da promessa de Deus a Abraão e não poderia invalidá-la ou restringir seu alcance (Gálatas 3:17). Se, muito depois de a promessa ter sido dada, ela tivesse sido condicionada à obediência a uma lei que não foi mencionada nos termos originais da promessa, toda a base da promessa teria sido anulada. A promessa foi uma promessa de bênção e é cumprida no evangelho. A lei mosaica de fato pronuncia uma bênção sobre aqueles que a guardam, mas ao mesmo tempo invoca uma maldição sobre aqueles que a quebram. E em vista da falha universal em guardar a lei, a maldição é mais proeminente e relevante do que a bênção: a lei traz ira (versículo 15). Uma tendência pecaminosa pode de fato estar presente na ausência de qualquer lei; mas é preciso um decreto legal para cristalizar essa tendência em uma transgressão positiva ou violação da lei. E para cada uma dessas transgressões a lei fixa uma penalidade apropriada; isso é inerente ao princípio da retribuição que é inseparável da ideia de lei. A lei não fixa recompensas para quem a cumpre, mas necessariamente estabelece penalidades para quem a desrespeita. Uma promessa graciosa como a que Deus fez a Abraão pertence a um reino totalmente diferente da lei.

Não; A justificação de Abraão e as bênçãos decorrentes foram baseadas em sua fé em Deus; eles não foram conquistados por mérito ou esforço de sua parte (como teria sido o caso se estivessem condicionados ao cumprimento da lei), mas conferidos a ele pela graça de Deus. E o princípio pelo qual Deus lidou com Abraão se estende a seus descendentes - não a seus descendentes naturais como tais, pois eles se tornaram sujeitos às obrigações da lei, mas a seus descendentes espirituais, aqueles que seguem o precedente da fé de Abraão. Isso, diz Paulo, é o que Deus quis dizer quando lhe deu o nome de Abraão (em lugar de Abrão, como ele era anteriormente chamado), e disse: ‘Eu fiz de você o pai de uma multidão de nações’ (Gênesis 17:5). Estes compreendem todos os que acreditam em Deus, judeus e gentios: Abraão é o pai de todos os crentes.

Considere também a qualidade da fé de Abraão. Foi a fé no Deus que traz os mortos à vida, que chama as coisas inexistentes como se realmente existissem - e lhes dá existência real ao fazê-lo. Quando Deus lhe disse que ele teria uma grande multidão de descendentes, Abraão ainda não tinha filhos. Não apenas isso, mas ele estava além da idade em que um homem poderia razoavelmente esperar se tornar pai, e Sarah, sua esposa, estava ainda mais certamente além da idade da maternidade. Abraão não fechou os olhos a essas circunstâncias desfavoráveis; ele levou todos eles em consideração cuidadosa. Mas, quando ele colocou contra eles a promessa de Deus, ele descobriu que a certeza da capacidade e vontade de Deus de cumprir sua promessa superava a todos eles. Não tendo nada em que descansar senão a palavra nua de Deus, ele confiou nisso, em face de todas as indicações opostas que o pressionavam de todos os lados. De fato, sua fé foi fortalecida pela própria força dos obstáculos que se colocaram em seu caminho. E sua fé lhe rendeu o favor de Deus.

Agora, acrescenta Paulo, a afirmação de que a fé de Abraão lhe foi imputada como justiça não se aplica apenas a Abraão. O princípio que ele consagra é válido para todos os crentes em Deus, e especialmente para os crentes em Deus como ele é revelado no evangelho - o Deus que ressuscitou Jesus dentre os mortos. Jesus havia sido entregue à morte por causa dos pecados de seu povo; mas Deus o ressuscitou para garantir a justificação deles.

4:11 Ele recebeu a circuncisão como um sinal ou selo. Em Gênesis 17:11 Deus diz a Abraão que a circuncisão é para ser ‘um sinal da aliança entre mim e você’. A exegese de Paulo identifica essa aliança com a de Gênesis 15:18, na qual (pelo menos quatorze anos antes de Abraão ser circuncidado) Deus mostrou a Abraão efetivamente como ele considerou sua fé para ele como justiça. A circuncisão é assim tratada como um selo subsequente e externo daquele status justo que Abraão já possuía como dom gratuito de Deus; não criou nem aumentou esse status justo.

4:13 Que eles deveriam herdar o mundo. ‘Eles’ é literalmente ‘isso’ (auto, neutro), referindo-se a ‘prole’ (sperma, neutro, aqui traduzido como ‘descendentes’); há uma variante atestada muito melhor que lê ‘ele’ (auton, masculino), referindo-se a Abraão. Esta não é uma citação formal de qualquer promessa registrada a Abraão, mas uma interpretação daquelas promessas que falam de ‘todas as famílias da terra’ (Gn 12:3) ou ‘todas as nações da terra’ (Gn 18 :18; 22:18) como ‘abençoando a si mesmos’ (MT) ou ‘sendo abençoados’ (LXX) por Abraão e sua descendência. Quando a herança de Abraão é delimitada em termos geográficos, situa-se entre o Egito e o Eufrates (Gn 15:18; cf. 13:14-15), mas no sentido espiritual e permanente em que as promessas são interpretadas no Novo Testamento, não pode ser confinado dentro de tais fronteiras terrenas: é tão mundial quanto o evangelho (cf. Rom. 10:18). (Em Hebreus 11:16, a terra prometida não é a Canaã terrestre, mas “uma pátria melhor, isto é, celestial”.) Não veio através da lei. Referindo-se à promessa de bênção por meio da descendência de Abraão, Paulo argumentou em Gálatas que a palavra ‘descendência’, sendo um singular coletivo, pode e aponta principalmente para Cristo (3:16) e, consequentemente, também para o povo de Cristo (3:16). 29). Aqui seu ponto é que a validade da promessa não tem nada a ver com a lei (que veio séculos depois, como é observado em Gálatas 3:17) ou com a justiça legal, mas vem através da justiça da fé.

4:14. Se são os aderentes da lei que devem ser os herdeiros, a fé é nula. Porque a herança prometida a Abraão agora dependeria de um novo princípio - o das obras, não da fé. E a promessa é nula. Porque se o seu cumprimento depende do cumprimento da lei, a incapacidade de homens e mulheres para cumprir a lei fará com que a promessa de fato nunca seja cumprida.

4:15. Pois a lei traz a ira. Ou seja, a lei inevitavelmente impõe penalidades pelo não cumprimento dela. Mas onde não há lei não há transgressão. Aqui, como em 5:13 (‘o pecado não é contado onde não há lei’), Paulo parece estar enunciando uma máxima legal atual (como a máxima romana nulla poena sine lege).

4:16 Por isso depende da fé, para que a promessa se baseie na graça. Um resumo do princípio de que o que Deus provê por sua graça gratuita pode ser apropriado pelos seres humanos somente por meio da fé. O que, ao contrário, é conquistado pelas obras (não pela fé) é concedido por mérito (não pela graça).

4:17. ‘Eu fiz de você o pai de muitas nações.’ De Gênesis 17:5, ‘Eu te fiz o pai de uma multidão (Heb. ‘ab- hămōn) de nações’, onde ‘ab- hămōn é dado como a explicação de seu novo nome Abraão. Na presença do Deus em quem ele acreditava. Estas palavras seguem (após um parêntese) da cláusula a fim de que a promessa possa… por parto natural). Quem dá vida aos mortos. Esta designação geral de Deus na liturgia judaica é usada aqui com referência especial ao ‘próprio corpo de Abraão, que estava como morto’ e ‘a esterilidade (lit. ‘mortalidade’, nekrōsis) do ventre de Sara’ (versículo 19). E chama à existência as coisas que não existem. A referência aqui é às ‘muitas nações’ que deveriam surgir de Abraão; não apenas eles ainda não existiam, mas (já que Abraão e Sara haviam entrado em uma velhice sem filhos) nada parecia menos provável do que que eles existissem.

4:18. Que ele deveria se tornar o pai de muitas nações. Em Gênesis, estes são seus descendentes por meio de Isaque (os israelitas e edomitas), juntamente com as doze tribos dos ismaelitas (Gn 25:12–18) e seus descendentes por Quetura (Gn 25:2–4). Para Paulo, eles são a multiplicidade de crentes judeus e gentios. ‘Assim serão seus descendentes.’ De Gênesis 15:5, onde Deus diz a Abraão (enquanto ele ainda não tem filhos) que sua descendência será incontável como as estrelas.

4:19 Ele considerou seu próprio corpo, que estava tão bom quanto morto. Ele levou em consideração todos os fatores relevantes, incluindo sua idade avançada e a alta improbabilidade, por todos os cálculos naturais, de que ele algum dia teria um filho (cf. Heb. 11:12, onde o mesmo particípio é traduzido de maneira semelhante ‘como morto ‘, a propósito desta mesma situação). No entanto, tendo levado em conta todos esses fatores, ele concluiu que a certeza da promessa divina superava qualquer improbabilidade natural.

4:25. Quem foi morto por nossas ofensas. Esta pode ser uma citação de alguma confissão primitiva de fé; a linguagem parece ser baseada em Isaías 53. O verbo condenado à morte é literalmente ‘entregue’ (paradidōmi), que ocorre duas vezes na versão LXX desse capítulo: em Isaías 53:6, ‘o Senhor o livrou [o Servo sofredor] pelos nossos pecados’ e Isaías 53:12, ‘por causa dos pecados deles ele foi entregue’. (Esta última cláusula se desvia consideravelmente de MT, ‘ele... intercedeu pelos transgressores’; veja nota em Rom. 8:34, pp. 179–180.) Há uma semelhança verbal também com Isaías 53:5 no Targum de Jonathan, onde a cláusula aramaica ‘ithmĕsar ba’ăwāyāthānā, se estivesse por si só, poderia significar ‘ele foi entregue por nossas iniquidades’ (no Targum, no entanto, é o templo que é o assunto: o Servo-Messias ‘construirá o santuário que foi profanado por nossos delitos e entregue por nossas iniquidades’). Quando o mesmo verbo grego é usado em 1 Coríntios 11:23, pode-se perguntar se o sentido não é tanto ‘na noite em que ele foi traído’ (por Judas), mas sim ‘... quando ele foi entregue’ (por Deus). E ressuscitou para nossa justificação. Em outro lugar, é pela morte sacrificial de Cristo que seu povo é justificado (cf. 3:24-25; 5:9), mas sua morte sacrificial não teria sido eficaz sem a ressurreição. A preposição ‘para’ em ambas as cláusulas deste versículo representa dia (‘por causa de’); Cristo foi ‘entregue’ para expiar os pecados de seu povo e ressuscitou para garantir sua justificação. (Não devemos interpretar as duas cláusulas de forma tão rígida a ponto de sugerir que sua ressurreição nada teve a ver com a expiação pelos pecados deles e sua morte nada a ver com a justificação deles.)

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