Estudo sobre Lucas 8

Estudo sobre Lucas 8




Mais uma viagem de pregação (8.1)

A partir desse ponto, Jesus está constantemente em movimento, pregando o evangelho do reino de vila em vila e de cidade em cidade. Ele é acompanhado dos Doze, mas também por um pequeno grupo de mulheres que mostram sua gratidão por bênçãos recebidas dele, colocando seus recursos à disposição dele e de seus seguidores.

v. 2. Maria, chamada Madalena: Mencionada novamente no grupo de mulheres fiéis que ficaram perto de Jesus até o final e foram ao túmulo dele na manhã da Páscoa; cf. Mc 15.40,47; 16.1; Lc 24.10; Mt 27.56,61; 28.1. v. 3. Joana é mencionada também em Lc 24.10, mas em nenhum outro lugar; Susana não há outra menção dela. Têm havido conjecturas quanto à identidade de Cuza, mas não passam disso; o interessante é que Lucas tinha alguma informação acerca da corte de Herodes (cf. tb. Manaém, At 13.1).

Parábolas (8.4-18)

A jornada de pregações começa com um novo tipo de ensino — o ensino por parábolas. Grandes multidões se reúnem em volta dele, e ele lhes ensina as verdades espirituais usando comparações com coisas conhecidas do dia-a-dia, como o semeador que lança a sua semente, e a candeia, aquela lâmpada caseira tão comum. A descrição do semeador causa uma forte impressão em todos que a ouvem, mas Jesus chama seus discípulos à parte e lhes explica a sua importância espiritual.

É verdade que Jesus havia falado em parábolas antes disso, mas há ao menos dois pontos que marcam a diferença. Em primeiro lugar, a parábola agora se torna o meio principal de instrução. Os capítulos seguintes desse evangelho contêm as grandes parábolas que são a característica mais marcante e conhecida do ensino do nosso Senhor. Em segundo lugar, as parábolas são contadas de diversas formas, desde a comparação mais simples, passando por breves analogias e até provérbios, até as parábolas narrativas completas. Até aqui em Lucas, as primeiras predominaram, mas, a partir de agora, as grandes parábolas em forma de histórias são apresentadas.

v. 5-8. A parábola do semeador. A versão de Lucas é mais breve do que a dos outros sinópticos; por exemplo, ele omite as circunstâncias, registradas por Mateus e Marcos, de que ela foi ensinada de um barco a um público na margem. A parábola em si também é abreviada; e.g., o “terreno pedregoso” de Mateus/Marcos se torna pedras, uma expressão que não impede, de fato, a idéia de uma fina camada de terra para que a semente pudesse germinar. Mateus acrescenta a essa parábola uma série de outras que tratam todas do Reino dos céus; v. comentário dessas parábolas do reino em Mt 13. V. comentário da parábola do semeador em Mc 4.1-9.

v. 9-15. O uso de parábolas; o significado da parábola do semeador. Mateus e Marcos nos contam que os discípulos fizeram uma pergunta acerca de parábolas em geral (“Os discípulos aproximaram-se dele e perguntaram: ‘Por que falas ao povo por parábolas?’”, Mt 13.10; “...lhe fizeram perguntas acerca das parábolas”, Mc 4.10). Lucas, por outro lado, relata que eles perguntaram-lhe o que significava aquela parábola (v. 9). Jesus respondeu às duas perguntas. Em primeiro lugar, com relação ao ensino por parábolas, ele associou a sua resposta com Is 6.9, 10. Mateus dá essa resposta, que de forma alguma é de fácil compreensão, com uma extensão considerável (Mt 13.10-15); Marcos a abrevia de forma bastante drástica (Mc 4.10-12); Lucas a abrevia ainda mais. Em segundo lugar, Jesus prossegue e explica o significado da parábola do semeador. Todos os três sinópticos registram a explicação, e suas versões diferem pouco umas das outras. As vezes, se sugere que, porque (entre outras coisas) a explicação é um tanto alegórica no seu método, ela deve ter vindo da igreja primitiva, e não do próprio Jesus. Mas, embora devamos concordar com o fato de que o ensino da maioria das parábolas é encontrado na história como um todo, e não nos seus detalhes considerados um a um, há algumas parábolas, como a dos lavradores maus (Lc 20.9-18), por exemplo, que são claramente alegóricas. A do semeador parece que é uma dessas parábolas.

v. 16-18. A parábola da candeia. Uma analogia breve que Mateus coloca no Sermão do Monte (Mt 5.15) e que o próprio Lucas repete em 11.33. Os versículos que seguem a analogia também são repetidos em outro lugar por Lucas; cf. 8.17 com 12.2, e 8.18 com 19.26. A luz brilha, e é responsabilidade da Igreja não permitir que seja escondida (v. 16), mas existe também a responsabilidade por parte do ouvinte com relação a como ele ouve (v. 18).

O protesto da família (8.19-21)

A medida que a fama de Jesus cresce, circulam histórias que dão aos seus parentes a impressão de que ele se tornou um desequilibrado mental, e assim eles o visitam com a esperança de convencê-lo a voltar para casa. Mas ele se recusa a se submeter até aos mais preciosos vínculos terrenos e fala do círculo muito maior daqueles que são seus parentes pela fé e obediência. V. comentário de Mc 3.31-35.

Observação: A questão da identidade dos irmãos de Jesus (v. 19,20) é debatida com frequência. Quem eram eles? Teólogos católicos romanos, no seu desejo de salvaguardar a doutrina (não-bíblica) da virgindade perpétua de Maria, os consideram ou filhos de um casamento anterior de José, ou primos de Jesus. Mas parece não haver razão para não interpretar essas palavras no seu sentido natural, como o fez Tertuliano, e assim admitir que foram filhos que nasceram mais tarde a José e Maria.

Milagres (8.22-56)

V. comentário detalhado dessa seção em Mc 4.35—5.43.
Os eventos seguintes registrados por Lucas são quatro milagres extraordinários: Jesus acalma a tempestade (v. 22-25), liberta o endemoninhado e destrói os porcos (v. 2639), ressuscita a filha de Jairo (v. 40-42,4956) e cura a mulher com a hemorragia (v. 43-48).

O Senhor e seus discípulos entram num barco para cruzar o mar da Galileia, e é a primeira e única vez nos evangelhos que encontramos Jesus dormindo. Exausto em virtude do trabalho, o seu sono é profundo demais para ser interrompido por uma tremenda tempestade que irrompe. Os aterrorizados discípulos o acordam e, pasmos, veem que a tempestade é acalmada por uma ordem dele.

Quando chegam ao outro lado, na região dos gerasenos, Jesus mal desembarca e já encontra uma figura estranha, nua e desgrenhada de um endemoninhado que vive nos túmulos. Os demônios que habitam nele são expulsos e recebem permissão de Jesus para possuir a manada de porcos que pasta na região, que imediatamente estoura e se lança no mar. Os que cuidavam dos porcos tiveram a visão maravilhosa do ex-endemoninhado agora vestido e em perfeito juízo, mas, em parte por terror e em parte por causa da perda de lucros dos seus porcos, imploram que Jesus vá para outro lugar. O homem curado quer seguir Jesus como um discípulo, mas ele ouve a orientação de que pode fazer algo muito melhor se permanecer para testemunhar na sua própria cidade.

A recepção indelicada de Jesus e o fato de o apressarem sem cerimônia a sair dali estão em forte contraste com a boa recepção que ele tem quando volta para o lugar de onde tinha vindo. Aqui mais um suplicante o encontra, dessa vez não um paciente, porque ela é somente uma menina de 12 anos, mas o seu pai, Jairo, o dirigente da sinagoga. Ele suplica a Jesus que venha e cure a criança.

O Senhor, no entanto, interrompe sua caminhada para a casa de Jairo a fim de curar uma mulher que por doze anos sofria de uma hemorragia e agora se esforça para passar entre a multidão e tocar na borda do manto dele, crendo que dessa forma seria curada. O resultado dessa demora é a chegada de mais mensageiros de Jairo dizendo que a menina já morreu. Não obstante, Jesus continua a sua caminhada e encontra a casa de Jairo tomada pelos pranteadores profissionais, mas, visto que “não quer tornar a ressurreição dos mortos um negócio teatral e espetacular” (Geldenhuys, p. 262), ele deixa todos de fora, a não ser os pais da menina e os seus três discípulos mais íntimos, e, após entrar no aposento da morte com eles, realiza o segundo milagre de ressurreição, devolvendo a filha aos seus maravilhados pais.