Estudo sobre Lucas 6

Estudo sobre Lucas 6



Na história do homem com a mão atrofiada, Jesus mostra novamente como a lei do amor deve prevalecer sobre as observâncias rituais como o sábado, assim como, aliás, os seus oponentes fariam se estivesse em jogo um animal das suas posses.

O v. 11 resume o resultado dessa série de conflitos: Mas eles ficaram furiosos e começaram a discutir entre si o que poderiam fazer contra Jesus.

V. o comentário mais detalhado dessa seção (5.17—6.11) em Mc 2.1—3.6 ad loc.

A escolha dos Doze (6.12-16)

Os eventos agora levam definitivamente à ação por parte dos escribas e fariseus, e Jesus precisa preparar os seus seguidores para continuarem a sua obra quando ele já não estiver com eles. Assim, dentre os que o seguiram até aqui como discípulos, ele comissiona 12 para a responsabilidade maior do apostolado. Marcos nos dá um relato mais detalhado do propósito de Jesus em escolher esse círculo íntimo dentre todos os seus seguidores; Lucas omite isso, mas de forma característica prefacia o trecho com uma observação de que Jesus passou a noite em oração antes de dar esse passo e fazer a escolha.

v. 13. apóstolos. Vem de um verbo grego que significa “enviar”. Cf. a palavra portuguesa “missionário”, que vem de um verbo do latim com o mesmo significado. Apóstolos são homens que são enviados, i.e., comissionados para uma tarefa específica, v. 14-16. A lista é interessante, especialmente quando comparada com os nomes dados em Mc 3.1619; Mt 10.2-4; At 1.13. A ordem dos nomes difere ligeiramente nas quatro listas, mas cada uma se divide em três quartetos, cada um começando em todas as listas com o mesmo nome. Os nomes são:

(a) Pedro, com André, Tiago e João.
(b) Filipe, com Tomé, Bartolomeu e Mateus.
(c) Tiago, filho de Alfeu, com Simão, chamado Zelote, Judas, filho de Tiago, e Judas Iscariotes (que é o último em todas as listas).

v. 16. Judas, filho (nr. da RSV: “irmão”) de Tiago (cf. “Judas [não o Iscariotes]”, em Jo 14.22) não aparece em Mateus ou Marcos; mas Tadeu (Mc e Mt) é geralmente considerado a mesma pessoa. V. um estudo interessante da informação que temos acerca dos Doze em Wm. Barclay, The Master's Men (1959).

O grande sermão (6.17-49; cf. Mt 5—7)

Tendo descido do retiro no monte em que os Doze haviam sido escolhidos, Jesus encontra a costumeira multidão, vinda de lugares consideravelmente distantes, esperando cura e alívio. De novo, ele generosamente restaura corpos doentes, expulsa espíritos demoníacos e, então, expõe as leis do seu reino, falando principalmente aos seus discípulos (6.20; embora 6.17ss sugira que a multidão ainda está presente). Em Mt 5.1, o público parece constituído somente de discípulos até 7.12.

A relação entre o Sermão do Monte registrado em Mt 5—7 e o “Sermão da Planície” apresentado aqui tem ocupado com frequência a atenção dos estudiosos. As semelhanças são suficientemente claras para mostrar que uma tradição comum está por trás dos dois relatos; mesmo assim, há diferenças significativas, e isso constitui um problema. A versão de Mateus é muito mais abrangente do que a de Lucas, e há também divergências consideráveis nos detalhes. E claro que não é impossível que o Senhor tenha pregado o sermão a dois grupos diferentes, em ocasiões diferentes, e que tenhamos aqui relatos independentes de dois desses discursos.

v. 20-26. Ambas as versões começam com uma série de afirmações, geralmente chamadas Bem-aventuranças, definições da verdadeira felicidade, que formam, por assim dizer, o texto que o restante do Sermão vai explanar. Mateus traz uma série de nove; dessas, Lucas escolhe somente a primeira, a quarta, a segunda e a nona; mas acrescenta a elas quatro ais antitéticos, que lembram a linguagem profética do AT. Além disso, enquanto todas as Bem-aventuranças de Mateus, exceto a última, estão na terceira pessoa, as de Lucas estão na segunda.

v. 27-31. A lei do amor, com paralelo em Mt 5.44,39,40,42; e que termina com o que é frequentemente chamado de “Regra de Ouro” (v. 31; cf. Mt 7.12).

v. 32-36. Os ditados de Mt 5.44-48, numa ordem ligeiramente diferente.

v. 37,38. Uma forma ampliada de Mt 7.1, 2, um ditado acerca do tema de que tudo quanto um homem semear isso também colherá. Lucas acrescenta uma descrição da colheita, sugerindo em termos diversos que ela será rica.

v. 39-49. Uma breve coleção de parábolas completa a versão de Lucas, como também a de Mateus. Elas são introduzidas com dois ditados encontrados também em Mateus, mas em contextos diferentes. A relação entre as duas versões é como segue:

Lucas 6.39. Um cego conduzido por outro cego para o buraco. Mateus 15.14.
Lucas 6.40. O discípulo e seu senhor. Mateus 10.24,25.
Lucas 6.41,42. O cisco e a viga. Mateus 7.3-5.
Lucas 6.43-45. As árvores e seus frutos. Mateus 7.16-20; V. tb. 12.33-35.
Lucas 6.46-49. As duas casas. Mateus 7.21-27.


Diversos incidentes (7.1—8.3)

A seção 7.1-8 registra quatro incidentes que não são narrados por Marcos: a cura do servo do centurião, a ressurreição do filho da viúva, a resposta à perplexidade de João Batista e a unção de Jesus. G. B. Caird lhes confere o feliz título de “Amor em ação — o gentio; a viúva; o prisioneiro; o penitente”. O primeiro e o terceiro se encontram também em Mateus, e assim supostamente vêm de Q; o segundo e o quarto aparecem somente em Lucas.