Sangue — Estudos Bíblicos

Sangue — Estudos Bíblicos

Sangue — Estudos Bíblicos


SANGUE

Aquele fluido viscoso e vermelho, essencial à vida biológica, que flui pelo organismo inteiro através do sistema circulatório, levando oxigênio e nutrientes aos tecidos, e, ao mesmo tempo, removendo o dióxido de carbono e outros materiais decompostos. Nesse sentido literal, o sangue é freqüentemente mencionado nas Escrituras (ver Gên. 37:31; Exo. 23:18 ss; II Sam. 20:12; I Reis 18:28; Luc. 13:1) onde a alusão é ao sangue tanto de seres humanos quanto de animais irracionais.
1. Ideias das Culturas Antigas. Nos estágios iniciais de quase todas as culturas, o sangue é encarado com certo ar de respeito, o que tem provocado as noções mais estranhas. Alguns atribuem ao sangue um poder misterioso, pelo que os guerreiros bebiam o sangue de suas vítimas, a fim de adquirirem as energias vitais dos inimigos mortos. Alguns pensavam que era perigoso tocar no sangue. Outros supunham que o sangue derramado nas batalhas, o sangue da menstruação das mulheres, ou o sangue perdido por ocasião do parto, poderia transmitir um contágio qualquer, pelo que deveria ser lavado.
Os antigos semitas (ver o artigo), identificavam o sangue com princípio ativo da própria vida biológica. Por essa razão, proibiam a ingestão de sangue, derramavam sangue sobre altares consagrados, cobriam o sangue com terra, nos lugares sagrados, ou aplicavam o sangue a pedras que representavam deuses. Segundo eles imaginavam, desse modo os perigos e maravilhas do sangue podiam ser controlados e utilizados. O sangue podia ser visto como perigoso ou benéfico. Por isso mesmo era aspergido sobre os batentes das portas, para que a casa fosse protegida. Ou então os idosos tomavam sangue, a fim de recuperar a vitalidade da juventude. E o sangue também era empregado nas cerimônias de purificação e expiação. Alguns povos antigos chegavam a usar sangue, ao invés de água, em ritos batismais.
As pessoas que se consideravam íntimas bebiam um pouco do sangue uma da outra, como ato de união e dedicação mútua. O ato algumas vezes servia de selo confirmatório de algum pacto ou acordo, feito entre duas pessoas, ou mesmo entre duas nações. Os estrangeiros eram admitidos como cidadãos pela troca mútua de sangue, ou pela ingestão mútua de sangue.
 2. O Sangue Usado como Alimento. Muitas culturas antigas e modernas têm usado o sangue como alimento. Uma das mais vigorosas tribos africanas, os zulus, bebem o sangue de seu gado. Algumas vezes, a prática é ou era vinculada às ideias expostas no primeiro ponto. Além de servir de alimento, esperava-se que o sangue provesse ao seu consumidor alguma espécie de virtude. Dentro da cultura dos hebreus, era estritamente proibida a prática da ingestão de sangue (Gên. 9:4; Lev. 3:8; 7:26), especificamente diante do fato de que a vida da carne está no sangue. Em outras palavras, o sangue revestir-se-ia de virtudes misteriosas, tornando-se sagrado. Portanto, não servia como artigo próprio para a alimentação.
3. O Sangue e os Hebreus. No Antigo Testamento, a palavra hebraica dam, “sangue”, aparece por 362 vezes, das quais 203 como descrições de mortes violentas, e 103 vezes, em alusão a sacrifícios cruentos. Em três passagens do Antigo Testamento, o sangue é diretamente vinculado ao princípio da vida (Gên. 9:4; Deu. 12:23 e Lev. 17:11). Também já verificamos que os povos semitas se apegavam a essa ideia. 0 texto de Levítico mostra que, por causa desse conceito, surgiu a ideia da expiação pelo sangue. Mas, visto que o uso do sangue requer a morte de alguma vítima, o sangue também era associado à morte, na antiga cultura dos hebreus. De modo geral, pois, temos nesses sacrifícios alguma vida oferecida a Deus, envolvendo o supremo sacrifício da vítima, ou seja, a sua morte. Em tudo isso fica subentendida a seriedade do pecado, porquanto o pecado requer um remédio radical. A expiação é obtida através da morte da vítima, mas igualmente, por sua vida, oferecida no sangue.
4. O Sangue no Novo Testamento. 0 vocábulo grego aima, “sangue”, além de referir-se à morte sacrifical de Cristo, indica as ideias de reinado (João 1:13); da natureza humana (Mat. 16:17; I Cor. 15:50); de morte violenta (vinte e cinco trechos diferentes); e de animais sacrificados (doze referências, como se vê em Heb. 9:7,12 etc.) onde se enfatiza a perda da vida das vítimas, um conceito destacado no Antigo Testamento. Quanto ao sangue de Cristo e o valor expiatório do mesmo, há referências como Colossenses 1:20. Ver o artigo separado sobre esse assunto, que provê certa variedade de referências e ideias. Os intérpretes têm debatido se é a morte ou a vida perdida do animal que obtém a expiação. Penso que se trata de ambas as coisas, pois, afinal de contas, é a vida de Cristo que nos salva (Rom. 5:7) dando a entender a sua ressurreição e ascensão, em virtude do que ele tornou-se o Salvador medianeiro permanente. Aquele mesmo contexto, no nono versículo, afirma que o seu sangue nos justifica, o que nos fez pensar tanto em sua vida como em sua morte e ressurreição. A vida que Jesus viveu também faz parte de nossa inquirição espiritual, com vistas a nossa salvação final; porque, quando procuramos imitar a vida de Cristo, passamos a compartilhar de sua natureza metafísica, mediante operações do Espírito Santo (II Cor. 3:18). Como é que alguns teólogos separam essas ideias inseparáveis, como se fossem categorias distintas e valores isolados? Dentro do programa oe salvação, a vida e a morte de Jesus são fatores inseparáveis, embora em sentidos diferentes.
5 Sentidos Metafóricos, a. Temos visto como os sacrifícios cruentos simbolizavam tanto a vida quanto a morte e, como é óbvio, os sacrifícios do Antigo Testamento simbolizavam a morte expiatória de Cristo. A Epístola aos Hebreus tem isso como um de seus temas principais. Ver Heb. 7:27, quanto a uma declaração geral. b. Estar no próprio sangue indica que um estado imundo e destituído, uma condição de perdição (Eze. 16:6). c. Beber sangue indica ter a perversa satisfação de haver assassinado alguém (Eze 39:8; Isa. 49:26; Núm. 23:24). d. Ter de beber sangue, significa ser morto como retribuição por ter-se deleitado em derramar sangue (Apo. 17:7; Eze. 16:38). e. A vingança divina é retratada pelo ato de mergulhar os próprios pés no sangue (Sal. 58:10; 68:23). f. Um homem de sangue é uma pessoa cruel (II Sam. 16:7). g. O plural, sangues, aponta para homicídios repetidos (Gên. 4:10; II Sam. 3:28). h. Tirar o sangue da boca e das abominações significa libertar alguém do poder dessas coisas e de sua inclinação para o homicídio. (AM ID S Z.)