Obras de Deus — Estudos Bíblicos

Obras de Deus — Estudos Bíblicos

Obras de Deus — Estudos Bíblicos


OBRAS DE DEUS

Uma expressão bíblica comum, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, é “as obras de Deus”, ou, então, “as obras de Jesus”. Essa expressão denota tanto aquilo que foi criado por Deus quanto os atos de Deus, no decorrer da história humana. As palavras particularmente empregadas, nessa conexão, são os vocábulos gregos relacionados abaixo:
Érgon, “trabalho” (por exemplo, Mat. 11:2; João 3:36); megalela, “atos poderosos” (Atos 2:11); poíema, “realização”, “obra” (Rom. 1:20; Efé. 2:10) e, finalmente, megaleia, “operação”, “energia” (por exemplo, Efé. 1:19; Col. 2:12 e II Tes. 2:11).
Esboço:

I. No Antigo Testamento
A. As Obras Divinas
B. A Reação Humana
II. No Novo Testamento
A. Na Criação
B. Na Salvação

I. No Antigo Testamento

A. As Obras Divinas

1. Na Criação. Quando expõe sua vigorosa doutrina da criação, a Bíblia, mui naturalmente, usa o vocábulo érgon para descrever a totalidade da obra criativa de Deus. E faz isso em um sentido ativo, para indicar as realizações reais de Deus, conforme se vê, por exemplo, em Génesis 2:2,3: “E havendo Deus terminado no dia sétimo a sua obra, que fizera, descansou nesse dia de toda a sua obra que tinha feito. E abençoou Deus o dia sétimo, e o santificou; porque nele descansou de toda a obra que, como Criador, fizera”. E, no Novo Testamento, em Heb. 4:4: “Porque em certo lugar assim disse, no tocante ao sétimo dia: E descansou Deus, no sétimo dia, de todas as obras que fizera”. Contudo, no Antigo Testamento, conforme se vê na Septuaginta, também se vê um sentido passivo desse termo (cf. Sal. 8:6). Na verdade, o sentido passivo mescla-se com o sentido ativo, pois a obra criativa de Deus resultou na obra da criação,
A voz passiva é muito mais comum e clara, no plural, aludindo aos fenômenos individuais da natureza. Assim, os céus são obras dos dedos de Deus (ver Sal. 8:3). Todas as criaturas são obras de suas mãos, mormente no caso dos seres humanos. E é com base nesse fato que os crentes buscam a proteção e a misericórdia divinas (Sal. 138:8, etc.). Os descendentes de Jacó, tal como os crentes em Jesus, são especialmente descritos como obras das mãos de Deus (ver Sal. 90:16, na Septuaginta; Isa. 29:23). E as realizações históricas de Deus também poderiam ser classificadas como obras divinas.
2. Na História. O Antigo Testamento também alude aos atos divinos na história da humanidade. Esses atos divinos históricos são, acima de tudo, atos de intervenção libertadora. Os acontecimentos registrados no livro de Êxodo são os atos divinos libertadores, realizados especialmente em favor do povo de Israel. Tais obras, com frequência, são de natureza miraculosa, ou seja, atos poderosos, que transcendem ao curso normal da história. Para exemplificar: “Disse o Senhor a Moisés: Agora verás o que hei de fazer ao Faraó; pois por mão poderosa os deixará ir, e por mão poderosa os lançará fora da sua terra” (Êxo. 6:1). E foi daí que sobrevieram as dez pragas do Egito.
Não se deve pensar, entretanto, que essas intervenções divinas, em favor de seu povo antigo, cessaram quando eles entraram na terra de Canaã. Os atos básicos de redenção servem de garantia constante acerca de novas obras interventoriais de Deus. Assim, de certa feita, o Senhor livrou Judá e Jerusalém dos assírios, e, mais tarde, restaurou o povo de Israel à sua própria terra, quando estavam exilados na Babilónia há setenta anos.
Por outra parte, se as obras de Deus eram, predominantemente, intervenções libertadoras, também há um lado reverso. Pois o livramento de Israel, às margens do mar Vermelho, significou a ruína dos egípcios. E o mesmo povo judaico que, por diversas vezes foi libertado de seus opressores, por intermédio dos juízes, em outras oportunidades foi entregue às mãos de seus adversários, quando pecou. Os profetas de Israel, em particular, por muitas vezes anunciaram o julgamento divino, mediante obras de Deus, no tocante a um povo rebelde e de duro coração: “Porque o Senhor se levantará como no monte Perazim, e se irará, como no vale de Gibeom, para realizar a sua obra, a sua obra estranha, e para executar o seu ato, o seu ato inaudito. Agora pois, não mais escarneçais, para que os vossos grilhões não se façam mais fortes; porque já ao Senhor, Deus dos Exércitos, ouvi falar duma destruição, e essa já está determinada sobre toda a terra” (Isa. 28:21,22). Os crentes individuais podem conhecer, experimentalmente, as poderosas obras de intervenção de Deus, conforme transparece, por tantas vezes, nos Salmos. Em último lugar, mas não de somenos importância, devemos pensar nas obras escatológicas de Deus. “Todos os do teu povo serão justos, para sempre herdarão a terra; serão renovos por mim plantados, obra das minhas mãos, para que eu seja glorificado” (Isa. 60:21).

B. A Reação Humana

1. A Meditação. As realizações portentosas de Deus, na criação e nas intervenções divinas na história humana, requerem que os homens reajam favoravelmente a elas. Em primeiro lugar, o homem deve considerar essas obras. Várias palavras são usadas nessa conexão. O homem não deveria esquecer as grandes coisas realizadas por Deus (ver Sal. 77:11), além do que, cumpre-lhe meditar sobre elas, conforme se aprende em Salmos 77:12: “Considero também nas tuas obras todas, e cogito dos teus prodígios”. Essa meditação prepara o crente para enfrentar melhor as tribulações, quando estas chegarem.
2. Ação de Graças e Louvor. Em segundo lugar, o homem deve se mostrar agradecido a Deus, por suas obras. “Rendam graças ao Senhor por sua bondade e por suas maravilhas para com os filhos dos homens”, prorrompe o salmista (Sal. 107:15; ver também os vss. 21 e 31). O homem está na obrigação moral de louvar e de bendizer a Deus, autor de tantas coisas boas para os homens (Salmos 145). Esses atos divinos são poderosos e terríveis (Sal. 66:3). Deus os realiza, movido pela sua fidelidade (Sal. 33:4). Essas obras manifestam o governo controlador de Deus (Sal. 90:16). Mas, embora possam ser percebidas, essas realizações são, realmente, insondáveis (Ecl. 8:17). São atentamente examinadas por todos aqueles que têm prazer nas obras de Deus (Sal. 111:2). Finalmente, as próprias obras divinas aliam-se ao louvor Àquele que as criou, segundo se vê em Salmos 145:10: “Todas as tuas obras te renderão graças, Senhor; e os teus santos te bendirão”.
3. Proclamação. Em último lugar, cabe-nos considerar que o homem deve declarar as poderosas obras de Deus. Ele deve ensinar tais coisas aos seus filhos (Sal. 78:4) como também deve anunciá-las a seus semelhantes. Tornar conhecidos, aos filhos dos homens, os poderosos atos divinos, é a tarefa básica que confere unidade à vida inteira do ministério e da adoração. “Falarão da glória do teu reino, e confessarão o teu poder, para que aos filhos dos homens se façam notórios os teus poderosos feitos, e a glória da majestade do teu reino” (Sal. 145:11,12).

II. No Novo Testamento

A. Na Criação. O que o Novo Testamento tem a dizer acerca das obras do Senhor Deus é, essencialmente, a mesma coisa que se acha no Antigo Testamento. A única referência é que, no Novo Testamento, essas obras são atribuídas, igualmente, a Jesus Cristo, por intermédio de Quem todas as coisas foram feitas. “Todas as cousas foram feitas por intermédio dele, e sem ele nada do que foi feito se fez” (João 1:3). Destarte, as obras de Deus, em um sentido perfeitamente literal, são as obras de Jesus. Deus Pai faz tudo através do Filho. “Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também” (João 5:17).
No Novo Testamento, essa intermediação de Cristo, nas obras da criação, pode ser vista desde a criação. Todas as coisas foram criadas por meio de Cristo, “nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis... Tudo foi criado por meio dele e para ele” (Col. 1:16). Deus criou os mundos por meio do Filho (ver Heb. 1:2). Por isso mesmo, as obras da criação são obras de Jesus Cristo. Tudo gira em torno dele.
B. Na Salvação
1. No Livro de Atos. Entretanto, a ênfase principal do Novo Testamento recai sobre a obra salvaticia de Deus, realizada em Jesus Cristo. E não deveria ser de estranhar que os evangelhos sinópticos pouco declarem diretamente sobre isso. Esses evangelhos meramente registram as obras de Cristo, que atingiram o seu ponto culminante na crucificação e na ressurreição. Todavia, essas realizações testificam, com tremenda eloquência, o papel de Jesus como Salvador. Nos evangelhos sinópticos, a menção às obras de Cristo é posta nos lábios de João Batista: “Quando João ouviu, no cárcere, falar das obras de Cristo, mandou por seus discípulos perguntar-lhe: “És tu aquele que estava para vir, ou havemos de esperar outro?” (Mat. 11:2,3).
Todavia, na pregação da Igreja primitiva, historiada no livro de Atos, o quadro descritivo altera-se drasticamente. Uma vez dotados de poder pelo Espirito Santo, os apóstolos declararam abertamente as admiráveis obras de Deus, na pessoa de Cristo, “...como os ouvimos falar, em nossas próprias línguas, as grandezas de Deus?” (Atos 2:11). E, já no primeiro dia da vida da Igreja, dirigida pelo Espírito de Cristo, o dia de Pentecostes, as obras de Cristo foram destacadas na prédica apostólica: “Varões israelitas, atendei a estas palavras: Jesus, o Nazareno, varão aprovado por Deus diante de vós, com milagres, prodígios e sinais, os quais o próprio Deus realizou por intermédio dele entre vós, como vós mesmos sabeis, sendo este entregue pelo determinado desígnio e presciência de Deus, vós o matastes, crucificando-o por mãos de iníquos; ao qual, porém, Deus ressuscitou, rompendo os grilhões da morte...” (Atos 2:22-24). Essa citação do âmago da pregação de Pedro, naquele dia, mostra-nos que o coroamento das realizações salvatícias de Deus, em Jesus Cristo, foi a crucificação e a ressurreição de Jesus Cristo.
E, no decorrer do ministério dos apóstolos originais, como também durante o ministério do apóstolo dos gentios, chamado bem mais tarde, eram efetuadas grandes maravilhas, notáveis prodígios, provenientes de Jesus Cristo, “...enquanto estendes a mão para fazer curas, sinais e prodígios, por intermédio do nome do teu santo Servo Jesus. Tendo eles orado, tremeu o lugar onde estavam reunidos, todos ficaram cheios do Espírito Santo e, com intrepidez, anunciavam a palavra de Deus” (Atos 4:30,31).
E, se as curas e ressurreições eram obras prodigiosas de Deus, outro tanto se pode dizer no tocante à atividade dos missionários cristãos. Poderíamos exemplificar com o ministério de Paulo e Barnabé. “Entretanto demoraram-se ali muito tempo, falando ousadamente no Senhor, o qual confirmava a palavra da sua graça, concedendo que por mão deles se fizessem sinais e prodígios” (Atos 14:3). Isso posto, o Senhor Jesus continuou operando miraculosamente no mundo, por intermédio do Espírito Santo, o seu alter ego.
2. João. No quarto evangelho, as obras realizadas por Cristo figuram com destaque. Antes de tudo, essas obras prestam testemunho acerca de sua verdadeira identidade: “Mas eu tenho maior testemunho do que o de João; porque as obras que o Pai me confiou para que eu as realizasse, essas que eu faço, testemunham a meu respeito, de que o Pai me enviou” (João 5:36). Essas obras de Jesus eram boas (João 10:32). Eram as próprias obras de Deus (João 9:3). Foram dadas pelo Pai, para que Cristo as realizasse (João 5:37). E, para nós, que vivemos às vésperas do século XXI, ou mesmo já dentro dele, não esta vedado ter maravilhosas experiências com as realizações de Cristo, conforme ele mesmo esclareceu, falando a Tomé: “Não crês que eu estou no Pai e que o Pai está em mim? As palavras que eu vos digo não as digo por mim mesmo; mas o Pai, que permanece em mim, faz as suas obras. Crede-me que eu estou no Pai, e o Pai em mim; crede ao menos por causa das mesmas obras. Em verdade, em verdade vos digo que aquele que crê em mim, fará também as obras que eu faço, e outras maiores fará, porque eu vou para junto do Pai” (João 14:10-12).
No tocante à maior realização de Cristo, a salvação das almas, é usado o termo “obra”, no singular, conforme se vê em João 6:29, para exemplificar: “Respondeu-lhes Jesus: A obra de Deus é esta, que creiais naquele que por ele foi enviado. Os judeus haviam indagado como realizariam as obras de Deus, e essa foi a resposta dada pelo Senhor Jesus. Assim, os homens participam das obras de Deus confiando em Jesus como Salvador, porquanto essa é a grande obra de Deus. Essa grandiosa realização de Deus está separando os homens em duas classes distintas: os salvos, que são aqueles que chegam a confiar em Jesus; e os perdidos, que são aqueles que rejeitam o testemunho dado pelo Senhor Jesus.
3. Paulo. O apóstolo dos gentios também não se descuidou em enfatizar as obras de Deus. Entretanto, de modo um tanto diferente do que fez o apóstolo João, Paulo se preocupava, primariamente, com essa obra divina, como o atual ministério do evangelho no mundo, sob a orientação do Espírito de Cristo. Assim, os crentes de Corinto eram uma realização de Paulo, no Senhor, “...acaso não sois fruto do meu trabalho no Senhor?” (I Cor. 9:1b). Para Paulo, uma das realizações dos crentes consiste em procurar edificar aos irmãos, segundo se vê em Romanos 15:2. E todos os crentes podem e devem participar dessa realização (I Cor. 15:58). Apesar disso, contrariamente à opinião de alguns, não há um real sinergismo (vide), porquanto é Deus quem opera tudo nos crentes, desde o impulso inicial até a concretização final, segundo vemos em Filipenses 1:6: ”Estou plenamente certo de que aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até ao dia de Cristo Jesus” (Fil. 1:6). Os crentes, que assim cooperam com o Espírito de Cristo, são, eles mesmos, uma realização de Deus, criados com vistas às boas obras, ”...somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras...” (Efé. 2:10). Dessa forma, as realizações de Cristo continuam sendo realizações de Deus, em Jesus Cristo, redundando em sua glória e louvor.
De tudo quanto foi exposto, conclui-se que as obras de Deus, em Jesus Cristo, são tão importantes quanto a doutrina que Cristo ensinou. Lucas frisa essa verdade, ao escrever a Teófilo: “Escrevi o primeiro livro (o evangelho de Lucas), ó Teófilo, relatando todas as cousas que Jesus fez e ensinou...” (Atos 1:1).OBRAS DE DEUS
Uma expressão bíblica comum, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, é “as obras de Deus”, ou, então, “as obras de Jesus”. Essa expressão denota tanto aquilo que foi criado por Deus quanto os atos de Deus, no decorrer da história humana. As palavras particularmente empregadas, nessa conexão, são os vocábulos gregos relacionados abaixo:
Érgon, “trabalho” (por exemplo, Mat. 11:2; João 3:36); megalela, “atos poderosos” (Atos 2:11); poíema, “realização”, “obra” (Rom. 1:20; Efé. 2:10) e, finalmente, megaleia, “operação”, “energia” (por exemplo, Efé. 1:19; Col. 2:12 e II Tes. 2:11).
Esboço:
I. No Antigo Testamento
A. As Obras Divinas
B. A Reação Humana
II. No Novo Testamento
A. Na Criação
B. Na Salvação

I. No Antigo Testamento

A. As Obras Divinas

1. Na Criação. Quando expõe sua vigorosa doutrina da criação, a Bíblia, mui naturalmente, usa o vocábulo érgon para descrever a totalidade da obra criativa de Deus. E faz isso em um sentido ativo, para indicar as realizações reais de Deus, conforme se vê, por exemplo, em Génesis 2:2,3: “E havendo Deus terminado no dia sétimo a sua obra, que fizera, descansou nesse dia de toda a sua obra que tinha feito. E abençoou Deus o dia sétimo, e o santificou; porque nele descansou de toda a obra que, como Criador, fizera”. E, no Novo Testamento, em Heb. 4:4: “Porque em certo lugar assim disse, no tocante ao sétimo dia: E descansou Deus, no sétimo dia, de todas as obras que fizera”. Contudo, no Antigo Testamento, conforme se vê na Septuaginta, também se vê um sentido passivo desse termo (cf. Sal. 8:6). Na verdade, o sentido passivo mescla-se com o sentido ativo, pois a obra criativa de Deus resultou na obra da criação,
A voz passiva é muito mais comum e clara, no plural, aludindo aos fenômenos individuais da natureza. Assim, os céus são obras dos dedos de Deus (ver Sal. 8:3). Todas as criaturas são obras de suas mãos, mormente no caso dos seres humanos. E é com base nesse fato que os crentes buscam a proteção e a misericórdia divinas (Sal. 138:8, etc.). Os descendentes de Jacó, tal como os crentes em Jesus, são especialmente descritos como obras das mãos de Deus (ver Sal. 90:16, na Septuaginta; Isa. 29:23). E as realizações históricas de Deus também poderiam ser classificadas como obras divinas.
2. Na História. O Antigo Testamento também alude aos atos divinos na história da humanidade. Esses atos divinos históricos são, acima de tudo, atos de intervenção libertadora. Os acontecimentos registrados no livro de Êxodo são os atos divinos libertadores, realizados especialmente em favor do povo de Israel. Tais obras, com frequência, são de natureza miraculosa, ou seja, atos poderosos, que transcendem ao curso normal da história. Para exemplificar: “Disse o Senhor a Moisés: Agora verás o que hei de fazer ao Faraó; pois por mão poderosa os deixará ir, e por mão poderosa os lançará fora da sua terra” (Êxo. 6:1). E foi daí que sobrevieram as dez pragas do Egito.
Não se deve pensar, entretanto, que essas intervenções divinas, em favor de seu povo antigo, cessaram quando eles entraram na terra de Canaã. Os atos básicos de redenção servem de garantia constante acerca de novas obras interventoriais de Deus. Assim, de certa feita, o Senhor livrou Judá e Jerusalém dos assírios, e, mais tarde, restaurou o povo de Israel à sua própria terra, quando estavam exilados na Babilónia há setenta anos.
Por outra parte, se as obras de Deus eram, predominantemente, intervenções libertadoras, também há um lado reverso. Pois o livramento de Israel, às margens do mar Vermelho, significou a ruína dos egípcios. E o mesmo povo judaico que, por diversas vezes foi libertado de seus opressores, por intermédio dos juízes, em outras oportunidades foi entregue às mãos de seus adversários, quando pecou. Os profetas de Israel, em particular, por muitas vezes anunciaram o julgamento divino, mediante obras de Deus, no tocante a um povo rebelde e de duro coração: “Porque o Senhor se levantará como no monte Perazim, e se irará, como no vale de Gibeom, para realizar a sua obra, a sua obra estranha, e para executar o seu ato, o seu ato inaudito. Agora pois, não mais escarneçais, para que os vossos grilhões não se façam mais fortes; porque já ao Senhor, Deus dos Exércitos, ouvi falar duma destruição, e essa já está determinada sobre toda a terra” (Isa. 28:21,22). Os crentes individuais podem conhecer, experimentalmente, as poderosas obras de intervenção de Deus, conforme transparece, por tantas vezes, nos Salmos. Em último lugar, mas não de somenos importância, devemos pensar nas obras escatológicas de Deus. “Todos os do teu povo serão justos, para sempre herdarão a terra; serão renovos por mim plantados, obra das minhas mãos, para que eu seja glorificado” (Isa. 60:21).

B. A Reação Humana

1. A Meditação. As realizações portentosas de Deus, na criação e nas intervenções divinas na história humana, requerem que os homens reajam favoravelmente a elas. Em primeiro lugar, o homem deve considerar essas obras. Várias palavras são usadas nessa conexão. O homem não deveria esquecer as grandes coisas realizadas por Deus (ver Sal. 77:11), além do que, cumpre-lhe meditar sobre elas, conforme se aprende em Salmos 77:12: “Considero também nas tuas obras todas, e cogito dos teus prodígios”. Essa meditação prepara o crente para enfrentar melhor as tribulações, quando estas chegarem.
2. Ação de Graças e Louvor. Em segundo lugar, o homem deve se mostrar agradecido a Deus, por suas obras. “Rendam graças ao Senhor por sua bondade e por suas maravilhas para com os filhos dos homens”, prorrompe o salmista (Sal. 107:15; ver também os vss. 21 e 31). O homem está na obrigação moral de louvar e de bendizer a Deus, autor de tantas coisas boas para os homens (Salmos 145). Esses atos divinos são poderosos e terríveis (Sal. 66:3). Deus os realiza, movido pela sua fidelidade (Sal. 33:4). Essas obras manifestam o governo controlador de Deus (Sal. 90:16). Mas, embora possam ser percebidas, essas realizações são, realmente, insondáveis (Ecl. 8:17). São atentamente examinadas por todos aqueles que têm prazer nas obras de Deus (Sal. 111:2). Finalmente, as próprias obras divinas aliam-se ao louvor Àquele que as criou, segundo se vê em Salmos 145:10: “Todas as tuas obras te renderão graças, Senhor; e os teus santos te bendirão”.
3. Proclamação. Em último lugar, cabe-nos considerar que o homem deve declarar as poderosas obras de Deus. Ele deve ensinar tais coisas aos seus filhos (Sal. 78:4) como também deve anunciá-las a seus semelhantes. Tornar conhecidos, aos filhos dos homens, os poderosos atos divinos, é a tarefa básica que confere unidade à vida inteira do ministério e da adoração. “Falarão da glória do teu reino, e confessarão o teu poder, para que aos filhos dos homens se façam notórios os teus poderosos feitos, e a glória da majestade do teu reino” (Sal. 145:11,12).

II. No Novo Testamento

A. Na Criação. O que o Novo Testamento tem a dizer acerca das obras do Senhor Deus é, essencialmente, a mesma coisa que se acha no Antigo Testamento. A única referência é que, no Novo Testamento, essas obras são atribuídas, igualmente, a Jesus Cristo, por intermédio de Quem todas as coisas foram feitas. “Todas as cousas foram feitas por intermédio dele, e sem ele nada do que foi feito se fez” (João 1:3). Destarte, as obras de Deus, em um sentido perfeitamente literal, são as obras de Jesus. Deus Pai faz tudo através do Filho. “Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também” (João 5:17).
No Novo Testamento, essa intermediação de Cristo, nas obras da criação, pode ser vista desde a criação. Todas as coisas foram criadas por meio de Cristo, “nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis... Tudo foi criado por meio dele e para ele” (Col. 1:16). Deus criou os mundos por meio do Filho (ver Heb. 1:2). Por isso mesmo, as obras da criação são obras de Jesus Cristo. Tudo gira em torno dele.
B. Na Salvação
1. No Livro de Atos. Entretanto, a ênfase principal do Novo Testamento recai sobre a obra salvaticia de Deus, realizada em Jesus Cristo. E não deveria ser de estranhar que os evangelhos sinópticos pouco declarem diretamente sobre isso. Esses evangelhos meramente registram as obras de Cristo, que atingiram o seu ponto culminante na crucificação e na ressurreição. Todavia, essas realizações testificam, com tremenda eloquência, o papel de Jesus como Salvador. Nos evangelhos sinópticos, a menção às obras de Cristo é posta nos lábios de João Batista: “Quando João ouviu, no cárcere, falar das obras de Cristo, mandou por seus discípulos perguntar-lhe: “És tu aquele que estava para vir, ou havemos de esperar outro?” (Mat. 11:2,3).
Todavia, na pregação da Igreja primitiva, historiada no livro de Atos, o quadro descritivo altera-se drasticamente. Uma vez dotados de poder pelo Espirito Santo, os apóstolos declararam abertamente as admiráveis obras de Deus, na pessoa de Cristo, “...como os ouvimos falar, em nossas próprias línguas, as grandezas de Deus?” (Atos 2:11). E, já no primeiro dia da vida da Igreja, dirigida pelo Espírito de Cristo, o dia de Pentecostes, as obras de Cristo foram destacadas na prédica apostólica: “Varões israelitas, atendei a estas palavras: Jesus, o Nazareno, varão aprovado por Deus diante de vós, com milagres, prodígios e sinais, os quais o próprio Deus realizou por intermédio dele entre vós, como vós mesmos sabeis, sendo este entregue pelo determinado desígnio e presciência de Deus, vós o matastes, crucificando-o por mãos de iníquos; ao qual, porém, Deus ressuscitou, rompendo os grilhões da morte...” (Atos 2:22-24). Essa citação do âmago da pregação de Pedro, naquele dia, mostra-nos que o coroamento das realizações salvatícias de Deus, em Jesus Cristo, foi a crucificação e a ressurreição de Jesus Cristo.
E, no decorrer do ministério dos apóstolos originais, como também durante o ministério do apóstolo dos gentios, chamado bem mais tarde, eram efetuadas grandes maravilhas, notáveis prodígios, provenientes de Jesus Cristo, “...enquanto estendes a mão para fazer curas, sinais e prodígios, por intermédio do nome do teu santo Servo Jesus. Tendo eles orado, tremeu o lugar onde estavam reunidos, todos ficaram cheios do Espírito Santo e, com intrepidez, anunciavam a palavra de Deus” (Atos 4:30,31).
E, se as curas e ressurreições eram obras prodigiosas de Deus, outro tanto se pode dizer no tocante à atividade dos missionários cristãos. Poderíamos exemplificar com o ministério de Paulo e Barnabé. “Entretanto demoraram-se ali muito tempo, falando ousadamente no Senhor, o qual confirmava a palavra da sua graça, concedendo que por mão deles se fizessem sinais e prodígios” (Atos 14:3). Isso posto, o Senhor Jesus continuou operando miraculosamente no mundo, por intermédio do Espírito Santo, o seu alter ego.
2. João. No quarto evangelho, as obras realizadas por Cristo figuram com destaque. Antes de tudo, essas obras prestam testemunho acerca de sua verdadeira identidade: “Mas eu tenho maior testemunho do que o de João; porque as obras que o Pai me confiou para que eu as realizasse, essas que eu faço, testemunham a meu respeito, de que o Pai me enviou” (João 5:36). Essas obras de Jesus eram boas (João 10:32). Eram as próprias obras de Deus (João 9:3). Foram dadas pelo Pai, para que Cristo as realizasse (João 5:37). E, para nós, que vivemos às vésperas do século XXI, ou mesmo já dentro dele, não esta vedado ter maravilhosas experiências com as realizações de Cristo, conforme ele mesmo esclareceu, falando a Tomé: “Não crês que eu estou no Pai e que o Pai está em mim? As palavras que eu vos digo não as digo por mim mesmo; mas o Pai, que permanece em mim, faz as suas obras. Crede-me que eu estou no Pai, e o Pai em mim; crede ao menos por causa das mesmas obras. Em verdade, em verdade vos digo que aquele que crê em mim, fará também as obras que eu faço, e outras maiores fará, porque eu vou para junto do Pai” (João 14:10-12).
No tocante à maior realização de Cristo, a salvação das almas, é usado o termo “obra”, no singular, conforme se vê em João 6:29, para exemplificar: “Respondeu-lhes Jesus: A obra de Deus é esta, que creiais naquele que por ele foi enviado. Os judeus haviam indagado como realizariam as obras de Deus, e essa foi a resposta dada pelo Senhor Jesus. Assim, os homens participam das obras de Deus confiando em Jesus como Salvador, porquanto essa é a grande obra de Deus. Essa grandiosa realização de Deus está separando os homens em duas classes distintas: os salvos, que são aqueles que chegam a confiar em Jesus; e os perdidos, que são aqueles que rejeitam o testemunho dado pelo Senhor Jesus.
3. Paulo. O apóstolo dos gentios também não se descuidou em enfatizar as obras de Deus. Entretanto, de modo um tanto diferente do que fez o apóstolo João, Paulo se preocupava, primariamente, com essa obra divina, como o atual ministério do evangelho no mundo, sob a orientação do Espírito de Cristo. Assim, os crentes de Corinto eram uma realização de Paulo, no Senhor, “...acaso não sois fruto do meu trabalho no Senhor?” (I Cor. 9:1b). Para Paulo, uma das realizações dos crentes consiste em procurar edificar aos irmãos, segundo se vê em Romanos 15:2. E todos os crentes podem e devem participar dessa realização (I Cor. 15:58). Apesar disso, contrariamente à opinião de alguns, não há um real sinergismo (vide), porquanto é Deus quem opera tudo nos crentes, desde o impulso inicial até a concretização final, segundo vemos em Filipenses 1:6: ”Estou plenamente certo de que aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até ao dia de Cristo Jesus” (Filp. 1:6). Os crentes, que assim cooperam com o Espírito de Cristo, são, eles mesmos, uma realização de Deus, criados com vistas às boas obras, ”...somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras...” (Efé. 2:10). Dessa forma, as realizações de Cristo continuam sendo realizações de Deus, em Jesus Cristo, redundando em sua glória e louvor.
De tudo quanto foi exposto, conclui-se que as obras de Deus, em Jesus Cristo, são tão importantes quanto a doutrina que Cristo ensinou. Lucas frisa essa verdade, ao escrever a Teófilo: “Escrevi o primeiro livro (o evangelho de Lucas), ó Teófilo, relatando todas as cousas que Jesus fez e ensinou...” (Atos 1:1).