Interpretação de Esdras 4

Esdras 4 retrata a oposição enfrentada pela comunidade judaica que voltou ao reconstruir o templo em Jerusalém. Adversários de regiões vizinhas se oferecem para colaborar, mas têm segundas intenções para impedir o projeto. Seus esforços incluem desencorajar a comunidade e escrever cartas ao rei persa para impedir a reconstrução. O rei Artaxerxes responde ordenando a suspensão da construção. O capítulo destaca as complexidades do cenário político e os desafios de manter o processo de reconstrução. Isso prepara o terreno para novos conflitos e obstáculos enfrentados pela comunidade judaica em sua busca pela restauração de seu centro religioso.

Oposição à Obra. 4:1-24
Tão logo os alicerces foram lançados começaram os problemas para os judeus. Primeiro veio a tentação de comprometer seu testemunho. Quando conseguiram resistir a isto com efeito, começou uma oposição ativa e continuou intermitente desde os dias de Ciro até os dias de Artaxerxes.

4:1. Os adversários de Judá e Benjamim. Estas duas tribos foram mencionadas de maneira particular porque agora constituíam a maioria da nação, e era principalmente em seus antigos territórios que o remanescente vivia agora.

4:2. Desde os dias de Esar-Hadom. Isaías profetizara que ai dez tribos do norte deixariam de ser um povo à parte dentro de sessenta e cinco anos. Considerando que ele o profetizou em 734 A.C. (Is. 7:8), a profecia se cumpriu em 669 A.C., dentro do reinado de Esar-Hadom, rei da Assíria (680-668 A.C.), que foi o responsável pela introdução de estrangeiros em Samaria (II Reis 17:24). Esses estrangeiros casaram-se com israelitas, e foram seus descendentes que agora se aproximaram de Zorobabel, dizendo: “Como vós, buscaremos a vosso Deus”. Foi uma proposta perigosíssima, pois veio disfarçada em religião verdadeira (II Cr. 11:15; cons. II Co. 6:17).

4:3. Nós mesmos, sozinhos, a edificaremos. Isto é, o povo de Jeová em oposição às “gentes da terra” (v. 4). Zorobabel viu claramente a impossibilidade de aceitar pagãos em base de igualdade com os verdadeiros judeus na construção do Templo de Jeová. Esses samaritanos revelaram seu verdadeiro caráter quando, depois de rejeições posteriores, edificaram seu próprio templo no Monte Gerizim (Jo. 4:20-22).

4:4. Desanimaram o povo de Judá. O profeta Jeremias foi acusado de fazer isso no seu tempo (Jr. 38:4).

4:5. Alugaram contra eles conselheiros. Teria isto acontecido na corte de Susã? Se isto aconteceu em 535 A.C., então provavelmente Daniel já não vivia mais e não havia nenhum judeu influente intercedendo pela nação na corte persa. Todos os dias de Cito, rei da Pérsia, até ao reinado de Dario, rei da Pérsia. Isto se refere aos anos que restavam a Ciro (535-530 A.C.), ao reinado de Cambises (530-522 A.C.), ao breve reinado de Esmerdis (522 A.C.) até o segundo ano de Dario I (521-520 A.C.). Depois da parentética história da oposição (vs. 6-23), a história propriamente dita é retomada (v. 24).

4:6. Agora começa um parêntesis na história principal, que fala de semelhante oposição aos judeus nos dias de Xerxes (486-465 A.C.) e Artaxerxes (464-423 A.C.). Uma vez que Assuero (em hebraico, ‘ahashwerosh) foi mencionado no versículo 6, depois de Dario no versículo 5, e tem o mesmo nome do rei do Livro de Ester, deve ter parecido óbvio aos comentaristas mais antigos que este era Xerxes. Uma acusação. A mesma raiz no hebraico para Satanás, “o acusador” (I Cr. 21:1; Jó 1: 6). Esta acusação escrita enviada a Xerxes em 486 A.C. não foi mencionada em nenhum outro lugar do V.T.

4:7. Bislão, Mitredate, Tabeel eram provavelmente samaritanos que pagaram a dois altos oficiais persas – Reum, o comandante, e Sinsai, o escrivão (v. 8) – para escrever a carta de 4:11-16 a Artaxerxes, acusando os judeus da reconstrução dos muros de Jerusalém. Tabeel (Deus é bom) talvez seja o mesmo Tobias (Jeová é bom) de Ne. 2:19. Na língua siríaca. Em aramaico, a língua comercial do Crescente Fértil durante o primeiro milênio A.C. Não somente esta carta de 4:11-16 foi escrita em aramaico, mas todo o trecho de Esdras desde 4:8 até 6:18. Este aramaico é muito parecido como dos papiros elefantinos.

4:9. Afarsaquitas. Cons. 5:6. Keil cria que eram membros de um povo especialmente devotado ao rei da Pérsia, que tinha posição de destaque entre os colonos da Síria. Alguns dos outros povos são difíceis de se identificar, embora a maior parte deles tenha provavelmente vindo de regiões da Babilônia, Pérsia e Média (cons. II Reis 17:24).

4:10. O grande e afamado Asnapar. O grande rei assírio Assurbanipal (688-626 A.C.), que completou o transplante dos povos que Esar-Hadom (v. 2) começara, um ou dois anos antes, a fazer em somaria.

4:12. E em tal tempo. Literalmente, e assim por diante. Esta abreviação da costumeira e extensa saudação aparece novamente em 4:11, 17; 7:12.

4:12, 13. Os inimigos dos judeus aqui professam grande preocupação pelo bem-estar do rei da Pérsia. Seu relatório sobre o progresso dos muros (v. 12) está obviamente exagerado, à luz do versículo 13. Não obstante, parece claro que alguns esforços foram despendidos para a reconstrução dos muros de Jerusalém, possivelmente por causa do estímulo de Esdras (veja observação sobre o v. 23). A construção do Templo não foi considerada nesta carta, pois já fora completada em 515 A.C. (6:15). Aquela rebelde e malvada cidade. Cons. 4:15. Jerusalém certamente se comprovara ser assim sob os trágicos reinados de Jeoaquim (II Reis 24:1) e Zedequias (II Cr. 36:13). E até onde os assírios estavam envolvidos, também foi assim nos dias de Ezequias e Manassés (II Cr. 32 : 33).

4:14. Somos assalariados do rei. Literalmente, comemos o sal do palácio.

4:15. No fim dos crônicas de seus pais. Veja Ester 6:1, onde Xerxes, o pai de Dano, consulta “o livro dos feitos memoráveis”. Devia incluir crônicas da história assíria, babilônica e também persa.

4:20. Também houve reis poderosos sobre Jerusalém. Ainda que Davi e Salomão fossem os maiores reis de Jerusalém, monarcas tais como Asa, Josafá, Uzias e Ezequias certamente deixaram sua marca na história antiga do Oriente Próximo.

4:21. A não ser com autorização minha. Esta cláusula final deixou a porta aberta para o rei mudar de ideia, conforme constatamos em Neemias 2. Certamente isto foi providencial, pois as leis dos medos e persas não podiam ser mudadas.

4:23. De mão armada os forçaram a parar com a obra. É claro que os samaritanos se aproveitaram deste decreto, e foram até os extremos de destruir parcialmente os muros que tinham sido construídos e queima os portões. Foi a notícia dessa tragédia que abalou Neemias e forçou-o a chorar e orar (Ne. 1:3, 4). Podemos portanto datar este decreto de 446 A.C. A relação de Esdras com toda essa crise não ficou indicada nas Escrituras, embora ele fosse certamente a favor da construção dos muros da cidade (Ne. 12:36).

4:24. Cessou, pois, a obra da casa de Deus. Isto se segue ao parêntesis de 4:6-23, voltando ao versículo 5, com a informação adicional de que foi no segundo ano de Dario que a obra da casa de Deus (não os muros da cidade) foi recomeçada (5:2). Comentaristas mais antigos, pensando que 4:24 devia seguir 4:23 cronologicamente, foram forçados a interpretar Assuero em 4:6 como Cambises e Artaxerxes em 4:7 como Esmerdis.

 Índice: Esdras 1 Esdras 2 Esdras 3 Esdras 4 Esdras 5 Esdras 6 Esdras 7 Esdras 8 Esdras 9 Esdras 10