Panorama do Livro de Salmos

Panorama do Livro de Salmos

Panorama do Livro de Salmos

Livro Primeiro (Salmos 1-41)

Com exceção dos Salmos 1, 2, 10 e 33, todos estes são atribuídos diretamente a Davi. Desde o início, o Salmo 1 expressa a ideia central, declarando feliz o homem que tem prazer na lei de Yahweh, que medita nela dia e noite a fim de a seguir, em contraste com os pecadores ímpios. Esta é a primeira declaração de felicidade encontrada nos Salmos. O Salmo 2 começa com uma pergunta desafiadora e mostra que todos os reis e altas autoridades da terra se aliaram “contra Yahweh e contra o seu ungido”. Yahweh ri-se deles em escárnio, e fala-lhes então na sua ira ardente, dizendo: “Eu é que empossei o meu rei em Sião, meu santo monte.” É ele que quebrará e despedaçará toda a oposição. Quanto aos demais reis e governantes, que ‘sirvam a Yahweh com temor’, e reconheçam Seu Filho, do contrário, perecerão! (Vv. 2, 6, 11) Assim, os Salmos mostram de imediato que o Reino é o tema da Bíblia.

Nesta primeira coleção, são numerosas as orações de súplicas e de agradecimentos. O Salmo 8 contrasta a grandeza de Yahweh com a pequenez do homem, e o Salmo 14 expõe a tolice dos que recusam submeter-se à autoridade de Deus. O Salmo 19 mostra como as maravilhas da criação de Yahweh Deus manifestam a Sua glória, e os versículos 7-14 exaltam os benefícios recompensadores que recebem os que guardam a lei perfeita de Deus, o que é mais tarde refletido em escala maior no Salmo 119. O Salmo 23 é reconhecido como uma das obras-primas da literatura universal, mas é especialmente magnífico na bela simplicidade com que expressa a confiança leal em Yahweh. Pudéramos todos nós ‘morar na casa de Yahweh, o Grande Pastor, pela longura dos dias’! (23:1, 6) O Salmo 37 dá excelentes conselhos a pessoas tementes a Deus que vivem entre malfeitores, e o Salmo 40 expressa quão agradável é fazer a vontade de Deus como o fez Davi.

Livro Segundo (Salmos 42-72)

Esta parte começa com oito salmos dos filhos de Corá. Os Salmos 42 e 43 são ambos atribuídos aos filhos de Corá, visto que juntos formam realmente um só poema em três estrofes, ligadas por um verso que se repete. (42:5, 11; 43:5) O Salmo 49 salienta a impossibilidade de o homem prover seu próprio resgatador, e dirige a atenção a Deus como aquele que é suficientemente forte para remir o homem “da mão do Seol”. (V. 15) O Salmo 51 é uma oração de Davi, proferida depois de seu terrível pecado com Bate-Seba, esposa de Urias, o hitita, mostrando a sinceridade de seu arrependimento. (2 Sam. 11:1-12:24) Esta parte termina com um salmo “referente a Salomão”, em que se pede que Yahweh lhe conceda um reino pacífico, bem como a sua bênção. — Sal. 72.

Livro Terceiro (Salmos 73-89)

Pelo menos dois dentre estes, os Salmos 74 e 79, foram compostos depois da destruição de Jerusalém que sobreveio em 607 AEC. Lamentam esta grande catástrofe, e imploram a Yahweh para que ajude seu povo ‘por causa da glória do seu nome’. (79:9) O Salmo 78 conta a história de Israel desde Moisés até o tempo em que Davi “começou a pastoreá-los segundo a integridade do seu coração” (v. 72), e o Salmo 80 dirige atenção a Yahweh como o verdadeiro “Pastor de Israel”. (V. 1) Os Salmos 82 e 83 são fortes solicitações a Yahweh para que execute os seus julgamentos contra seus inimigos e os inimigos de seu povo. Longe de expressarem vingança, estas petições são para que as pessoas “procurem o teu nome, ó Yahweh . . ., [e] saibam que tu, cujo nome é Yahweh, somente tu és o Altíssimo sobre toda a terra”. (83:16, 18) Esta parte termina com o Salmo 89 que acentua “as expressões de benevolência da parte de Yahweh”, conforme manifestadas especialmente no seu pacto feito com Davi. Isto assegura um herdeiro eterno no trono de Davi, que reinará por tempo indefinido perante Yahweh! — Vv. 1, 34-37.

Livro Quarto (Salmos 90-106)

Este, semelhante ao Livro Terceiro, contém 17 salmos. Começa com a oração de Moisés, pondo em nítido contraste a existência eterna de Deus e a vida curta do homem mortal. O Salmo 92 exalta as qualidades elevadas de Yahweh. Daí, vem o grupo magnífico dos Salmos 93-100, que começa com o comovente brado: “O próprio Yahweh se tornou rei!” Por conseguinte, “todos vós da terra”, é o convite, “cantai a Yahweh, bendizei o seu nome... pois Yahweh é grande e para ser louvado muito”. “Yahweh é grande em Sião.” (93:1; 96:1, 2, 4; 99:2) Os Salmos 105 e 106 são agradecimentos a Yahweh pelas maravilhosas obras que ele realizou a favor de seu povo e por guardar fielmente o seu pacto com Abraão, dando a terra à semente dele, não obstante os incontáveis resmungos e desvios daquele povo.

O Salmo 104 é de interesse especial. Ele exalta a Yahweh pela majestade e esplendor com que se revestiu, e descreve a sua sabedoria manifestada nas suas muitas obras e produções na terra. Salienta-se a seguir, em plena força, o tema do inteiro livro dos Salmos, ao aparecer pela primeira vez a exclamação: “Louvai a Jah!” (V. 35) Em hebraico, este convite para que os verdadeiros adoradores dêem a Yahweh o louvor devido ao Seu nome é uma só palavra: ha·lelu-Yáh ou “Aleluia”, sendo esta última forma conhecida hoje em toda a terra. Deste versículo em diante, essa expressão ocorre 24 vezes, diversos salmos iniciando e terminando com tal expressão.

Livro Quinto (Salmos 107-150)

No Salmo 107, temos uma descrição das libertações efetuadas por Yahweh, acompanhada do melodioso refrão: “Oh! agradeça-se a Yahweh a sua benevolência e as suas obras maravilhosas para com os filhos dos homens.” (Vv. 8, 15, 21, 31) Os Salmos 113 a 118 são os chamados Salmos Hallel. Segundo a Míxena, estes eram entoados pelos judeus na Páscoa e nas festas de Pentecostes, das Barracas e da Dedicação.

O Salmo 117 é poderoso na sua simplicidade, sendo o mais curto de todos os salmos e de todos os capítulos da Bíblia. O Salmo 119 é o mais comprido de todos os salmos e de todos os capítulos da Bíblia, perfazendo um total de 176 versículos nas 22 estrofes alfabéticas de 8 versos cada uma. Todos, exceto dois destes versículos (90 e 122), se referem de alguma forma à palavra ou à lei de Yahweh Deus, repetindo diversas ou todas as expressões (lei, advertência, ordens, mandamento, decisões judiciais) do Salmo 19:7-14 em cada estrofe. A palavra de Deus é mencionada mais de 170 vezes em uma ou outra das seguintes 8 expressões: Advertência(s), decisão(ões) judicial(is), declaração(ões), lei, mandamento(s), ordens, palavra(s) e regulamentos ou estatutos.

A seguir, encontramos outro grupo de salmos, os 15 Cânticos das Subidas, os Salmos 120-134. Os tradutores vertem esta expressão de diversos modos, visto que o significado dela não é plenamente entendido. Alguns dizem que se refere ao conteúdo exaltado destes salmos, embora não pareça haver razão clara para exaltá-los acima dos outros salmos inspirados. Muitos comentaristas sugerem que o título se deriva do uso que os adoradores faziam desses cânticos ao viajarem, ou ‘subirem’, a Jerusalém por ocasião das festividades anuais, sendo a viagem à capital considerada uma subida, porque a cidade se achava situada bem alto nos montes de Judá. (Compare com Esdras 7:9.) Davi reconhecia de modo especial a necessidade que o povo de Deus tinha de se unir em adoração. Ele se regozijou ao ouvir o convite: “Vamos à casa de Yahweh”, à qual subiram as tribos, “para dar graças ao nome de Yahweh”. Por este motivo, ele buscava sinceramente a paz, a segurança e a prosperidade para Jerusalém, orando: “Por causa da casa de Yahweh, nosso Deus, vou continuar a procurar o teu bem.” — Sal. 122:1, 4, 9.

O Salmo 132 fala do voto de Davi, segundo o qual não descansaria até achar um adequado lugar de repouso para Yahweh, representado pela arca do pacto. Depois de se instalar a Arca em Sião, descreve-se Yahweh em bela linguagem poética, dizendo que escolheu Sião, “meu lugar de descanso para todo o sempre; ali morarei, pois o almejei”. Ele reconhecia este lugar central de adoração, pois “ali Yahweh ordenou que estivesse a bênção”. “Yahweh te abençoe desde Sião.” — 132:1-6, 13, 14; 133:3; 134:3; veja também o Salmo 48.

O Salmo 135 exalta Yahweh como o Deus digno de louvor, que faz tudo quanto lhe apraz, em contraste com os ídolos vãos e fúteis, iguais aos quais se tornarão os que os fabricam. O Salmo 136 é para ser cantado com responsos, concluindo cada versículo: “Pois a sua benevolência é por tempo indefinido.” Tais responsos eram usados em muitas ocasiões, segundo demonstrado. (1 Crô. 16:41; 2 Crô. 5:13; 7:6; 20:21; Esd 3:11) O Salmo 137 relata a saudade de Sião que os judeus tinham no coração quando, exilados, estavam em Babilônia, e atesta também que não haviam esquecido os cânticos, ou salmos, de Sião, embora estando longe da sua terra. O Salmo 145 exalta a bondade e a realeza de Yahweh, mostrando que “guarda a todos os que o amam, mas a todos os iníquos ele aniquilará”. (V. 20) Por fim, como conclusão para mover a ação, os Salmos 146-150 acentuam novamente o glorioso tema do livro, e cada um desses salmos começa e termina com as palavras: “Louvai a Jah!” Este canto de louvores vai num crescendo sublime até o ponto culminante no Salmo 150, onde 13 vezes, no espaço de seis versículos, toda a criação é convidada a louvar a Yahweh.