Interpretação de Gênesis 6

Gênesis 6

Gênesis 6 é rico em simbolismo e significado teológico, e sua interpretação pode variar entre diferentes tradições religiosas e estudiosos. Aqui estão alguns temas-chave e interpretações de Gênesis 6:

1. A Maldade da Humanidade: Os versículos iniciais de Gênesis 6 descrevem a crescente maldade e corrupção da humanidade. Afirma que “a maldade do homem era grande na terra, e toda intenção dos pensamentos do seu coração era continuamente má” (Gênesis 6:5). Isto prepara o terreno para a decisão de Deus de trazer julgamento sobre a terra através do Dilúvio.

2. Dor e Arrependimento Divinos: Gênesis 6 retrata Deus entristecido e arrependido pelo estado da humanidade. Enfatiza a resposta emocional de Deus ao pecado e à desobediência humana. Algumas interpretações veem isso como uma forma de antropomorfizar os sentimentos de Deus e relacioná-los com as experiências humanas, enquanto outras vêem isso como uma forma de transmitir a preocupação genuína de Deus pela Sua criação.

3. Noé encontrou favor: Em meio à maldade da humanidade, Gênesis 6 apresenta Noé, que “encontrou favor aos olhos do Senhor” (Gênesis 6:8). Isto enfatiza o conceito da graça divina e a escolha de Deus de poupar um remanescente justo. A justiça de Noé contrasta com a maldade geral dos seus contemporâneos.

4. Os Nefilins: Gênesis 6:1-4 menciona os Nefilins, que são descritos como “os filhos de Deus” casando-se com as “filhas dos homens” e produzindo descendentes. A identidade e a natureza dos Nephilim estão sujeitas a várias interpretações. Alguns os veem como anjos caídos ou seres sobrenaturais, enquanto outros os veem como humanos poderosos e tirânicos. Esta passagem gerou muito debate e especulação.

5. A Arca: Gênesis 6 inclui as instruções de Deus a Noé para construir uma arca para salvar a si mesmo, sua família e pares de animais do Dilúvio que se aproximava. A arca é frequentemente vista como um símbolo da provisão e salvação de Deus para os justos em meio ao julgamento. Também prefigura o conceito da Igreja como refúgio e meio de salvação na teologia cristã.

6. Temas Teológicos: Gênesis 6 destaca vários temas teológicos, incluindo as consequências do pecado humano, a necessidade do julgamento divino, a possibilidade da graça e redenção divinas e a fidelidade de Deus aos Seus escolhidos em tempos de crise. Prenuncia a ideia de uma “nova criação” após o Dilúvio.

As interpretações de Gênesis 6 podem variar amplamente, com alguns adotando uma abordagem mais literal do relato do Dilúvio e outros vendo-o como uma narrativa simbólica ou alegórica com lições teológicas sobre pecado, julgamento, graça e redenção. Independentemente da interpretação, Gênesis 6 serve como texto fundamental na tradição judaico-cristã e influenciou as discussões teológicas sobre o relacionamento de Deus com a humanidade e as consequências do pecado humano.

Interpretação

6:2. Os filhos de Deus (benê 'Elohim)... as filhas dos homens. A maldade aumentava a todo instante. Os descendentes de Caim ficaram excessivamente ímpios e pagãos. Uma poderosa raça de gigantes, chamada “nefilins”, destacou-se. O verbo neipal, “cair”, tem sido considerado a fonte do nome, e por isso estas gigantescas criaturas têm sido conhecidas como “os que decaíram”.

A referência ao benê 'Elohim tem ocasionado marcadas diferenças de opinião entre os mestres, 'Elohim é plural na forma. Normalmente é traduzido para “Deus”. Mas pode ser traduzido para “deuses”, como, por exemplo, quando se refere aos deuses dos vizinhos pagãos de Israel. Pode, também, indicar o círculo celestial de seres em íntima comunhão com Jeová, habitantes do céu, com obrigações específicas na qualidade de assistentes de Deus (veja Jó 1:6).

Em alguns casos nas Escrituras os “filhos de Deus” podem ser identificados com os “anjos” ou “mensageiros”. Jesus é o Filho de Deus em um sentido único. Os crentes são chamados “filhos de Deus” por causa do Seu relacionamento com Ele. No V.T., entretanto, “filhos de Deus” são uma classe especial de seres que formam a corte celestial.

A referência ao casamento dos benê 'Elohim com as filhas dos homens tem sido examinada de maneiras diversas. Para traduzi-la literalmente, diríamos que aqueles membros da sociedade celeste escolheram mulheres de escol na terra e estabeleceram com elas, literal e verdadeiramente, relacionamento conjugal. Esta pode ser a única interpretação de Jó 1:6. Ali, os benê 'Elohim eram declaradamente membros da corte de Deus. S.R. Driver sustenta que este é o único sentido legítimo e correto que pode ser aceito. A resposta que Jesus deu aos saduceus, em Mt. 22:30, parece tornar insustentável este ponto de vista. Ele disse que os anjos “nem casam nem são dados em casamento”. A declaração em Gn. 6:2 torna claro que está se falando de casamento permanente. Mulheres eram escolhidas e forçadas a se tornarem participantes do relacionamento anormal. Os estudiosos da Bíblia que têm rejeitado esta solução recorreram a outras explicações. Alguns têm dito que uma ligação entre a linhagem piedosa de Sete com os ímpios descendentes de Caim é a que está sendo descrita. Outros ainda sustentam que estas palavras se referem ao casamento entre pessoas da classe mais alta da sociedade com elementos da classe mais baixa e menos digna. À luz dos fatos e da tradução exata das palavras do texto, concluímos que alguns homens do grupo celeste (anjos ou mensageiros) realmente tomaram por esposas as mulheres terrestres. Usaram de força superior para dominá-las, para que a conquista fosse completa. Os “filhos de Deus” eram irresistíveis (cons. II Pe. 2: 4; Judas 6).

6:3. O meu Espírito (rûah) não agirá para sempre (veidôn) no homem. Este verbo hebraico pode ser traduzido para lutar com ou permanecer com. A primeira tradução representaria Deus usando continuamente de força para com os homens rebeldes, para mantê-los em linha e para evitar que se destruam completamente como resultado de seu comportamento pecador. O segundo ponto de vista representaria Deus como tomando a determinação de afastar seu fôlego vital da vida do homem, resultando, é claro, na morte. A palavra hebraica dûn (ou din) indica vida expressando-se na ação ou na evidência do poder.

Na primeira interpretação, o espírito (rûah) é considerado um princípio ético usado para restringir ou controlar as criaturas, resultando em comportamento ético. Na outra, o espírito (rûah) é considerado como princípio vital dado ao pedacinho de barro inanimado para fornecer vida, motivação e poder para viver. Quando esse rûah é retirado pela mão divina, o julgamento é inescapável. Este aviso divino veio de Jeová quando Ele encontrou Suas criaturas dominadas pelo pecado. Deus declarou que tinha de abandonar o homem ao destino da morte. O pecado ativara aquilo que garantiria a morte.

6:5, 6. Maldade (rei'eit)... se arrependeu (heiham)... pesou ('eisab). A depravação era muito difundida. E era interna, contínua e habitual. O homem era inteiramente corrupto, mau de coração e na conduta. Não havia nada de bom nele. Toda a inclinação dos Seus pensamentos e imaginação era completamente fora da linha da vontade de Jeová. A carne estava no trono. Deus foi esquecido e francamente desafiado. Neiham na forma nifal descreve o amor de Deus, que sofreu desapontamento de fazer partir o coração. Literalmente, fala de suspirar devido à dor profunda. Os propósitos e planos de Deus falharam na produção do precioso fruto que Ele antecipou, por causa do homem pecador que impediu sua frutificação completa. 'Eisab na forma hithpael significa ferir-se ou experimentar um ferimento. A declaração diz, então, que Deus experimentou tristeza que Lhe feriu o coração quando olhou para a trágica devastação que o pecado produzira. A obra de Suas mãos fora distorcida e arruinada. Através de tudo isto, o amor de Deus brilhava claramente, mesmo quando o retumbar do juízo divino começou a ameaçar os habitantes da terra.

6:7. Desaparecer (mahâ; E.R.C., destruirei). O verbo indica um movimento que extermina ou risca alguma coisa completamente. A operação tulha a intenção de destruir cada ser vivo que estivesse pela frente. Destruição completa tinha de ser executada. Nada devia ser poupado.

6:8. Porém Noé achou graça (hên). Um homem entre toda a incontável multidão que havia sobre a terra estava capacitado a receber o dom da graça de Deus. A palavra graça certamente significa “favor” ou “aceitação”, de qualquer modo, e provavelmente tem um sentido muito mais rico. Era o amor e a misericórdia em ação. Estendendo Deus a Sua graça sobre Noé significava que havia vida e nova esperança para a humanidade nos dias pela frente.

6:9. Noé era homem justo e íntegro... Noé andava com Deus. Com estas palavras o autor descreve três características de uma vida piedosa – justiça, pureza e santidade (cons. 6:8 - ele achou graça diante do Senhor).

A palavra justo, do hebraico saddiq, descreve o caráter de Noé conforme se manifestava em relação aos outros seres humanos: “honestidade” ou “honra” era evidente em seu comportamento. Toda a sua conduta revelava esta justiça moral e ética (cons. Ez. 14:14, 20). A palavra hebraica tâmim, íntegro, descreve o produto perfeito de um construtor sábio; é inteiro, completo e perfeito. Visto objetivamente, a palavra imaculado descreve o caráter. No reino da ética, a ideia de “integridade” é a sua derivada (cons. Jó 1:1). A declaração, ele andava com Deus, abre um outro setor do pensamento. Ao andar com Deus, Noé demonstrou um espírito, uma atitude e um caráter que o tornava aceito e aprovado para um relacionamento espiritual mais íntimo. Ele manifestava qualidades de alma que o tomavam querido ao Senhor (cons. Gn. 5:22 ; Mq. 6: 8; Ml. 2: 6).

6:14-16 Uma arca (têbâ). A nossa palavra arca vem do latim arca, “um baú ou cofre”. A palavra usada para a “arca” da aliança é uma palavra diferente eirôn. Têbâ é provavelmente de origem egípcia. A arca de Noé era muito provavelmente uma espécie de jangada grande e coberta, construída com madeira leve e resinosa. Com seus três andares, chegava a um total de 13,85ms de altura. Tinha 138,46ms de comprimento por 23,08ms de largura. (O cúbito tinha 45cms.) Celas, cabines ou pequenos quartos foram construídos ao longo dos lados dos três andares. Para que a embarcação fosse à prova de água, usou-se um poderoso betume por dentro e por fora, para sua calafetação. A palavra hebraica sôhar fica melhor traduzida para luz ou janela. Tinha aproximadamente 45crns de altura e estendia-se em toda a volta da arca; deixava entrar luz e ar.

6:17-22 Dilúvio (mabbûl). Esta palavra não tem etimologia hebraica. Só foi usada em relação à inundação do tempo de Noé. Talvez viesse da palavra assíria nabalu, “destruir”. De acordo com o autor do Gênesis, o propósito de Deus era certamente exterminar os seres vivos de Sua criação. Durante 120 anos que Noé levou para completar o seu trabalho; ele pregou ao povo num esforço urgente de levá-lo ao arrependimento. Viram a arca tomando forma diante de seus olhos enquanto o pregador transmitia o sermão. Os parentes próximos de Noé, incluindo sua esposa, três filhos e respectivas esposas, entraram com ele no seguro abrigo. Em obediência à ordem de Deus, levaram consigo pares de representantes de todos os animais da terra.

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