Ano Sabático — Estudo Bíblico

Ano Sabático — Estudo Bíblico

ANO SABÁTICO



No hebraico consiste em uma única palavra. O ano sabático era o ano final em um ciclo de sete anos, dentro do calendário hebraico. Naquele ano os campos eram deixados sem cultivo, para a terra descansar, para se cuidar dos pobres e dos animais, para remissão das dívidas e para os escravos israelitas saírem forros, isto é, livres. 

O ano após sete anos sabáticos era conhecido como ano do jubileu, em que o solo recebia mais um período anual de descanso, e no qual também havia a liberação de escravos israelitas e a reversão das propriedades, na forma de terras, aos proprietários originais ou seus herdeiros. O livro do pacto refere-se ao ano sabático meramente como o sétimo (ver Êxodo 21:2; 23:11; cf. Neemias 10:31). Todos os escravos hebreus automaticamente eram deixados em liberdade (ver Êxo. 21:2). Mas isso talvez signifique apenas que um israelita só podia servir como escravo a outro israelita pelo espaço de seis anos, e que no ano seguinte ele seria colocado em liberdade, não importando se esse ano coincidisse ou não com o ano sabático. 

No código sacerdotal, o sétimo ano é designado como “sábado de descanso solene para a terra, um sábado ao Senhor” (Lev. 25:4). Um israelita, naquele ano, não podia semear seu campo e nem podar seu vinhedo (ver Lev. 25:4). Também não podia fazer qualquer espécie de colheita; mas tudo quanto a terra produzisse naturalmente destinava-se ao consumo dos pobres e dos animais, tanto domésticos quanto selvagens (ver Lev. 25:5-7). Havia um paralelo bem próximo entre os regulamentos referentes ao ano sabático e os regulamentos referentes ao sábado semanal (ver Lev. 25:2-7; Êxo. 20:8-11 e Deu. 5:12-15). O mesmo código também provia a observância especial do sétimo ano, dentro de uma série de sete anos sabáticos (ver Lev. 25:8,9), bem como a observância do quinquagésimo ano como o ano de jubileu, no qual a terra também ficava sem cultivo, e no qual todas as propriedades voltavam aos seus proprietários originais e todos os escravos hebreus eram libertados (ver Lev. 25:10-55). As únicas propriedades isentas dessa lei eram aquelas casas que ficavam dentro de cidades muradas que não fossem resgatadas no espaço de um ano (ver Lev. 25:29-31), bem como aquelas pertencentes aos levitas (ver Lev. 25:32-34). 

No código deuteronômico, o ano sabático é chamado de “sétimo ano” ou “ano da remissão” (ver Deu. 15:9). Ali há instruções quanto ao cancelamento de todas as dívidas que um israelita devesse a outro, no final do ano sabático (ver Deu. 15:1-3), juntamente com um aviso contra a má vontade em fazer empréstimos a alguma pessoa pobre, em vista da proximidade do ano sabático (ver Deu. 15:7-11). A instrução sobre a alforria de escravos hebreus também aparece nesse código (ver Deu. 15:12-15). Algo que só aparece nesse código é a leitura da lei por ocasião da festa dos Tabernáculos, durante o ano sabático (ver Deu. 31:10-13). Não se sabe quão escrupulosamente os israelitas observavam os anos sabáticos, mas o trecho de II Crônicas 36:21 subentende que eles não os observaram . E foi por isso que o povo de Israel foi para o cativeiro, “...até que a terra se agradasse dos seus sábados...” (cf. também Lev. 26:34). 

O ajuntamento dos exilados que retornaram, a fim de ouvir a leitura da lei, por parte de Esdras, sem dúvida se deu por ocasião do cumprimento do pacto deuteronômico (ver Nee. 8:1-8), ou seja, no ano sabático. Uma das reformas instituídas por Neemias foi a execução ou a observância do ano sabático (ver Nee. 10:31). Há provas extrabíblicas de que os judeus observaram o ano sabático após o exílio babilônico. Tanto os livros dos Macabeus quanto Josefo narram que o suprimento de alimentos da guarnição de Betezur logo se acabou, causando a rendição daquela guarnição, porque o fato ocorreu em um ano sabático (I.Macabeus 6:49-54; Ant. XIII.8:1; Guerras 1.2:4). E Josefo também relata que durante o governo de João Hircano os judeus não empreenderam nenhuma guerra agressiva por causa do ano sabático (Josefo, Anti. XIII.8:1; Guerras 1.2:4). E também relatou o mesmo escritor que Júlio César isentou os judeus de pagarem o tributo anual nos anos sabáticos, visto que os judeus não cultivavam seus campos e nem colhiam suas frutas (Anti. XIV.10:6). No livro de Jubileus, lemos que Enoque “recontou os sábados de anos” (4:18). No entanto, a literatura judaica posterior, devido ao seu silêncio sobre essa observância, mostra-nos que a prática foi sendo gradualmente abandonada pelos judeus, tornando-se antiprática, sem sentido e obsoleta na própria Palestina. Os judeus da “diáspora” jamais observaram o ano sabático.