Aniquilacionismo — Estudo Bíblico

Aniquilacionismo — Estudo BíblicoANIQUILACIONISMO

É um ponto de vista pessimista do destino final da humanidade, em parte ou em sua inteireza. Tal nome vem do latim nihil,  “nada”. De acordo com essa teoria, o homem, em sua totalidade ou em parte, é reduzido finalmente a nada. Formas: 

1. Materialismo. O homem, para começar, é apenas uma criatura física, e a morte biológica é suficiente para pôr fim à sua existência. 

2. Exclusivismo-espiritualista.  O homem é mortal, em bora possa receber a imortalidade sob certas condições. Deus outorga a alguns um a forma dependente de imortalidade, deixando de lado as outras. Isso significa que muitos deixam de existir, visto que não receberam a imortalidade. Tal coisa pode suceder quando da morte física, ou poderá ocorrer, finalmente, após a segunda ressurreição. Homens ímpios ressuscitarão por breve período, para propósitos de julgamento, mas então serão totalmente destruídos. Essa é uma doutrina fantástica ao ponto de absurdo. Se o homem tiver de ser extinto, que isso ocorra por ocasião da morte biológica. Por que trazê-lo de volta à vida por breve tempo, a fim de aterrorizá-lo, para que lamente por seus pecados, apenas para ser esmigalhado ato continuo? Esse ponto de vista dá apoio à ideia da imortalidade condicional.  Somente Deus seria imortal, e os homens receberiam a imortalidade sob condição. Assim, o condicionalismo é comumente usado como sinônimo prático de aniquilamento. Ver o artigo sobre a imortalidade condicional. 

3. Cíclico-filosófico. Os estoicos supunham que o homem teria uma imortalidade temporária. O Logos, o Fogo central, se emanaria. Todas as coisas fariam parte desse centro (panteísmo, visto que o Logos de fogo é Deus). As emanações do Logos podem durar por longo tempo, fazendo a criação passar por muitos e prolongados ciclos de existência. Porém, uma vez que o Logos deseje “recolher-se em si mesmo”, todos os ciclos, o tempo e as coisas deixam de existir e o Logos torna-se tudo em tudo. Isso significa que a alma humana deixaria de existir, pelo que teríamos uma forma de aniquilacionismo.  O Logos pode então desejar expedir outra emanação, reiniciando todo o processo; mas isso seria uma nova existência, não trazendo de volta à existência as almas antigas. 

4. A alma temporária.  Alguns filósofos têm imaginado que a alma existe e sobrevive à morte física, mas que ela não seria imortal por si mesma. Teria um período de existência mais longo que o do corpo (o quanto, varia de intérprete para interprete). Mas, uma vez terminado o seu ciclo, a alma também morreria. Conseqüentemente, temos nisso um a variedade do conceito de aniquilamento. 

5. Absorção.  Algumas religiões orientais supõem que a alma existe e continua existindo após a morte biológica, mas que o destino remoto da alma humana é ser absorvida pela essência divina. Nesse caso, as almas humanas individuais deixarão de existir. É debatível se isso significa ou não que a alma humana é transformada para participar de uma forma de vida fantasticamente superior (a divina), ou se simplesmente desaparece e não mais tem autoconsciência. No primeiro caso, cessaria o indivíduo conforme o conhecemos, mas a vida humana da alma não, sendo transmutada em uma forma mais elevada de vida, uma existência espiritual comunitária. 

6. Budista anatta.  A escola Theravada do budismo ensina que a alma não existe (Anatta), e que aquilo que continua e se reencarna são as disposições mentais, e não alguma espécie de substância que se cham a alma. Essas disposições mentais (desejos, atitudes, modos de agir), tendo sido criadas em um indivíduo, após a morte biológica deste podem passar a fazer parte de outro indivíduo. Assim, o karma prossegue, mas a substância da alma, não. Ora, se a alma não existe, então a morte física decreta o aniquilamento, porquanto dificilmente poderíamos considerar as disposições mentais como a continuação do ser. Ver os artigos sobre o budismo  e a terminologia budista.  E ver também sobre a reencarnação. Argumentos em prol do aniquilacionismo: 

1. Só Deus é imortal (I Tim. 1:17; 6:16). Esse argumento também pode usualmente ser aplicado em favor da imortalidade derivada. Deus dá o dom da vida a todos, e assim lhes transmite a Sua imortalidade (João 5:25,26). O Pai dá Sua vida independente ao Filho (em Sua encarnação, como cabeça da raça humana). O Filho, por sua vez, compartilha dessa vida com os demais filhos de Deus. O trecho de Efé. 1:10 quase certamente subentende a transmissão dessa vida, embora não necessariamente em uma única forma. Em outras palavras, haverá muitos níveis de existência, mas todos participantes da mesma Fonte originadora. 

2. A imortalidade é um dom especial, e não possessão de todos. Alguns vêem isso implícito em trechos bíblicos como Rom. 2:7; I Cor. 15:53,54; II Tim. 1:10. Mas aqui está em pauta o dom da vida na salvação, e não a imortalidade geral. Está em foco um tipo de imortalidade, a saber, a forma de vida obtida em união com Cristo, isto é, a natureza divina (II Ped. 1:4). Nem todos os homens participarão dessa espécie de vida. Os trechos de João 12:32 e Efé. 1:10,22,23 certamente subentendem formas de vida que incluem todos os seres, humanos ou não, como porções constitutivas da unidade que finalmente se estabelecerá. Esse é o mistério da vontade de Deus. Ver notas completas sobre esses conceitos no NTI, em Efé. 1:10. Romanos 5:18 por certo subentende que a missão de Cristo beneficiará a todos, sem que possamos distinguir gradações finais de glória entre eles. Até mesmo os ímpios continuarão existindo, embora sob castigo. O fato de que serão galardoados segundo as suas obras (Apo. 20:12 e Rom. 2:6ss.) indica que eles continuarão a existir, ou como poderia haver uma diferença estabelecida em consideração às suas obras? Se todos fossem simplesmente aniquilados, de fato, todos seriam finalmente igualados. Isso labora contra o conceito do juízo por gradações. 

3. Afirma-se que certos trechos bíblicos parecem falar em cessação da existência. (Rom. 6:23; Tia. 5:20; Apo. 20:14, ao usar o termo “morte”; Mat. 7:13; 10:28; IITes. 1:9, ao usar o termo “destruição”). Porém , tais termos podem indicar um a mudança radical no modo de existência, de tal modo que a antiga forma seja virtualmente aniquilada, e não o fim absoluto da existência. Falam os de coisas arruinadas, destruídas quando suas form as são radicalmente alteradas, como um edifício, por causa de uma explosão; mas, não queremos dizer com isso que o material do edifício deixou de existir. 

4. Demonstração do amor de Deus.  Como é óbvio, seria maior demonstração de amor da parte de Deus se Ele simplesmente aniquilasse os perdidos, em vez de permitir-lhes (ou forçá-los) a continuarem para sempre em um tormento consciente. Ademais, tal condição significaria a continuidade do mal e do caos, o que, segundo pensamos, não pode caracterizar a eternidade. Em outras palavras, coisas odiosas continuariam a existir, fora de harmonia com aquilo que esperaríamos que Deus estabelecesse no estado eterno. Não podemos perceber o peso desses argumentos. Muitos intérpretes pensam que prestam a Deus um serviço mostrando versículos que afirmam essas tragédias, por estarem mantendo' ortodoxia em torno de um a doutrina falsa. Na verdade, o aniquilamento é uma doutrina falsa, embora haja uma melhor m aneira de respondermos a essas objeções. Podemos frisar que Cristo cumpriu uma missão em prol dos perdidos, no hades (I Ped. 3:18-4:6; ver o artigo sobre a descida de Cristo ao hades) e que isso tem efeitos contínuos sobre o destino humano (Efé. 4:10). Eventualmente, Cristo “encherá todas as coisas”, tornando-se tudo para todos. Ele pregou o seu evangelho aos mortos desobedientes (1 Ped. 4:6), como parte desse programa remidor. O mistério da vontade de Deus (ver o artigo) significa que haverá uma restauração final de tudo em torno de Cristo, com a unidade e a harmonia de todas as coisas. 

O juízo será instrumental nessa finalidade, porque há coisas que Deus só pode fazer mediante o julgamento. Isso não significa, todavia, que todos os homens serão remidos no sentido evangélico, mas significa que todos os homens serão restaurados de modo a participarem da unidade final em torno de Cristo (o Logos), como Cabeça de todas as coisas. Assim, Ele tomar-se-á tudo para todos, conferindo propósito, utilidade e glória para todas as formas de vida e de coisas. Esse é o discernimento dos trechos bíblicos que olham para além daqueles outros que falam sobre um sofrimento interminável. Esse é o mistério da vontade de Deus. E, quando usamos a palavra “mistério”, queremos dizer que aquela ideia particular ainda não havia sido revelada até aquele momento. Esse ponto de vista do julgamento olha para além dos pontos de vista anteriores, mostrando que a própria existência é otimista, e não pessimista, como o outro ponto de vista certamente ensina. Deve-se adicionar aqui que as igrejas anglicanas e ortodoxas (igrejas orientais), por meio de muitos representantes, sempre falaram sobre o destino humano nesses termos, seguindo p. ângulo de visão mais otimista dos pais gregos, em contraste com os pais latinos da Igreja. Portanto, esse ensino sempre fez parte da herança cristã. 

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