Mateus 18 — Interpretação Bíblica

Mateus 18

18:1 Então, quem é o maior no reino dos céus? Essa é uma pergunta inesperada. No entanto, observe que em 18:2-5 Jesus não condenou os discípulos por pedirem isso ou por desejarem ser grandes. Em vez disso, ele desafiou as suposições mundanas sobre os métodos usados para se tornar grande.

18:2-4 Jesus chamou a atenção para uma criança para ensinar a esses homens adultos uma lição sobre grandeza (18:2). Ele disse: A menos que vocês se tornem como crianças, jamais entrarão no reino dos céus (18:3). Então, que qualidade nas crianças Jesus está procurando? Quem se humilhar como esta criança... é o maior no reino dos céus.

A verdadeira grandeza, então, vem através da humildade e de uma fé infantil que confia completamente em Deus. No mundo romano, as crianças não tinham direitos e dependiam completamente de outros para cuidar delas. Portanto, os crentes em Jesus Cristo devem ser humildemente dependentes de seu Pai celestial. O Senhor do céu e da terra não segue os critérios do mundo para determinar a grandeza.

18:5-6 Jesus também destacou a importância de tratar bem as crianças e aqueles com fé infantil. Acolhê-los e servi-los é acolher Jesus (18,5). Portanto, se você deseja comunhão com Jesus, precisa estar em comunhão com os humildes. Na verdade, esse princípio de cuidar das crianças e dos que são como crianças é tão significativo que Jesus alertou sobre o sério perigo de fazer com que uma delas se desvie (18:6). Fazer as crianças tropeçar espiritualmente é incorrer em maior julgamento. Quão ruim será esse julgamento? Segundo Jesus, seria preferível se afogar no mar com uma pedra pesada pendurada no pescoço!

18:7-9 Uma coisa é ser uma pedra de tropeço para si mesmo. É muito pior ser uma pedra de tropeço espiritual para os outros. Jesus pronunciou ai - julgamento - sobre aqueles que causam ofensas, aqueles que fazem as pessoas tropeçarem espiritualmente (18:7).

Se sua mão... te faz cair, corte-o.... Se o seu olho o fizer cair, arranque-o (18:8-9). Jesus não estava pedindo automutilação. Em última análise, o pecado começa no coração e na mente (ver 5:21-30). Jesus, então, pediu esforços radicais para evitar o fogo do inferno (18:9). O espiritual é muito superior ao físico. As pessoas devem estar dispostas a evitar o julgamento eterno a todo e qualquer custo.

18:10-14 Em nenhum caso devemos desprezar as crianças e os humildes, porque Deus é seu advogado e designa anjos para cuidar deles (18:10). Ele faz de tudo para resgatá-los, como ilustra a história de Jesus sobre o grande amor de Deus. Se um pastor com cem ovelhas perder uma, ele procurará de alto a baixo para encontrá-la (18:12). Quando ele encontra a ovelha perdida, ele se alegra com ela (18:13). Da mesma forma, não é a vontade de seu Pai no céu que um destes pequeninos pereça (18:14). A missão de Jesus é salvar os perdidos, e ele não quer que nada impeça o cumprimento dessa missão.

18:15 Em 18:15-20 Jesus abordou a questão da disciplina na igreja. Ele claramente considerou isso uma questão importante, pois forneceu princípios para disciplinar os membros da igreja antes que a igreja oficialmente existisse. Embora esses versículos representem o texto fundamental para guiar as igrejas através do processo disciplinar, também há várias outras passagens relevantes (por exemplo, 1 Coríntios 5:1-13; 2 Coríntios 2:5-8; Gálatas 6:1; 2 Tessalonicenses 3:14-15; 1 Tm 5:19-20; Tg 5:19-20).

Ser membro de uma igreja local é viver sob a autoridade de Jesus Cristo em comunhão e prestação de contas a outros crentes. A igreja é chamada para honrar a Deus em tudo o que faz. Portanto, o propósito da disciplina na igreja é sempre glorificar a Deus e restaurar com amor os membros rebeldes da igreja.

Se seu irmão pecar contra você, vá e repreenda-o em particular. Se ele te ouvir, você ganhou seu irmão. Observe primeiro que o assunto envolve “um irmão” — um companheiro de fé. Não estamos falando de não-cristãos, então. Este é um assunto para a família de Deus.

Em segundo lugar, a preocupação é o “pecado” de seu irmão. Não tem nada a ver com um choque de preferências pessoais. A questão é uma violação dos padrões de Deus. E o mais importante, não estamos falando sobre repreender um irmão ou irmã por toda e qualquer ofensa. Todos nós falhamos, e Provérbios 19:11 nos lembra que é virtuoso “ignorar uma ofensa”. As passagens citadas acima deixam claro que Jesus tinha em mente o pecado flagrante que se reflete na rebelião espiritual persistente e impenitente.

Terceiro, de acordo com Jesus, tal comportamento exige uma “repreensão” em “particular”. Os pais devem disciplinar seus filhos por amor para protegê-los da tolice prejudicial; nós também devemos nos importar o suficiente com nossos irmãos na fé a ponto de estarmos dispostos a corrigi-los — com humildade, paciência e amor. No entanto, Jesus nos chama para fazer isso em particular. Os assuntos devem ser tratados discretamente para ajudar, não publicamente para fofocar.

“Se ele te ouvir, você ganhou seu irmão.” O objetivo final do confronto não é punição, constrangimento ou assédio. O objetivo final é conquistá-lo — ficar ao lado de um irmão que está indo na direção errada e ajudá-lo a voltar para Deus.

18:16 Mas se ele não ouvir, leve um ou dois outros com você. Se o santo pecador se recusa a se arrepender, Jesus disse para invocar o princípio do Antigo Testamento de estabelecer cada fato por meio de duas ou três testemunhas (ver Deuteronômio 19:15). Isso ajuda a garantir que o assunto não seja uma mera disputa pessoal, uma falsa acusação ou uma reação exagerada — mas uma recusa em se arrepender do pecado. Observe também que esse pequeno grupo de testemunhas deve ser capaz de atestar a veracidade da acusação. É um processo sério de prestação de contas. A igreja é mais do que sermões e canções. É sobre santidade, graça e amor duro.

18:17 Se ele não prestar atenção a eles, diga à igreja. Se um pecador persistente foi confrontado – com paciência e amor – por vários crentes espiritualmente maduros e ainda rejeita o Senhor, a congregação deve se envolver. Quando um membro da igreja em Corinto era culpado de imoralidade sexual que era de conhecimento público, Paulo ordenou que toda a igreja de lá agisse (veja 1 Coríntios 5:1-5). A igreja é o último tribunal de apelação, mas também é uma família. Este é o momento para irmãos e irmãs no Senhor se reunirem em torno de um irmão para que ele possa ser restaurado.

Se ele deixar de ouvir até mesmo a igreja, porém, o membro impenitente será como um gentio e um cobrador de impostos. Em outras palavras, se ele insiste em viver como um incrédulo, é hora de tratá-lo como tal, a menos e até que ele se arrependa. Este é o passo sóbrio e infeliz da excomunhão em que a pessoa não é mais considerada membro da congregação e é removida da comunhão. A igreja não deve mais se associar a ele como faria com um irmão em Cristo (veja 1 Coríntios 5:3-5, 9-13; 2 Tessalonicenses 3:14-15). Uma das principais maneiras de realizar essa disciplina é em torno da mesa da Comunhão. A Ceia do Senhor é uma refeição para os crentes, não para os incrédulos.

Durante todo o tempo, a igreja deve orar pelo pecador desviado, mantendo a esperança de que o Senhor possa levá-lo ao arrependimento. Se ele rejeitar seu estilo de vida pecaminoso, a igreja deve acolhê-lo com perdão e uma afirmação de amor (ver 2 Cor 2:5-8).

18:18-20 Jesus repetiu a promessa que deu aos discípulos em 16:19 sobre ligar e desligar (18:18). Quando uma congregação age de acordo com as Escrituras para promover a glória de Deus e o bem de um membro errante, o céu apoia a igreja. Se dois ou três sob a égide da igreja se reunirem, concordarem e orarem sobre um assunto - com base na aplicação da Palavra de Deus - o Filho de Deus aparecerá e o validará (18:19-20). Qualquer coisa que Deus tenha autorizado a ser ligada ou desligada no céu será ligada e desligada quando a igreja fizer um pedido terreno de intervenção celestial.

18:21-22 Os rabinos judeus ensinaram que o perdão só precisa ser estendido três vezes. Portanto, Pedro pode ter pensado que estava sendo generoso ao sugerir que perdoasse seu irmão sete vezes (18:21). Ao dizer, porém, setenta vezes sete, Jesus insistiu que o perdão não tem limites (18:22).

18:23-24 Depois de enfatizar que seus seguidores devem estar sempre preparados para perdoar, Jesus ilustrou com uma história. Ele comparou o reino dos céus a um rei acertando contas com seus servos (18:23). Um devia ao seu senhor dez mil talentos (18:24). Um talento era a maior unidade monetária. Dez mil talentos equivaleriam a uma quantia insondável de dinheiro hoje. Se ele estivesse contando a história para os ouvintes americanos modernos, Jesus teria dito “milhões de dólares”. A questão era que o servo tinha uma dívida que era impossível de pagar - assim como a dívida do pecado que devemos a Deus.

18:25-27 Como não havia chance de o servo pagar a dívida, o mestre ordenou que ele, sua família e sua propriedade fossem vendidos (18:25). Então o servo fez a única coisa que podia fazer: implorou por misericórdia (18:26). Como resultado, seu mestre teve compaixão e perdoou a dívida (18:27).

18:28 Aqui está a reviravolta na história. Aquele mesmo servo procurou um de seus conservos, que lhe devia cem denários (isto é, cerca de cem dias de salário). Ele o agarrou, começou a sufocá-lo e exigiu que ele devolvesse o que não era pouco (18:28). No entanto, a quantia era brincadeira de criança comparada com o que ele devia ao rei.

18:29-34 O segundo servo implorou por misericórdia - assim como o primeiro havia feito (18:29). Mas este credor não estava disposto a mostrar a mesma compaixão que ele havia recebido e jogou seu conservo na prisão (18:30). Quando os outros servos descobriram, ficaram tristes e contaram ao seu senhor (18:31). O rei o denunciou como um servo perverso e fez a pergunta óbvia: Você também não deveria ter misericórdia do seu conservo, como eu tive misericórdia de você? (18:32-33). Então ele o jogou na prisão para ser torturado até que pagasse sua dívida (18:34).

18:35 Assim também meu Pai celestial vos fará, a menos que cada um de vós perdoe a seu irmão ou irmã. Se Deus cancela nossas dívidas de pecado, devemos fazer o mesmo por aqueles que pecam contra nós. Não podemos esperar ou exigir misericórdia que não estamos dispostos a dar. De acordo com Jesus, devemos oferecer o perdão da mesma forma e no mesmo grau que o desejamos de Deus. Porque? Nossa dívida para com Deus é infinitamente maior do que a dívida de nosso irmão para conosco. Reconhecer isso nos posiciona para receber de Deus exatamente o que os outros desejam de nós.

Notas Adicionais:

18.1-20 Neste capítulo aparece o quarto discurso de Jesus em Mateus (vs. 1-35; ver Intr. 3). Aqui, Jesus dá instruções para o povo da nova aliança, a saber, a sua Igreja. Inicialmente, ele mostra quem é o mais importante no Reino do Céu e adverte para que não se despreze nenhum dos pequeninos que creem nele.

18.3 se... não ficarem iguais às crianças, nunca entrarão: Entram no Reino somente as pessoas que, como crianças, têm uma atitude de confiança e humildade. Essas pessoas dependem do amor de Deus, o Pai (Jo 14.21-23), nunca duvidam da sua bondade (Mc 10.15; Lc 18.17) e aceitam com gratidão as bênçãos que ele dá (Ef 1.3).

18.6 estes pequeninos: Não somente crianças (Mc 10.14), mas também outros seguidores de Jesus, em especial os que são fracos na fé (1Co 8.9-13). creem em mim: Nos três primeiros Evangelhos (Mateus, Marcos e Lucas), esta é a única vez que aparece a frase “crer em Jesus”.

18.7 ai do culpado! O cidadão do Reino precisa tomar todo o cuidado para não prejudicar aquele que é fraco na fé. Fazer alguma coisa que leve alguém a abandonar a fé é um dos piores pecados e merece o mais duro castigo.

18.10 os anjos deles estão sempre na presença do meu Pai: Naquele tempo, pensava-se que apenas os anjos mais graduados podiam chegar até Deus. Jesus diz que esses anjos são os representantes ou os guardas dos pequeninos (Hb 1.14).

18.11 O texto deste versículo não faz parte do texto original grego (Lc 19.10).

18.12 um homem que tem cem ovelhas: Em Lc 15.4-7, a história da ovelha perdida mostra como Deus ama os pecadores e se alegra quando estes se arrependem de seus pecados. Aqui em Mateus, a mesma história lembra o cuidado que se deve ter pelos pequeninos (ver Mt 18.6, n.), em especial aqueles que se desviaram, pois Deus não quer que nenhum deles se perca (v. 14).

18.18 será proibido... será permitido: O texto original também pode ser traduzido assim: “terá sido proibido... terá sido permitido” (ver Mt 16.19, n.). Aqui a promessa é feita a todos os discípulos e não somente a Pedro (Jo 20.23).

18.19 pedirem a mesma coisa em oração: Aqui este pedido tem a ver, acima de tudo, com a situação descrita em Mt 18.15-17.

18.20 onde dois ou três estão juntos em meu nome, eu estou ali com eles. Os mestres judeus ensinavam assim: “Quando dois se sentam juntos para tratar da Lei, Deus está no meio deles”. Jesus toma o lugar da Lei. Onde dois ou três se reúnem em nome de Jesus, ali ele se faz presente.

18.21-35 Quando Deus perdoa o pecador arrependido, isso se reflete na convivência dos irmãos na fé. Receber o perdão de Deus e perdoar os outros são duas coisas que sempre andam lado a lado. Isso aparece também na oração que Jesus ensinou a seus discípulos (Mt 6.12,14-15).

18.22 setenta e sete vezes: O texto original também pode ser traduzido por “setenta vezes sete”. Seja como for, Jesus está dizendo que não há nenhum limite quando se trata de perdoar o irmão que se arrepende (Lc 17.3-4; Gn 4.24).

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