Livro de Ageu


O primeiro livro profético de tempos pós-exílicos foi o de Ageu, que registra quatro discursos dirigidos aos judeus que retomaram do exílio a Jerusalém, entre agosto e dezembro de 520 A.C. A comunidade, com dezoito anos de existência, estava desencorajada devido ao fracasso nas colheitas, à seca e à hostilidade das populações vizinhas, ao ponto que já se dispunha a retomar à Babilônia. Ageu repreendeu-os por terem deixado o templo semidestruído. Após terem iniciado uma pequena estrutura, Ageu falou novamente, convocando o povo para construir um edifício ainda mais glorioso que o de Salomão. Ele também queria restaurar a monarquia, tendo Zorobabel como monarca. Ageu foi diferente dos outros profetas reformadores de antes do exílio, por ser mais sacerdotal em caráter, salientando a adoração no templo e os rituais, como a chave a uma maior prosperidade. Ageu foi um daqueles chamados de doze profetas menores, e o primeiro dentre os três que profetizaram após o retorno dos judeus do cativeiro babilônico (ver o artigo a respeito). Esses profetas são chamados menores não por haverem sido menos importantes do que os profetas maiores, mas apenas porque os volumes que escreveram são menos volumosos.

Esboço do conteúdo

  1. Autor
  2. Pano de fundo do livro
  3. Data
  4. Lugar de origem
  5. Destino
  6. Propósito
  7. Canonicidade
  8. Texto
  9. Unidade
  10. Conteúdo
  11. Perspectiva teológica


1. Autor. A palavra Ageu parece ter-se derivado do termo hebraico que significa festividade, provavelmente porque seu nascimento coincidiu com uma das festas judaicas ou festividades (ver o artigo a respeito). Coisa alguma nos é informada sobre seu passado, família, genealogia, etc. Desconhecemos totalmente o lugar de seu nascimento, a época de seu nascimento, e até mesmo os principais acontecimentos de sua vida. Mas sabemos que ele começou a profetizar no segundo ano de Dario Histaspes (ver Ageu 1:1), e, juntamente com o profeta Zacarias, salientou fortemente a reiniciação da construção do templo, tendo obtido a permissão e a assistência do rei (ver Eze. 5:1 e 6:14). O povo judeu, animado por esses líderes, completou a construção no sexto ano do reinado de Dario I (520 A.C.). Podemos inferir pelas circunstâncias que Ageu era homem dotado de elevados propósitos, que exercia grande influência e era dotado de profunda espiritualidade. Presumivelmente, foi um dos exilados que retornaram a Jerusalém, embora isso não seja dito em parte alguma da Bíblia.

2. Pano de fundo do livro. A declaração introdutória fornece essa informação.

3. Data. É possível determinarmos precisamente a data deste livro, porque as profecias teriam ocorrido durante o reinado de D ario I (522-486 A .C .). A primeira ocorreu no primeiro dia do sexto mês, no começo da atividade profética de Ageu, a saber, em agosto e setembro de 520 A.C. Então, a sua quarta profecia, sucedeu no nono dia do quarto mês, isto é, novembro e dezembro de 520 A.C., imediatamente depois que Zacarias deu inicio ao seu ministério.

4. Lugar de origem. Os exilados retornaram da Babilônia e estabeleceram -se na área de Jerusalém . As profecias estão associadas ao lugar do templo arruinado. Isso significa que a própria cidade de Jerusalém, ou algum lugar das proximidades, foi o lugar onde o livro foi escrito.

5. Destino. Está em questão um a área muito restrita. Em primeiro lugar, houve o encorajamento para reconstruir o templo (ver 2:1-9). Os sacerdotes foram incluídos no terceiro discurso. O encorajamento dado a Zorobabel, governador civil da Judéia, no quarto oráculo (2:20-23), alude à mesma localização geral. Todas as referências, pois, apresentam a Judéia e, especificamente, Jerusalém, como os lugares para onde as mensagens foram enviadas.

6. Propósito. O alvo era o de encorajar os desanimados repatriados a reconstruírem o templo, restabelecendo a autoridade civil e religiosa da nação, e reconhecendo a vida comunitária, após o padrão do estado judaico original. Israel não tinha por intuito ser apenas um ajuntamento de pessoas em certo lugar, para então surgir um governante que organizasse as coisas. Antes, Israel deveria ser um a teocracia e um a fraternidade, com propósito e serviço espirituais. Não bastava os israelitas serem libertados do cativeiro. A restauração geral de Israel, em todos os seus aspectos, era algo necessário. Deus os escolhera como um povo, e deles era exigido que correspondessem a essa responsabilidade.

7. Canonicidade. Esse livro foi o primeiro dos três livros proféticos pós-exílicos (Ageu, Zacarias e Malaquias). Todos esses livros tratam da questão da restauração de Israel, após o cativeiro babilônico. Desde o começo, Ageu foi um livro aceito, tendo sido contado entre os doze profetas menores. Esdras atestou a validade e a importância da profecia de Ageu (ver Esd. 5:1 e 6:14), o que sem dúvida aumentou o prestígio do livro entre o povo. Na maioria dos antigos catálogos, Ageu não é mencionado por nome, mas sem pre houve a referência aos doze profetas menores, que necessariamente incluíam o seu livro. Nos tempos do N .T ., temos a citação em Heb. 12:26. (Ver Ageu 2:6-8,22). Josefo chamou Ageu e Zacarias (ver Anti.  xi.4,5, par. 557) de os profetas. Ver o artigo geral sobre o Cânon do Antigo Testamento.

8. Texto De modo geral, o texto do livro está em boa ordem, como se dá com o texto massorético em geral. Entretanto, há algum as corrupções em Ageu 1:7,9,10,12; 2:6,15,17. Há uma possível deslocação de texto, em Ageu 2:15-18. A Septuaginta tem um a adição em Ageu 2:9, que ajuda a reconstituir o texto hebraico.

9. Unidade Alguns estudiosos têm dividido o livro em duas p artes, escritas por dois autores distintos. Em primeiro lugar, há uma porção narrativa, não-profética; em segundo lugar, há os oráculos. O primeiro escritor poderia ter incorporado as profecias do segundo em seu livro. O fato de que as profecias foram redigidas na terceira pessoa talvez dê apoio a essa teoria. Por que o profeta não usou o eu, ao entregar suas próprias profecias? O autor diz o profeta Ageu, ao referir-se às profecias dadas, como se estivesse designando um a pessoa distinta de si mesma. (Ver Ageu 1:1 e 2:1,10). O autor evidentemente estava bem familiarizado com os eventos profetizados, mas isso poderia mostrar apenas que ele era um contemporâneo, e não que ele mesmo foi quem recebera as profecias. Portanto, ele pode ter sido o porta-voz da mensagem, embora não o autor da mesma. Outrossim, as profecias são resumos extremamente reticentes, e não extensas profecias, o que poderia apontar para o trabalho de um redator ou editor. Não há como solucionar a questão com qualquer grau de certeza; mas ela não se reveste de qualquer importância real. Se um autor qualquer incorporou fielmente os oráculos de um profeta em sua obra, o resultado poderia ser corretam ente chamado pelo nome do profeta, e seria uma profecia genuína do mesmo.

10. Conteúdo A. Ageu 1:1-11. Sexto mês, primeiro dia. Primeiro oráculo. É mencionada a negligência do povo. Eles não haviam construído o templo, (ver Esd. 3:4), enquanto concentravam seus esforços em suas próprias residências (ver Ageu 1:4). Os desastres por eles sofridos, a seca e a ausência de colheita eram lembretes de Deus de que eles deveriam pôr em primeiro lugar as coisas principais. b. Ageu 2:1-9. Sétimo mês, vigésimo primeiro dia. O futuro templo seria maior que o de Salomão. Os próprios gentios contribuiriam para tomá-lo assim. A profecia talvez inclua o templo de Herodes, que foi maior que o de Salomão; e espiritualmente falando, poderia referir-se ao novo templo formado por judeus e gentios, encarnado na Igreja, na era do evangelho (ver Efé. 2:17-22). Seja como for, o futuro referente ao templo e ao seu sentido espiritual é grande, e isso deveria encorajar-nos a fazer investimentos nessa realização. c. Ageu 2:10-19. Nono mês, vigésimo quarto dia. A lei ritual nos fornece um a lição. Se um homem estivesse transportando a carne dos sacrifícios e se suas roupas tocassem em algo, a coisa tocada nem por isso tornar-se-ia santa. Mas as vestes de um homem que estivesse ritualmente impuro, contaminariam tudo aquilo em que elas tocassem. Portanto, a imundícia contamina. As ruínas do templo eram imundas, e contaminavam a nação judaica. Somente se o novo templo substituísse o antigo, mediante reconstrução, a nação poderia ficar isenta da imundícia que lhes servia de obstáculo e atraía contra eles o juízo divino. Finalmente, o reavivamento resultou no lançamento de um novo alicerce (ver Esd. 3:10), em 536 A.C. E isso foi feito segundo a filosofia do profeta. d. Ageu 2:20-23. Nono mês, vigésimo quarto dia. Aparece uma promessa, feita a Zorobabel, de que ele seria mantido em segurança, a despeito das perturbações que agitavam o império persa.

11. Perspectiva teológica a. A prosperidade material não serve de sinal seguro de prosperidade espiritual; mas, quando se põem as coisas principais em primeiro lugar (primeiro as coisas espirituais, e só então as materiais), isso resulta em bênçãos de todas as modalidades. Isso se coaduna à mensagem de Jesus em Mateus 6:33 (ver Ageu 1:1-11). b. Os reveses na vida de um crente podem ser devidos a questões espirituais às quais não atendemos. (Ver Ageu 1:6 ss.). c. O ritual é importante, se dele participarmos com a correta atitude espiritual. Dentro do contexto judaico, essa é uma questão importante, porque ali o ritual continuava sendo um importante indicador do destaque que se dava às questões religiosas (ver Ageu 2:12 ss.). d. Em seu terceiro oráculo, o profeta salientou quão penetrante é o mal, ainda mais que o bem. Por esse motivo, deve ser evitado (ver Ageu 2:12 ss.), e. Se um homem recebe de Deus uma missão, o Senhor cuidará para que ele seja protegido, até cumprir a sua missão, o que não é um pequeno consolo (ver Ageu 2:21 ss ).