Mórmons: Igreja dos Santos dos Últimos Dias

Mórmons: Igreja dos Santos dos Últimos Dias
“Se o mormonismo continuar a crescer nos Estados Unidos ao índice atual”, calculou recentemente um estatístico mórmon, “e se a população dos EUA continuar a aumentar ao índice atual, então, daqui a 150 anos, quando o mormonismo comemorar seu bicentenário, todos os cidadãos da nação serão mórmons”.
Embora essa declaração não fosse feita para ser levada muito a sério, engloba, não obstante, todos os distintivos do movimento mórmon — otimismo, dinamismo, prosperidade e crescimento.

Tendências Modernas
Quando a Igreja Mórmon foi formalmente fundada por Joseph Smith Jr., em 6 de abril de 1830, no interior do Estado de Nova Iorque, havia apenas seis membros. Hoje, a Igreja Mórmon de Utah, oficialmente chamada de Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, e largamente a maior dentre vários grupos mórmons, orgulha-se de possuir 4,7 milhões de membros, em 75 países.
Para muitas pessoas, o mormonismo provavelmente significa pares de rapazes de cabelo bem cortado, de aparência devotada, que vão de casa em casa à procura de adeptos. Realmente, os 30.000 missionários mórmons, na maioria rapazes de 19 ou 20 anos que cumprem sua missão de dois anos nos EUA e ao redor do mundo, batizam cada ano 200.000 novos conversos, segundo se diz. Assim, a Igreja Mórmon de Utah afirma ser uma das religiões que mais crescem hoje.

Os Atrativos
Num artigo sobre o serviço missionário mórmon, a revista Newsweek diz que aos novos conversos “o mormonismo promete uma rede de amigos solícitos, uma doutrina da família eterna e um profeta vivo para dar segurança às suas vidas”. Certamente, na atual sociedade, família e amigos, rapidamente mutantes, a oportunidade de aprimorar-se e a segurança religiosa são mui atraentes e desejáveis. Nesse respeito o mormonismo aparentemente tem muito a oferecer.
Cada ala mórmon, o equivalente a uma paróquia ou diocese, regularmente patrocina jogos, piqueniques, festas, danças e outras atividades às quais são bem-vindas pessoas de todas as faixas etárias. Famílias são incentivadas a passar noites de segunda-feira — Reuniões Familiares — juntas em estudo, recreação e outros programas familiares. A igreja também opera um sistema de previdência própria para ajudar seus correligionários que atravessem fase difícil. Tais programas, junto com um impressionante rol de celebridades tais como o ex-governador George Romney, os cantores Osmond, o colunista Jack Anderson e outros em suas fileiras, não só exercem forte atrativo sobre prospectivos adeptos, mas faz também com que os já associados, talvez descontentes, pensem duas vezes antes de abandonar a igreja.

“Nem Tudo Está Bem em Sião”
Crescimento impressionante, prosperidade material, famílias amorosas, pureza moral, boa posição social e respeitabilidade podem todos contribuir para dar ao mormonismo uma imagem atraente e ideal. Mas, “os bispos e outras autoridades da igreja que empregam boa parte de seu tempo aconselhando, estão vividamente apercebidos de que ‘nem tudo está bem em Sião’”, escreveu o historiador da Igreja Mórmon, Leonard Arrington.
Em Utah (estado norte-americano) por exemplo, onde a Igreja Mórmon afirma possuir um rol de membros de 70 por cento, as estatísticas do governo mostram que o índice de divórcio é maior do que a média nacional, e que 7 de cada 10 mães adolescentes conceberam seu primeiro bebê sem serem casadas. Todos os programas religiosos e sociais da igreja trouxeram pouca, se é que alguma, vantagem real para seus membros. Ao contrário, as demandas em tempo, esforço e dinheiro que tais programas impõem a seus membros apenas contribuem para sua frustração, desapontamento e depressão. Em resultado, o índice de suicídio tanto de adultos como de adolescentes, em Utah, está também acima da média nacional, e o uso de tranqüilizantes e estimulantes, entre outras drogas, por parte dos mórmons, excede em muito o da população em geral.
Outro motivo de preocupação para os líderes da igreja é a crescente corrente de membros inativos nos anos recentes. Segundo Arrington, “20 a 30 por cento dos duma ala americana mediana jamais comparecem [aos ofícios religiosos]”, e em congregações longe do centro, “os não-freqüentadores descontentes talvez constituam tantos quantos 50 por cento”. Estão, no entanto, incluídos na contagem de milhões, anunciada pela igreja.

A Teologia Por Trás Disso
Pode parecer estranho que seja nos aspectos em que o mormonismo exerce seu mais forte atrativo — família, jovens, sólidos programas de igreja e coisas semelhantes — que ele enfrenta os mais prementes problemas. Na verdade, esse paradoxo é produto do ímpar e bizarro conceito do mormonismo sobre a natureza de Deus e do homem.
“O Próprio Deus”, explicou Joseph Smith, “já foi como nós somos agora e é um homem enaltecido e entronizado nos céus longínquos”. Para os mórmons, Deus é um homem glorificado, perfeito. Tem corpo de carne e osso, mas sem sangue, em que habita um espírito eterno.
“Todos os homens e as mulheres são . . . literalmente filhos e filhas de Deidade”, escreveu Joseph F. Smith, sobrinho de Joseph Jr., e presidente da igreja de 1901 a 1918. “O homem, qual espírito, foi concebido e nasceu de pais celestiais, e foi alçado à maturidade nas mansões eternas do Pai, antes de vir à terra num corpo temporal.”
Assim, segundo a teologia mórmon, todos os humanos existiam quais seres espirituais no céu antes de virem à terra. O objetivo de virem à terra é para que sejam provados e, se bem-sucedidos, sejam exaltados, para que eventualmente eles mesmos se tornem deuses, tendo seus próprios mundos. De modo que os mórmons crêem na existência de não só um, mas de muitos deuses, cada qual governando sobre seu próprio mundo. Brigham Young, segundo presidente da igreja, disse certa vez: “Quantos deuses existem eu não sei. Nunca houve, porém, tempo em que não houvesse Deuses e mundos, e em que os homens não passassem pelas mesmas provações que estamos passando.”
Essas crenças explicam por que é dada tanta ênfase ao casamento e à família. É considerado um dever para mórmons fiéis se casarem e terem tantos filhos quantos puderem criar, de modo que provejam corpos físicos para outros espíritos virem à terra. Seu casamento e sua família precisam ser ratificados no templo “para toda eternidade”, de modo que se possam tornar pais celestiais e produzir filhos espirituais. Casamento múltiplo, ou poligamia, que membros da igreja certa época abertamente praticavam, está claramente ligado a esse conceito.
Torna-se também claro por que os mórmons são caracteristicamente diligentes e empreendedores, quer seja na educação, na política quer nos negócios. Tudo faz parte do eterno progresso rumo ao reino celestial.

Base Para Crença
Obviamente, para apoiar tal teologia, é necessário muito mais do que a Bíblia. Assim, a oitava Regra de Mórmon declara: “Cremos ser a Bíblia a palavra de Deus, o quanto seja correta sua tradução.” Por outro lado, o Livro de Mórmon, disse Joseph Smith, é o “mais correto que há na terra, e a base da nossa religião, e o homem se aproxima mais de Deus seguindo os seus preceitos do que os de qualquer outro livro.” Contudo, o próprio Livro de Mórmon é uma tradução. Joseph Smith afirma tê-lo traduzido de inscrições “Egípcias Reformadas” sobre placas de ouro (há muito desaparecidas), entregues a ele pelo anjo Moroni, por usar “o Urim e o Tumim”, um tipo especial de óculos. Curiosamente, este “livro mais correto que há na terra” sofreu mais de 2.000 mudanças textuais desde que originalmente publicado em 1830, e contém cerca de 27.000 palavras — um décimo do livro — citadas textualmente ou ligeiramente modificadas da Versão Rei Jaime da Bíblia (em inglês), incluindo alguns de seus erros de tradução.
Dois outros livros são também considerados obras-padrões da igreja: Doutrinas e Convênios e Pérola de Grande Valor. Nesses livros, contendo “revelações” e traduções adicionais, Smith elaborou o complexo sistema de teologia mórmon, incluindo doutrinas não encontradas no Livro de Mórmon, tais como a pluralidade de deuses, a poligamia, a maldição da raça negra, o batismo para os mortos e uma série de outras.
Os mórmons também crêem na Revelação contínua — os céus não estão fechados para eles. O presidente da igreja, qual profeta, vidente e revelador, recebe comunicações ou respostas a perguntas atuais diretamente de Deus. Uma “Revelação” recente foi proclamada pelo presidente Spencer W. Kimball, em 9 de junho de 1978, dizendo que “todos os membros varões dignos da Igreja podem ser ordenados para o sacerdócio, sem consideração de raça ou cor”. Isso acabou com a crescente tensão racial dentro da igreja porque os negros, barrados do sacerdócio até aquela data, jamais poderiam atingir o reino celestial, segundo o ensino mórmon.

Uma Religião Interesseira
Os mórmons gostam de citar as palavras de Lorenzo Snow, seu quinto presidente: “Como o homem é, Deus já foi, e como Deus é, o homem pode vir a ser.” Ao adotarem esse conceito, colocam a exaltação e a glorificação pessoal acima da santificação do nome de Deus e de se fazer a vontade dele, conforme exemplificado por Jesus Cristo. (Mateus 6:9; João 5:30) Isso é, na melhor das hipóteses, uma egoísta e interesseira ilusão.