Interpretação de João 5

João 5

Em João 5, Jesus vai a Jerusalém para uma festa judaica e visita o tanque de Betesda, conhecido por suas propriedades curativas. Ele encontra um homem que está paralisado há 38 anos. Jesus cura o homem dizendo-lhe para pegar sua esteira e andar, o que ele faz milagrosamente.

Esta cura ocorre no sábado, o que irrita alguns líderes judeus que acusam Jesus de violar as leis do sábado. Em resposta, Jesus afirma sua autoridade divina como Filho de Deus, reivindicando igualdade com Deus Pai. Ele explica que não pode fazer nada sozinho, mas age em perfeita harmonia com a vontade do Pai.

Jesus enfatiza ainda que ele tem o poder de dar vida e julgar a humanidade. Ele exorta as pessoas a acreditarem nele e receberem a vida eterna através da fé nele. O capítulo destaca a autoridade divina de Jesus, a importância da fé nele e seu papel como fonte de vida e julgamento eternos.

Interpretação

5:1-16 Tanto a ocasião como o lugar deste milagre tem sido muito discutido. Se essa festa dos judeus era a Páscoa, então quatro dessas festas foram mencionadas em João, fazendo o ministério estender-se aproximadamente de três anos e meio a quatro, desde que João as cita todas (as outras são 2:23; 6:4; 11:55). Uma vez que as melhores autoridades em manuscritos deixam de colocar o artigo definido, provavelmente a festa era alguma outra e não a Páscoa. O lugar do milagre já pode ser identificado atualmente, com alguma confiança, devido a escavação, em 1888, de um tanque igual ao descrito por João, localizado a nordeste de Jerusalém, perto da Igreja de Santana. As diversas variantes do nome do tanque nos manuscritos são desnorteadas. Betezata parece autêntico. Provavelmente significa “Casa das Oliveiras”.

5:2-4 Os cinco alpendres ou varandas, agora descobertos, abrigavam um grande número de doentes, alguns cegos, outros coxos, outros ressecados, isto é, paralíticos. Estavam ali com esperança de serem curados quando a água se mexesse. Embora nossos manuscritos tradicionais não considerem o final do versículo 3 e todo o versículo 4 como parte do original texto de João, esta porção se refere a uma tradição antiga. J. Rendel Harris encontrou, em diversos lugares do Oriente, evidências de uma superstição no sentido de que, no Ano Novo, esperava-se um anjo que agitava as águas de certas localidades, capacitando uma pessoa a obter a cura se fosse a primeira a entrar na água depois desse movimento. Com base nisso considerou a festa mencionada neste capítulo como sendo a do Ano Novo (também Westcott. Veja J. Rendel Harris, Side Lights on New Testament Research, págs. 36-69). As ruínas da Igreja de Santana incluem a figura de um anjo, comprovando esta crença e o costume de se buscar a cura nessas circunstâncias especiais.

5:5-7 Nada há que indique a natureza exata do mal que tomara conta deste homem doente por tantos anos, exceto que não podia movimentar-se sem ajuda. Não nos parece que ele tenha ficado ali todo esse tempo. Antes, era trazido quando o movimento da água era esperado. Jesus, sabendo. Uma vez que nada se diz sobre a transmissão de informações pelos outros concluímos que aqui, tal como no caso de Natanael e da mulher de Sanaria, Jesus discerniu o verdadeiro estado de coisas por meio de seu próprio poder de percepção.

Queres ser curado? Neste caso Jesus tomou a iniciativa. A pergunta não era inútil, pois muitas pessoas cronicamente inválidas não têm esperanças de cura. Outras usam sua enfermidade como meio de despertar simpatia, não desejando realmente serem curadas. Este homem doente queria ser curado, mas não tinha os meios (v. 7). 8, 9. Três ordens dadas por Jesus envolvem a comunicação da força. A cura foi instantânea. Leito. Colchão ou esteira.

5:10-13 Rapidamente a cura tornou-se assunto de discussão, porque fora realizada no sábado. Os judeus. Neste caso, não o povo comum, mas seus líderes (cons. 1:19). Parece que viram o homem caminhando pelas ruas a caminho de sua casa, carregando sua esteira. Isso violava o descanso do sábado (Jr. 17:21). Na sua confusão, o homem já curado só podia explicar que o seu benfeitor mandara que assim fizesse (Jo. 5:11). Não era capaz de identificar quem o curara, pois não lhe perguntara o nome, e agora parecia impossível descobrir, pois Jesus já abandonara o cenário.

5:14-16 Não sendo culpado de violação intencional da Lei, o homem curado recebeu permissão de seguir o seu caminho. Mais tarde foi ao Templo para dar graças por sua cura. Ali Jesus o encontrou e o advertiu.

Não peques mais, para que não te suceda coisa pior. A cura física nas mãos de Jesus pode incluir perdão de pecados (cons. Mc. 2:9-12). Esse perdão não deve ser aceito levianamente. A coisa pior fica indefinida, e a advertência torna-se mais atuante por causa disso. Retornando aos judeus, o homem identificou Jesus como sendo a pessoa que o curou, provavelmente não porque estivesse ofendido com a advertência de Jesus, mas porque sentia-se na obrigação, como membro da comunidade, de fornecer uma informação procurada pelas autoridades. Isso levou os líderes a perseguirem Jesus. Para eles estava claro que transgredira a lei. Violara o sábado. Estas coisas não está definido. O verbo é ele “estava fazendo”, sugerindo que havia ainda outros agravos. As palavras procuravam matá-lo carecem de suficientes provas documentadas.

5:17-47 O discurso abaixo trata da autoridade de Jesus, a qual ele estabelece em seu relacionamento especial com o Pai.

5:17, 18 Já que o trabalho era motivo de discórdia, Jesus aponta para Deus como exemplo de trabalhador constante. Embora o Pai descansasse de sua atividade criadora (Gn. 2:2), ele tem de trabalhar para sustentar o universo. Ele também tem de trabalhar para introduzir a nova criação. O significado parece ser que durante todo o tempo em que o Pai esteve trabalhando, o Filho também esteve. Era uma declaração maior do que afirmar que o Pai esteve trabalhando e que agora o Filho assumia a responsabilidade. Os judeus notaram a implicação. Jesus declarava que Deus era o Seu Pai, proclamando assim sua igualdade com Deus. Era pior do que trabalhar no sábado. Tal blasfêmia exigia morte (cons. Jo. 7:30).

5:19, 20 Este discurso continuou sem aparente interrupção da parte dos judeus. Não havia nenhuma arrogância às declarações de Jesus que eram equilibradas por uma completa dependência e subordinação ao Pai. Isto é a verdadeira filiação, salienta Jesus, aprender do Pai e reproduzir o que foi visto (v. 19). A percepção do Filho é ampliada pela revelação que o Pai lhe dá do significado de tudo o que o Pai faz. Para demonstrar a realidade do relacionamento entre os dois, maiores obras do que estas (a cura do aleijado e sinais semelhantes) serão realizadas.

5:21-24 Uma dessas maiores obras é a ressurreição dos mortos (v. 21). Sem sombra de dúvida é uma obra tão criativa quanto a original transmissão de vida. Se o Filho tem o poder de ressuscitar a quem Ele quer, participa do poder do Pai.

O juízo é uma pequena esfera na qual se manifesta a autoridade divina. Essa função foi transferida para o Filho. Observe que a ressurreição e o juízo são funções escatológicas intimamente relacionadas, das quais o ministério de Cristo apresentou relances, como por exemplo a ressurreição de Lázaro e o juízo de Satanás (16:11). Por trás dessa participação de autoridade está o plano de que o Filho receberá honras iguais ao Pai. Recusá-lo é desonrar o Pai (5:23). Os dois temas: 1) vida que vem da morte e 2) o juízo, são agora reunidas (v. 24); mas aqui a ressurreição é espiritual, não física, isto é, participação da vida eterna. É preciso que se creia nAquele que enviou o Filho, não no sentido de ignorar o Filho, mas percebendo-se que a fé no Pai e no Filho são indivisíveis.

5:25-30 Jesus expande o seu poder para produzir reavivamento espiritual (vs. 25, 26) . Essa obra pertence ao futuro, Ele diz, mas também já chegou está sendo efetuada (observe contraste com o v. 28).

Os mortos, neste caso, não são os que estão nas sepulturas, como no versículo 28, mas os mortos no pecado. Seu reavivamento vem por meio da voz do Filho de Deus (cons. v. 24 – quem ouve a minha palavra; 6:60; 18:38). Em nada o Filho é independente do Pai, nem mesmo na questão fundamental da vida propriamente dita (5:26). Novamente Cristo apresenta sua autoridade de juízo (v. 27).

Filho do homem está sendo usado aqui como em Dn. 7:13, em relação ao juízo e domínio. É um termo escatológico técnico, indicando mais do que humanidade, mas incluindo-a. Como o Senhor da ressurreição, Jesus convocará todos das sepulturas (cons. Atos 24:15). À vista de Ap. 20:4, 5, temos de pensar em um intervalo de tempo entre essas duas fases da ressurreição. Fazer o bem inclui ter fé no Filho de Deus, assim como fazer o mal inclui a rejeição do Filho e suas declarações.

Juízo. (Condenação na ERC.) O versículo seguinte (Jo. 5:30) é transicional, retendo a menção de juízo do contexto recente e antecipando, pelo uso da primeira pessoa do pronome, o material que vem a seguir. O Filho somente tem este relacionamento especial com o Pai.

5:31-40 Nesta passagem o tema predominante é o testemunho. Se Jesus desse testemunho de si mesmo, Ele diz, isoladamente ao testemunho do Pai, seria falto porque incompleto e sem garantia. Ele não esperaria ser aceito pelos judeus. Mas o seu testemunho realmente não é desse tipo (cons. 8:18). Outro presta testemunho, o próprio Pai. Infelizmente os judeus não reconheceram o testemunho do Pai (cons. 7:28; 8:19), e portanto ficaram incapacitados de reconhecer o apoio que Ele dava às declarações de Jesus (5:32). Uma segunda testemunha foi João Batista, que foi procurado pelos próprios judeus por causa do seu testemunho (1:26; 3:26). Este testemunho estava de acordo com a verdade, como a descida do Espírito sobre Jesus comprovou. Por mais útil que tal testemunha possa ter sido, levando outros a avaliarem-no corretamente, Jesus não contou com ela como sendo necessária para tomar consciência de sua pessoa e missão (5:34).

Mas a palavra de João, reconhecida por Jesus, tinha a intenção de ajudar aquelas pessoas a serem salvas, Jesus caracteriza João aqui como a lâmpada que ardia e alumiava. Ardendo, ele gradualmente se desvaneceu (3:30), mas iluminado, ele capacitou os homens a verem a sua necessidade de uma Luz maior (cons. 1:8). Como tal, seu testemunho permaneceu depois dele. Por algum tempo. A popularidade de João não durou muito. Uma terceira testemunha de Jesus encontra-se em suas obras, as quais o Pai lhe deu para realizar a fim de que autenticassem sua divina missão (v. 36) . Realizasse. Nada experimental ou incompleto. As obras prepararam o caminho para a obra, que agora sabemos foi realizada no Calvário e a qual não necessita de correção.

Como parte da testemunha mais importante, nosso Senhor inclui o testemunho do Pai contido nas Escrituras (5:37-40). Este Ele distingue claramente do testemunho imediato que o Pai deu dEle (v. 32). A inacessibilidade de Deus, devido a sua espiritualidade (v. 37) foi sobrepujada em considerável degrau por meio da revelação dEle mesmo nas Escrituras do V.T. Mas essa palavra não se enraizara nos ouvintes de Jesus. A prova permanece no fato de que não receberam aquele de quem a Palavra fala (5:38).

Examinais tanto pode ser indicativo como imperativo, neste exemplo, mas o sentido da passagem favorece o indicativo. Os judeus tinham o hábito de examinar as Escrituras porque reconheciam que elas continham o segredo da vida eterna. Conhecimento da Lei era o alvo da piedade judia; assim, a Palavra escrita tendia a se tornar um fim em si mesma. Mas as Escrituras testificam de uma pessoa! A tragédia era que aquela mesma Pessoa estava agora presente, e os homens religiosos não vinham a ela buscar a vida que buscaram em vão na letra da Palavra (v. 40).

5:41-47 Jesus não queria que os homens cressem nEle simplesmente para que Ele recebesse a glória (v. 41). A palavra grega é doxa, frequentemente traduzida glória. O motivo básico para a falta de reação diante dEle e Suas declarações era a falta de reação diante de Deus. Eles careciam do amor de Deus, isto é, amor a Deus. Considerando que Jesus viera em nome do Pai, essa falta de amor a Deus tornava impossível que vissem que Ele e o Pai eram um, e que O recebessem. Se alguém viesse em seu próprio nome, não repousando, como Jesus, na autoridade do Pai, ele teria pronta resposta (v. 43). Isto provavelmente não foi dito com a intenção de profetizar a vinda de alguma figura, mas foi dito para apontar um princípio envolvendo a natureza pecadora do homem. Os judeus eram culpados de buscar honra e glória de uns e outros (cons. 12:43), e não de Deus, que é a única fonte de reconhecimento verdadeiro e permanente. A missão de Jesus não foi de acusar e julgar. Isto era desnecessário de qualquer forma no caso de seus ouvintes, porque um acusador existia em Moisés. Os judeus puseram confiança sem limites no que Moisés escrevera (v. 45), mas no ponto principal eles não criam de maneira nenhuma, pois falharam em receber os avisos proféticos de Moisés referentes a Cristo. Aqui devemos pensar não simplesmente em passagens individuais, tais como Dt. 18:15- 18, mas da própria imperfeição da revelação sem Aquele que vinha, e da condenação da Lei, que exigia um Salvador. A revelação escrita e a revelação pessoal são basicamente a mesma coisa (v. 47).

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