Interpretação de João 2

João 2

João 2 descreve um acontecimento importante na vida de Jesus Cristo, que é a transformação da água em vinho nas bodas de Caná. 

Em João 2, Jesus e seus discípulos são convidados para um casamento em Caná da Galileia. Durante a celebração, os anfitriões ficaram sem vinho, o que foi um grande constrangimento social naquela cultura. A pedido de sua mãe, Maria, Jesus realiza seu primeiro milagre público ao transformar água em vinho. Ele instrui os servos a encherem seis jarros de pedra com água e, milagrosamente, a água se torna o melhor vinho, surpreendendo a todos no casamento. Este evento revela o poder divino de Jesus e começa a manifestar o seu ministério, demonstrando a sua capacidade de produzir abundância e bênçãos.

Este capítulo destaca temas de fé, obediência e a revelação de Jesus como o Filho de Deus por meio de seus sinais milagrosos.

Interpretação

2:1-11 Essa rápida volta à Galileia não foi marcada pelo ministério público, mas envolveu um incidente que produziu o aprofundamento da confiança dos discípulos em Jesus, continuando a ênfase de João 1. Alguma luz é lançada sobre o relacionamento de nosso Senhor com sua mãe e também a sua atitude para com a vida social (cons. Mt. 11:19). A transformação da água em vinho foi observada como sendo o seu primeiro milagre.

2:1 Três dias depois parece relacionar-se com 1:43. Dois dias ou mais seriam precisos para se fazer a viagem a Caná, que ficava cerca de sete milhas e meia ao norte de Nazaré. João faz notar a presença da mãe de Jesus no casamento. Evitou aqui mencionar o nome Maria, e também em 19:26, devido a mesma reserva porque escondeu o seu próprio nome. Estava especialmente relacionado com Maria (19:27).

2:2 Não se sabe se Jesus planejou estar presente ao casamento ou se o convite para Ele e Seus discípulos foi feito depois de sua chegada a Galileia. Se esta última é a alternativa correta, a falta de vinho pode ser facilmente explicada. Outros convidados também podiam ter chegado inesperadamente. Natanael, cujo lar estava em Caná, possivelmente tinha algo a ver com os arranjos.

2:3-5 Maria trouxe a Jesus a informação de que o suprimento de vinho acabara. Em sua resposta, o uso do termo mulher não envolve desrespeito (cons. 19:26). Que tenho eu contigo? As palavras indicam separação de interesses e parecem sugerir uma pequena repreensão. Talvez Maria esperasse que Jesus usasse a situação para chamar a atenção para si mesmo de modo a apressar seu programa messiânico. Mas a sua hora não tinha chegado ainda (7:30; 8:20; 12:23; 13:1; 17:1). Jesus queria que sua mãe entendesse que o antigo relacionamento entre eles dois (Lc. 2:51) chegara ao fim. Ela não devia interferir em sua missão. Maria foi sábia e não discutiu o assunto. Se ela não podia mandar nEle, podia instruir os servos a obedecerem as instruções dEle. E assim demonstrou a sua confiança nEle.

2:6-8 Para atender à emergência, Jesus usou seis talhas de pedra, das que os judeus usavam para as purificações – lavar as mãos antes e depois das refeições e diversos outros banhos cerimoniais. Cada um devia conter cerca de vinte galões. Estando cheios, Jesus instruiu os servos a tirar. Isto parece se referir ao ato de tirar a água dos grandes recipientes para recipientes menores. O que era retirado era então levado ao mestre- sala . Uns acham que o mestre-sala era alguém pouco mais importante que um mordomo; outros acham que era um amigo do noivo convidado para ocupar o lugar de mestre de cerimônias (cons. Eclesiástico 32:1 e segs.)

2:9, 10 Provando o vinho, o funcionário certificou -se de que era de qualidade superior, tão superior que sentiu-se obrigado a elogiar o noivo pelo tratamento fora do comum que dispensava aos seus convidados dando-lhes vinho bom no fim da festa, quando muitos já teriam bebido tanto que não estariam mais em condições de discernir se o vinho era bom ou de qualidade inferior. A falta de vinho foi resolvida pela intervenção de Jesus. A verdade mais profunda do incidente é que, simbolicamente, o Judaísmo foi revelado como deficiente (na ênfase dada às abluções cerimoniais, a ponto dê negligenciar assuntos espirituais, e em sua exaustão indicada pelos cântaros vazios), quando Cristo fornece plenitude de bênçãos da mais alta qualidade (cons. 7:37-39). Mais do que isso, ele o fez sem chamar a atenção para si mesmo, um exemplo agradável.

2:11 Princípio a seus sinais. Esta declaração refuta os Evangelhos apócrifos que narram milagres da meninice de Jesus. A palavra milagre, (ERC) que João usa por toda parte, significa sinal, indicando que o ato tem o propósito de revelar o propósito por trás dele, jogando luz sobre a pessoa de Cristo ou sua obra. Glória, neste caso, é um termo que chama a atenção para o poder de Jesus de realizar uma transformação espiritual, conforme sugerida pela mudança da água em vinho (cons. 11:40). Seus discípulos creram nele. Contrastando com o mestre -sala, que se caracterizou pela ignorância (v. 9) e os servos, que sabiam do milagre (v. 9), os discípulos foram levados a crer. Só eles realmente lucraram com o sinal.

2:12-22 Ainda que este não seja chamado de sinal, foi um acontecimento mais momentoso do que o milagre de Caná, pois relacionava-se diretamente com a missão de Jesus, sendo um ato messiânico de natureza pública. Novamente o judaísmo foi comprovado ser deficiente, e até mesmo corrupto, pois a casa do Pai estava sendo conspurcada. Jesus relacionou o incidente com a sua ressurreição (vs. 19-21) . Ele revelou a incredulidade dos judeus (vs. 18-20) e a fé dos discípulos (v. 22). Como acontecimento, pode ser separado de uma purificação posterior, antes da morte de Jesus (Mc. 11:15-19).

2:12 Este versículo é transicional. A importância de Cafarnaum no ministério de’ Jesus foi enfatizado nos Evangelhos Sinóticos. Fez dela o seu quartel-general galileu – “sua cidade” (Mt. 9:1). O desentendimento com os seus irmãos ainda não acontecera (Jo. 7:3-5).

2:13 A páscoa dos judeus. (Conf. 2:6.) Mais uma vez João concentra-se em expor as deficiências do judaísmo. O memorial sagrado da libertação da escravidão no Egito estava sendo menosprezado. Visto que era hábito de Jesus observar as festas nacionais, como fora hábito de José e Maria (Lc. 2:41), Ele subiu a Jerusalém.

2:14-16 Jesus, de adorador passou a reformador. O Sinédrio permitia, e provavelmente controlava para seus próprios interesses financeiros, um comércio de animais para o sacrifício e câmbio. Esse comércio, efetuado na extensa área conhecida como o Pátio dos Gentios, era para a facilidade do peregrino, uma vez que podia obter o seu sacrifício ali mesmo em vez de trazê-lo de casa. Presumivelmente havia uma garantia de que o animal era “sem defeito”. Diversos tipos de moedas podiam ser trocados às mesas pelo meio ciclo palestiniano exigido para pagamento do imposto anual do templo. Esse comércio transformou o Templo em um verdadeiro mercado. Enfurecido com o sacrilégio, Jesus entrou em ação. Rapidamente improvisou um azorrague com as cordas que estavam por ali. Com esse açoite expulsou da área do templo os homens (todos) e os animais, derrubando as mesas dos cambistas e esparramando as moedas tilintantes pelo chão. Os pombos não podiam ser expulsos. Era preciso que seus proprietários os retirassem. Tais medidas árduas precisavam de justificativas, as quais foram dadas em que da casa de meu Pai fora pervertida em casa de negócio. O Senhor viera subitamente ao seu Templo e o purificara (Ml. 3:1-3). Uma lição mais profunda do que a remoção da corrupção pode ter sido a intenção ao expulsar os animais do sacrifício, talvez numa antecipação do dia em que o Templo e os seus sacrifícios estariam ultrapassados e o sacrifício final do Cordeiro de Deus fosse concluído (cons. 2:21; 1:29).

2:17 O incidente fez seus discípulos se lembrarem de uma passagem em um Salmo messiânico (69:9) - “O zelo da tua casa me consumirá”. Aqui pode-se encontrar uma indicação de que este zelo que lhe custou a oposição do momento, finalmente lhe custaria a sua vida (cons. Jo. 2:19).

2:18-22 Tal ação drástica rapidamente desencadeou uma exigência dos judeus (líderes) para que Jesus fornecesse um sinal incontestável de que tinha autoridade para sua conduta. Ele sempre se opunha a tais exigências (6:30; Mt. 16:1). Desta vez contentou-se em apontar para o futuro. Destruí este santuário. O caráter figurativo do pronunciamento está evidente, não apenas em Jo. 2:21, mas por causa da completa improbabilidade dos judeus destruírem o seu próprio Templo. Essas palavras não devem ser tomadas como ordem ou convite, mas são naturalmente hipotéticas – “Se vocês destruírem, eu o levantarei”.

Em três dias é o equivalente a “no terceiro dia”. Aceitando isso literalmente, os judeus sentiram que sua declaração era ridícula, uma vez que o Templo levou quarenta e seis anos para ser construído. Herodes começou a sua reconstrução em 20 A.C. Havia partes que ainda não tinham sido completadas, mas a estrutura estava suficientemente completa para ser mencionada como um edifício. (Com referência ao uso figurativo de santuário em vez de corpo, veja I Co. 6:19.) Esta profecia ajudou a desenvolver a fé dos discípulos, mas só depois da ressurreição do seu Senhor (cons. Jo. 12:16).

2:23-25 Esta parte é transicional, tendo ligação especialmente íntima com o incidente seguinte. É um resumo, descrevendo Jesus na realização de diversos sinais em Jerusalém, os quais não foram narrados. A coisa importante é a reação, a qual neste caso não foi incredulidade absoluta, nem confiança plena em Cristo atribuída aos discípulos, mas algo que poderia ser chamado de fé milagrosa. Seu caráter insatisfatório foi declarado pelo fato de que Jesus não se confiava a eles, pois conhecia o coração humano e discernia a falta de fé genuína. Exemplos semelhantes são encontrados em 8:30-59; 12:42, 43.

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