Interpretação de João 17

João 17

Em João 17, muitas vezes referida como a “Oração do Sumo Sacerdote”, Jesus ora a Deus Pai em nome de seus discípulos. Ele reconhece sua partida iminente e pede a proteção, unidade e santificação de Deus para seus seguidores. Jesus ora pela unidade deles, enfatizando que eles estão no mundo, mas não são do mundo. Ele também ora pelos futuros crentes, desejando que eles também possam estar unidos com Deus.

Este capítulo é uma oração profundamente íntima e teológica, na qual Jesus expressa o seu amor e o seu cuidado pelos seus discípulos, confiando-os aos cuidados do Pai. Ressalta a importância da unidade entre os crentes e da obra santificadora de Deus em suas vidas.

Interpretação

17:1-26 Jesus incluiu-se nesta oração (vs. l-5), mas sua principal preocupação era pelos Seus. Nas duas partes o elemento da dedicação está fortemente associado à petição.

17:1 Pai. Regularmente usado nas orações de Jesus e seis vezes aqui. É chegada a hora, o tempo é indefinido, como algo bem conhecido entre Pai e Filho. Era ao mesmo tempo a hora do sofrimento e da glorificação. Glorifica a teu Filho. Capacita-o a concluir Sua carreira, realizando a salvação para a qual veio. Está claro que Cristo aqui não procurava alguma honra para si próprio pois na Sua glorificação através da morte, ressurreição e exaltação, Ele buscava apenas a glorificação do Pai.

17:2 Esta glorificação do Pai incluía nela a elevação do Filho à glória e ao poder, onde Ele está como cabeça sobre todas as coisas (cons. Mt. 28:18). Autoridade. Aqui tem-se em vista especialmente a garantia da vida eterna, com base na obra de Cristo consumada. Os beneficiários são descritos como aqueles a quem o Pai deu ao Filho. Esta é a descrição dos discípulos muitas vezes mencionada na oração (vs. 2, 6, 9, 11, 12, 24).

17:3 A vida eterna foi apresentada em termos de conhecimento de Deus (cons. I Jo. 5:20). Os judeus não conheciam Deus, embora soubessem muito a respeito dEle. Esta é a proclamação deste versículo e de todo este Evangelho que o conhecimento de Deus, que produz a vida eterna, só vem mediante o conhecimento do Filho. Uma vez que o Filho e o Pai são um, o conhecimento é um. O conhecimento de Deus implica no conhecimento dos Seus caminhos e da Sua pessoa, e assim inclui a percepção do Seu plano de salvação do pecado. Jesus Cristo (cons. 1:17). Raro nos Evangelhos mas comum nas Epístolas.

17:4 Eu glorifiquei-te na terra. Isto nosso senhor explicou em termos de consumação da obra que o Pai lhe deu para executar - a revelação do Pai, a denúncia do pecado, a escolha e o treinamento dos Doze, e mais que tudo a morte na cruz, que era tão certa que podia ser considerada já realizada. Consumando. Significa aperfeiçoado além de terminado.

17:5 Tendo falado sobre a Sua obra na terra (v. 4), O Filho agora buscava a glorificação com o Pai no reino celeste. Assim o contraste é duplo, consistindo de lugar e pessoa. Junto de ti. Na tua presença. Antes que houvesse mundo. Cons. 1:1, 2. Os versículos 6-8 são transicionais, ainda tratando da obra de Cristo na terra mas preparando o caminho para pedidos em favor dos discípulos.

17:6. Uma grande parte da obra do Filho na terra foi tornar o Pai conhecido dos discípulos (cons. 1:14; 14:7-9). O sucesso deste processo está implícito no fato de que esses homens foram dados ao Filho pelo pai, seu entendimento não era perfeito mas ele existia e estava em desenvolvimento. Têm guardado a tua palavra. Nenhuma referência primariamente à obediência deles às ordens ou ensinamentos individuais, mas a sua presteza em aceitar o Filho, Sua mensagem e missão, até onde eram capazes.

17:7, 8 Os discípulos avançaram até o ponto de compreenderem que o caráter, os dons e os trabalhos de Cristo deviam remontar ao Deus invisível, em cujo nome Ele viera. Particularmente, os discípulos apropriaram-se da revelação da verdade em Cristo, reconhecendo-a como verdadeiramente de Deus. Alcançaram assim um ponto de desenvolvimento onde era seguro deixá-los. No seu trabalho futuro representariam alguém que representara o Deus vivo. Que tu me enviaste. Esta expressão ressoa através da oração (vs. 3, 8, 18, 21, 23, 25). Era uma proclamação frequente nos discursos de Cristo. Tendo mencionado as qualificações dos discípulos como Seus representantes no mundo, agora o Senhor intercedia por eles.

17:9 Não rogo pelo mundo. Isto não significa que Cristo nunca orasse pelo mundo (cons. Lc. 23:34). Mas orou pelos discípulos porque eram o meio escolhido de alcançar o mundo depois que Ele o deixasse (vs. 21, 23).

17:10 Todas as minhas coisas são tuas. Portanto a preocupação do Pai em ouvir e atender são igualmente compreensíveis. O interesse de propriedade é mútuo. Neles sou glorificado. Neles se refere às coisas que o Pai e o Filho têm em comum, ou melhor, os discípulos que foram mencionados no versículo precedente. Era para a glória de Cristo que, no meio da incredulidade e rejeição geral, esses homens se atrevessem a confiar nEle e a servi-lO. A palavra glorificado está no tempo perfeito, sugerindo a continuação do seu testemunho de Cristo. A primeira petição específica era pela preservação dos discípulos do mal que está no mundo (vs. 11-15). Isto por seu lado servia a um outro propósito, que foi fortemente enfatizado no restante da oração, isto é, que eles fossem um.

17:11 Guarda. Usado no sentido de supervisão protetora, como em Jo. 5:18. O caráter de Deus sendo inteiramente adverso ao mal e portanto interessado na preservação dos Seus filhos, foi enfatizado no vocativo, Pai santo. De maneira positiva, esta preservação uniria os discípulos, refletindo a unidade que há entre o Pai e o Filho. O laço de união é o santo amor de Deus. Via-se esta unidade na igreja primitiva (Atos 1:14; 2:1, 44, 46).

17:12 O mais autêntico texto grego diz: Guardava-os no teu nome que me deste. Além de guardar os seus discípulos pela autoridade do Pai, Ele também os guardou pela verdade e poder da natureza de Deus, os quais Ele mesmo revelou. O filho da perdição. A palavra perdição tem a mesma raiz que a palavra perdido. Jesus dizia que a perda não era um desvio do Seu poder de guarda na qualidade de pastor do rebanho. Antes, Judas nunca lhe pertenceu realmente a não ser no sentido nominal e externo (cons. 13:10, 11). A ideia em perdição é exatamente o oposto de preservação. A Escritura. Sl. 41:9.

17:13 Mas agora vou para junto de ti. Contido aqui está o motivo de toda oração e todos os pedidos contidos nela. A necessidade que os discípulos tinham de gozo era particularmente aguda à luz da deserção de Judas. Os discípulos precisavam perceber que tal acontecimento não refletia-se no Senhor ou neles. Não devia conspurcar a sua alegria de posse da verdadeira vida e fé. Se Cristo podia se regozijar mesmo no meio de tais coisas (meu gozo), eles também podiam.

17:14 A recepção da palavra de Cristo identificava esses homens com Ele e os separava do mundo, que o rejeitava e odiava e tinha, portanto, a mesma atitude para com eles.

17:15 Apesar da unidade de Cristo e os Seus, Ele não podia orar pedindo que o Pai os retirasse do mundo. Fazê-lo seria frustrar o propósito de sua vocação e treinamento. Trabalhando e testemunhando, eles precisavam ser guardados do mal; caso contrário, seu testemunho deixaria de ser puro. A referência pode ser muito bem ao próprio diabo (cons. Mt. 6:13; I Pe. 5:8).

17:16 Como homens regenerados, os discípulos já não pertenciam mais ao mundo do reino do mal espiritual, ainda que morassem no mundo da entidade física.

17:17 Santifica-os na verdade. Esta é a segunda oração em benefício dos discípulos. Santificar significa separar para Deus e santos propósitos. Aquilo que revela a santa vontade de Deus na sua verdade, e especificamente aquela verdade conforme preciosamente guardada na palavra das Escrituras. Nela se fica sabendo o que Deus exige e como Ele capacita as pessoas a cumprirem a exigência.

17:18 Ser enviado ao mundo por Cristo como Ele foi enviado pelo Pai é a mais alta dignidade concedido aos homens.

17:19 Cristo não precisou se santificar, pois já era santo. Mas Ele precisou dedicar-se (santificar-se) à sua vocação, para que os discípulos tivessem, além do Seu exemplo, também Sua mensagem para proclamar, e o poder que derivou do Seu sacrifício, a fim de proclamá-la com resultados.

17:20, 21 A oração se estende incluindo aqueles que crerão por causa do testemunho desses homens (cons. 10:16; Atos 18:10). A fé é a condição necessária para desfrutar da vida de Deus e, consequentemente, para participar daquela unidade que se encontra em primeiro lugar na Divindade e depois no corpo de Cristo, a Igreja. A unidade basicamente pessoal em nós, seu efeito será o de estimular a fé àqueles que estão no mundo (cons. 13:35).

17:22 A glória. Sem dúvida isto se refere à final posição celestial da Igreja, mas inclui também o privilégio de servir e sofrer, tal como a missão que o Pai concedeu ao Filho. Este privilégio ajuda a unir os santos quando exercido à luz de Cristo, nosso precursor por trás do véu.

17:23 A fim de que sejam aperfeiçoados na unidade. Isto tem de ser realizado, não por esforços humanos mas pela graciosa extensão da unidade da Divindade àqueles que pertencem a Cristo. Esta não é uma unidade mecânica. Seu cimento é o amor de Deus concedido aos homens, esse mesmo amor (é maravilhoso dizer) que o Pai tem ao Filho.

17:24 A oração final. A minha vontade. O espírito da Encarnação era, “Não a minha, mas a tua vontade”. Jesus devia estar orando à luz da obra consumada, a qual Lhe dava o direito de se expressar desse modo. Sua vontade, sem dúvida, não deve ser considerada como algo realmente independente da vontade de Deus. Esta oração foi feita com base nesta última. Participar do amor de Deus em Cristo só pode resultar consequentemente da participação da presença de Cristo – onde eu estou, estejam também comigo. União leva à comunhão, uma comunhão do amor exposto num cenário de glória (cons. v. 5).

17:25 Pai justo. Ele é justo 1) ao excluir o mundo dessa glória, porque não conheceu e portanto não o ama, e assim não pode ter um lugar nessa união final, e 2) ao incluir aqueles que vieram a conhecê-lO, através do conhecimento que Cristo tem e transmite.

17:26 Transmitir o conhecimento de Deus significa transmitir amor, pois Deus é amor. Isto não é simplesmente um rótulo ou um atributo frio. Cristo conheceu a realidade e o poder do amor do Pai por Ele e pediu-Lhe que Este alegrasse e aquecesse as vidas daqueles que eram Seus, com os quais a Sua vida estava agora tão intimamente ligada.

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