Interpretação de João 12

João 12

Em João 12, Jesus é ungido com perfume caro por Maria, irmã de Lázaro, prenunciando sua morte e sepultamento iminentes. O capítulo também descreve a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, onde multidões o recebem como rei, cumprindo as profecias do Antigo Testamento. No entanto, Jesus prediz a sua iminente crucificação e enfatiza a necessidade dos seus seguidores o servirem e seguirem. O capítulo destaca o contraste entre o status exaltado de Jesus e seu sacrifício iminente, preparando o cenário para os eventos que levaram à sua crucificação e ressurreição.

Interpretação

12:1-50 Os acontecimentos aqui incluídos são: Maria ungindo Jesus em Betânia (vs. 1-11) a Entrada Triunfal (vs. 12-19); a vinda dos gregos (vs. 20-26); Jesus sentindo a aproximação da Paixão (vs. 27 -36); a incredulidade do povo e seus líderes (vs. 37 -43); o último apelo público de Jesus em favor da fé (vs. 44-50). A ceia em Betânia foi narrada com certas variações em Mateus e Lucas.

12:1 Seis dias antes da páscoa, isto é, no sábado. As outras narrativas dizem que foi na casa de Simão, o leproso. Só João menciona a presença de Lázaro.

12:2. Deram-lhe pois, ali, uma ceia. Simão devia sentir-se grato por sua cura, e as irmãs de Lázaro pela ressurreição de seu irmão.

12:3 Uma libra (litro), uma medida equivalente aproximadamente a 350 gramas. Nardo. O óleo de uma planta que cresce ao norte da Índia, muito caro pois era importado pela Palestina. Maria está sempre associada com os pés de Jesus (Lc. 10:39; Jo. 11:32).

12:4 Encheu-se toda a casa com o perfume do bálsamo. Isto é uma réplica característica às palavras de Jesus registradas nos Sinóticos dizendo que onde o Evangelho fosse pregado, no mundo inteiro, este ato seria contado em memória dessa mulher. A fragrância do ato teria larga divulgação e duradouro efeito.

12:5 Judas calculou o valor do nardo em trezentos denários, ou seja, perto de sessenta dólares.

12:6 Sua aparente preocupação pelos pobres era uma máscara para sua própria avareza. Acabara de perder a oportunidade de apropriar-se de uma quantia maior do que a costumeira. Evidentemente ele não precisava apresentar um relatório regular da tesouraria.

12:7 Jesus protegeu Maria interrompendo a crítica. Deixai-a. Os Sinóticos dão a impressão de que Judas, muito sentido com a reprimenda, esgueirou-se e foi negociar com os principais sacerdotes a traição do Mestre. Jesus viu na atitude de Maria um significado profundo – para o dia em que me embalsamarem. Por mais que Maria quisesse ajudar os pobres normalmente, reservou essa porção preciosa para Cristo. Ela antecipou sua morte. Em contraste com os líderes, Maria cria na pessoa de Jesus; em contraste com muitos que criam de modo geral, sua fé incluía a obra do Salvador – sua morte.

12:9 Lázaro tornou-se uma atração para muita gente que vinha vê-lO além de Jesus. Eram pessoas curiosas mas também solidárias.

12:10, 11 Em contraste, os principais sacerdotes encontraram na situação motivos para incluírem Lázaro em seus tenebrosos planos como alguém que estivesse promovendo a causa de Jesus. Um duplo homicídio não teria perturbado suas consciências já endurecidas. O próximo incidente tornou-se tradicionalmente conhecido como a Entrada Triunfal, embora esse título se aplicaria melhor à próxima vinda de Jesus.

12:12 É claro que aqueles que procuravam honrar o Senhor eram peregrinos, não residentes em Jerusalém. Vieram para a festa da Páscoa.

12:13 Só João menciona os ramos de palmeiras. Eles são citados pelo escritor de II Macabeus (10:7) em relação com a rededicação do Templo por Judas Macabeu depois da profanação pelos sírios. Hosana. Uma palavra hebreia que significa Salve, eu lhe peço (cons. Sl. 118:25). No N.T. seu uso limita-se a este incidente. Às vezes não é uma oração, mas uma atribuição de louvor, e esse é o seu uso nesta passagem. Jesus está sendo saudado como o Rei de Israel, que viera com a autoridade do Senhor (Jeová). Esse povo esperava que Ele estabelecesse o reino de Davi com poder (cons. Mc. 11:10). A multidão estava cheia de expectativa messiânica (cons. Jo. 6:15).

12:14, 15 Jesus tendo conseguido. A história também se encontra em Mc. 11:1-6. João é o único evangelista que descreve o animal como sendo um jumentinho (onarion). O ato de Jesus cumpriu uma palavra de profecia (Zc. 9:9). O jumento, mais do que o cavalo, simbolizava o caráter manso e pacífico do Rei de Israel. O fato em si declarava que Jesus interpretava o acontecimento de maneira diferente da multidão.

12:16. Só quando Jesus foi glorificado, só quando o Espírito veio para instruí-los e para relembrá-los das coisas de Cristo (7:39; 14:26), é que os discípulos viram toda esta cena à luz das Escrituras e do plano de Deus.

12:17, 18 João informa seus leitores que grande parte do entusiasmo demonstrado durante a entrada em Jerusalém era devido à ressurreição de Lázaro. As pessoas que estiveram com Jesus naquela ocasião testificavam o acontecido. Outro grupo, peregrinos da festa que apenas ouviram contar o milagre, foram ao encontro de Jesus saudando-o como herói “nacional.

12:19 Esta onda de popularidade obscureceu o campo dos fariseus. No seu pessimismo declararam que todo o mundo o seguia.

12:20 O movimento em prol de Jesus continuou no incidente dos gregos que expressaram o desejo de ver Jesus. Eram representantes do mundo num sentido mais amplo do que o ingerido pelos fariseus. Os gregos deviam aparecer agora, na véspera da Paixão. Eles lucrariam com a morte do Salvador, como a grande multidão de gentios que eles representavam. Adorar. O costume judeu restringia-lhes o Pátio dos Gentios. Logo mais, em Cristo, a parede intermediária de separação seria derrubada. Parece que esses homens pareciam-se com o Cornélio que surgiria mais tarde. Podia-se dizer que eram tementes a Deus, mas não eram prosélitos que tivessem procurado unir-se à congregação de Israel.

12:21 Filipe é um nome grego. Este discípulo foi um ponto de contato natural com Jesus. Ver a Jesus, isto é, ter uma entrevista com ele.

12:22 André também é um nome grego. Este discípulo parecia ter-se especializado em levar gente a Cristo (1:41; 6:8, 9).

12:23 Sem se dirigir aos gregos diretamente, Jesus atendeu suas necessidades. Não teriam de esperar muito para se beneficiarem de sua missão – é chegada a hora. Glorificado. Isto se explica pelos versículos seguintes. No Evangelho de João a glorificação começa com a morte e inclui a ressurreição.

12:24. Grão de trigo. A natureza fornece uma parábola sobre a carreira de Jesus. Sem a morte sua vida permaneceria isolada, sem poder de desenvolvimento. Morte é a chave para a frutificação espiritual.

12:25. Quem ama a sua vida. O mesmo princípio se aplica ao discípulo. “Aquele que procura ajuntar à sua volta aquilo que é perecível, acaba perecendo junto; aquele que se despoja de tudo aquilo que só pertence a este mundo, prepara-se para uma vida mais elevada” (Westcott, op. cit.)

12:26. Siga-me. Servir a Cristo envolve segui-lo, mesmo enfrentando a morte. Isto será recompensado participando do glorioso futuro com Ele, incluindo ser reconhecido pelo Pai. Essa perspectiva está diante de qualquer homem (tanto o grego como o judeu).

12:27 Falando dessas coisas, Jesus tornou-se mais cônscio do preço que logo pagaria pelo cumprimento do seu papel de Redentor. Salva-me. Este é um toque da agonia do Getsêmani. A natural inclinação de Jesus era de ser salvo daquela hora que estava se aproximando. Tal oração dá testemunho eloquente da monstruosidade daquela hora. Mas a submissão de Jesus foi tão completa que teve de enfrentá-la. Por isso Ele veio. E assim a oração não foi prolongada.

12:28 Outra oração tomou o seu lugar. Glorifica o teu nome. O Pai o faria como já capacitava o Filho a enfrentar a sua hora e realizar sua missão. Eu já o glorifiquei. A glória do Filho, manifesto na vida e obra até aquele momento, refletia glória sobre o nome do Pai. Outra vez, isto é, na Paixão, que resultaria na ressurreição e exaltação.

12:29 A multidão, limitada em seu entendimento, interpretou mal o testemunho do Pai.

12:31 A hora de Jesus, além de lhe proporcionar sofrimento, traria também juízo para o mundo pecador que o colocaria sobre a cruz, e ruína para Satanás, que comanda o sistema do mundo. O Cristo expulso expulsaria aquele que leva os homens a rejeitá-lO (cons. Cl. 2:15).

12:32 O próprio Cristo, quando aparentemente derrotado, estaria realmente em posição de aproximar de Si mesmo os homens pelo poder do Seu sacrifício. A glória triunfaria sobre a vergonha. A vitória reluziria através da negra tragédia. Todos, incluindo os gregos, viriam para conhecer a influência do Seu amor redentor. A mim. A salvação é aproximação de Cristo, além de ser através dEle.

12:33 De que gênero de morte. O levantamento refere-se à crucificação. Jesus sabia que não morreria apedrejado.

12:34 O Cristo (Messias) que o povo aprendera a esperar da Lei (V.T. em geral) permanece para sempre. Como, então, poderia Jesus como o Filho do homem cumprir esta expectativa sendo levantado para morrer? Tal Filho do homem não se encaixava na expectativa messiânica. As esperanças que eles alimentaram na entrada de Jesus em Jerusalém estavam agora desfeitas.

12:35, 36 Antes que o contato com o povo fosse interrompido, Jesus o advertiu que a luz iria brilhar só por um tempo limitado. Se não O aceitassem, as trevas sobreviriam. Ao que parece a advertência não foi considerada. João resume aqui a resistência à luz que continuou até o fim (vs. 37-43).

12:37 Os milagres não despertaram a fé da multidão no Senhor. Em João encontramos apenas exemplos dos tantos milagres.

12:38 Esta falta de fé estava em concordância com a anunciação profética de Isaías (53:1). Significativamente, este é o capítulo em Isaías que destaca a morte do Messias.

12:39, 40. Não podiam crer. A dureza dos seus corações tornava isso inevitável. Cegou-lhes... endureceu-lhes. Esta atividade de Deus não pode ser considerada como um plano deliberado de tornar a fé impossível para aqueles que querem crer. Antes, é a resposta de Deus à incredulidade. O Senhor os teria curado se se convertessem (voltando-se para Ele), portanto a fidelidade dEle não pode ser impugnada. O endurecimento judicial é uma fase do juízo divino. A citação é de Is. 6:10. Sejam por mim curados. Aqui Cristo é o sujeito.

12:41. A glória dele, isto é, de Cristo. Tal como Isaías previu Seus sofrimentos (cons. v. 38), assim Ele via a Sua glória (Is. 6).

12:42, 43 Contudo prepara o leitor para uma exceção ao endurecimento geral de Israel. A identidade desses líderes que “creram” é desconhecida. Falta de vontade de confessar Cristo, entretanto, lança a dúvida na perfeita genuinidade da fé desses homens (cons. 2:23-25). Provaram ser indignos da aprovação divina. Neste ponto João introduz a apresentação final que Jesus faz de Si mesmo à nação.

12:44, 45 Clamou enfatizando o caráter público do ensinamento e a sua urgência. Jesus reafirmou Sua missão recebida do Pai (12:44) e Sua unidade cem Ele (v. 45).

12:46. A luz. Cons. 1:7-9; 3:19; 8:12; 9: 5; 12:35.

12:47, 48 Se as palavras de Cristo fossem agora rejeitadas, elas agiriam como juiz no último dia. Suas palavras nunca passariam.

12:49 Jesus só dissera aquilo que o Pai lhe dera para falar. Como, então, poderia ser Ele culpado de blasfêmia ou mentira?

12:50. Vida eterna. Isto se encontra na palavra falada de Jesus, assim como se acha presente nEle como o Verbo (6:63; 1:14, 18).

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