Estudo sobre Jó 42

A RESPOSTA DE JÓ À PALAVRA DIVINA Jó 42.1-6
Cf. Jó 40.1-5 e consulte-se o comentário respectivo. Aquele que se opusera a Deus aparece de novo como adorador, confessando humildemente os seus pecados e conhecendo a experiência do perdão divino. A revelação da glória de Deus conduz a uma convicção de pecado sem precedentes. Cf. Rm 3.23. Associada a esta nova consciência de pecado vem, primeiro, uma confiança na providência divina tal como Jó jamais experimentara. O tudo do vers. 2 inclui, certamente, o cumprimento, no seu sofrimento, de um benéfico e divino propósito. Cf. Rm 8.28. Nenhum dos teus pensamentos ou “nenhum dos teus propósitos”. Jó, o rebelde, desconhecia tal confiança em Deus; mas Jó, o humilde penitente, possuía-a em grande medida.

Estudo sobre Jó 42.3
Em segundo lugar, Jó renuncia agora, por completo ao poder das palavras e da razão humanas. Quem é aquele que sem conhecimento encobre o conselho? (3) é um eco das palavras divinas de Jó 38.2. As suas palavras e a sua sabedoria, das quais ele tanto se orgulhara, não haviam senão lançado uma escura sombra sobre o caminho que Deus, na Sua sabedoria, delineara para ele. Encontramos ainda outro eco das palavras de Deus no vers. 4: Cf. Jó 38.3 e Jó 40.7. Responder a um desafio daqueles com a sua insignificante mente humana, incapaz de compreender a vastidão da sabedoria divina? Impossível! Jó, o rebelde, responderia, sem dúvida, de maneira diferente.

Estudo sobre Jó 42.5
Em terceiro lugar, Jó pode agora regozijar-se com uma experiência religiosa inteiramente pessoal (5). Em comparação com a fé radiante e pessoal que a visão de Deus lhe trouxera, a sua experiência religiosa anterior não passara de um eco ou de um reflexo da realidade.

Estudo sobre Jó 42.7
EPÍLOGO Jó 42.7-17
O texto passa agora da poesia à prosa-estilo usado para o Prólogo. A conclusão abre com a condenação dos três amigos Elifaz, Bildade e Zofar. A omissão de Eliú, fazendo -o escapar à censura pública, é significativa e pode estar relacionada com o seu repúdio da teologia tradicional segundo a qual o sofrimento implica, necessariamente, a presença de pecado e é sempre proporcional à gravidade deste. Os três amigos são acusados de não falarem de mim o que era reto (7-8). A sua concepção do caráter divino era errônea, especialmente no que diz respeito à forma como Deus governava o mundo e os homens. Jó, por outro lado, é louvado. A sua teologia era, no seu todo, ortodoxa, embora ele não tivesse sempre razão. A narrativa prossegue com a descrição da integridade de Jó. O patriarca perdoa, magnanimamente, a dor que palavras falsas lhe haviam produzido e intercede mesmo pelos três pseudo-consoladores. Deus proclama publicamente, a justiça de Jó.


As bênçãos espirituais de Jó (Jó 42.7-10)
Esta passagem dá-nos uma bela descrição dos sinais materiais e espirituais que acompanham a aprovação divina. Os sinais espirituais são de suprema importância. Note -se, em primeiro lugar, que quatro vezes Deus se refere a Jó como meu servo nos vers. 7 e 8. Cf. Jó 1.8. Em seguida Deus louva Jó pela sua sincera procura da verdade e censura os amigos pela sua oposição a essa procura (7-8). Lembramo-nos evidentemente-e é esse o objetivo do escritor -da grande beleza e verdade espiritual de certas passagens dos discursos dos amigos de Jó enquanto que não raramente, Jó se aproxima perigosamente do erro, rebelião e blasfêmia; mas, como observa certo comentador, Jó tinha razão na sua têmpera intelectual, nas suas tendências, nos seus impulsos, na pura e intrépida honestidade do seu pensamento... Do conflito de palavras e argumentos a figura de Jó avulta revestida da mais alta dignidade. Ei-lo como campeão da liberdade intelectual e religiosa, ostentando na sua desfigurada fronte o selo do Deus da verdade. A passagem é, para nós, um solene aviso: a honestidade intrépida perante os fatos da existência- sejam eles os mais estranhos e perturbantes-agrada mais a Deus que a tímida adesão a ideias familiares e confortáveis, mas inteiramente incríveis ante a intensidade daqueles fatos. Finalmente, Deus ouve a oração de Jó pelos seus amigos (8-10).

Estudo sobre Jó 42.11
As bênçãos materiais de Jó (Jó 42.11-17)
Note-se que a passagem dos sinais espirituais da aprovação divina para os materiais (11-17) se dá quando Jó ora pelos outros (10). É quando a sua atenção se concentra nos interesses espirituais dos outros que a sua prosperidade material lhe é restituída, que todas as outras coisas lhe são acrescentadas. Cf. Mt 6.33. Estes versículos falam-nos do restabelecimento da amizade (11); da propriedade (12); e da família (13-17). Muitos aceitam mal a descrição dos bens materiais como sinais da aprovação divina. Certo comentador refere-se-lhe, por exemplo, como “triste concessão a uma concepção assaz baixa do comportamento da Providência”. A consideração de determinados fatores bastará para comprovar a injustiça de semelhante crítica. Numa época em que não existia uma convicção clara de vida para além da morte, como poderia demonstrar-se, senão em termos de vida terrena, que a justiça entra na própria contextura da realidade, faz parte integrante dela e deve, em última análise, ostentar o selo da justificação divina? Não existe, pois, qualquer incoerência, uma vez que o objetivo do livro não é negar a associação entre justiça e prosperidade material mas apenas negar que essa associação seja invariável. Lembremo-nos também de que a prosperidade material de Jó foi destruída para provar a correção ou incorreção das insinuações satânicas acerca da sinceridade da piedade de Jó. A marcha dos acontecimentos prova a mentira das acusações de Satanás. A justiça exige, pois, alguma forma de restituição.
Este drama do Velho Testamento termina adequadamente com as palavras: “Então morreu Jó velho e farto de dias” (17). Cf. Gn 25.8; Gn 35.29. Como comentário à grande passagem de esperança na ressurreição (Jó 19.25-27 ), a Septuaginta acrescenta: “e está escrito que ele ressuscitará juntamente com aqueles que o Senhor ressuscitar”.