Significado de Marcos 14

Marcos 14

Marcos 14 é um capítulo significativo no Evangelho de Marcos, pois se concentra nas horas finais de Jesus antes de Sua crucificação. O capítulo começa com a trama dos líderes religiosos para prender Jesus, com Judas Iscariotes concordando em traí-lo por trinta moedas de prata. Jesus celebra a Páscoa com Seus discípulos, durante a qual Ele prediz Sua traição e a negação de Pedro.

O capítulo também contém o relato da Última Ceia, durante a qual Jesus institui a prática da comunhão partindo o pão e compartilhando o cálice com seus discípulos. Ele os instrui a fazer isso em memória Dele. Este evento é significativo na teologia cristã, pois representa o sacrifício de Jesus pelos pecados da humanidade e o estabelecimento de uma nova aliança entre Deus e Seu povo.

Jesus então conduz Seus discípulos ao Jardim do Getsêmani, onde ora e pergunta a Seu Pai se há outra maneira de cumprir o plano de redenção. Ele é então preso pelos líderes religiosos e Seus discípulos fogem com medo.

Marcos 14 também contém o relato da negação de Jesus por Pedro. Apesar da afirmação anterior de Pedro de que nunca negaria Jesus, ele O nega três vezes antes que o galo cante, cumprindo a predição anterior de Jesus.

O capítulo termina com Jesus sendo levado perante o Sinédrio, o conselho governante judaico, onde é falsamente acusado e condenado à morte. Isso prepara o cenário para a crucificação de Jesus, que é descrita em detalhes no capítulo seguinte.

No geral, Marcos 14 é um capítulo fundamental no Evangelho de Marcos, pois descreve os eventos que levaram à crucificação de Jesus e ao estabelecimento da prática da comunhão. Também destaca as fraquezas humanas dos discípulos de Jesus, particularmente a traição de Judas e a negação de Pedro. O capítulo enfatiza os temas de sacrifício e redenção, pois Jesus voluntariamente se submete à prisão e condenação a fim de cumprir o plano de Deus para a salvação da humanidade.

Comentário de Marcos 14

14.1-42 Nessa seção, Marcos descreve a preparação de Cristo para Sua morte. A carinhosa unção em Betânia (v.3-9) aparece entre a traição sofrida por Jesus e os principais dos sacerdotes e os escribas (v. 1, 2, 10, 11).

14.1, 2 Dali a dois dias é o outro tempo específico dado por Jesus, assim como Ele havia mencionado antes os eventos da terça e da quarta-feira (Mc 11.12,20). Se a crucificação aconteceu mesmo na sexta-feira, os eventos deste capítulo ocorreram na noite de quarta e quinta-feira. A Páscoa era celebrada no décimo quinto dia do mês de Nisã (entre março e abril), enquanto a Festa dos Pães Asmos ia do dia 15 ao dia 22 desse mesmo mês. A festa judaica da Páscoa celebrava o dia em que o anjo da morte passou pelo Egito, e os lares dos que tinham o sangue sobre as vergas e os umbrais da porta foram poupados da morte (Êx 12.6-14). A Festa dos Pães Asmos representa a purificação do pecado (o fermento simboliza o orgulho) e lembra também a pressa com que os israelitas deixaram o Egito, como se seu pão com fermento não tivesse tido tempo de crescer (Êx 12.15-20). Os principais sacerdotes buscavam como prenderiam Jesus. No grego, esse verbo dá uma ideia de agarrar alguma coisa ou pegar um objeto. Eles queriam agarrar Jesus, prendê-lo e matá-lo. Mas queriam fazer isso em segredo, longe da multidão. Durante a festa (ARA), a quantidade de pessoas em Jerusalém aumentava muito por causa dos judeus piedosos que iam até a cidade para cumprir a Lei de Moisés (Dt 16.16). Muitos dos que admiravam Jesus também estavam lá, e, por essa razão, os líderes religiosos tiveram de adiar Sua prisão para evitar o confronto. Alguns naturalmente temiam uma represália de Roma, caso a prisão de Jesus acabasse gerando uma revolta civil.

14.3 Simão, o leproso havia sido curado em alguma ocasião durante o ministério de Jesus. Marcos 1.40-42 fala de um leproso sendo sarado. Alabastro é uma pedra transparente, que, ainda hoje, é usada para fazer caixas de joias e outros objetos de valor. Nardo puro é um perfume caro, importado da índia, feito com ervas que crescem nas partes mais altas do Himalaia. Esse perfume é mencionado nos Cânticos de Salomão (Ct 1.12; 4.13,14) Marcos nos diz que a mulher derramou sobre a cabeça de Jesus o unguento, enquanto João a identifica como sendo Maria, a irmã de Marta e Lázaro, e que ela ungiu os pés de Jesus e usou seus cabelos para enxugá-los (Jo 12.3).

14.4, 5 Alguns que se indignaram eram discípulos de Jesus (Mt 26.8), e Judas Iscariotes — um ladrão que desprezava todos que ofertavam de coração — foi seu porta-voz naquela ocasião (Jo 12.4-6). Um único denário representava um dia de trabalho de um trabalhador comum; sendo assim, trezentos denários (ARA) eram uma quantia considerável.

14.6, 7 A resposta de Jesus não demonstra desprezo pelos pobres (Dt 15.7-11). Sua compaixão pelos que eram oprimidos por enfermidades e pela pobreza é vista com frequência nos Evangelhos; e Ele até encorajava os outros a suprir as necessidades dessas pessoas (Mc 10.21). No entanto, o Mestre também queria que ofertassem voluntariamente e de coração. Ninguém pode obrigar alguém a dar uma oferta; tampouco deve criticar a doação ou julgar a intenção daquele que oferta. Somente Deus conhece o que há no coração do liberal.

14.8 Maria teve um tremendo discernimento espiritual ao ungir Jesus. Ela ungiu Seu corpo para a sepultura. Ela, ao contrário dos discípulos, entendeu que Cristo logo iria morrer.

14.9 Tal história é contada em Mateus, Marcos e João porque é um grande testemunho do cumprimento dessa profecia sobre Jesus.

14.10, 11 Judas Iscariotes resolveu lucrar um pouco mais por andar com Jesus, traindo-o. Os principais dos sacerdotes mudaram seus planos quando Judas bateu à sua porta.

14.12 O primeiro dia da Festa dos Pães Asmos era o décimo quinto dia do mês de Nisã (Lv 23.6). No entanto, como as festas da Páscoa e dos Pães Asmos estavam intimamente ligadas na mente de muitos judeus, Marcos deixou bem claro para os seus leitores quando isso aconteceu dizendo exatamente quando sacrificavam a Páscoa. O cordeiro pascal era sacrificado na noite do décimo quarto dia do mês de Nisã (entre março e abril). Marcos está referindo-se aqui aos eventos da quinta-feira. A palavra Páscoa pode ter três significados distintos: (1) em Marcos 14.12, significa o cordeiro pascal, enquanto, (2) no mesmo texto (assim como prepararam a Páscoa em Marcos 14.16), também significa a refeição da Páscoa; e (3) esse termo também pode ser usado para toda a celebração, como em Lucas 2.41: a Festa da Páscoa. E como a refeição da Páscoa era celebrada em Jerusalém (Dt 16.16, no local que ele escolher — NVI), os discípulos perguntaram a Jesus aonde eles deviam ir para fazer os preparativos.

14.13 Ao que parece, Jesus já tinha arrumado um lugar para eles cearem. Com o intuito de preparar o local de uma forma bem discreta, Jesus enviou dois dos seus discípulos, Pedro e João (Lc 22.8). Era algo incomum um homem levando um cântaro de água, já que, normalmente, essa tarefa cabia às mulheres. Este homem, possivelmente, era um criado.

14.14, 15 Embora a identidade do senhor da casa não seja revelada, temos razão para suspeitar que ele fosse o pai de Marcos. O aposento é descrito detalhadamente como um cenáculo mobilado e preparado. O próprio Marcos devia ser o mancebo mencionado nos versículos 51,52. Em Atos 12.12, é dito que essa casa foi usada futuramente como o local onde os irmãos se reuniam para orarem juntos. A tradição também considera este o cenáculo em Atos 1.13, onde mais de 100 pessoas se reuniram no Dia de Pentecostes.

14.16 Embora o fato não seja mencionado aqui, Pedro e João devem ter ficado maravilhados com o conhecimento prévio de Jesus.

14.17, 18 Duas ceias memoriais foram celebradas quando estavam assentados (inclinados, literalmente) a comer. Primeiro, eles comeram a ceia normal em comemoração à Páscoa, durante a qual Jesus anunciou que seria traído por um dos discípulos. Depois que Judas saiu (Jo 13.30), Jesus celebrou a santa ceia, que era uma representação do Seu corpo, que seria partido, e do Seu sangue, que seria derramado. A frase um de vvs, que comigo come, há de trair-me traz à lembrança a profecia messiânica do Salmo 41.9.

14.19 Sou eu, em grego, é uma pergunta negativa que espera uma resposta também negativa. A frase equivale a não sou eu, sou?

14.20, 21 Mateus e João reconhecem Judas como o traidor, embora Marcos não o faça (Mt 26.25; Jo 13.26). Ai é um termo que expressa grande dor, aflição ou desgraça que pode vir sobre alguém. Marcos o usa somente aqui e para se referir às grávidas quando o anticristo se revelar (Mc 13.17), o que exigiria uma fuga rápida para se salvar. A afirmação de que bom seria Judas não haver nascido aponta para o terrível juízo que o aguardava. Judas era responsável por seus atos pessoais e morais, apesar de ter agido como dele (de Cristo) está escrito.

14.22 Judas deixou o cenáculo depois de receber um pedaço de pão, mas antes de Jesus partir o pão e explicar seu significado (Jo 13.30). A ceia do Senhor é apenas uma cerimônia memorial para os cristãos e somente deve ser celebrada por aqueles que estão em comunhão com Cristo Jesus — que são salvos, batizados e membros de uma igreja evangélica. As palavras isto é o meu corpo obviamente são uma metáfora e significam que este pão representa o corpo de Jesus — não Seu corpo de verdade, pois não faltava nenhum pedaço dele. E também um modo de dizer que Seu corpo seria partido por eles.

14.23 Somente um cálice foi passado e todos beberam dele. A frase imperativa bebei dele todos não significa que os discípulos deveriam beber tudo, mas apenas partilhar um pouco dele.

14.24 Alguns interpretam isto é o meu sangue metaforicamente, crendo que o conteúdo desse cálice representa o sangue de Jesus, que foi derramado pelos nossos pecados. Outros consideram sua interpretação de modo mais literal. A aspersão de sangue em Êxodo 29.12,16,20 (Hb 9.18-22) era uma exigência para que a aliança mosaica fosse instituída. Da mesma forma, o sangue de Cristo derramado na cruz deu início a uma nova aliança (ARA). E a indicação de que Seu sangue por muitos [foi] derramado aponta para o fato de que Ele morreu na cruz em lugar de muitos pecadores de todas as nações e pagou o preço por todos os seus pecados. Portanto, todo aquele que crer nele receberá a vida eterna.

14.25 Jesus antevia o Reino de Deus na terra. Ele o anunciava (Mc 1.14,15), prometia aos Seus discípulos o governo do mesmo (Mt 19.28) e um dia o receberá e governará com os santos (Dn 7.13, 14, 27; 2 Tm 2.11, 12; Ap 20.4). Jesus disse ainda que nesse Reino Ele se assentaria na companhia de Abraão, Isaque e Jacó (Mt 8.11).

14.26 Sem dúvida alguma, o hino que eles cantaram foi um salmo. Os Salmos 113 ao 118 estavam comumente ligados à Páscoa, e todos cantavam: Não morrerei, mas viverei; e contarei as obras do SENHOR. A pedra que os edificadores rejeitaram tornou-se cabeça de esquina (SI 118.17, 22). Ao deixarem o cenáculo, eles passaram pelo vale de Cedrom e foram para o monte das Oliveiras. O Getsêmani (v. 32) ficava logo após a Porta Oriental (às vezes, chamada de Porta de Ouro), em Jerusalém.

14.27 Jesus sabia que aconteceria muito mais no futuro do que Ele havia predito nesse versículo que citou de Zacarias 13.7: O espada, ergue-te contra o meu Pastor e contra o varão que é o meu companheiro, diz o SENHOR dos Exércitos; fere o Pastor, e espalhar-se-ão as ovelhas; mas volverei a minha mão para os pequenos. Cristo conhece por completo o nosso coração. Os discípulos iriam fraquejar, fugir, esconder-se e, no caso de Pedro, até trair Jesus. Realmente, a promessa foi cumprida, e as ovelhas, espalhadas.

14.28 Essas palavras foram repetidas pelo anjo na sepultura de Jesus logo após Ele ter ressuscitado (Mc 16.7). No entanto, os discípulos ficaram mais de uma semana em Jerusalém antes de seguirem seu Pastor ressuscitado até a Galileia (Jo 20.26; 21.1). Mateus relata o encontro dos discípulos com Jesus em um monte da Galileia (Mt 28.16) antes de Sua ascensão em Betânia (Lc 24.50, 51).

14.29 O excesso de confiança é algo mortal. Pedro não deu atenção às palavras de Provérbios 16.18, que diz: A soberba precede a ruína, e a altivez do espírito precede a queda. Satanás caiu por causa do orgulho, e o mesmo pode acontecer conosco. Pedro, tão enfático em sua declaração, logo percebeu como eram vazias suas palavras ditas sem pensar.

14.30 Somente Marcos diz que Jesus predisse que Pedro iria negá-lo antes que o galo cantasse duas vezes. Isso ainda estava muito vivo na mente do discípulo quando ele contou sua história a Marcos. Por sinal, apenas Marcos nos conta que o galo cantou duas vezes (Mc 14.68, 72).

14.31 A intenção de Pedro era boa, mas ele não conseguiria cumprir sua palavra. Diziam todos também mostra como é fácil ser levado pela mente dos outros, até mesmo no que se refere a tomar boas decisões, mas quão difícil é manter o compromisso. Como nosso Deus é paciente conosco! E como temos de ser cuidadosos ao julgarmos as pessoas por seus frutos!

14.32-42 Assentai-vos aqui, enquanto eu oro. A oração foi algo que exigiu tempo e energia de Jesus durante Sua obra terrena. E isso aconteceu desde o começo (Lc 3.21) até o fim (Lc 24.50, 51) do Seu ministério público. Quando era necessário, Ele tomava medidas extremas a fim de ter privacidade para orar (Mc 6.46; Mt 14.22,23; Jo 6.14,15). Embora o Senhor Jesus tenha adorado a Deus (Lc 10.21) e sido grato ao Pai (Mc 8.6,7) em Suas orações, a maioria delas, na verdade, tratava-se de pedidos e intercessões.

14.32 O Getsêmani, apesar de ser famoso hoje em dia, só é mencionado pelo nome duas vezes na Bíblia (aqui e em Mateus 26.36). João, porém, diz-nos que Jesus muitas vezes se ajuntava ali com os seus discípulos (Jo 18.1, 2). O pedido — assentai-vos aqui — foi feito a todos, porém mais especificamente a Pedro, Tiago e João (Mc 14.33).

14.33 Jesus queria consigo os discípulos com quem tinha mais intimidade, a fim de que eles estivessem ao Seu lado, dando-lhe apoio e orando por Ele. Todos nós precisamos de amigos íntimos, pois fomos criados para viver em comunhão, e não isolados.

14.34 Profundamente triste. A ideia agonizante de ter de levar sobre si os pecados do mundo e perder, mesmo que temporariamente, a comunhão com Deus Pai era algo quase que insuportável para Jesus. E essa imensa agonia espiritual, certamente, abalou Sua condição mental, física e emocional.

14.35 Provavelmente, Jesus passou algum tempo orando. O versículo 37 diz que isso aconteceu durante uma hora. Esse foi o tempo suficiente para que os discípulos que o acompanhavam caíssem no sono e Ele os encontrasse dormindo quando voltasse. Marcos nos fala que Cristo pediu que passasse dele aquela hora, referindo-se à hora em que Ele seria castigado pelo pecado do mundo em Seu próprio corpo, tornando-se, assim, pecado por todos. João emprega bastante os termos a hora ou a sua hora em seu Evangelho (Jo 2.4; 7.30; 8.20; 12.23,27; 13.1; 17.1). Marcos os usa somente aqui e no v.41.

14.36 Aba era a maneira como uma criança chamava seu pai. A relação de Jesus com Seu Pai era íntima e amorosa. Além do termo hora (v.35), este cálice aponta para a morte de Cristo, que estava muito próxima (Mc 10.38). O cálice é um símbolo do juízo de Deus sobre o pecado do mundo. Um dia, os maus beberão do cálice da sua ira (Ap 14.10) e do vinho do furor e da ira do Deus Todo-poderoso (Ap 19.15). Jesus tinha a Sua própria vontade humana, mas Ele a rejeitou e rendeu- se à vontade do Pai (Fp 1.2-6).

14.37 Simão. Pedro estava dormindo, e Jesus o chamou pelo nome antes de ele se tornar discípulo do Mestre (Mc 1.16). Naquele momento, ele não estava demonstrando ser uma rocha (Mc 3.16).

14.38 E preciso vigiar muito para evitar a tentação, tanto que Cristo incluiu este assunto na oração que ensinou aos Seus discípulos (Mt 6.13; Lc 11.4). A dicotomia entre carne e espírito é notória. Nossa natureza humana decaída, mesmo depois da conversão, luta contra as obras de Deus.

14.39-42 Várias vezes, Jesus pediu aos três apóstolos que orassem e vigiassem com Ele, e, certamente, eles queriam atender ao pedido do seu Senhor naquela hora em que Ele mais precisava. No entanto, o cansaço físico venceu seu desejo espiritual de vigiar com seu mestre. Eles tinham muitas obrigações, e seus dias eram bem agitados, como os nossos. Um bom sono, o descanso e uma alimentação adequada podem ajudar muito nossa vida espiritual.

14.43—15.47 Marcos relata aqui como Jesus foi rejeitado por Seus discípulos, pelos líderes religiosos e pelo povo, além do tempo em que o Pai se afastou dele.

14.43 Judas foi até Ele com uma grande multidão, descrita por João como um destacamento de soldados (Jo 18.3 NVI). Era um décimo de uma legião romana, cerca de 600 homens. Embora seu número pudesse variar, dependendo da situação, o fato de Marcos ter dito que era uma multidão demonstra que, realmente, havia muitos soldados.

14.44 Um beijo, que, geralmente, é sinal de carinho, foi o símbolo da traição. Aqui, levai-o com segurança não é algo que demonstra preocupação com a proteção de Jesus, mas, sim, como poderia ser difícil mantê-lo preso. Uma pessoa que fazia maravilhas como Jesus poderia escapar facilmente, se eles não tivessem um cuidado redobrado. Mas a verdade é que eles jamais conseguiriam prendê-lo se Ele não tivesse dito: É chegada a hora. Nós também servimos ao mesmo Deus soberano, e ninguém pode tocar-nos sem a Sua permissão.

14.45 Essa palavra muito usada por Marcos, logo [gr. euthus], demonstra a pressa de Judas para prender Jesus.

14.46, 47 Apenas dois dos discípulos de Jesus carregavam uma espada naquela noite (Lc 22.38), e João nos diz que Pedro era um deles (Jo 18.10, 26). Marcos foi muito discreto em não identificar Pedro como o culpado por este ato bem-intencionado, mas sem sentido algum. João, testemunha ocular do ocorrido, reconheceu o servo como sendo Malco e diz que sua orelha direita foi cortada (Jo 18.10). Pedro pode tê-lo atacado com todo o ímpeto para arrancar-lhe a cabeça, mas conseguiu apenas feri-lo. Lucas, que era médico, diz que Jesus restaurou a orelha de Malco.

14.48, 49 Jesus não resistiu à prisão, mas envergonhou os que o prenderam. A multidão de soldados, o local cercado por eles, o fato de terem ido à noite e as espadas e os porretes indicam que eles pensavam que Cristo era algum revolucionário ou salteador. O interessante é que esta mesma palavra é usada para descrever Barrabás (Jo 18.40) e os dois homens que foram crucificados com Jesus (Mc 15.27). A covardia dos que prenderam Jesus era algo evidente; afinal, que outra razão os levaria a prender com tanta brutalidade um mestre tão manso? Em meio ao tumulto, Cristo declara que tudo isso é para que as Escrituras se cumpram, demonstrando Sua tranquilidade e confiança, pois tudo estava acontecendo de acordo com o plano soberano de Deus. Talvez Ele tivesse em mente Zacarias 13.7, que diz: Fere o Pastor, e espalhar-se-ão as ovelhas, conforme algo que o próprio Jesus já tinha previsto no versículo 27 e no contexto do versículo 50. Talvez Ele também estivesse lembrando que seria contado com os transgressores (Is 53.12), se levarmos em consideração Sua resposta aos que o prenderam no versículo 48.

14.50-52 Jesus foi abandonado. Embora os 11 discípulos tenham partido, um jovem o seguia. Somente Marcos fala sobre isso, e muitos creem que este mancebo era o próprio Marcos; afinal, de que outra forma ele saberia dessa história e falaria sobre ela? Se era realmente Marcos, e se a santa ceia aconteceu em sua casa naquela noite, ele pode ter pulado da cama, ter se envolvido em um lençol e seguido Jesus e Seus discípulos. E possível também que Judas e a multidão tenham ido à sua casa primeiro para prender o Mestre; a mesma casa onde ele havia saído às pressas antes (Jo 13.30). Marcos confessa que também fugiu para não ser preso com Jesus.

14.53 O sumo sacerdote naquela época era Caifás, 18—37 d.C. (ver Jo 18.13). Todos os principais dos sacerdotes eram aqueles que haviam sido sumos sacerdotes antes, e os anciãos eram os chefes das famílias que dominavam a comunidade judaica. Os escribas eram judeus eruditos e mestres nos Dez Mandamentos, assim como na tradição dos homens (Mc 7.8, 9, 13). Juntos, esses grupos formavam o Sinédrio, sempre citado nos Evangelhos e em Atos como o concílio — ou o conselho (Mc 14.55; 15.1; At 5.27; 23.1).

14.54 Apesar de sempre criticarmos Pedro, precisamos reconhecer que ele teve coragem de voltar para ver o que aconteceria com Jesus. João também voltou e entrou com Jesus na sala do sumo sacerdote (Jo 18.15). O relato de Marcos — de que Pedro seguiu de longe — pode ter vindo do próprio Pedro.

14.55, 56 A função do Sinédrio era aplicar a justiça, mas este conselho buscou algum testemunho contra Jesus, para o matar. Roma havia tirado das autoridades judaicas o direito de aplicar a pena de morte. Por isso, eles tiveram de apelar para Pilatos (Mc 15.1). No entanto, como não havia nenhuma testemunha que pudesse testificar algo verdadeiro para condenar Jesus à morte, muitos testificavam falsamente, mas seus depoimentos não eram coerentes.

14.57-59 No fim, alguns tentaram acusá-lo de conspirar para destruir o templo (Jo 2.19-21), mas até esse testemunho foi inconsistente.

14.60-62 Ele calou-se é o cumprimento de Isaías 53.7. Ele também ficou em silêncio perante Pilatos (Mc 15.3-5) e Herodes Antipas (Lc 23.9). Por fim, depois de não encontrarem nenhuma prova substancial com que pudessem acusá-lo, Jesus declarou que era o Cristo, Filho do Deus Bendito. Todavia, o que os levou a condená-lo foi o fato de Jesus ter declarado que era o ser divino descrito como o filho do homem em Daniel 7.13,14, a quem o Pai deu o domínio eterno, a glória e o Reino, e que era digno de toda a adoração. Essa era uma das maneiras como Jesus frequentemente se referia a si mesmo, em vez de usar o termo Messias. Entretanto, os líderes judeus não entenderam seu significado por completo, até que Jesus o explicou a eles dentro do contexto desse versículo.

14.63, 64 O julgamento chegou ao fim, e Jesus foi falsamente acusado de blasfémia, o que significa que Ele havia declarado que era divino. Para eles, naturalmente, uma declaração como esta só poderia vir de um louco ou mentiroso — a não ser que Ele fosse mesmo o Deus todo-poderoso em carne, como Jesus era realmente (Jo 1.1-3,14; Fp 2.5-8).

14.65 Aqueles que começaram a cuspir em Jesus e a dar-lhe punhadas não foram os mesmos que lhe infligiram os açoites, algo que poderia rasgar o corpo de uma pessoa. Compare com Marcos 15.15, onde os açoites são mencionados.

14.66-72 Alguns acreditam que Pedro pode ter negado Jesus quatro vezes — três vezes quando ele estava perto do fogo ou dentro do átrio, e uma vez quando João diz que ele o negou já à porta, ao ser confrontado (Jo 18.16,17). Somente Marcos relata que Cristo predisse especificamente que Pedro o negaria três vezes antes que o galo cantasse duas vezes (Mc 14.30). Marcos, que dá uma atenção muito especial aos detalhes, esclarece bem, nessa passagem, a primeira vez que o galo cantou, dizendo: E o galo cantou. Seria mesmo estranho se ele dissesse que o galo cantou pela segunda vez (v. 7 2), mas não fizesse nenhuma referência ao primeiro canto. Alguns acreditam que houve três negações de Pedro depois do primeiro canto do galo e três depois do segundo — tudo isso por causa das discrepâncias que há no relato de Marcos e nos outros Evangelhos. Outros creem que houve apenas três negações, em vez de seis, porque os autores dos outros Evangelhos podem ter falado do canto do galo de uma maneira geral, enquanto Marcos, que relatou o que Pedro lhe contou, é mais detalhista ao mencionar dois cantos do galo. Ele, porém, começou a praguejar e a jurar (v. 71 ARA). Pedro deve ter dito a Marcos que incluísse isso em seu relato. Todas as atitudes de Pedro foram reprováveis, e o fato de ele jurar ilustra bem a verdade contida em Jeremias 17.9, que diz: Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá? Não sabemos se Pedro se lembrou das palavras de Jesus quando o galo cantou a primeira vez. Porém, se isso aconteceu, ele deve ter tentado esconder sua verdadeira identidade, mas sem sucesso. Todos os outros escritores dos Evangelhos nos dizem que o galo cantou logo após a última negação de Pedro (Mt 26.74; Lc 22.60; Jo 18.27). No entanto, dessa vez, ele lembrou-se e chorou.

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