Significado de Marcos 10

Marcos 10

10.1 Jesus passou por Cafarnaum (Mc 9.33) e, depois, deu início à Sua viagem final a Jerusalém. Ele encerra Seu ministério na Galileia, vai para o sul da Judeia e chega até Pereia, no lado oriental do rio Jordão.

10.2 A pergunta dos fariseus sobre o divórcio era uma armadilha; afinal, eles deviam estar esperando que o Mestre contradissesse Moisés (Dt 24.1-4) ou acusasse Herodes Antipas, como fez João Batista (Mc 6.18). Segundo a lei judaica, era permitido somente ao homem divorciar-se de sua mulher (n v i) .

10.3, 4 A carta de divórcio era um documento assinado diante de testemunhas, o qual tinha o propósito de evitar divórcios por razões fúteis. Entretanto, nos dias de Jesus, a interpretação desse costume variava muito. Os discípulos de Hillel permitiam o divórcio em quase todos os casos, mas os seguidores de Shammai, só por causa de impureza sexual.

10.5, 6 Jesus declarou que o divórcio só foi permitido por causa da dureza do coração e, para afirmar isso, baseou-se no propósito original de Deus para o casamento descrito em Gênesis 2.21- 2 5 .0 plano divino ao criar macho e fêmea foi que ambos tivessem o mesmo valor e importância, embora cumprissem um papel diferente no matrimônio.

10.7, 8 O homem irá deixar seus pais, unir-se à sua mulher e ter uma vida maravilhosa com ela. jesus praticamente usa quase todo o texto de Gênesis 2.24 da Septuaginta sobre o casamento. Uma só carne representa um elo sexual que une totalmente o homem e a mulher; esse vínculo é comparado ao de irmãos de sangue.

10.9 Jesus revela que o propósito original de Deus para o casamento não pode ser desfeito pelo homem. E, nesse caso, não há exceção. A exceção de Mateus 19.9 pode ser a descrição de um conceito do judaísmo (compare com Apocalipse 18).

10.10, 11 Todo aquele que se divorciar de sua mulher (NVI). Marcos não apresenta nenhuma exceção à proibição de Cristo ao divórcio, e também não há nenhuma em Lucas 16.18; Romanos 7.1,2 e 1 Coríntios 7.10, 11. Compare a exceção judaica a essa regra em Mateus 5.32 e 19.9. 10.12 — Na sociedade judaica, uma mulher não podia se divorciar de seu marido (NVI), porém Marcos descreve as palavras de Jesus de uma forma que seus leitores em Roma as entendam.

10.13, 14 Indignou-se expressa a emoção de um verbo [gr. aganakteo] usado no Novo Testamento apenas nos Evangelhos Sinóticos. Jesus tinha dores emocionais como qualquer ser humano, mas, mesmo assim, Ele sempre controlou Seus sentimentos ao expressá-los. O termo as crianças (NVI) inclui todas até os 12 anos. A palavra usada para se referir à filha de Jairo (Mc 5.39), que tinha 12 anos, é a mesma.

10.15 Receber o Reino nos mostra que Jesus continuava pregando a mensagem do Reino e preparando Seus discípulos para reinar quando Ele voltasse. As crianças são sinceras e alegres, demonstram confiança e dependem totalmente de seus pais. Portanto, elas têm as mesmas qualidades necessárias aos discípulos. Os adultos podem tomar-se arrogantes, autossuficientes e céticos em relação à religião e ao plano da salvação. A atitude do coração é algo essencial para exercer liderança no Reino.

10.16 Somente Marcos menciona que Jesus abençoou as crianças. Ele usa um verbo composto [gr. kateulogei] que aparece apenas aqui em todo o Novo Testamento, e representa uma bênção carinhosa — mas poderosa — do Senhor. Cristo não se importava apenas com os adultos, mas também com as criancinhas.

10.17 A intenção do jovem rico ao chamar Jesus de Bom Mestre (Mt 19.22; Lc 18.18) foi apenas cumprimentá-lo de forma respeitosa como um mestre religioso. A resposta de Cristo — de que ninguém há bom senão um, que é Deus — pode ser interpretada como se Ele quisesse que o jovem rico reconhecesse a soberania divina.

10.18 A resposta Ninguém [há] bom se não um, [que é] Deus pode ser interpretada como um apelo para que o jovem reconhecesse essa verdade.

10.19 Jesus citou o sétimo, o sexto, o oitavo, o nono e o quinto mandamentos, mas, antes do quinto, Ele disse: não defraudarás alguém. Esses mandamentos, de um modo geral, referem-se ao tratamento justo e sincero que devemos dar aos outros (Êx 20.12-17).

10.20 Em sua resposta, o jovem reconhece que é necessário algo mais do que seguir a Lei ao pé da letra para receber a vida eterna. Mateus ainda nos fala da pergunta que o rapaz fez a Jesus: Que me falta ainda? (Mt 19.20).

10.21 Jesus não está ensinando aqui que a salvação é obtida mediante as obras, ou seja, dando dinheiro aos pobres, mas está mostrando que precisamos rejeitar nossa própria justiça e autossuficiência para que nossa confiança seja totalmente transferida para Cristo. Ao levar o jovem a encontrar uma resposta para aquilo que tanto desejava— que me falta ainda? (Mt 19.20) —Jesus lhe mostra o quanto ele precisava depender totalmente do Senhor, pois, fora isso, seria impossível aquele rapaz ser salvo.

10.22 Essa condição foi demais para o jovem rico; então, retirou-se triste. Essa história ensina que a salvação é obtida pelas obras? Temos de lembrar que, antes de seguir o evangelho, o homem deve reconhecer que precisa dele. Jesus sabia que aquele rapaz se considerava muito justo porque procurava guardar a Lei. Então, o que ele precisava era que Cristo lhe mostrasse o que estava falando (v.21). O homem precisa reconhecer seu pecado e sua culpa antes de ouvir as boas-novas.

10.23, 24 Os que têm riquezas geralmente são os que confiam nas riquezas, algo perigoso para quem deseja ter uma vida espiritual.

10.25-27 Essa comparação do camelo passando pelo fundo de uma agulha é literal (Mt 19.24). Humanamente, não é apenas difícil um rico ser salvo, mas quase impossível. Também não é possível alguém receber a salvação se não for pelo poder e pela graça de Deus. O Senhor provê os meios para a salvação, concede entendimento aos pecadores e regenera a alma daquele que crê.

10.28 Pedro disse o que, provavelmente, todos os discípulos tinham em mente. Eles abriram mão de muitas coisas para seguirem Jesus, ao contrário do que fez o jovem rico. Talvez, por isso, em outras palavras eles estivessem perguntando: “O que nós ganharemos em troca?”

10.29 Na verdade, todo aquele que tenha deixado essas coisas não renunciou a elas, mas apenas colocou em ordem suas prioridades (Mt 19.29). Os apóstolos tiveram de fazer sacrifícios por amor a Cristo e ao evangelho. Porém, ao fazerem isso, tornaram-se verdadeiros servos daquele que deixou Sua glória nos céus e se fez servo, sofrendo até a morte (Fp 2.6-11).

10.30 Recompensas espirituais esperam por aqueles que seguirem Cristo neste tempo, ou seja, nesta era, entre Sua primeira e Sua segunda vindas. Somente Marcos fala das perseguições futuras — algo de que seus leitores em Roma já sabiam muito bem. Após a volta de Jesus, no século futuro, haverá uma recompensa inigualável, a vida eterna, que não será apenas a continuidade da vida, mas também a qualidade de vida com a qual jamais sonhamos.

10.31 O padrão humano de recompensa cairá por terra. A exaltação no Reino de Deus virá pela humildade e servidão, e não por prioridades humanas como riqueza, status social, fama, berço ou favoritismo pessoal. Mateus continua falando sobre isso contando uma parábola de Jesus (Mt 20.1-16).

10.32-34 Jesus revelou pela terceira vez Sua morte e ressurreição, enquanto caminhava com os discípulos na estrada para Jerusalém, onde passaria a Páscoa (veja o que Ele disse antes sobre isso em Mc 8.31 e 9.31). As pessoas iam subindo para Jerusalém quando se aproximavam da cidade, pois esta ficava em um lugar alto (At 11.2; 21.4; 25.1), e, depois, desciam quando iam embora (Mc 3.22).

10.35 Mateus 20.20 declara que foi a mãe de Tiago e João que procurou Jesus, mas é bem provável que seus filhos a tenham encorajado a fazer isso.

10.36, 37 Assentar-se à direita do rei era assumir o lugar de maior importância; a pessoa sentada à esquerda ficava logo abaixo em destaque (Lc 22.24-30). Jesus enfatizou a importância de servir porque os discípulos estavam querendo exaltar-se tanto em público como entre eles mesmos. Cristo teve de lembrar-lhes o preço do orgulho no Reino de Deus. Enquanto iam a Jerusalém, eles cuidavam que logo se havia de manifestar o Reino de Deus (Lc 19.11). Talvez por isso tenham tentado garantir para si poder e autoridade o mais rápido possível.

10.38 Beber o cálice e ser batizados são referências ao sofrimento e à morte que aguardavam Jesus (Mc 14.36). Jesus queria que Seus discípulos entendessem as zombarias, os açoites, a tortura e o sofrimento que Ele teria de enfrentar.

10.39, 40 O Mestre concordou com a resposta deles, apesar de não terem entendido o preço que Cristo precisaria pagar. Embora não fosse sofrer tanto nem passar pela mesma agonia espiritual que Jesus passou, Tiago logo seria executado por Herodes Agripa I, em 44 d.C. (At 12.1,2). João foi o último apóstolo a morrer e foi exilado por algum tempo na ilha de Patmos (Ap 1.9). Ele foi muito perseguido e, provavelmente, testemunhou mais mortes de cristãos do que qualquer outro discípulo.

10.41 Os dez discípulos que não participaram da discussão particular que envolvia uma posição especial no Reino começaram a indignar-se porque tinham as mesmas ambições.

10.42-44 A questão aqui não é que os governantes gentios têm-nos sob seu domínio (ARA), mas que são eles que exercem autoridade. Jesus queria que cada um dos seguidores fosse servo — aquele que é servo tem prazer em servir aos outros. A palavra serviçal significa sujeição, não necessariamente escravidão.

10.45 Este versículo é um divisor no livro de Marcos. A primeira seção dá ênfase à importância de servir, enquanto a segunda enfatiza a morte do Mestre. Jesus agora explica o propósito de Sua morte, depois de tê-la predito três vezes. Esse é um esclarecimento raro nos Evangelhos Sinóticos que ressalta o treinamento dos 12 e prepara o terreno para as explicações futuras nas epístolas. A vida de Jesus como um resgate [gr. lutron] era o preço pago para libertar escravos, reféns e outros. Essa palavra só é encontrada no Novo Testamento aqui e em Mateus 20.28, embora seja muito empregada em textos extrabíblicos. A vida de Cristo é dada em [gr. anti] resgate, no lugar de muitos, mostrando a natureza expiatória da Sua morte. A palavra muitos dá a ideia de muitos outros, algo sem limite. Cristo, certamente, morreu por todos (2 Co 5.14; 1 Tm 2.6; 1 Jo 2.2).

10.46 Depois, foram para Jericó. A região de Jericó do Antigo Testamento foi removida cerca de um quilômetro e meio do seu local original. Marcos relata que esse milagre aconteceu quando Jesus estava saindo de Jericó, depois de ter cruzado o rio Jordão, indo para o leste. Lucas diz que Ele estava chegando perto de Jericó (Lc 18.35). Já houve muitas “Jericós” ao longo da história. Havia a antiga Jericó assim como a nova Jericó, construída por Herodes, o Grande, como sua residência de inverno, por causa do clima agradável do vale do Jordão, o qual se situava abaixo do nível do mar. Cristo deve ter entrado por um lado e saído pelo outro. Bartimeu é um nome em aramaico traduzido por Marcos e significa filho de Timeu. Mateus fala de dois cegos (Mt 20.30), porém Marcos concentra seu relato em apenas um.

10.47, 48 Filho de Davi é um título messiânico. Marcos descreve a ironia de um cego que tinha visão espiritual, enquanto muitos não podiam ver — incluindo os líderes religiosos — porque estavam espiritualmente cegos.

10.49, 50 O relato de Marcos traz uma visão detalhada de alguém que foi testemunha ocular do que aconteceu: Jesus parou (ARA); Bartimeu então, lançando de si a sua capa, levantou-se e foi ao Seu encontro. Marcos também fala da mudança de atitude da multidão — ela antes o desprezou, mas depois o encorajou a seguir Jesus.

10.51 Mestre é o mesmo que raboni em aramaico e também significa professor (Jo 20.16).

10.52 Vemos que Bartimeu seguiu Jesus pelo caminho ao menos por algum tempo. Ele foi seguindo- o com a multidão até Jericó, mas tornou-se um discípulo? O fato de Marcos mencionar seu nome pode indicar que ele era conhecido na Igreja do primeiro século.

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