Lucas 4 — Comentário de Matthew Henry

Comentário de Lucas 4




Lucas 4

Versículos 1-13: A tentação de Cristo;14- 30: Cristo na sinagoga de Nazaré; 31-44: A expulsão de um espírito imundo e a cura de um enfermo.

Vv. 1-13. Ao ser levado ao deserto, Cristo deu ao tentador uma oportunidade de tentá-lo; porque estava a sós, e ninguém estava com Ele para que, por meio das orações e da companhia de outros, tivesse recebido ajuda na hora da tentação. Ele, que conhece a força que possui, podia dar alguma oportunidade a Satanás; nós, porém, não podemos fazê-lo por conhecermos a nossa fraqueza. Sendo em todas as coisas feito semelhante aos seus irmãos, Jesus, tendo-se esvaziado da forma de Deus, colocando-se como os demais filhos de Deus, viveria dependendo da providência e da promessa divina. A Palavra de Deus é a nossa espada, e a fé na Palavra é o nosso escudo. Deus tem muitas maneiras de prover para o seu povo e, portanto, devemos depender dEle em todo o tempo.

Todas as promessas de Satanás são enganosas; e se for permitido que ele tenha o poder de dispor dos reinos do mundo e da glória destes, os utilizará como isca para apanhar os homens em ardis para poder destruí-los. Devemos rejeitar imediatamente e com aborrecimento toda a oportunidade de ganho ou avanço pecaminoso, como preço oferecido por nossa alma. Devemos procurar as riquezas, honras e a felicidade somente na adoração e no serviço a Deus. Jesus não adorou Satanás, nem toleraria que ficassem aparências de adoração ao Diabo para a ocasião em que o Pai lhe entregasse o reino do mundo. Satanás também tentou Jesus para que fosse o seu próprio assassino, por meio de uma confiança incorreta na proteção de Deus Pai, da qual não teria garantia.

Que nenhum mal descrito nas Escrituras possa ser utilizado por Satanás ou pelos homens para abater a nossa auto-estima, ou nos faça abandonar a sua utilidade. Continuemos estudando as Escrituras, procurando conhecê-las e buscando nela a nossa defesa contra todo o tipo de ataques. Que a Palavra habite em nós de modo abundante, porque ela é a nossa vida. O nosso vitorioso Redentor venceu não somente por si mesmo, mas também por nós. o Diabo encerrou a sua tentativa de tentação. Cristo permitiu que ele mostrasse todo o seu ardil e força, em seguida derrotou-o. Satanás viu que não havia sentido em atacar a Cristo, pois os seus dardos inflamados não teriam onde se fixar nEle. Se resistirmos ao Diabo, ele fugirá de nós.

Ainda que tenha se retirado, fê-lo temporariamente, até a próxima ocasião em que procuraria lançar-se contra Jesus, não como tentador para levá-lo ao pecado, e teria a sua cabeça golpeada. Neste intento foi completamente derrotado, agindo como perseguidor para levar Cristo ao sofrimento e assim ferir o seu calcanhar; foi-lhe dito que o deveria fazer, e o quis fazer, ainda que teria a cabeça esmagada (Gn 3.15). Mesmo que Satanás se retire por certo tempo, nunca estaremos completamente fora do alcance de seus ardis e investidas contra nós, até o dia em que seja tirado deste mundo mau.

Vv. 14-30. Cristo ensinou nas sinagogas, que eram os lugares de adoração pública, onde reuniam-se para ler, expor e aplicar a Palavra, e para orar e louvar a Deus. Todos os dons e a graça do Espírito estavam completamente sobre Jesus e nEle. Por meio de Cristo, os pecadores podem ser livres das amarras da culpa e, por seu Espírito e graça, das amarras da corrupção. Ele veio por meio da Palavra de seu Evangelho trazer luz àqueles que estavam em trevas, e pelo poder de sua graça, dar vista àqueles que estavam cegos. Pregou o ano aceitável do Senhor. Os pecadores devem ouvir o convite do Senhor quando a liberdade é proclamada.

O nome de Cristo é Maravilhoso; em nada o foi mais do que na Palavra de sua graça, e no poder que agora a acompanhava. Bem podemos nos maravilhar de que dissesse as palavras da graça a infelizes e desgraçados, como aqueles que fazem parte da humanidade. Algum preconceito costuma apresentar uma objeção contra a doutrina da cruz que humilha; e ainda que Palavra de Deus não incite a inimizade entre os homens, estes culparão a conduta e o modo de ser do orador. A doutrina da soberania de Deus, que fala do direito que Ele possui de realizar a sua vontade, provoca os homens orgulhosos. Estes não procuram o favor de Deus do modo que compraz a Deus; e sentem-se irados quando os demais recebem os favores que eles mesmos rejeitaram. Ainda hoje Jesus é rejeitado por alguns que ouvem as mesmas mensagens que Ele proferiu. Mesmo que o tornem a crucificar em seus pensamentos por Causa de seus corações pecaminosos, nós podemos honrá-lo como Filho de Deus e Salvador dos homens, e procurarmos mostrar, por meio de nossa obediência, que assim o fazemos.

Vv. 31-44. A pregação de Cristo tinha um efeito muito grande sobre as pessoas; e um poder que realizava obras entre o povo a acompanhava até a consciência dos homens. os milagres demonstravam que Cristo é aquele que domina e vence Satanás, e que cura todo e qualquer tipo de enfermidades. Aonde Cristo dá uma nova vida, por meio da cura de uma enfermidade, esta deve passar a ser uma nova vida dedicada mais do que nunca a servi-lo e a glorificá-lo. A nossa ocupação deve ser difundir amplamente a fama de Cristo em todos os lugares, buscá-lo para que cure aqueles que estão enfermos em seus corpos e mentes, e utilizarmos a nossa influência para levá-lo aos pecadores, a fim de que as suas mãos possam ser impostas sobre eles para curá-los.

Ele expulsa os demônios de muitos que estavam possessos. Não fomos enviados ao mundo para vivermos somente para nós mesmos, mas para glorificarmos a Deus e para fazermos o bem às pessoas de nossa geração. o povo o buscava e ia até Ele. Um deserto não será literalmente um deserto se estivermos com Cristo. Ele permanecerá conosco, por sua Palavra e por seu Espírito, e estenderá as mesmas bênçãos a outras nações até que, por toda a terra, os servos e os adoradores de Satanás sejam levados a reconhecer Jesus como o Cristo, o Filho de Deus, e encontrem a redenção por meio de seu sangue, o perdão dos pecados.