Lucas 16 — Comentário de Matthew Henry

Lucas 16 — Comentário de Matthew Henry

Lucas 16 — Comentário de Matthew Henry




Lucas 16

Versículos 1-12: A parábola do mordomo infiel. 13-18: Cristo repreende a hipocrisia dos fariseus cobiçosos; 19-31: O rico e Lázaro.

Vv. 1-12. Seja o que for que tenhamos, a propriedade de todas as coisas pertence a Deus; nós somente recebemos a graça de usufruir destas conforme o mandamento de nosso Senhor, e para a sua honra. Este mordomo desperdiçou os bens de seu Senhor. Todos estamos sob a mesma acusação; não tiramos o devido proveito daquilo que Deus tem colocado sob nossa responsabilidade. O mordomo não podia negar este fato; deveria prestar contas e ir embora.

Este exemplo pode nos ensinar que a morte virá, e nos privará das oportunidades que temos agora. o mordomo ganhará amigos dentre os devedores e inquilinos de seu Senhor, eliminando uma parte considerável da dívida deles para com este. O Senhor a quem é feita alusão nesta parábola não elogiou a fraude, mas o procedimento do mordomo. Somente destaca-se neste aspecto. Os homens mundanos são néscios ao escolherem os seus objetivos, mas em sua atividade e perseverança, são muitas vezes mais sábios do que os crentes. o injusto mordomo não nos é dado como exemplo de engano para com o seu Senhor, nem como justificativa da desonestidade, mas para destacar o cuidado que os homens mundanos dedicam. Bom seria que os filhos da luz aprendessem uma parte da sabedoria e prudência dos homens do mundo, e seguissem com igual diligência o seu objetivo como cristãos, que é melhor do que o daqueles que não conhecem a Deus.

As verdadeiras riquezas significam bênçãos espirituais; e se um homem gasta ou acumula aquilo que Deus lhe tem confiado, quanto às coisas exteriores, que prova poderá ter de que é herdeiro de Deus por meio de Cristo? As riquezas deste mundo são enganosas e incertas. Convençamo-nos de que são verdadeiramente ricos, e muito ricos, aqueles que são ricos na fé, ricos para com Deus, ricos em Cristo e em suas promessas; então, acumulemos o nosso tesouro no céu, e esperemos de lá a nossa porção.

Vv. 13-18. O nosso Senhor acrescenta a esta parábola uma advertência solene. É como se Ele dissesse que não podemos servir a Deus e ao mundo, porque estes têm interesses distintos. Quando o nosso Senhor falou deste modo, os fariseus cobiçosos receberam as suas instruções com desprezo. Ele os advertiu de que se aquilo pelo que contendiam fosse a lei, seria uma luta sobre o seu significado. Nosso Senhor mostra isto por meio de um exemplo que se referia ao divórcio. Há muitos advogados obstinados e cobiçosos que favorecem a forma de piedade, mas são os inimigos mais odiosos de seu poder, e procuram ocasiões para colocar os demais contra a verdade.

Vv. 19-31. Aqui as coisas espirituais estão representadas por uma descrição do diferente estado do bom e do mau neste mundo e no porvir. Não nos é dito que o rico obteve a sua fortuna por meio de fraude ou de opressão; porém, Cristo mostra que um homem pode ter muitas riquezas, pompa e prazer neste mundo, e perecer para sempre sob a ira e a maldição de Deus. O pecado deste rico era que somente fazia provisão para si mesmo. Aqui há um santo varão, nas profundezas da adversidade e da angústia que será feliz para sempre no porvir.

Muitas vezes a sorte de alguns dos santos e servos mais amados de Deus é a de serem grandemente afligidos neste mundo. Não nos é dito que o rico tenha infligido algum dano a Lázaro, o pobre, mas não encontramos que tivesse se interessado por este.

Aqui está a diferente condição, após a morte, de um pobre e santo, e de um rico ímpio. o rico, no inferno, levantou os olhos, estando em tormentos. Não é provável que existam conversas entre os santos glorificados e os pecadores condenados; porém, este diálogo mostra a miséria e o desespero, e os desejos infrutíferos nos quais entram os espíritos condenados. Chegará o dia em que aqueles que hoje odeiam e desprezam o povo de Deus, receberão alegremente a bondade deles; porém, o condenado no inferno jamais terá o mínimo alívio de seu tormento.

Os pecadores são agora chamados a ponderar a respeito de suas vidas, mas não o fazem, não querem fazê-lo e encontram maneiras de evitá-lo. Como as pessoas más somente possuem boas coisas nesta vida, e na morte são para sempre separados de todo o bem, assim, o povo santo sofre situações más somente nesta vida, e na morte são para sempre separados delas. Bendito seja Deus, que neste mundo não exista um abismo insondável entre o estado natural e a graça; podemos passar do pecado a Deus, mas se morrermos em nossos pecados, não haverá saída. O rico tinha cinco irmãos, e teria desejado detê-los em seu rumo pecaminoso. Chegarem a este lugar de tormentos pioraria a sua desgraça, pois teria ajudado a mostrar-lhes o caminho a este lugar. Quantos desejariam agora retratar-se ou desfazer o que escreveram ou fizeram!

Aqueles que gostariam que o pedido do rico a Abraão justificasse orar aos santos já mortos, ficam deste modo tão longe de ter provas verdadeiras, quando o erro do pecador condenado é tudo o que podem encontrar como exemplo. É óbvio que não haveria qualquer estímulo para seguir o exemplo daquele homem rico, uma vez que todas as suas petições foram feitas em vão.

Um mensageiro vindo dentre os mortos não poderia dizer mais do que aquilo que foi dito nas Escrituras. A mesma força da corrupção que irrompe através das convicções da Palavra escrita, triunfaria acima de um testemunho de mortos. Busquemos a lei e o testemunho (Is 8.19, 20), porque esta é a palavra correta da profecia, sobre a qual podemos ter a maior certeza (2 Pe 1.19). As circunstâncias de cada época mostram que os terrores e os argumentos não podem dar o verdadeiro arrependimento sem a graça especial de Deus, que renova o coração do pecador.