Gênesis 49 — Comentário de Matthew Henry

Gênesis 49

Versículos 1,2: Jacó chama os seus filhos para abençoá-los; 3-7: Rúben, Simeão, Levi; 8-12: Judá; 13-18: Zebulom, Issacar, Dã; 19-21: Gade, Aser, Naftali; 22-27: José e Benjamim; 2833: A incumbência de José no tocante ao enterro de seu pai; a nome de Jacó.

Vv. 1,2. Todos os filhos de Jacó estavam vivos. O seu chamado para que se reunissem, foi um preceito para que se unissem em amor e não se misturassem com os egípcios; e predisse que não se separariam como fizeram os filhos de Abraão e de Isaque, mas que todos deveriam formar um único povo.

Não consideraremos este discurso como uma expressão de sentimentos particulares de afeto, ressentimento ou parcialidade, mas como uma linguagem do Espírito santo, que declara o propósito de Deus no que diz respeito ao caráter, às circunstâncias e à situação das tribos que descendiam dos filhos de Jacó, e que podem ser identificados em suas histórias.

Vv. 3-7. Rúben foi o primogênito; porém, por causa de um grande pecado, perdeu o seu direito de primogenitura. O caráter de Rúben era instável como a água. Muitos homens não prosperam porque não se estabelecem. O pecado de Rúben deixou uma infâmia duradoura em sua família.

Simeão e Levi eram impetuosos e vingativos. O assassinato dos homens de siquém é prova disto. Jacó protestou contra este ato bárbaro. A nossa alma é a nossa honra; por sua capacidade somos distinguidos dos animais que perecem, e somos elevados acima deles. Devemos aborrecer de todo o nosso coração a todo homem sanguinário e mau. Maldita seja a sua ira. Jacó não os amaldiçoou, mas reprovou a luxúria deles. Eu os dividirei. A sentença acerca de Levi se converteria em bênção. Esta tribo realizou um serviço agradável a Deus, em seu zelo contra os adoradores do bezerro de ouro (Êx 32). Tendo sido separados por Deus como sacerdotes, neste caráter foram dispersos pela nação de Israel.

Vv. 8-12. O nome Judá significa louvor. Deus era louvado por sua causa (Gn 24.35); era louvado por ele e nele; portanto, os seus irmãos o louvariam. Judá será uma tribo forte e valente, e foi comparado não a um leão enfurecido e que ruge, mas é como o leão que desfruta a satisfação de sua força e êxito, sem vexar os demais; isto é ser verdadeiramente grande. Judá será a tribo real, a tribo da qual virá o Messias, o Príncipe. Ele que é a semente prometida em quem a terra será abençoada. Este "Pacífico e Próspero", o "salvador" virá de Judá. Jacó viu, de longe, o dia de Cristo, e isto foi para ele consolo e sustento em seu leito de morte. Até a vinda de Cristo, Judá possuiu autoridade; porém, após a sua crucificação, esta foi diminuída. Conforme o que foi anunciado por Cristo, Jerusalém foi destruída e todo o remanescente pobre e perseguido dos judeus foi confundido.

Muito do que aqui se diz sobre Judá deve ser aplicado ao nosso Senhor Jesus Cristo. Nele há abundância de tudo o que alimenta e refresca a alma, e que mantém e alegra a vida divina nela. Ele é a videira verdadeira; o vinho é o símbolo e o sinal do seu sangue, que se bebe, que é derramado a favor dos pecadores e aplicado por fé; todas as bênçãos do seu Evangelho são vinho e leite, sem dinheiro e sem preço, ao qual toda a alma sedenta é bem-vinda (Is 55.1).

Vv. 13-18. Acerca de Zebulom: se a profecia diz que Zebulom será um porto de barcos, certamente a providência divina fará com que seja assim. Deus determina os limites de nossa habitação. A nossa sabedoria e dever é acomodarmo-nos à nossa sorte e melhorá-la; se Zebulom habita no porto do mar, que seja refúgio de barcos.

No tocante a Issacar: ele viu que a terra era deleitosa, e produzia não somente gratas perspectivas, senão bons fritos para recompensar os seus esforços. Creiamos que o repouso celestial é bom e a terra prometida é deleitosa; isto fará com que o nosso trabalho presente seja fácil.

Dã iria ganhar, por meio da habilidade, da política e de surpresas, vantagens contra os seus inimigos, como a serpente que morde o calcanhar do viajante.

Jacó, quase enfraquecido e pronto a desmaiar, alivia-se com as seguintes palavras: "A tua salvação espero, ó Senhor!" A salvação que ele esperava era Cristo, a semente prometida; agora que Jacó seria reunido ao seu povo, suspira por Aquele ao redor de quem o povo será reunido. Declara simplesmente que está em busca do céu, a pátria melhor (Hb 11.13,14). Agora que desfrutará a salvação, consola-se por tê-la esperado. Assim, como também temos que esperar em Cristo o nosso caminho ao céu, devemos esperar o céu como o nosso repouso em Cristo. O consolo do santo moribundo é ter esperado a salvação do Senhor, pois então terá aquilo pelo que esperou.

Vv. 19-21. Quanto a Gade, Jacó faz alusão ao seu nome, que significa exército, e anuncia o caráter desta tribo. A causa de Deus e de seu povo, ainda que por uma vez possa parecer derrotada e acabada, será ao final vitoriosa. Isso representa o conflito cristão. A graça da alma costuma caminhar envolta em seus conflitos; as hostes da corrupção podem até mesmo vencê-la; porém, a causa pertence a Deus, e no final a graça sairá vencedora; sim, mais que vencedora (Rm 8.37).

Aser deve ser uma tribo rica. A sua herança acompanhava a borda do Carmelo, que era proverbialmente frutífero.

Naftali é uma cerva solta. Podemos considerar esta afirmação como a descrição do caráter desta tribo. A diferença entre o laborioso boi e o asno é que o asno está desejoso por comodidade e liberdade; ativo, é ainda mais notório por sua ação rápida, do que por seu trabalho constante e por sua perseverança. É como o suplicante que, com palavras boas, anela por misericórdia. Que os que possuem diferentes temperamentos e dons, não se censurem nem invejem-se uns aos outros.

Vv. 22-27. A bênção de José é notória. O que Jacó disse a seu respeito é tanto histórico como profético. Jacó lhe recorda as dificuldades e os ferozes dardos das tentações com os quais anteriormente lutou. A sua fé não falhou; antes, em meio às suas provas, levou todas as suas cargas com firmeza e não fez nada inconveniente. Toda a nossa fortaleza para resistir às tentações e suportar as aflições vem de Deus; a sua graça é suficiente.

José chegou a ser o pastor de Israel para cuidar de seu pai e de sua família; a rocha de Israel, seu fundamento e firme suporte. Nisto, como em muitas outras coisas, José foi um notável tipo do Bom Pastor e da Pedra de Esquina, que é o fundamento da Igreja.

As bênçãos são prometidas pára a posteridade de José, típicas das vastas e ternas bênçãos que vêm sobre a semente espiritual de Cristo. Jacó abençoou a todos os seus filhos; porém, de modo especial, a José, "que foi separado de seus irmãos". Não somente separado no Egito, luas por possuir uma elevada dignidade e por ser mais consagrado a Deus.

Diz-se de Benjamim que arrebatará como o lobo. Jacó foi guiado pelo Espírito de profecia em tudo o que disse, e não pelo afeto natural; caso contrário, teria falado com ainda mais ternura sobre o seu filho caçula. No tocante a ele, somente prevê e prediz que a sua posteridade será uma tribo guerreira, forte e ousada, e que se enriquecerá com os despojos de seus inimigos; que serão ativos. O apóstolo Paulo era desta tribo (Rm 11.1; Fp 3.5). No amanhecer de seu dia, devorou a presa como perseguidor; porém, no ocaso, repartiu o despojo como pregador; Paulo compartilhou as bênçãos do Leão de Judá e participou de suas vitórias.

Vv. 28-33. Jacó abençoou a cada um conforme as bênçãos que Deus tinha como objetivo outorgar-lhes em épocas posteriores. Ele mencionou o local de sua sepultura, a partir de um princípio de fé na promessa de Deus, de que Canaã seria a herança de sua semente no devido tempo. Quando terminou de ministrar as suas bênçãos e os seus encargos e, portanto, o seu testemunho, concentrou-se em sua próxima tarefa. Encolheu os seus pés na cama, não somente como alguém que pacientemente se submete ao golpe, mas como quem alegremente se acomoda para descansar, agora que estava esgotado. Entregou livremente o seu espírito nas mãos de Deus, que é o Pai dos espíritos. se o povo de Deus for o nosso povo, a morte nos reunirá a ele. sob os cuidados do Pastor de Israel, nada nos faltará para o corpo ou para a alma. Permaneceremos firmes até que a nossa obra esteja concluída; então, expiraremos a nossa alma nas mãos daquEle cuja salvação temos esperado, partiremos em paz e deixaremos para trás de nós uma bênção para os nossos filhos.

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