Significado de 1 Samuel 17

1 Samuel 17

17.1-58 Todo esse trecho revela o inegável direito de Davi de governar o povo de Deus. No pensamento do antigo Oriente Médio, vários elementos trabalhavam juntos para formar o ideal de liderança real. Um desses elementos era o conceito do guerreiro herói. Esse capítulo mostra duas cenas contrastantes: Saul, acuado em sua tenda, com uma pilha inútil de armadura e armas, e Davi, em sua destemida marcha para a guerra, apenas com sua funda, mas cheio do poder do Deus vivo! Há duas batalhas nesse episódio: uma batalha pública, no campo, e uma batalha particular, na tenda do rei!

17.1 Soco estava localizada a cerca de 24 Km (NVI) a oeste de Belém. Azeca, a cerca de dois Km (NVI) a noroeste de Socó. Os exércitos dos filisteus e dos israelitas estavam reunidos no vale do Carvalho, cerca de 22,5 Km a oeste de Belém, a cidade natal de Davi. Os filisteus estavam acampados entre Socó e Azeca, em uma montanha (v. 3) ao sul do vale. Azeca, estrategicamente localizada em uma montanha, era uma fortaleza, dentre várias, construída ao longo da fronteira a oeste de Judá para guardar as principais estradas de entrada na região. Socó era uma das cidades, posteriormente, fortificadas por Roboão (2 Cr 11.7). A descrição, que está em Judá, alerta para o fato de que os filisteus estavam invadindo as terras de Judá.

17.2, 3 O vale do Carvalho é um vale que se estende de leste a oeste, partindo das montanha de Judá em direção às terras baixas dos filisteus. O vale teria sido adequado para as carruagens dos filisteus, não fosse por um desfiladeiro íngreme que se estendia até a metade do vale. O carro de guerra dos filisteus tinha acessórios de ferro e era a mais avançada arma de guerra da época. Provavelmente, o desfiladeiro dificultava o deslocamento do exército filisteu, o que provocava longo atraso para o início da batalha (v. 16).

17.4 Um homem guerreiro. A expressão em hebraico é literalmente um homem que vai entre, exemplificando um guerreiro que vai lutar em um único combate como substituto do exército inteiro, ou seja, em uma espécie de duelo. O seu oponente precisava ser tão forte como ele. A pessoa mais adequada para assumir esse papel no exército de Israel seria Saul. Quando foi escolhido como rei, Saul destacou-se no meio de todos porque era muito mais alto que seus compatriotas (ISm 9.2). Saul, porém, não tomou nenhuma iniciativa para se opor ao soberbo filisteu. Cujo nome era Golias, de Gate, da altura de seis côvados e um palmo. Um côvado equivalia a cerca de 45 cm (NVI) e um palmo a cerca de 23 cm (NVI). Por isso, Golias, cujo nome pode significar o notável, media perto de 2,90 m.

17.5, 6 Um capacete de bronze. Tropas comuns usavam capacetes de couro. A couraça de escamas de Golias era feita de placas de bronze sobrepostas, tecidas em couro. Essa armadura pesava cinco mil siclos, ou cerca de 60 quilos; um siclo equivalia a cerca de 12 gramas (NVI). Grevas de bronze se refere a um tipo de proteção para as pernas de Golias. Escudo de bronze. Essa enorme arma era designada para arremesso. Entre os seus ombros, ou seja, amarrado às suas costas.

17.7, 8 A lança era uma arma designada para o combate corpo a corpo, como uma longa espada. A haste da lança de Golias pesava seiscentos siclos, cerca de 7 quilos e 200 gramas (NVI). Escudeiro. Existem duas palavras diferentes em hebraico para escudo. Uma, magen, refere-se a um pequeno escudo redondo normalmente usado no braço esquerdo. A outra, sinnâ, utilizada aqui, refere-se a um escudo muito maior, alongado, normalmente carregado pelo escudeiro até que o soldado entrasse em confronto. Golias era uma verdadeira máquina de guerra.

17.9, 10 Desafio era um termo extremamente grosseiro que dava a ideia de colocar sob repreensão (v. 25,26). Como os relatos deixam claro posteriormente, as provocações desafiadoras de Golias eram muito mais contra o Deus de Israel do que contra o exército israelita (v. 26,36).

17.11 Espantaram-se e temeram muito. O exército estava acometido de temor. Talvez os israelitas tivessem se esquecido das vitórias que Deus lhes havia concedido em tempos passados. O esquecimento dos livramentos passados dados por Deus diminuía a confiança, em face ao presente conflito.

17.12-15 Efrateu. Efrata era um nome de família na tribo de Judá, a área onde Belém estava localizada (Mq 5.2).

17.16 O atraso de quarenta dias na batalha pode ter sido dado por causa da dificuldade dos carros de guerra filisteus em atravessarem o profundo desfiladeiro do vale do Carvalho, que separava os dois exércitos. O número quarenta parece ter papel significativo nas narrativas bíblicas. Se um mês é o período de 30 dias, o período de 40 dias seria considerado um extenso período de tempo. Certamente, foi um longo período em que Israel teve de ouvir as palavras de insulto do arrogante Golias!

17.17-19 Nos tempos antigos, os soldados, geralmente, ou viviam do que cultivavam nas terras conquistadas ou dependiam de suprimentos pessoais — trazidos por eles mesmos ou levados por alguém de sua casa. Jessé enviava Davi com provisões, grãos, pães e queijos, para seus filhos e líderes. Um efa era uma medida de grão que equivalia a 22 litros (NVI).

17.20-23 Se levantou pela manhã. Essas são as mesmas palavras usadas para se referir a Abraão quando ele saiu para a sua jornada ao monte Moriá (Gn 22.3). O arraial saía em ordem de batalha. Os soldados estavam saindo em ordem de batalha, mas apenas para chamar para a peleja. Na mão do guarda da bagagem. Essa informação indica que o que Davi havia feito por seus irmãos era um serviço comum realizado pelas famílias em benefício de seus filhos, no campo de batalha.

17.24 Fugiam [...] temiam. Omedo do exército israelita era vergonhoso. Protegidos, localizados no alto da colina, nenhum deles estava correndo perigo imediato.

17.25 Saul prometeu riquezas, isenção de taxas e de deveres do serviço público e a mão de sua filha em casamento àquele que vencesse Golias.

17.26 lncircunciso é uma expressão de desprezo, usada para se referir a uma pessoa pagã.

17.27, 28 O irmão mais velho de Davi, Eliabe, foi um tanto rude. A tua presunção e a maldade do teu coração. Essa linguagem é semelhante à usada pelos irmãos de José para demonstrar a fúria deles (Gn 37).

17.29 Não há razão para isso? Davi protestou, defendendo-se da acusação de presunção (v. 28). Havia razão para a agitação, mas não por causa de Davi, e sim por causa dos filisteus.

17.30-32 Teu servo irá. Davi pesou as dificuldades dentro da perspectiva divina. Aqui estava uma oportunidade para Deus mostrar o Seu poder.

17.33 Saul não mostrou qualquer evidência de ter reconhecido Davi como o jovem que tocava a harpa diante dele (1 Sm 16.23). Provavelmente, havia muitos jovens que serviam o rei e Saul pode não ter reconhecido Davi fora do contexto da corte real.

17.34-37 As vitórias passadas de Davi contra um leão e um urso deram a ele a fé necessária em Deus para vencer Golias. Para Davi, aquela situação retratava mais uma questão espiritual — a falta de fé dos israelitas — do que uma questão militar.

17.38, 39 E Saul vestiu a Davi das suas vestes [...] um capacete de bronze, e [...] uma couraça. Em vez de colocar sua armadura espiritual, a confiança em Deus, e ir ao campo de batalha, Saul tentou colocar sua enorme armadura material em um jovem rapaz. A armadura de Saul era designada para um homem de porte grande. Não posso andar com isto. Davi sequer poderia andar vestido com aquele aparato todo, muito menos lutar.

17.40, 41 Tomou o seu cajado na mão. Despreparado para enfrentar Golias como um soldado armado, Davi se preparou para enfrentá-lo como um pastor de ovelhas. Cinco seixos do ribeiro, ou seja, cinco pedras lisas (NVI). A experiência havia ensinado a Davi o quão importante era o formato, o tamanho e a uniformidade da pedra para se alcançar êxito com uma funda. A funda era equipamento típico de um pastor. Era um bolso de couro amarrado a dois cordões. Colocando uma pedra no fundo, o atirador teria de girá-la sobre a cabeça para dar impulso. Ao soltar um dos cordões, a pedra era arremessada em direção ao alvo. Atiradores de fundas eram uma categoria comum de soldados nos exércitos do antigo Oriente Médio (Jz 20,16).

17.42 Era jovem ruivo e de gentil aspecto. Davi não tinha os sinais da idade e as cicatrizes pertinentes a um campeão de batalhas. Diferentemente de muitos soldados de Israel, Davi sequer tinha barba.

17.43, 44 A aparência de um menino como o desafiante ofendeu o orgulho de Golias. Posteriormente, Golias viu o cajado de pastor (v. 40) e ficou enraivecido porque Davi parecia pronto para enfrentar um cão em vez de um gigante. Amaldiçoou a Davi. Golias tratou Davi com desprezo. A expressão amaldiçoou é a mesma usada em Gênesis 12.3. Uma vez amaldiçoando uma pessoa do povo de Deus, Golias estava sujeito a ser amaldiçoado por Deus.

17.45 Em nome do Senhor dos Exércitos. A palavra Exércitos aqui se refere às milícias do céu e de Israel, sobre as quais Deus é o comandante soberano. A expressão nome do Senhor alude ao relacionamento e à aliança de Deus com o povo de Israel. Davi estava dependendo do poder de Deus, como guerreiro e defensor do povo dele (Êx 15.3).

17.46,47 Davi pretendia que a sua vitória demonstrasse a toda a terra que: (1) o Deus de Israel existe e (2) Deus livra os Seus, mesmo contra todas as probabilidades mais impressionantes. As palavras de Davi, do Senhor é a guerra , colocam o confronto na perspectiva correta.

17.48, 49 Apressou-se Davi e correu ao combate. Parte da estratégia de Davi era se adiantar em relação ao gigante. Guiado pelo Senhor, Davi, habilidosamente, atingiu o lugar certo na testa de Golias, com um lance poderoso e fatal.

17.50, 51 E lhe cortou [...] a cabeça. A cena foi uma vergonha para o exército inimigo e um sinal decisivo de que Golias estava morto, o que aterrorizou os filisteus.

17.52, 53 Os israelitas perseguiram os filisteus do norte, em direção a Ecrom, ao leste, e em direção a Gate. Cidade também mencionada em Josué 15.36, o nome Saaraim significa dois portões e fica próxima a Socó e Azeca.

17.54 Davi tomou a cabeça do filisteu e a trouxe a Jerusalém. Nesse tempo, uma parte de Jerusalém estava ocupada pelos israelitas, mas a cidade de Jebus ainda estava nas mãos dos jebuseus (Js 15.63). Mais tarde, ela foi tomada por Davi quando ele se tornou rei sobre toda a nação de Israel (2 Sm 5.6-9).

17.55 Abner, um dos chefes do exército de Saul, também era primo dele (1 Sm 14.50). Ele era um dos soldados experientes que ficou silencioso e inativo diante das palavras de afronta de Golias. De quem é filho este jovem? Como essa pergunta encaixa-se com o fato de Davi ter servido como músico na corte de Saul (1 Sm 16.18-23)? A instável condição mental de Saul (1 Sm 16.14,15) pode ter afetado sua memória. Ele pode ter reconhecido Davi como seu músico, mas ter esquecido o nome de seu pai. Saul precisava saber de qual família Davi pertencia para poder recompensá-la (v. 25). Também é possível que por trás da pergunta feita a Abner existisse o principal interesse de Saul: não apenas a identidade de Davi, mas sondar sobre a possibilidade de Davi ser um concorrente ao trono de Israel.

17.56-58 Filho de teu servo Jessé. Identificando o pai, Davi provavelmente pretendia enfatizar que Jessé não era uma ameaça ao rei, mas sim um servo fiel dele.

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