Salmos 69 — Comentário de Matthew Henry

Salmos 69 — Comentário de Matthew Henry
Comentário de Salmos 69

Versículos 1-12: Davi queixa-se de grande angústia; 13-21: Davi pede socorro a Deus; 22-29; Ele declara os juízos de Deus; 30-36: Conclui com gozo e louvor.

Vv. 1-12. Devemos frequentemente pensar na pessoa que sofre nesta passagem, da qual se fala, e perguntarmos: "Por quê?" e "O quê sofreu? Para quê", ao meditarmos nisto, sejamos mais humilhados pelo pecado, e mais convencidos do perigo que corremos, para que sintamos ainda mais gratidão e amor, que nos leve a viver para a glória do Senhor que morreu pela nossa salvação. Daqui, aprendemos que quando estamos aflitos, temos que encomendar o cuidado de nossa alma a Deus, para que não sejamos angustiados pelo descontentamento, nem naufraguemos no desespero.

Davi foi odiado malignamente, mas estas palavras aplicam-se com mais propriedade a Cristo. Em um mundo onde a injustiça reina tão fortemente, não devemos nos assombrar se nos encontrarmos com a maldade dos nossos inimigos. cuidemos para que nunca façamos o mal; então, caso recebamos o mal, poderemos tolerá-lo melhor. Através da obra que o Senhor Jesus Cristo realizou, com o derramamento de seu sangue por nossos pecados, restaurou o que nos foi retirado, pagou a nossa dívida e sofreu pelas nossas ofensas. Ainda que possamos alegar inocência pelas acusações injustas dos homens, diante do Senhor Deus devemos reconhecer-nos merecedores de tudo o que nos é acarretado. Todos os nossos pecados surgem a partir de nossas atitudes néscias. Todos são praticados perante os olhos de Deus.

Davi queixa-se da hostilidade de seus amigos e parentes. Isto se cumpriu em Cristo, cujos irmãos não lhe deram crédito, e foi abandonado por seus discípulos.

Cristo fez a expiação por nós, não somente quando se despojou das honras que a Ele são devidas por ser Deus, mas também quando se submeteu às maiores desonras que poderiam ser feitas a um homem. Não teremos que nos desanimar se o nosso zelo pelas verdades, preceitos e pela adoração a Deus provocarem a alguns, e fizerem com que outros zombem de nossa santa tristeza, e de que estejamos mortos para o mundo.

Vv. 13-21. Não importa quão profundas sejam as águas de aflição ou de tentação pelas quais sejamos afligidos; não importam quantos sejam os dilúvios de problemas ou de homens ímpios que pareçam estar dispostos a abater-nos; perseveremos em oração diante do Senhor para que Ele nos salve. Os sinais do favor de Deus para conosco são suficientes para impedir que o nosso espírito soçobre nos problemas externos mais profundos. se pensarmos bem em Deus, e continuarmos assim ante as maiores penúrias, não teremos o que temer, mas saberemos que Ele nos fará o bem. E, se a qualquer momento formos chamados a sofrer censuras e vergonhas por causa de Cristo, isto poderá ser o nosso consolo: Ele o sabe. Os que valorizam um bom nome sentem-se incomodados pela opressão por causa de um mau nome; porém, quando pensamos que favor é ser considerados dignos de sofrer vergonha por causa do nome do Senhor Jesus, veremos que não há razões para que isto faça com que o nosso coração se desfaleça.

Aqui, os sofrimentos de Cristo são anunciados detalhadamente, o que prova que as Escrituras são a Palavra de Deus; e por estas profecias terem-se cumprido exatamente em Jesus Cristo, ficou provado que Ele é o verdadeiro Messias. O vinagre e o fel que lhe deram eram uma fraca figura do cálice amargo que Ele bebeu, para que nós recebêssemos o cálice da salvação. Podemos esperar pouco dos homens, pois todos são consoladores molestos: podemos esperar muito do Deus de todo consolo e bondade.

Vv. 22-29. Estas profecias mostram a destruição dos perseguidores de Cristo. Os vv. 21 e 23 aplicam-se aos juízos de Deus contra os judeus incrédulos (Rm 11.9,10). Quando o sustento da vida e o prazer dos sentidos constituem-se em alimento e combustível para o pecado, por causa da corrupção de nossa natureza humana, então a nossa mesa se transforma em um ardil.

O pecado deles não foi que não vieram, mas que fecharam os seus olhos à luz, e amaram mais as trevas; o castigo deles não é que não verão, mas que serão entregues à concupiscência de seus próprios corações, os responsáveis por colocá-los nesta situação embaraçosa.

Os que rejeitam a grande salvação oferecida por Deus podem temer justamente que a sua indignação seja derramada sobre eles. se os homens pecarem, o Senhor levará isso em conta. Porém, mesmo os que têm pecado excessivamente ainda poderão encontrar misericórdia através da justiça do mediador. Deus a ninguém exclui desta justiça; o Evangelho a ninguém exclui, mas é possível que as pessoas se excluam por incredulidade. Os que são orgulhosos e soberbos, e que não se encaminham rapidamente à justiça de Deus, sofrerão a devida condenação. Eles mesmos a escolhem. Os que não se alegram por estar em dívida para com a salvação, não devem esperar ter algum proveito dela.

É melhor estar pobre e triste, mas ter a bênção do Senhor, do que rico e de bom humor e encontrar-se sob a maldição dEle. Isto pode ser aplicado a Cristo, quando esteve na terra; o varão de dores que não tinha onde reclinar a sua cabeça; porém, Deus o exaltou. Invoquemos ao Senhor, e a sua salvação nos elevará, ainda que estejamos pobres e tristes, culpáveis e corruptos.

Vv. 30-36. O salmo que começou com queixas por seu pesar é concluído pelo salmista com santo gozo e louvor. Um grande consolo para nós é que os louvores humildes e agradecidos agradam mais a Deus do que os sacrifícios mais dispendiosos e ostentadores. O humilde olhará para o Senhor e alegrar-se-á; os que buscam a Deus através de Jesus Cristo viverão e serão consolados.

Deus fará grandes coisas pela Igreja; nisto devem regozijar-se todos os que desejam o bem. Uma semente o servirá na terra, e os seus servos herdarão o reino celestial. Os que amam o seu nome habitarão na presença dEle para sempre. "Aquele que nem mesmo a seu próprio Filho poupou, antes, o entregou por todos nós, como nos não dará também com ele todas as coisas?" Levanta-te tu, Grande Restaurador dos lugares antigos para habitar neles, e aparta a impiedade de teu povo.