Salmos 119 — Comentário de Matthew Henry

Salmos 119 — Comentário de Matthew Henry
Comentário de Salmos 119

O escopo e desígnio geral deste salmo é magnificar a lei divina, e mostrar que esta é digna de honra.

Existem dez palavras pelas quais se nomeia a revelação divina neste salmo, e cada uma delas expressa o que o Senhor espera de nós, e o que podemos esperar dEle.

A lei de Deus: é proclamada por Ele, porque é o nosso soberano.

O seu caminho: é a regra de sua providência.

Os seus testemunhos: são solenemente declarados ao mundo.

Os seus mandamentos: são dados com autoridade.

Os seus preceitos: não são deixados como questão indiferente para nós.
A sua Palavra ou o que Ele disse: são declarações de sua mente.

Os seus juízos; emoldurados em infinita sabedoria.

A sua justiça: é a regra e norma de tudo o que bom.

Os seus estatutos: são sempre obrigatórios.

A sua verdade ou fidelidade: é a verdade eterna que durará para sempre.

Vv. 1-8. Este salmo pode ser considerado como a declaração da experiência do crente. Até onde os nossos pontos de vista, desejos e afetos concordem com o que se expressa aqui, eles vêm da influência do Espírito Santo, e de nenhuma outra parte. A misericórdia de Deus, que perdoa em Cristo Jesus, é a única fonte de felicidade para o pecador. Os que são preservados e livres da contaminação do pecado, e os que simplesmente crêem nos testemunhos de Deus e confiam em suas promessas, são mais felizes. É mal quando o coração está dividido entre Deus e o mundo, e os santos devem evitar cuidadosamente todo o tipo de pecados. Estão conscientes da grande quantidade de males que procura afastá-los do caminho de Deus; porém, muitas vezes não estão atentos a esta iniquidade que é capaz de arrancá-los de seus caminhos.

O tentador quer que os homens pensem ter a liberdade de seguir ou não a Palavra de Deus, conforme o que lhes agrade. Porém, o desejo e a oração do homem bom está de acordo com a vontade e o mandamento de Deus.

Se algum homem pensar que, por obedecer a algum mandamento, adquirirá uma indulgência para desobedecer a outros, a sua hipocrisia tornar-se-á evidente; se não for envergonhado neste mundo, a vergonha eterna será a sua porção.

O salmista tinha o anseio de aprender a lei de Deus, e dar a glória a Ele. E os crentes sabem que se forem abandonados por Deus, o tentador será extremamente duro para com eles e os destruirá.

Vv. 9-16. Todos temos acrescentado nossos pecados à maldade do coração humano. Os jovens se arruinarão se viverem sem lei alguma, ou se escolherem falsas doutrinas; para que sejam felizes, deverão andar conforme as regras das Escrituras. Duvidar de nossa própria sabedoria e forças, e depender de Deus, prova que o propósito da santidade é sincero.

A Palavra de Deus é um tesouro digno de ser guardado, e não há onde guardá-lo com segurança se não for em nossos corações, para que possamos colocar os preceitos de Deus em oposição ao domínio do pecado, as promessas de Deus em oposição à sedução do pecado, e as suas ameaças em oposição à violência do pecado.

Que a nossa oração seja para Ele nos ensinar os seus estatutos, a fim de que, participando de sua santidade, possamos igualmente ser integrantes de sua bem-aventurança. E os que alimentam o seu coração com o Pão da vida devem alimentar a muitos com as palavras de seus lábios.

No caminho dos mandamentos de Deus estão as inescrutáveis riquezas do Senhor Jesus Cristo. Porém, não pensaremos nos preceitos de Deus para um bom propósito, se os nossos bons pensamentos não produzirem boas obras.

Não somente meditarei nos teus estatutos; porém, os cumprirei com gozo. E bom será provarmos a sinceridade de nossa obediência, quando destacamos a sua fonte: a realidade de nosso autor pelo gozo nos deveres que nos são atribuídos.

Vv. 17-24. Se Deus nos tratasse exatamente conforme a justiça, todos nós pereceríamos. Devemos passar a nossa vida a seu serviço; encontraremos a verdadeira vida ao cumprirmos a sua Palavra.

Os que contemplam as maravilhas dos mandamentos e do próprio Evangelho de Deus, devem pedir-lhe entendimento através do Espírito Santo.

Os crentes sentem-se forasteiros na terra, e temem perder o seu caminho e o consolo por errarem em relação aos mandamentos de Deus.

Toda alma santificada sente fome da Palavra de Deus, como um alimento sem o qual não há vida.
Existe uma grande quantidade de orgulho no fundo de cada pecado voluntário. Deus pode silenciar os lábios mentirosos; o opróbrio e o menosprezo são capazes de nos humilhar e fazer-nos bem e, então, serem retirados de nossa vida. Pensamos que o peso da cruz está acima do que somos capazes de suportar? AquEle que a suportou por nós há de nos capacitar para que a suportemos; sustentados por Ele, jamais naufragaremos.

É triste quando os que deveriam proteger o inocente tornam-se os seus traidores. O salmista prosseguiu no cumprimento de seu dever, e encontrou consolo na Palavra de Deus.

O consolo da Palavra de Deus é uma delícia para a alma bondosa, quando os outros consolos se tornam amargos. E os que desejam que os testemunhos de Deus sejam a sua delícia, devem ser aconselhados por estes. Que o Senhor nos dirija para que possamos exercer o arrependimento pelos nossos pecados e a fé em Cristo.

Vv. 25-32. Enquanto as almas dos filhos deste mundo apegam-se fortemente à terra como a sua porção, os filhos da luz sentem-se muito carregados pelos vestígios dos afetos carnais de seus corações. É um consolo indescritível para uma alma bondosa pensar com quanta ternura as suas queixas são recebidas pelo Deus da graça. Podemos falar melhor das maravilhas do amor redentor, quando compreendemos o caminho dos mandamentos de Deus e andamos nesta direção.

O arrependido desfaz-se em ansiedade por causa do pecado; até o espírito paciente pode desmanchar-se por sentir a aflição; então, é importante que derrame a sua alma na presença de Deus. O caminho da mentira representa todos os percursos falsos pelos quais os homens enganam-se a si mesmos e aos demais, ou são enganados por Satanás e seus instrumentos. Os que conhecem e amam a Lei do Senhor desejam conhecê-la ainda mais, e amá-la melhor.

O caminho da verdadeira santidade é o percurso da verdade; o único caminho verdadeiro à felicidade. Devemos ter sempre presente a consideração por ele. Os que se aderem à Palavra de Deus podem, em fé, esperar e orar pela aceitação de Deus. Senhor, jamais permita que eu faça o que me envergonhará, e não rejeites os meus serviços.

Os que caminham em direção ao céu precisam sempre seguir adiante. Deus, por seu Espírito, alarga o coração de seu povo quando lhes dá sabedoria. O crente ora a fim de rogar o livramento do pecado.

Vv. 33-40. Ensina-me os teus estatutos, não somente as palavras, mas o modo de aplicá-las à minha vida. Deus, pelo Espírito Santo, dá entendimento reto. Porém, somente o espírito de revelação da Palavra não bastará se não tivermos o espírito de sabedoria em nosso coração.

Deus coloca o seu Espírito dentro de nós, e faz com que andemos em seus estatutos.

O pecado contra o qual aqui se ora é a cobiça. Os que desejam que o amor de Deus se arraigue neles devem desarraigar de si mesmos o amor pelo mundo, porque a amizade do mundo é inimizade contra Deus.

Vivifica-me em teu caminho, para que eu redima o tempo, e faça todo o dever com espírito vivo. Contemplar a vaidade nos mortifica e atrasa o nosso ritmo; o viajante não deve parar nora olhar os detalhes da estrada durante a sua viagem.

As promessas da Palavra de Deus estão fortemente relacionadas à preservação do verdadeiro crente. Quando Satanás leva algum dos filhos de Deus a comprometer-se com o mundo, censurará as quedas às quais ele mesmo o levou. A vitória deve vir sempre da cruz do Senhor. Quando desfrutarmos a doçura dos preceitos de Deus, Ele fará com que anelemos conhecê-lo ainda mais. E onde Deus produziu o querer, também produzirá o efetuar.

Vv. 41-48. Senhor, pela fé tenho em vista as tuas misericórdias; permita-me que prevaleça em oração, para que possa obtê-las. E quando estiver completa a salvação dos santos, tornar-se-á claramente manifesto que jamais é vão confiar na Palavra de Deus.

Devemos orar para que nunca nos intimidemos ou envergonhemos de reconhecer as verdades e os caminhos de Deus diante dos homens. O salmista decide obedecer à lei de Deus constantemente, sem desviar-se.

Servir ao pecado é escravidão; servir a Deus é ter liberdade. Não existe felicidade completa nem liberdade perfeita, senão quando obedecemos à lei de Deus. Jamais devemos nos intimidar nem nos envergonhar de reconhecer a nossa religião.

Quanto mais deleites tivermos a serviço de Deus, mais próximos estaremos da perfeição. Não concordemos com sua lei somente pelo fato de ela ser boa; tenhamos nela prazer por ser boa para nós. Empreguemos todas as nossas forças para cumpri-la. Em todos os verdadeiros discípulos de Cristo existe este pensamento cristão.

Vv. 49-56. Os que fazem das promessas de Deus a sua porção, podem fazer destas a sua oração com humilde ousadia. O que gera a fé em nós através de seu Espírito trabalhará também a nosso favor.

A Palavra de Deus fala de consolo em meio às aflições. se faz de nós santos por sua graça, existe nela o suficiente para dar-nos o bem-estar em todas as circunstâncias. Estejamos seguros de ter a lei divina como aquilo em que cremos e, então, não deixemos que os escarnecedores prevaleçam sobre nós, para que a deixemos. Os antigos juízos de Deus nos consolam e exortam, porque Ele continua eternamente o mesmo.

O pecado é horrível aos olhos de todos os que são santificados. Antes que passe muito tempo, o crente ausentar-se-á do corpo e estará presente com o Senhor. Enquanto isto, os estatutos do Senhor oferecem o tema para louvores de gratidão a Ele. Nas épocas de aflição e nas horas silenciosas da noite, ele se lembra do nome do Senhor, e é estimulado a obedecer à lei.

Todos os que têm colocado a religião em primeiro lugar admitirão que são beneficiados por ela inexprimivelmente.

Vv. 57-64. Os verdadeiros crentes tomam o Senhor como a porção de sua herança, e nada menos do que isto os satisfaz. O salmista ora com todo o seu coração, ciente de como valorizar a bênção pela qual ora; ele deseja a misericórdia prometida e depende da promessa para recebê-la. Ele deixou o seu caminho desviado, e regressou aos testemunhos de Deus. O Senhor Deus não tardou. É dever dos pecadores apressarem-se a escapar, e o crente será igualmente apressado para glorificar a Deus.

Nenhuma preocupação ou tristeza deve tirar de nossa mente a Palavra de Deus, nem colocar obstáculos ao consolo que Ele dá. Não há na terra alguma situação em que o crente não tenha motivos para estar agradecido. Sintamo-nos envergonhados de que existam pessoas mais dispostas a deixar de dormir, a fim de passar o seu tempo em prazeres pecaminosos, e com uma disposição maior do que aquela que nós temos para louvar a Deus. E devemos orar com mais fervor, para que os nossos corações sejam cheios de sua misericórdia, graça e paz.

Vv. 65-72. Seja como for que Deus nos trata, atende-nos melhor do que merecemos. E tudo por amor, e para o nosso bem. Muitos possuem conhecimento, mas pouco juízo; os que possuem ambos estão fortalecidos contra os laços de Satanás, e equipados para o serviço a Deus.

Temos a forte tendência de desviarmo-nos de Deus quando vivemos confortavelmente neste mundo. Devemos deixar as nossas preocupações à disposição de Deus, cientes de que não sabemos o que é melhor para nós mesmos.

Senhor, tu és o nosso generoso Benfeitor; incline os nossos corações à fé e à obediência. O salmista prosseguirá no cumprimento de seu dever, constante e decididamente. O que é orgulhoso tem o seu coração cheio com as coisas do mundo, com suas riquezas e prazeres; isto o torna insensato, seguro e néscio.

Deus permite que o seu povo sofra aflições, para que aprenda os seus estatutos. Não somente as promessas de Deus são desejáveis e proveitosas, mas também a sua lei; os seus preceitos, ainda que duros para os ímpios, nos dirigem com segurança e deleite à vida eterna.

Vv. 73-80. Deus nos criou para que o sirvamos e desfrutemos a sua presença; porém, devido ao pecado, tomamo-nos inaptos para tal. Portanto, temos que buscá-lo continuamente por seu Espírito Santo, para que nos dê entendimento.

As consolações que alguns possuem em Deus devem ser motivo de gozo para os demais. Contudo, é fácil reconhecer que os juízos de Deus são justos quando chegar a nossa vez de fazê-lo. Todo o apoio, quando estamos submetidos à aflição, deve proceder da misericórdia e compaixão. As misericórdias de Deus são ternas, como a compaixão de um pai ou de uma mãe por seu filho. Elas nos alcançam quando não somos capazes de ir a elas.

A censura infundada não fere e nem deve comover-nos. O salmista pode andar pelo caminho de seu dever, e encontrar consolo nEle. Valoriza a boa vontade dos santos, e está desejoso de manter a sua comunhão com eles.

A saúde de coração significa sinceridade na dependência de Deus, e dedicação a Ele.

Vv. 81-88. O salmista buscou a libertação de seus pecados, de seus inimigos e de seus temores. A esperança demorada o enfraqueceu; os seus olhos falharam ao contemplar a sua esperada salvação. Não obstante, quando os olhos falham, a fé não deve duvidar. A sua aflição era grande. Chegaria a ser como um odre de couro que, se for pendurado sobre o fogo, seca-se e enruga-se.

Devemos sempre considerar os estatutos de Deus. Os dias de lamento do crente terminarão. Estes não são senão um momento, quando comparados com a felicidade eterna. Os seus inimigos recorreram à astúcia e à força, para destruí-lo, ao depreciar a lei de Deus.

Os mandamentos de Deus são guias verdadeiros e fiéis na senda da paz e segurança. Podemos esperar melhor ajuda de Deus quando, do mesmo modo que o nosso Mestre, fazemos o bem e sofremos por isto. Os ímpios podem até consumir o crente na terra, mas este deixará tudo antes de abandonar a Palavra do Senhor.

Devemos depender da graça de Deus, a fim de ter forças para realizar todas as boas obras. O sinal mais seguro da boa vontade de Deus para conosco é a sua boa obra em nós.

Vv. 89-96. A estabilidade da Palavra de Deus no céu contrasta com as transformações e revoluções na terra. E os compromissos do pacto de Deus estão mais firmemente estabelecidos do que a própria terra.

Todas as criaturas respondem à finalidade de sua própria criação: o homem, que é o único dotado de razão, seria apenas uma carga sem qualquer proveito na terra? Podemos fazer da Bíblia sagrada uma companhia agradável em todos os momentos. Porém, somente a Palavra sem a graça de Deus não nos vivificará. Observemos a melhor ajuda para as más recordações, a saber, os bons afetos; e mesmo que se percam as palavras exalas, se o significado permanecer, tudo estará bem.

Eu sou teu, não pertenço a mim mesmo e nem ao mundo; salva-me do pecado, salva-me da ruína. O Senhor guardará em perfeita paz aquele cujo pensamento persevera nEle.

Uma perfeição da qual se vê o fim não é uma verdadeira perfeição. Assim são todas as coisas deste mundo, as que se passam por perfeitas. A glória do homem não é senão como a flor da erva. O salmista viu a plenitude da Palavra de Deus e a sua suficiência. A Palavra de Deus chega a todos os casos, em todas as épocas. Ela retirará de nós toda a confiança que depositamos no homem, ou em nossa própria sabedoria, força e justiça. Deste modo, procuraremos somente o consolo e a felicidade no Senhor Jesus Cristo.

Vv. 97-104. Gostamos de pensar no que amamos. Toda verdadeira sabedoria pertence a Deus. O homem bom leva a sua Bíblia consigo, em suas mãos, e com toda a certeza, em sua mente e em seu coração.

Por meditarmos nos testemunhos de Deus, temos mais entendimento do que nossos professores que não meditam nestes, e somos capazes de compreender o nosso próprio coração. A Palavra escrita é um guia seguro para que possamos ir ao céu, superior a todos os nossos conselheiros, professores e pastores da igreja.

Não podemos atender a Deus nos deveres sagrados, com algum consolo ou franqueza, enquanto formos culpáveis ou estivermos de algum modo desviados. O que capacitou o salmista para receber estas instruções foi a graça divina em seu coração.

A alma tem os seus prazeres, assim como o corpo possui os seus. O nosso deleite pela Palavra de Deus será maior quando menor for o nosso deleite pelo mundo.

O caminho do pecado é um mau percurso; e quanto mais entendimento alcancemos dos preceitos de Deus, mais arraigado será o nosso ódio em relação ao pecado. Assim, mais preparados estaremos nas Escrituras, o que nos tornará melhor equipados para respondermos às tentações.

Vv. 105-112. A Palavra de Deus nos dirige em nossa obra e caminho, e, sem ela, o mundo seria lugar tenebroso. O mandamento é a lâmpada que se mantém acesa com o óleo do Espírito, como a luz que nos dirige a escolher o nosso caminho, e os passos que damos neste percurso.

Aqui faz-se alusão à obediência aos mandamentos de Deus, por parte do pecador submetido uma dispensação de misericórdia, e à obediência do crente participante do pacto da graça.

O salmista é frequentemente afligido; porém, possui o anelo de chegar a ser mais santo. Diariamente eleva a Deus orações em que pede a graça vivificante. Nada podemos oferecer a Deus que lhe seja aceitável, a não ser o que Ele mesmo se compraza a nos ensinar a fazer.

Ter a nossa alma ou vida sempre em nossas mãos indica o perigo constante da vida. Contudo, o salmista não se esquecia das promessas e nem dos preceitos de Deus. As armadilhas colocadas pelos ímpios são inumeráveis; feliz é o servo de Deus a quem estas não fizeram errar, em relação aos preceitos do Senhor seu Deus.

Os tesouros celestiais são uma herança eterna; todos os santos os aceitam como tais; portanto, podem contentar-se com pouco neste mundo.

Devemos buscar consolo somente no caminho do dever, e esta obrigação deve ser cumprida. Pela graça de Deus, o homem bom coloca o seu coração em sua obra que, então, se cumpre satisfatoriamente.

Vv. 113-120. Aqui há estremecimento por causa da aparição do pecado, e de seus primeiros sinais. Quanto mais amemos a lei de Deus, mais atentos estaremos, para que os pensamentos vãos não nos arrastem para longe do que amamos. Se quisermos progredir na obediência aos mandamentos de Deus, devemos nos separar dos malfeitores.

O crente não pode viver sem a graça de Deus; porém, sustentado pela mão divina, a sua vida espiritual será mantida. A nossa santa segurança está fundamentada no apoio divino. Todo afastamento dos estatutos de Deus é um erro, e o seu resultado será fatal.

A astúcia deles é falsidade, virá o dia em que os ímpios serão arrojados ao fogo eterno, que é o lugar apropriado para a escória. Observemos o resultado do pecado. Certamente os que reduzem muito os seus afetos devotos devem temer, para que não aconteça que, ao restar-nos ainda a promessa de entrarmos no repouso celestial, algum de nós não o alcance (Hb 4.1).

Vv. 121-128. Bem-aventurado é o homem que, ao agir de acordo com os princípios do Evangelho, faz justiça a todos os que o rodeiam. O Senhor Jesus Cristo, nossa segurança, assegura todas as bênçãos da salvação para cada verdadeiro crente, ao pagar a nossa dívida e o nosso resgate. O salmista aguarda pela palavra da justiça de Deus, e não almeja outra salvação a não ser a que seja assegurada por esta Palavra, a qual não pode cair por terra.

Não merecemos o favor de Deus. Estamos muito bem quando nos arrojamos à misericórdia de Deus, e referimo-nos a ela, se qualquer pessoa decide fazer a vontade de Deus como seu servo ou sua serva, os seus testemunhos lhes serão dados a conhecer. Devemos fazer tudo o que nos seja possível, para que a religião seja sustentada e, depois de tudo, devemos rogar a Deus para que tome a obra em suas mãos. Seria hipocrisia dizer que amamos a obra de Deus muito mais do que o ouro fino, se não valorizássemos á causa da verdadeira religião, acima dos nossos interesses mundanos.

O caminho do pecado é um percurso falso, e é diretamente contrário aos preceitos coretos de Deus. Os que amam e estimam a lei de Deus odeiam o pecado, e não se reconciliarão com este.

Vv. 129-136. As maravilhas do amor redentor farão com que o coração se apegue firmemente à sua adoração. As Escrituras mostram-nos o que éramos, o que somos, e o que seremos. Mostram-nos a misericórdia e a justiça do Senhor, o gozo que existe no céu e as dores que há no inferno. Desta maneira, em poucos dias dão ao simples um entendimento nestes assuntos, que os filósofos buscaram em vão durante séculos.

O crente, angustiado por causa das preocupações da vida, e por seus conflitos com o pecado, suspira pelos consolos que a Palavra Sagrada lhe transmite. E cada um de nós deve orar: "Senhor, contempla-me e seja misericordioso para comigo, como costumas ser para com os que amam o teu nome".

Devemos implorar que o Espírito Santo ordene os nossos passos. O domínio do pecado deve ser temido, e todos nós devemos orar contra ele. A opressão que vem da parte dos homens costuma ser maior do que a que a carne e o sangue são capazes de suportar. E aquEle que conhece o nosso ser não se recusará a retirá-la, em resposta à oração de seu povo.

Qualquer que seja a obscuridade dos crentes que viveram nos tempos do Antigo Testamento quanto à fé, a sua confiança diante do trono da graça pode ser explicada somente porque, mediante os sacrifícios e o serviço de sua lei, contemplaram os privilégios do

Evangelho miais claramente do que o que se imagina. Devemos seguir ao mesmo lugar, invocar os nomes e os méritos de Jesus, e isto não será em vão. É comum que onde exista um coração que tenha a graça, haja olhos que chorem. Aceita, ó Senhor, as lágrimas que o nosso bendito Redentor derramou nos dias de sua vida na terra a nosso favor, e que devamos chorar por nossos irmãos ou por nós mesmos.

Vv. 137-144. Deus jamais fez nem fará o mal a alguém. As promessas são fielmente cumpridas por aquEle que as fez.

O zelo contra o pecado deve constranger-nos a fazer todo o possível contra este. Que ao menos façamos mais na religião. O nosso amor pela Palavra de Deus é prova de nosso amor para com Ele, porque ela está escrita de tal maneira que nos torne participantes de sua santidade.

A excelência real dos homens sempre os rebaixa diante de seus próprios olhos. Quando somos pequenos e desprezados, temos mais necessidade de nos lembrar dos preceitos de Deus para que o tenhamos como nosso apoio. A lei de Deus é a verdade, a norma de santidade e regra da felicidade; porém, somente a obediência a Cristo é capaz de justificar o crente.

Os sofrimentos são, vez por outra, a sorte de alguns dos santos neste vale de lágrimas; eles estão aflitos por causa de muitas tentações. Existem na Palavra de Deus delícias que os santos desfrutam com frequência e com doçura, quando estão em problemas e angústias.

Esta é a vida eterna: conhecer a Deus e a Jesus Cristo, a quem Ele enviou (Jo 17.3). Vivamos aqui a vida de fé e graça, e sejamos levados à gloriosa vida que está preparada no porvir.

Vv. 145-152. As súplicas de todo o coração são apresentadas somente pelos que desejam a salvação que é dada por Deus, e que amam os seus mandamentos. Para onde irá o filho senão a seu pai? Salva-me dos meus pecados, corrupções, tentações e todos os obstáculos em meu caminho, para que possa guardar os teus testemunhos.

Os cristãos que desfrutam de saúde não devem tolerar que passem as primeiras horas da manhã, sem que tirem destas o melhor proveito possível. A esperança na Palavra de Deus nos dá ânimo para que continuemos em oração. É melhor reduzir o tempo de nosso sono, do que não encontrarmos tempo para orar. Teremos acesso a Deus durante todo o dia, se os nossos primeiros pensamentos ao amanhecer forem dirigidos a Ele. Eles nos ajudarão a mantermo-nos em seu temor durante todo o dia.

Torna-me vivificado e alegre. Deus sabe de que necessitamos, e conhece o que é bom para a nossa vida e que nos vivifica.

Se estamos ocupados a serviço de Deus, não temos que temer os que procuram colocar-se o mais distantes possível do alcance das ordenanças e mandamentos de sua lei.

Quando os problemas estão perto de nós, Deus também está. Ele jamais está tão longe que não possamos buscá-lo. Todos os seus mandamentos são verdade, a suas promessas hão de se cumprir. Todos os que têm confiado em Deus concluirão que Ele é fiel.

Vv. 153-160. Quanto mais nos apeguemos à Palavra de Deus, como nossa regra e o nosso apoio, mais segurança teremos de libertação.

O Senhor Jesus Cristo é o Advogado de seu povo, o seu Redentor. Os que foram vivificados por seu Espírito e graça, quando estavam mortos nos delitos e pecados que praticaram, precisam frequentemente que a obra da graça seja reavivada neles, conforme a Palavra da promessa. Além do ímpio não cumprir os estatutos do Senhor Deus, nem sequer procura conhecê-los. Afagam-se a si mesmos na esperança de irem ao céu; porém, quanto mais tempo persistam no pecado, o céu se afastará mais deles.

As misericórdias de Deus são ternas, uma fonte que jamais se esgotará. O salmista pede a graça vivificante de Deus, que é capaz de renová-lo. O homem constante no caminho de seu dever não deve temer a ninguém, ainda que tenha muitos inimigos.

Os que verdadeiramente odeiam o pecado, odeiam-no como pecado, como transgressão da lei divina e como a infração de sua Palavra. A nossa obediência agrada a Deus, e a nós, somente quando provêm de um princípio de amor. Todos os que recebem ou obtiveram, em todas as épocas a Palavra de Deus com fé e amor, descobrem que tudo o que se diz nesta é fiel.

Vv. 161-168. Aqueles cujos corações reverenciam, sobressaltados, a Palavra de Deus, preferem suportar a ira do homem a infringirem a lei de Deus. Através da Palavra de Deus somos beneficiados grandemente.

Todo homem odeia que mintam para ele; porém, devemos odiar ainda mais o ato de proferir mentiras, pois através delas afrontamos a Deus. Quanto mais contemplemos a beleza da verdade, mais capazes seremos de identificar e ver a odiosa deformação que é a mentira. Precisamos louvar a Deus até pelos momentos difíceis e de aflição que enfrentamos, porque através de sua graça alcançaremos o bem.

Os que amam o mundo são muito confundidos, porque este não tem as respostas para os seus anseios; os que amam a Palavra de Deus têm grande paz porque esta supera todas as suas expectativas. Aqueles em quem este santo amor reina, não serão confundidos por escrúpulos desnecessários, nem se ofenderão com os seus irmãos.

Uma boa esperança de salvação compromete o coração para executar os mandamentos. E o nosso amor pela Palavra de Deus deve submeter a nossa luxúria, e desarraigar os nossos afetos carnais; devemos fazer um trabalho de coração; caso contrário, não teremos qualquer proveito.

Devemos guardar os mandamentos de Deus, e obedecer-lhes, bem como as promessas de Deus, confiantes nelas. O olhar de Deus está sobre nós em todos os momentos. Este fato deve fazer com que sejamos muito cuidadosos na obediência aos seus mandamentos.

Vv. 169-176. O salmista desejava graça e força para elevar as suas orações, e que o Senhor as recebesse e as considerasse. Desejava saber mais a respeito de Deus em Cristo Jesus; entender mais sobre as doutrinas da Palavra, e dos deveres da religião.

Tinha um profundo sentimento de indignidade, e um santo temor de que a sua oração não chegasse à presença de Deus: "Chegue a minha súplica perante a tua face; livra-me segundo a tua Palavra".

Se não aprendermos a louvar ao Senhor, nada compreenderemos adequadamente. Devemos sempre fazer com que a Palavra de Deus seja a regra de nosso discurso, para que jamais a transgridamos através de um falar pecaminoso, ou de um silêncio culpável.

As suas próprias mãos são insuficientes, e a criatura tampouco é capaz de prestar-lhe qualquer auxílio. Portanto, a criatura olha para Deus em busca do auxílio da mão que a criou. Decidiu que a fé seria a sua opção.

Existe uma salvação eterna pela qual todos os santos anelam; portanto, oram para que Deus lhes ajude em seu caminho a ela. Que os teus juízos me ajudem; que todas as ordenanças e todas as providências (ambas são juízos de Deus) me ajudem a crer na glorificação de Deus; que me dêem a ajuda necessária para realizar esta obra.

Vez por outra olha para trás, para o patrimônio que perdeu, com vergonha e gratidão. Ora ainda pelo terno cuidado do que comprou o seu rebanho com o seu próprio sangue, para que possa receber dEle a dádiva da vida eterna. Busque-me, isto é, encontre-me, porque Deus jamais busca em vão. Faça com que eu retorne, e de fato retornarei.

Que este salmo seja o critério pelo qual julguemos os nossos corações e a nossa vida. Os nossos corações, limpos pelo sangue de Cristo, apropriam-se destas orações, resoluções e confissões? A Palavra de Deus é a norma de nossa fé e a lei que rege os nossos costumes? Utilizamo-la como argumento para com o Senhor Jesus Cristo, pelo que necessitamos? Bem-aventurados são os que vivem em tais exercícios deleitosos.