Interpretação de Números 1 e 2
Primeira Parte.
Israel no Deserto. 1:1 – 22:1.
I. Primeiro
Recenseamento, no Deserto de Sinai. 1:1 - 4:49.
O cenário é o
Sinai, uns dez meses depois que Israel chegou ali (Êx. 19:1). Faltavam apenas
dezenove dias para a nuvem se levantar de sobre o Tabernáculo e Israel começar
a viagem para a Terra Prometida (Nm. 10:11). Considerando que o povo teria de
enfrentar um deserto estéril e resistência inimiga rija, havia necessidade de
um acampamento bem organizado.
Interpretação
de Números 1
A.
Recenseamento dos Soldados de Israel. 1:1-54.
1. Falou o
Senhor a Moisés. Esta
fórmula foi usada mais de. oitenta vezes no Livro de Números. Se esta obra não
fosse de Moisés, seria necessário aceitar que o escritor destas palavras foi um
impostor. No segundo ano . . . segundo mês. Exatamente um mês depois que
o Tabernáculo foi levantado (Êx. 40:1,17). Números 7:1 e 9:1, 15 referem-se ao
primeiro dia do primeiro mês, antedatando este versículo inicial de um mês. Os
sacerdotes e o Tabernáculo foram consagrados nesse mês Números (Êx. 40; Lv. 8);
os príncipes trouxeram suas ofertas nesse mês (Núm. 7); e comemorou-se então a
primeira Páscoa. (9: 1-14).
2. Levantai o
censo de toda a congregação. O Tabernáculo, recém-terminado,
tomou-se o centro do acampamento. O exército tinha de ser organizado e todo o
acampamento arrumado e disposto como uma organização religioso-civil e militar;
por isso a necessidade básica de um recenseamento. A palavra ro'sh,
censo, comumente significando "cabeça", foi traduzida para número em
I Cr. 12:23. Do mesmo modo cabeça refere-se à contagem propriamente dita dos
indivíduos ou cabeças (gulgelot, "crânio").
3. Da idade de
vinte anos para cima, todos os capazes de sair à guerra. Esta
terminologia, usada quatro vezes através de todo o capítulo, torna claro que o
recenseamento tinha propósito militar. Os levitas não militares tiveram um
recenseamento separado (1:47-49; 3:14-51).
5. Estes... são
os nomes dos homens. Tentativas
de provar que a lista (vs. 5-15) "não é histórica" não têm o apoio
dos dados concretos. O uso abundante do nome divino El (Eliabe, Pagiel, etc. )
não indica de modo nenhum uma autoria posterior (ICC, Numbers, págs. 6,
7), pois o nome é livremente usado em nomes pessoais nos textos ugaríticos de
cerca de 1400 A.C. Também o composto Shaddeiy (como em Zurisadai, v. 6)
aparece em um nome pessoal de uma estatueta dos fins do século quatorze (Wm. F.
Albright, The Biblical Period, pág. 7).
18. Declararam
a descendência deles. Para a mente semítica, conhecer a genealogia de
alguém é mais importante do que saber a data do seu nascimento ou sua idade.
Por isso temos as longas genealogias da Bíblia, que foram usadas, finalmente,
para traçar a descendência do Messias através de Abraão, Judá e Davi, de acordo
com as promessas de Deus.
19 Assim os
contou. Este
verbo peiqad tem um amplo significado. Aqui significa "passar em
revista", ou "fazer a chamada" e, neste sentido,
"numerar". As muito repetidas frases, as suas gerações, pelas suas famílias,
segundo a casa de seus pós (v. 20) indicam o que nós queremos dizer quando
falamos em "famílias" "afãs" e "tribos".
46. Seiscentos
e três mil quinhentos, e cinqüenta. Este número se refere apenas ao
exército, pois eram duas as condições governando a numeração – os homens
incluídos deviam ter acima de vinte anos e deviam estar aptos para a guerra.
Calculou-se que de dois a três milhões de pessoas – incluindo os levitas,
pessoas idosas, crianças e mulheres – compunham o acampamento. Mestres
incapazes de aceitarem o elemento sobrenatural na operação de Deus com o Seu
antigo povo declaram que cinco mil soldados seria um número mais razoável de se
esperar, e explicam este número como um recenseamento posterior colocado em
lugar errado. Há quem diga que foi o recenseamento de Davi em II Sm. 24. Mas lá
o número dos soldados só de Judá é de 500.000 (lI Sm. 24:9), enquanto aqui Judá
tinha só 74.000. Em II Sm. 24 o termo para soldado é 'ish hayl,
"homem de pujança"; em Números é kol yose' seibei', "todo
aquele que sai com o exército".
George E.
Mendenhall, em um estudo desafiador (JBL, Março, 1958), considera o registro do
recenseamento em Números como listas autênticas, mal-interpretadas pelas
gerações subseqüentes. Ele destaca que essas listas aparecem geralmente nas
mais antigas civilizações. No mundo semítico, foram descobertas listas de
recenseamento de Mari, Ugarit e Alalaque, variando em datas desde o Período
Patriarcal até pouco tempo antes de Moisés. A palavra 'elep, geralmente
significando mil, é considerada por Mendenhall como unidade tribal, provavelmente
não militar e incluindo bem menos de mi homens. Por exemplo, quando o hebraico
declara 46.500 homens para Rúben, poderia significar quarenta e seis unidades
tribais, mas apenas quinhentos soldados. Assim, seriam 558 unidades tribais e
5.550 soldados.
A dificuldade
neste ponto de vista é que Nm. 2:32 dá um total que dá a entender que 'elep significa
"um mil". Mas Mendenhall crê que os sacerdotes pós-exílicos que
organizaram o livro de Números forçaram o significado da palavra para
"mil", não conhecendo o seu significado anterior. Mendenhall comenta
corretamente, em conexão com Jz. 6:15, que Gideão considerava seus mil ('elep)
como fracos (isto é, não uma força completa), uma característica de muitas
unidades militares. Mas, então ele se vê forçado a considerar Êx. 18:25 como
versículo espúrio, porque diz: "Escolheu Moisés homens capazes . . . e os
constituiu . .. chefes de mil ('alapim), chefes de cem, chefes de
cinqüenta, e chefes de dez". O autor crê que as provas indicam que o termo
'elep designava uma unidade militar (Nm. 1:16; 31:5, 14), mas finalmente
passou também a significar uma unidade tribal de número indeterminado (1 Sm.
23:23; Mq. 5:2). Para que dois a três milhões de pessoas fossem sustentadas no
deserto seria imprescindível que houvesse intervenção sobrenatural. O propósito
do Livro de Números é contar-nos que isto foi o que aconteceu.
Interpretação
de Números 2
B. Disposição
do Acampamento. 2:1-34.
A ordem da
marcha e a disposição do acampamento à volta do Tabernáculo foram especificadas
neste capítulo.
2. Os filhos de
Israel se acamparão, junto ao seu estandarte ("bandeira"). Eram
quatro essas bandeiras, indicando os quatro acampamentos à volta do Tabernáculo
(vs. 3, 10, 18, 25). Havia também outras bandeiras indicando famílias, chamadas
aqui de insígnias da casa de seus pais. Ao redor... se acamparão. Só os
levitas e os sacerdotes se acampavam ao lado do Tabernáculo. "O estranho
que se aproximar morrerá" (3: 10, 38). O Tabernáculo tinha de ser mantido
puro de contaminações cerimoniais associadas com o viver quotidiano do povo.
17. Então
partirá a tenda da congregação. Metade das tribos marchavam diante dela
e metade atrás; e quando acampavam, o Tabernáculo, com seus sacerdotes e
levitas, ficava no meio. Quando os sacerdotes e os levitas avançavam, todos
seguiam o exemplo e esperava-se que estivessem cada um no seu lugar,
literalmente, a postos, segundo sua bandeira.
34. Assim
fizeram os filhos de Israel; conforme a tudo o que o Senhor ordenara. O povo obedeceu
a tudo o que Deus ordenou, um contraste marcante com a freqüente desobediência
registrada neste livro.