Estudo sobre Mateus 11:1-30

Mateus 11

OS SEIS ACENTOS DA VOZ DE JESUS: Mateus 11 é um capítulo em que Jesus fala todo o tempo; vendo-o falar com diferentes pessoas sobre temas diferentes, damo-nos conta de como o acento de sua voz vai mudando. Será extremamente interessante repassar um por um os seis acentos da voz de Jesus.

Estudo sobre Mateus 11:1-6

A carreira de João tinha concluído desastrosamente. Não era seu hábito suavizar a verdade, fosse quem fosse seu interlocutor; e não podia ver o mal sem condená-la. João tinha falado de maneira muito direta e muito valente para sua segurança pessoal. Herodes Antipas, da Galileia, tinha visitado seu irmão em Roma. Durante essa visita tinha seduzido a esposa de seu irmão. De volta à Palestina, divorciou-se de sua esposa e se casou com sua cunhada, a quem tinha levado a abandonar seu marido. De maneira pública e bem firme João condenou Herodes. Nunca foi prudente condenar as atitudes de um déspota oriental; Herodes se vingou; João foi lançado às masmorras da fortaleza Macaero, na região montanhosa que rodeia o Mar Morto.

Este teria sido um destino atroz para qualquer homem. Mas, tratando-se de João Batista, a coisa era muito pior. Ele era um filho do deserto. Durante toda sua vida tinha vivido nos espaços abertos, a céu descoberto, com o vento fresco batendo em seu rosto e a abóbada azul do céu como único teto sobre sua cabeça. Agora, estava confinado em um calabouço subterrâneo de reduzidas dimensões. Para um homem como João, que provavelmente nunca viveu em uma casa, a prisão deve ter sido uma tortura. No castelo de Carsilile há uma cela muito pequena. Nessa cela há uma abertura, muito alta para que qualquer homem possa ver através dela mesmo estando de pé. Faz muito tempo, um chefe de montanheses foi posto prisioneiro nessa cela, durante vários anos. Sobre o marco da janela, na pedra, ainda podem ver-se duas depressões, feitas pelo roçar e o desgaste. São os dois lugares onde o chefe montanhês se agarrava, com suas duas mãos, para levantar seu corpo e poder ver os prados que rodeiam o castelo, pelos que ele já não poderia cavalgar jamais. João deve ter-se sentido tão encerrado como aquele homem. E não pode nos maravilhar, nem temos o direito de julgá-lo criticável, que em sua mente tenham começado a surgirem perguntas. Tinha estado perfeitamente seguro de que Jesus era o que havia de vir. Este era um dos títulos mais comuns do Messias que os judeus esperavam com grande expectativa (Marcos 11:9; Lucas 13:35, 19:38; Hebreus 10:37; Salmo 118:26). Aquele que está condenado à morte não se pode dar ao luxo de ter dúvidas; deve estar seguro. Assim é como João envia os seus discípulos a Jesus para perguntar-lhe: “É você o que havia de vir, ou devemos seguir esperando a outro?” Há muitas coisas importantes que ficam evidentes nesta pergunta.

(1) Alguns pensam que a pergunta não foi feita tanto porque João necessitava uma resposta, mas sim pensando em seus discípulos. É possível que enquanto João e seus discípulos conversavam sobre o cárcere, estes lhe perguntassem se Jesus realmente era o que esperavam. E a resposta do João pode ter sido: “Se vocês têm dúvidas, se não estão seguros de quem é Jesus, vão e vejam o que está fazendo, e o que pode fazer; e então não terão mais dúvidas.” Se tal foi o caso, a resposta de João foi perfeita. Se alguém discutir conosco sobre a pessoa de Jesus, se puser em tela de juízo sua supremacia, a melhor de todas as respostas não é contrapor nossos raciocínios aos seus, mas dizer-lhe: “Entregue a Ele sua vida, e verá o que Ele pode fazer por você.” O supremo raciocínio a favor de Cristo não é um debate intelectual, antes a experiência de seu poder transformador.

(2) É possível que a pergunta do João tenha sido ditada pela impaciência. A mensagem de João tinha sido uma mensagem de catástrofe e destruição (Mateus 3:7-12). O machado estava colocada à raiz da árvore, o fogo divino do juízo purificador tinha começado a acender-se. É possível que João pensasse: “Quando Jesus vai começar a agir? Quando destruirá a seus inimigos? Quando começará a incineração dos maus? Quando começará o dia da santa destruição divina?” É possível que se impacientou com Jesus, que isto não era o que ele esperava. Uma coisa é certa, que o homem que espere de Jesus uma atitude de ira desenfreada, tardará para desiludir-se, mas quem procure o amor jamais verá frustradas suas esperanças.

(3) Alguns pensaram que esta pergunta de João não era a pergunta de alguém que começa a experimentar fé e esperança. Tinha visto a Jesus no batismo e agora, tinha estado pensando cada vez mais nEle: e enquanto pensava, mais se dava conta de que Jesus era Aquele que havia de vir; e põe à prova toda sua esperança em uma pergunta. Possivelmente não se trate da pergunta de um homem impaciente que se desespera, mas sim da de alguém ante cujos olhos raiou um brilho de esperança, e que pergunta para que lhe seja confirmada sua fé nascente.

Então chega a resposta de Jesus; e nesta resposta escutamos o acento da confiança. A resposta de Jesus aos discípulos do João foi: “Voltem e não digam a João o que eu digo; contem o que estou fazendo. Não lhe digam quem pretendo ser, contem o que está acontecendo.” Jesus exige que lhe seja aplicada a mais ácida de todas as provas, a dos fatos e dos resultados. Jesus é o único que pode pedir, sem atenuantes nem condições, que O julguem não segundo suas palavras, mas segundo suas ações. O desafio, hoje segue sendo o mesmo. Não diz aos homens: “Ouçam o que tenho a lhes dizer”, mas: “Vejam o que posso fazer por vocês; e vejam o que tenho feito por outros.”

As coisas que Jesus fazia na Galiléia Ele ainda continua fazendo. NEle os que eram cegos com respeito à verdade sobre si mesmos, sobre seus próximos e sobre Deus, recebem a capacidade de voltar a ver; nEle se robustecem os pés de quem nunca foi o suficientemente forte para seguir transitando pela vereda da justiça; nEle os surdos à voz de sua consciência e à voz de Deus começam a ouvir; nEle os que estavam mortos em seus pecados, e jaziam impotentes frente à tentação, são ressuscitados à novidade de vida, a uma vida maravilhosamente renovada: nEle o homem mais pobre herda e possui as riquezas do amor de Deus.

E finalmente ouvimos a advertência: “Bem-aventurado é aquele que não achar em mim motivo de tropeço.” Isto Jesus disse referindo-se a João, e o disse porque João tinha captado somente a metade da verdade. João pregava o evangelho da santidade divina, que tem como correlativa a divina destruição do mal. Jesus pregava o evangelho da santidade e o amor divinos. Por isso os envia a dizer a João: “Possivelmente não esteja fazendo as coisas que você esperava que fizesse. Mas os poderes do mal estão sendo derrotados. Não são derrotados pelo poder incontrolável, e sim pelo amor que não admite réplica.” É possível escandalizar-se com Jesus, porque Jesus não se acomoda às idéias que nós temos do que a religião deve ser. Sempre nos escandalizará se cremos que nosso ponto de vista é a única coisa aceitável.

Estudo sobre Mateus 11:7-11

Há poucos homens a quem Jesus tenha rendido honra tão grande como a João Batista. Começa perguntando às pessoas que tinham ido ver o deserto, em tão consideráveis multidões, quando foram ver João.

(1) Foram ver uma cana açoitada pelo vento? Isto pode significar duas coisas. (a) Sobre as margens do Jordão cresciam grandes canaviais; a expressão “uma cana açoitada pelo vento” significava, naquela época, algo assim como a coisa mais comum que se podia ver. Quando as pessoas foram ver a João, foram ver algo comum, tão comum como as canas às margens do Jordão e são agitadas pelo vento? (b) Uma cana agitado pelo vento também pode significar um homem débil que cede ante a menor pressão ou perigo, como os galho que se dobram sob a força do vento. Fosse o que fosse que as multidões iam ver no deserto, indubitavelmente não se tratava de alguém comum. O próprio fato de que fossem, e que o fizessem amplamente, demonstra até que ponto João era um personagem extraordinário, porque ninguém cruzaria sequer a rua, e menos ainda viajaria ao deserto, para ver alguém que não se separasse do comum, alguém com quem podiam encontrar-se sem abandonar sua vida corrente. Tampouco foram ver um homem débil e vacilante. Os tais nunca terminam sendo mártires da verdade. João não era nem tão comum como as canas nem um fantoche invertebrado que como as canas se dobra ante a menor brisa.

(2) Foram ver um homem vestido com roupas luxuosas e elegantes? Tal homem, naquela época, teria sido um cortesão, e João, fosse o que fosse, certamente não era um cortesão. João não conhecia a arte cortesã de adular aos reis; seguia o perigoso caminho de dizer a verdade, até aos reis. Era embaixador de Deus, não cortesão de Herodes.

(3) Saíram para ver um profeta? O profeta é o anunciador da verdade de Deus. O profeta é o homem a quem Deus revela seus segredos. “Certamente, o SENHOR Deus não fará coisa alguma, sem primeiro revelar o seu segredo aos seus servos, os profetas.” (Amós 43:7). O profeta é duas coisas – é o homem que recebeu uma mensagem de Deus, e é o homem que possui a coragem suficiente para comunicá-lo. O profeta é o homem que tem em sua mente a sabedoria de Deus, em seus lábios as palavras de Deus, e em seu coração a coragem que somente Deus pode dar. E tudo isto, certamente, João possuía.

(4) Mas João era muito mais que um profeta. Os judeus tinham, e ainda têm, uma crença fixa. Acreditavam que antes da vinda do Messias. Elias voltaria à Terra para anunciar seu advento. Até hoje, quando os judeus celebram a festa da Páscoa, deixa-se um lugar vazio na mesa para que possa ser ocupado por Elias, no caso de vir. “Eis que eu vos enviarei o profeta Elias, antes que venha o grande e terrível Dia do SENHOR” (Malaquias 4:5). De modo que Jesus declarou que João era nada menos que o arauto divino, o precursor divino cujo dever e privilégio era anunciar e saudar a vinda do Messias. João não era senão o arauto de Deus, e ninguém pode ter uma tarefa maior.

(5) Este foi o tributo a João, que Jesus pronunciou com um acento de admiração por um homem semelhante. Em toda a história não tinha havido um personagem tão grandioso, entre os “nascidos de mulher”. Entretanto agora vem uma oração surpreendente. “O menor no Reino dos Céus é maior do que ele.” Temos aqui uma verdade muito geral. Com Jesus veio ao mundo algo totalmente, absolutamente novo. Os profetas eram grandes homens, sua mensagem foi preciosa; mas com Jesus se inaugura uma mensagem ainda mais extraordinária, e chega aos homens uma mensagem ainda mais maravilhosa. C. G. Montefiore, que é judeu e não cristão, escreve: “O cristianismo marca uma nova era na história da religião e na civilização humana. O que o mundo deve a Jesus e a Paulo é imenso; as coisas não podem ser iguais, nem os homens seguir pensando o mesmo depois destes dois grandes homens.” Até um não cristão admite espontaneamente que nada poderia ser igual agora, depois que Jesus Cristo viveu na Terra.

Mas o que era que faltava a João? O que tem o cristão que João jamais poderia chegar a ter? A resposta é muito simples e muito fundamental. João não tinha visto, nem veria, a cruz. E portanto havia uma coisa que João nunca conheceria – a revelação plena do amor de Deus. Poderia conhecer a santidade de Deus; poderia declarar a justiça de Deus; mas jamais poderia conhecer o amor de Deus em toda a plenitude de sua manifestação. Basta-nos ouvir as mensagens que pregavam, respectivamente, Jesus e João. Ninguém diria que a mensagem de João era um evangelho, boas novas. Era fundamentalmente uma ameaça de destruição. Foi necessário Jesus e sua cruz para mostrar aos homens a longitude, a largura, a profundidade e a altura do amor de Deus. É assombroso que o mais humilde dos cristãos possa saber mais com respeito ao coração de Deus que os maiores dos profetas do Antigo Testamento. Nós podemos conhecer melhor o coração de Deus que Isaías, Jeremias, ou qualquer dos outros integrantes dessa formidável galeria de santos. O homem que viu a cruz, contemplou o coração de Deus em uma forma que ninguém que viveu antes da cruz jamais pôde vê-lo; somente na cruz de Cristo recebemos a revelação plena do coração de Deus. E isto faz que, certamente, o mais pequeno no Reino de Deus do Céu seja maior que qualquer dos que o antecederam.

João teve que suportar o destino que às vezes cabe a muitos homens: sua tarefa foi assinalar aos homens uma grandeza que ele jamais alcançaria. Alguns homens recebem a missão de ser sinais divinos. Apontam para um novo ideal, ou uma nova grandeza, que eles não chegarão a possuir, embora poderá ser dos que lhes aconteçam. Muito poucas vezes ocorre que os grandes reformadores sejam os primeiros em trabalhar e lutar pela reforma com que seus nomes estão relacionados na história. Antes deles aparecerem no cenário da História houve outros, que vieram antes deles, que viram a glória, que possivelmente sofreram e até morreram por ela.

Alguém contou uma história que presenciava todas as noites da janela de sua casa. Todas as noites, depois de escurecer, via passar o faroleiro, cuja tarefa era acender os faróis que iluminavam as ruas. Mas esse faroleiro era cego. Levava aos outros uma luz que ele jamais poderia ver. Que ninguém perca seu entusiasmo, na Igreja ou em qualquer outro lugar da vida, se o sonho pelo qual lutou não chega a realizar-se antes do fim de seus dias. Deus precisava de João; e segue necessitando sinais que marquem seu caminho na História, mesmo que os homens que cumpram tal propósito nunca cheguem, eles mesmos, à meta. Não é uma função menor na vida assinalar a outros o caminho, mesmo que a própria pessoa não possa chegar a alcançar a meta.

Estudo sobre Mateus 11:12-15

No versículo 12 há uma declaração de Jesus que é muito difícil. “O Reino dos Céus é tomado por assalto, e os violentos se apoderam dele mediante a força.” Lucas tem esta mesma declaração em outra forma (Lucas 16:16): “Desde esse tempo, vem sendo anunciado o evangelho do reino de Deus, e todo homem se esforça por entrar nele.” Evidentemente em algum momento de seu ministério Jesus deve haver dito algo no que as palavras Reino e violência apareciam relacionadas entre si. E este dito deve ter sido obscuro, muito difícil de interpretar, até o ponto de que ninguém naquele momento, compreendeu muito bem qual era seu significado. É evidente que Mateus e Lucas o entenderam de maneiras distintas.

Lucas diz que todos se esforçam por entrar no Reino; e quer dizer com isto, que o Reino de Deus não é para os satisfeitos, e sim para os desesperados, tal como o assinalou Denney. Ninguém cai no Reino por acaso, o Reino abre suas portas somente aos que estão preparados para fazer um esforço comparável ao que se exerce quando se toma de assalto uma cidade.

Mateus diz que do tempo de João até agora o Reino de Deus sofre violência, e que os violentos o tomam pela força. A própria forma deste dito tem toda a aparência de uma data muito antiga: avança, para trás, a um considerável curso de tempo. Soa muito mais como um comentário de Mateus que como um dito de Jesus. É como se Mateus dissesse: “Desde a época de João, que foi posto na prisão e justiçado, até nossos dias, o Reino dos Céus foi objeto de violências e perseguições à mãos de homens violentos.”

De fato, para conseguir recuperar o significado original deste dito tão obscuro, o mais conveniente será reunir as duas versões que possuímos, a de Mateus e a de Lucas. É bem possível que Jesus haja dito: “Meu Reino sempre sofrerá violência; sempre haverá homens selvagens que tratarão de quebrantá-lo, arrebatá-lo e destrui-lo, e portanto somente o homem que experimenta uma necessidade violenta e desesperada de Deus, somente aquele em quem a força da devoção contrapese a força das perseguições e as vença, conseguirá entrar no Reino.” É possível que este dito de Jesus tenha tido um duplo propósito, simultaneamente, advertir a seus seguidores da violência que deveriam suportar e desafiá-los a cultivar uma piedade corajosa, que fosse muito mais poderosa que essa violência.

É muito curioso encontrar, no versículo 13, a referência à “lei” que, junto com os profetas, “profetizou”; mas na Lei encontramos a afirmação confiável de que a profecia jamais haveria de morrer. “O SENHOR, teu Deus, te suscitará um profeta do meio de ti, de teus irmãos, semelhante a mim; a ele ouvirás.” “Suscitar-lhes-ei um profeta do meio de seus irmãos, semelhante a ti, em cuja boca porei as minhas palavras, e ele lhes falará tudo o que eu lhe ordenar” (Deut. 18:15,18). Os judeus ortodoxos odiavam a Jesus porque Ele não obedecia a Lei, tal como eles a interpretavam. Mas, se tivessem tido olhos para ver, se dariam conta de que tanto a Lei como os profetas apontavam a Ele.

Mais uma vez Jesus diz às pessoas que João é o arauto e o precursor que Israel tinha estado esperando durante tanto tempo – se querem recebê-lo. Nesta última oração se resume toda a tragédia da situação humana. Há um antigo provérbio segundo o qual se pode levar o cavalo até onde há água; mas não se pode obrigá-lo a beber. Deus pode enviar seu mensageiro, mas os homens podem negar-se a reconhecê-lo. Deus pode revelar sua verdade, mas os homens podem rechaçá-la e negar-se a vê-la. A revelação de Deus é impotente sem a resposta humana. É por isso que Jesus termina recomendando aos que têm ouvidos que os usem para ouvir.

Estudo sobre Mateus 11:16-19

Jesus se entristecia ao contemplar a perversidade empedernida da natureza humana. Via os homens como meninos que brincam na praça do povo. Um grupo diz ao outro: “Vamos brincar de celebrar um casamento.” O outro grupo lhes respondia: “Não, hoje não queremos brincar de estar contentes.” Então o primeiro grupo voltava a lhes dizer: “Bem, então brinquemos de celebrar os funerais de alguém.” E os outros lhes respondem: “Não, tampouco queremos brincar de estar tristes.” Eram o que em muitos lugares se chama “o vento contrário”. Não importa o que se sugira a eles, não importa o que se ofereça, eles sempre se manifestarão contra.

João viveu como um ermitão e desprezou o luxo; isolou-se e separou-se da companhia dos homens. Diziam dele: “Este homem está louco, separando-se assim da companhia e os prazeres dos homens.” Veio Jesus, que se misturava com todo tipo de pessoas, compartilhava suas tristezas e alegrias, acompanhava-os durante seus momentos mais gratos, e diziam dele: “É um frívolo, só vai às festas, é amigo de estranhos com quem nenhuma pessoa decente se relacionaria.” Ao ascetismo de João chamavam loucura; à sociabilidade de Jesus chamavam falta de moralidade. Em uma ou outra forma, sempre tinham algo para criticar.

O fato concreto é que quando a pessoa não quer ouvir a verdade, encontrará com muita facilidade alguma desculpa para não ouvi-la. Nem sequer se preocupam em ser coerentes em suas críticas. Criticam à mesma pessoa e à mesma instituição de pontos de vista e por razões opostos entre si. Se a pessoa está decidida a não dar nenhuma resposta, permanecerá em uma posição teimosamente obstinada qualquer que seja o convite que lhe seja feito. Os homens e mulheres adultos podem ser muito parecidos com os meninos malcriados que se negam a brincar qualquer brincadeira que lhes seja proposta.

Depois vem a frase final de Jesus nesta seção: “Mas a sabedoria é justificada por seus filhos.” O veredicto final não está em mãos dos críticos briguentos e perversos, e sim nos fatos. Os judeus podiam criticar a João por seu isolamento total, mas João tinha comovido os corações dos homens e os tinha dirigido a Deus em uma forma em que não os tinha comovido durante séculos. Podiam criticar a Jesus porque se mesclava muito na vida cotidiana de gente comum, mas nEle a pessoa estava encontrando uma vida nova, uma nova bondade e uma nova força para viver como deviam fazê-lo e para aproximar-se de Deus.

Conviria que deixássemos de julgar as pessoas e as Iglesias segundo nossos próprios preconceitos e defeitos. E que começássemos a dar graças por qualquer pessoa e qualquer igreja que possa aproximar as pessoas a Deus, mesmo que seus méritos não nos satisfaçam.

Estudo sobre Mateus 11:20-24

Quando João chegou ao final de seu evangelho escreveu uma frase na qual indicava quão impossível era escrever um relato completo da vida de Jesus: “Há, porém, ainda muitas outras coisas que Jesus fez. Se todas elas fossem relatadas uma por uma, creio eu que nem no mundo inteiro caberiam os livros que seriam escritos.”(João 21:25). Esta passagem de João recebe na passagem de Mateus uma das provas de sua veracidade. É provável que Corazim estivesse em um lugar situado a uma hora de viagem para o norte de Cafarnaum. Betsaida era uma aldeia de pescadores sobre a margem oeste do Jordão, onde o rio entrava no extremo norte do lago. É evidente que nestas cidades aconteciam coisas tremendas, mas não temos nenhuma informação a respeito. Os evangelhos não nos dizem nada a respeito das obras de Jesus nem dos milagres que tivesse feito nesses lugares, e entretanto, devem ter sido alguns dos mais importantes. Uma passagem como esta nos mostra quão pouco sabemos a respeito de Jesus. Assinala-nos, e sempre o devemos ter presente, que nos evangelhos não temos mais que uma seleção das obras de Jesus. As coisas que não sabemos sobre Jesus são muito mais que as que conhecemos.

Devemos prestar atenção para perceber o acento na voz de Jesus quando pronunciou as palavras: “Ai de ti!” A palavra grega que se traduz por ai! é ouai; e devemos recordar que ouai expressa tanto piedade triste como irritação. Não se trata da inflexão da voz de alguém que se sente indignado porque tocaram seu amor próprio. Não é a inflexão de alguém que está muito zangado porque o insultaram. Não é a inflexão de alguém que experimenta ódio para com os homens. É a inflexão da dor, a inflexão de alguém que ofereceu aos homens a coisa mais preciosa do mundo e que vê que não lhe dão a menor importância. A voz de alguém que vê o desenvolvimento de uma tragédia e que não tem poder para impedir que os homens vão à ruína. Sempre devemos ter presente que Jesus condena o pecado com ira santa; mas a ira não surge do orgulho ferido, mas sim de um coração destroçado. Qual era então o pecado de Corazim, de Betsaida, de Cafarnaum, o pecado que era pior que o de Sodoma e Gomorra? Deve ter sido grave, pois em muitas oportunidades se denuncia a Tiro e Sidom por sua maldade (Isaías 23; Jeremias 25:22; 47:4; Ezequiel 26:3-7; 28:12-22) e Sodoma e Gomorra eram e são sinônimos de iniqüidade.

(1) Tratava-se do pecado da pessoa que esquece as responsabilidades que implica o privilégio. As cidades da Galiléia receberam um privilégio, uma oportunidade que jamais tinham tido Tiro e Sidom, ou Sodoma e Gomorra, porque as cidades da Galiléia tinham visto e ouvido a Cristo em pessoa. Não podemos condenar um homem que tenha feito alguma coisa má por ignorância e porque jamais teve a oportunidade de aprender outra coisa. Mas se alguém que teve todas as oportunidades possíveis para distinguir o bem do mal, faz alguma coisa má, esse homem é condenado. Não condenamos a um menino por coisas que condenaríamos em um adulto. Não condenaríamos a um selvagem por uma conduta e sim o faríamos em um homem civilizado. Não pretendemos que alguém que se criou em meio das desvantagens de um bairro miserável viva a mesma vida que levaria uma pessoa que foi criada em um lugar adequado e confortável. Julga-se a cada um segundo as coisas que pôde aprender. Devemos recordar que quanto maiores sejam nossos privilégios, maior será nossa condenação se não cumprimos as responsabilidades e se não aceitamos as obrigações que implicam esses privilégios.

(2) Era o pecado da indiferença. Estas cidades não atacavam a Jesus Cristo; não o expulsavam de suas portas, não buscavam crucificá-lo; limitavam-se a não levá-lo a sério. A indiferença pode matar tanto quanto a perseguição. Um autor escreve um livro, o distribui para que se façam comentários, alguns podem elogiá-lo, outros podem condená-lo, isso não importa com tanto que lhe preste atenção; a única coisa que pode aniquilar a um livro é que jamais seja levado em conta, seja para elogiá-lo ou para censurá-lo.

Um artista desenhou um quadro de Cristo de pé em uma das famosas pontes de Londres. Com as mãos estendidas chama a multidão e esta passa sem lhe dirigir o olhar; só uma jovem, uma enfermeira, responde. Esta é a situação atual em muitos países. Não existe hostilidade contra o cristianismo, não há um desejo de destruí-lo, a única coisa que existe é simples indiferença. Cristo é relegado às filas dos que dão importância. Devemos lembrar que a indiferença é um pecado e o pior de todos, porque a indiferença mata. A indiferença não queima a religião, congela-a até que morra. Não a decapita, sufoca-a lentamente até que sua vida se apaga.

(3) E assim nos deparamos com uma grande verdade aterradora: não fazer nada também é um pecado. Há pecados de ação, pecados de comissão; mas também existe um pecado da inacción, de omissão. O pecado de Corazim, de Betsaida e de Cafarnaum era o pecado de não fazer nada. Mais de uma pessoa se defende dizendo: “Mas eu nunca fiz nada.” De fato, essa defesa pode ser sua condenação.

Estudo sobre Mateus 11:25-27

Aqui Jesus fala por experiência. A experiência que tinha era que os rabinos e os sábios o rechaçavam e a pessoa simples o aceitava. Os intelectuais não se preocupavam com Ele, e os humildes lhe davam as boas-vindas. Devemos prestar atenção para ver com clareza o que Jesus quis dizer com estas palavras. Está muito longe de condenar a capacidade intelectual; o que condena é o orgulho intelectual. Como diz Plummer: “O coração, não a cabeça, é a morada do evangelho.” Não é a inteligência quem lhe fecha a porta, e sim o orgulho. Não é a insensatez que o admite, e sim a humildade. Jesus não relaciona a ignorância com a fé, relaciona a modéstia com a fé. Um homem pode ser tão sábio como Salomão, mas se carecer da simplicidade, da confiança, da inocência do coração de um menino, ele mesmo fechou a porta.

Os mesmos rabinos viam o perigo deste orgulho intelectual; reconheciam que com muita freqüência a pessoa simples estava mais perto de Deus que o mais sábio deles. Tinham uma parábola a respeito. Uma vez o rabino Beroka de Chuza estava no mercado de Lapet, e lhe apareceu Elias. O rabino lhe perguntou: “Há alguém entre as pessoas deste mercado que esteja destinado a compartilhar a vida do mundo por vir?” Primeiro Elias disse não haver nenhum. Logo assinalou a um homem e disse que ele compartilharia a vida do mundo por vir. O rabino Beroka foi ao homem e lhe perguntou o que fazia. “Sou um carcereiro”, respondeu, “e mantenho os homens separados das mulheres. De noite ponho minha cama entre os homens e as mulheres para que não se cometa nenhum mal.” Elias assinalou a outros dois homens e disse que eles também compartilhariam a vida do mundo futuro. O rabino Beroka lhes perguntou o que faziam. “Somos palhaços”, responderam. “Quando vemos que um homem está triste, consolamo-lo. E quando vemos que pessoas brigaram buscamos torná-las amigas.” Os homens que faziam as coisas simples, o carcereiro que cumpria com suas obrigações, os homens que levavam o sorriso e a paz estavam no reino.

Os rabinos tinham outra história: “Uma vez houve uma epidemia no Sul, mas não se manifestou nos arredores da residência de Rab (um rabino famoso). O povo acreditou que se devia aos méritos de Rab, mas em um sonho lhes foi manifesto... que se devia aos méritos de um homem que de bom grado emprestava um picareta e uma pá a qualquer um que quisesse cavar uma tumba. Uma vez houve um incêndio em Drokeret, mas os arredores da casa do rabino Huna ficaram ilesos. O povo pensou que se devia aos méritos do rabino Huna... mas lhes foi manifesto em um sonho que se devia aos méritos de uma mulher que costumava acender seu forno e pô-lo à disposição de seus vizinhos.” O homem que emprestava suas ferramentas a quem as necessitava, a mulher que ajudava a seus vizinhos como podia, não tinham conhecimentos intelectuais, mas suas singelas ações de amor humano tinham obtido a aprovação de Deus. As distinções acadêmicas nem sempre são distinções aos olhos de Deus.

Esta passagem conclui com a maior afirmação que Jesus fez, a afirmação que está no coração da fé cristã. Jesus afirma que ele é o único que pode revelar Deus aos homens. Outros homens podem ser filhos de Deus, Ele é O Filho. João o expressou de outra maneira quando nos diz que Jesus afirmou: “Quem me vê a mim vê o Pai” (João 14:9).

O que diz Jesus é o seguinte: “Se querem ver como é Deus, se querem ver a mente de Deus, o coração de Deus, a natureza de Deus, se querem ver a atitude de Deus para com os homens olhem para Mim”.

O cristão está convencido de que só em Jesus Cristo vemos como é Deus; e também está convencido de que Cristo pode dar esse conhecimento a qualquer pessoa que é o suficientemente humilde e tem a suficiente confiança para recebê-Lo.

Estudo sobre Mateus 11:28-30

Jesus falava com homens que buscavam desesperadamente encontrar a Deus, e que se empenhavam com todas as suas forças em ser bons, e que achavam a tarefa um tanto impossível e caíam no desespero e o cansaço.

Diz: “Vinde a mim, todos os que estais cansados.” Seu convite aos homens vai dirigido àqueles que estão cansados na busca da verdade. Os gregos haviam dito: “É muito difícil encontrar a Deus, e quando alguém o encontra é impossível falar dEle a outros.” Zofar perguntou a respeito do Jó: “Descobrirás tu os segredos de Deus?” (Jó 11:7). Jesus afirma que a extenuante busca de Deus termina nEle mesmo.

W. B. Yeats, o grande poeta e místico irlandês, escreveu: “Pode-se chegar a Deus com o esforço? Ele Se dá aos puros de coração. Não exige mais que nossa atenção.”

A forma de conhecer Deus não é pela busca intelectual, e sim por prestar atenção a Jesus Cristo. A busca de Deus pode culminar na contemplação de Jesus Cristo, porque nEle vemos como é Deus.

Diz: “Venham a mim todos os que estão afligidos sob suas cargas.” Para o judeu ortodoxo a religião era algo que consistia em cargas. Jesus disse a respeito dos escribas e fariseus: “Atam cargas pesadas e difíceis de levar, e as põem sobre os ombros dos homens” (Mateus 23:4). Para o judeu a religião era algo composto por regras e normas intermináveis que devia observar. O homem vivia em um bosque de regras e normas que ditavam cada movimento de sua vida. Devia ouvir eternamente a voz que repetia: “Não farás ...”

Até os rabinos o percebiam. Há uma espécie de parábola sagaz que fica na boca de Korah, e demonstra quão pesadas, estritas e impossíveis podiam ser as exigências da Lei. “Fala uma pobre viúva perto de minha casa que tinha duas filhas e um campo. Quando começou a arar, Moisés (quer dizer, a Lei do Moisés) disse-lhe: “Não lavrarás com junta de boi e jumento” (Deuteronômio 22:10). Quando começou a semear, disse-lhe: “Não semearás a tua vinha com duas espécies de semente” (Deut. 22:9). Quando começou a colher e a fazer feixes com o trigo, disse-lhe: “Quando, no teu campo, segares a messe e, nele, esqueceres um feixe de espigas, não voltarás a tomá-lo” (Deut. 24:19), nem segará até o último canto (Levítico 19:9). Começou a debulhar e lhe disse: “Dê-me uma ‘oferenda elevada’ e o primeiro e o segundo dízimos.” Aceitou a ordem e os deu. O que fez a pobre mulher? Vendeu o campo e comprou duas ovelhas para vestir-se com sua lã, e obter dinheiro da cria. Quando tiveram cria, Arão (quer dizer, as exigências dos sacerdotes) veio e lhe disse: “Dê-me os primogênitos.” Aceitou a decisão e os deu. Quando chegou o momento da tosquia, veio Arão e lhe disse: “Dê-me as primícias da lã de suas ovelhas” (Deuteronômio 18:4). Então a mulher pensou: “Não posso me rebelar contra este homem; matarei as ovelhas e as comerei.” Então veio Arão e lhe disse: “Dê-me a espádua, e as queixadas, e o bucho.” (Deuteronômio 18:3). Então a mulher disse: “Até depois de tê-las matado não me livro de ti. Consagrarei-as.” E Arão disse: “Nesse caso me pertences por completo” (Números 18.14) Tomou os animais e foi embora, deixando a mulher chorando com suas duas filhas. A história é uma parábola sobre as exigências permanentes que a Lei impunha aos homens em cada ação e atividade da vida. Em realidade, as exigências da Lei eram uma carga.

Jesus nos convida a carregar seu jugo sobre nossos ombros. Os judeus empregavam a frase o jugo para entrar em submissão. Falavam do jugo da Lei, do jugo dos mandamentos, o jugo do Reino, o jugo de Deus. Mas pode dar-se o caso de Jesus ter dado a seu convite um significado muito mais cotidiano: Diz: “Meu jugo é fácil.” Em grego a palavra fácil é chrestos, que pode significar adequado. Na Palestina, os jugos dos bois eram feitos de madeira. Levava-se o boi e se tomavam medidas. Logo se trabalhava o jugo e se voltava a levar o boi para prová-lo. Então se ajustava bem o jugo, para que se adaptasse ao pescoço do paciente animal e não a machucasse. Se fazia o jugo à medida do boi.

Uma lenda conta que Jesus fazia os melhores jugos da Galiléia, e que gente de toda Galiléia ia à sua oficina de carpinteiro para comprar as melhores juntas de bois que se podiam obter de um artesão. Naqueles dias, tal como agora, as lojas tinham pôsteres em cima das portas. Sugeriu-se que o pôster que estava em cima da porta da oficina de carpinteiro do Nazaré poderia ter sido: “Meus jugos se adaptam bem.” Pode ser que nesta passagem Jesus empregue uma imagem da carpintaria de Nazaré em que tinha trabalhado durante muitos anos.

De maneira que Jesus afirma: “Meu jugo se adapta bem.” O que diz é o seguinte: “A vida que lhes dou para que vivam não é uma carga para machucar vocês; sua tarefa, sua vida, é feita sob medida para adequar-se a vocês.” Envie-nos Deus o que nos envie estará feito para adaptar-se com precisão a nossas necessidades e a nossa capacidade. Deus tem uma tarefa para cada um de nós, que está feita sob nossa própria medida. Jesus diz: “Meu jugo é suave.” Como disse um rabino: “Minha carga se converteu em minha canção.” Não é que a carga seja fácil de levar, mas sim nos entrega com amor, e se supõe que se deve levá-la com amor, e o amor faz que até a carga mais pesada fique leve. Quando lembramos do amor de Deus, quando sabemos que nossa carga consiste em amar a Deus e aos homens, a carga se transforma em uma canção.

Há uma velha lenda sobre um homem que encontrou um menino pequeno carregando a um menino ainda menor, que era coxo: “Essa é uma carga muito pesada para você”, disse o homem. “Não é nenhuma carga”, respondeu o menino, “é meu irmãozinho.” A carga que se dá com amor e se leva com amor sempre fica leve.

Em Mateus 12 lemos de acontecimentos cruciais na vida de Jesus. Na vida de todos os homens há momentos decisivos, tempos e acontecimentos ao redor dos quais gira toda sua vida. Este capítulo nos oferece a história de um desses períodos na vida de Jesus. Neste capítulo vemos os líderes religiosos que pertencem à ortodoxia judaica, tomando uma decisão final a respeito de Jesus – e essa decisão foi o rechaço. Não só um rechaço no sentido de que não teriam nada mais a ver com Ele. Era um rechaço no sentido de que chegaram à conclusão que nada a não ser sua eliminação definitiva seria suficiente para eles. Neste capítulo vemos os primeiros passos decisivos, cuja última conseqüência seria nada menos que a cruz. São-nos apresentados os personagens com toda clareza. Por um lado estão os escribas e fariseus, os representantes da religião ortodoxa. Podemos destacar quatro etapas em sua crescente atitude de perversa hostilidade para Jesus,

(1) Nos versículos 1-8, o relato a respeito da forma em que os discípulos arrancaram as espigas de trigo no sábado, indica-nos uma perspicácia crescente. Os escribas e fariseus olhavam com perspicácia a qualquer mestre que estivesse disposto a permitir que seus seguidores desobedecessem as minúcias da Lei do sábado. Era um tipo de coisas que não se podia permitir que se desenvolvesse e expandisse sem restrições.

(2) Nos versículos 9-14, no relato da cura do homem que tinha a mão paralisada, na sinagoga, o dia sábado, vemos uma investigação ativa e hostil. Não era por acaso que os escribas e fariseus estavam na sinagoga nesse sábado. Lucas diz que estavam ali para observar a Jesus (Lucas 6:7). A partir desse momento Jesus haveria de agir sempre sob o olho maligno dos líderes ortodoxos. Seguiriam seus passos, como detetives privados, em busca de alguma evidência que lhes permitisse levantar alguma acusação contra Ele.

(3) Nos versículos 22-32, o relato a respeito da acusação dos líderes ortodoxos de que Jesus curava pelo poder do demônio, e a forma em que Jesus lhes falou do pecado que não tem perdão, vemos a cegueira preconceituosa e deliberada. A partir desse momento nada do que Jesus fizesse seria correto aos olhos desses homens. Tinham fechado seus olhos a Deus de tal maneira que eram completamente incapazes de ver alguma vez sua beleza e sua verdade. Sua cegueira carregada de preconceitos os tinha lançado sobre um caminho do qual eram incapazes de voltar atrás alguma vez.

(4) No versículo 14 vemos a determinação cheia de maldade. Os ortodoxos já não estavam dispostos a limitar-se a observar e criticar; preparavam-se a agir. Reuniram-se em conselho para encontrar algum modo de pôr fim a esse galileo que os incomodava. A perspicácia, a investigação, a cegueira se preparavam para a ação aberta e hostil.

Diante de tudo isto a resposta de Jesus se perfila claramente. Vemos cinco formas em que Jesus enfrentou essa crescente oposição.

(1) Enfrentou-a com o desafio valente. No relato da cura do homem que tinha a mão seca (versículos 9:14) vemo-lo desafiar os escribas e fariseus de maneira aberta e deliberada. Isto não aconteceu em um canto, mas em uma sinagoga cheia de gente. Não aconteceu em sua ausência, levou-se a cabo quando eles estavam presentes com a intenção manifesta de formular uma acusação contra Jesus. De maneira que, longe de evitar ou esquivar-se ao desafio, Jesus está disposto a enfrentá-lo com decisão.

(2) Enfrentou-a com uma advertência. Nos versículos 22-32 ouvimos a mais terrível das advertências de boca de Jesus. Adverte a esses homens que se insistirem em fechar os olhos à verdade e à revelação de Deus, se encaminham para uma situação na qual, por sua própria ação se excluirão a si mesmos da graça de Deus. Aqui Jesus não está tanto em uma atitude defensiva como de ataque. Expressa de maneira bem clara para onde se encaminham por meio de sua atitude.

(3) Enfrentou-a com uma série esmagadora de afirmações sobre Si mesmo. É maior que o templo (versículo 6), e o templo era o lugar mais sagrado do mundo. É maior que Jonas, e nenhum pregador conseguiu levar tantas pessoas ao arrependimento como Jonas (versículo 41). É maior que Salomão, e Salomão era a encarnação e o epítome da sabedoria (versículo 42). Afirma que não há nada na história espiritual que seja maior que Ele. Não há nenhuma desculpa, trata-se da expressão suprema das afirmações de Jesus a respeito de Si mesmo.

(4) Enfrentou-a com a afirmação de que seu ensino é algo essencial. O significado da curiosa parábola da casa desocupada (versículos 43-45) é que a lei pode esvaziar a alguém do mal negativamente, mas só o evangelho pode enchê-lo de bem. De maneira que a Lei se limita a deixar o homem vazio, como um convite para que todo o mal se introduza em seu coração. O evangelho o enche de uma bondade positiva a tal ponto que o mal não pode entrar nele. Temos aqui a afirmação de Jesus de que o evangelho pode fazer pelos homens algo que a Lei jamais pode obter.

(5) Por último, enfrenta-os com um convite. Em sua essência, os versículos 46-50 são um convite. São o convite a entrar em afinidade com Ele mediante a obediência à vontade de Deus. Estes versículos não são tanto um rechaço dos parentes de Jesus como um convite a todos os homens a entrar em parentesco com Ele mediante a aceitação da vontade de Deus, tal como essa vontade chegou aos homens em seu convite e em seu mandamento. Estes versículos são um convite a abandonar nossos próprios preconceitos e egoísmos e a aceitar a Jesus Cristo como Mestre e Senhor. Se O rejeitamos afastamo-nos cada vez mais de Deus; se O aceitamos entramos na família e no coração de Deus.

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