Interpretação de Gálatas 3

Gálatas 3

Gálatas 3 aborda as implicações teológicas e práticas da justificação pela fé e a relação entre a lei e a fé. Aqui está uma interpretação dos pontos-chave em Gálatas 3:

1. A Tolice do Legalismo: Paulo começa expressando seu espanto e frustração com os crentes da Galácia. Ele questiona como eles poderiam se afastar do evangelho da graça e abraçar uma mensagem de legalismo. Ele contrasta a mensagem clara de Cristo crucificado, recebida pela fé, com a tolice de buscar a justiça através da lei (Gálatas 3:1-5).

2. O Exemplo da Fé de Abraão: Paulo recorre ao exemplo de Abraão, o pai da fé, para ilustrar o princípio da justificação pela fé. Ele lembra aos gálatas que Abraão creu em Deus e isso lhe foi creditado como justiça. Isto demonstra que a justiça sempre foi alcançada através da fé, não pelas obras da lei (Gálatas 3:6-9).

3. A Maldição da Lei: Paulo salienta que aqueles que confiam nas obras da lei estão sob uma maldição, pois ninguém pode guardar a lei perfeitamente. Ele cita o Antigo Testamento para enfatizar que todo aquele que não cumpre todas as coisas escritas na lei é amaldiçoado. A lei, em vez de trazer salvação, expõe a necessidade de redenção através da fé (Gálatas 3:10-14).

4. A Promessa a Abraão e a Cristo: Paulo destaca as promessas feitas a Abraão e a Cristo. Ele explica que a lei, dada mais tarde, não anula a promessa, mas foi acrescentada por causa das transgressões até que a Semente (Cristo) viesse para cumprir a promessa. A lei serve como guardiã temporária até que a fé em Cristo seja revelada (Gálatas 3:15-18).

5. O Propósito da Lei: Paulo aborda a questão de por que a lei foi dada. Ele explica que foi acrescentado por causa das transgressões para mostrar a necessidade de um Salvador. A lei funcionava como tutor ou guardião para levar as pessoas a Cristo, que traria a justiça pela fé (Gálatas 3:19-25).

6. Filhos de Deus através da Fé: Paulo declara que os crentes não estão mais sob a guarda da lei, mas são filhos de Deus através da fé em Cristo Jesus. Ele enfatiza a universalidade desta promessa, afirmando que em Cristo não há distinção entre judeus e gentios. Todos os que pertencem a Cristo são descendentes e herdeiros de Abraão de acordo com a promessa (Gálatas 3:26-29).

Em Gálatas 3, Paulo estabelece firmemente a primazia da fé em Cristo para a justificação e a justiça. Ele apela ao exemplo de Abraão para mostrar que a justiça sempre foi obtida através da fé, não das obras. Paulo argumenta contra a ideia de que a lei pode trazer justiça, destacando o seu papel temporário e o cumprimento final da promessa em Cristo. O capítulo sublinha a natureza inclusiva da salvação através da fé, disponível para todos os que crêem em Jesus Cristo, independentemente da sua origem. Serve como um poderoso lembrete da suficiência da fé em Cristo para a salvação e a justiça.

O Argumento da Experiência (dos Gálatas). 3:1-5.
Aqui o apóstolo declara que a experiência dos seus leitores, começando com a fé em Cristo crucificado e confirmado pelo dom do Espírito Santo, fica inteiramente fora da esfera da Lei. Iriam eles agora renunciar à perfeição da provisão divina, ele pergunta, pela loucura de seus próprios esforços?

3:1. Eles deviam estar fascinados, vítimas de alguma feitiçaria (cons. 1:7). À vista de sua dramática pregação do Cristo crucificado quando estivera entre eles (cons. I Co. 1: 23; 2:2), sua mudança de atitude parecia estranha. Teriam eles se esquecido de sua primeira e viva impressão?

3:2, 3. Depois de aceitar a Cristo viera o dom do Espírito (cons. Gl. 4:4-6; Ef. 1:13), de modo nenhum baseado na guarda da lei como um esforço da carne (cons. Gl. 5:18, 19).

3:4. “Sofrestes” provavelmente não se refere à perseguição ou ao peso da guarda da lei, mas foi usado no bom sentido – experimentado. Esta interpretação está favorecida pela subsequente menção do Espírito no versículo seguinte.

3:5. A obra ativa do Espírito que opera milagres, tal como a sua vinda aos corações dos gaiatas, não dependia de obras mas da pregação da fé, isto é, da aceitação pela fé da mensagem do Evangelho pregada entre eles.

O Argumento das Escrituras (o Caso de Abraão). 3:6-9.
A menção da fé convida a uma excursão pelo V.T. para mostrar que Abraão, o reverenciado patriarca, dependia dela no que se referia à justificação. Só aqueles que tinham uma fé igual a essa eram verdadeiramente abençoados por Deus. Observe tratamento idêntico em Rm. 4:9-12.

3:6, 7. Abraão foi justificado pela fé (Gn. 15:6; Rm. 4:3; Tg. 2:23). Os verdadeiros filhos de Abraão não são seus descendentes naturais (Mt. 3:9), mas aqueles que participam de sua fé.

3:8. Isso foi antecipado na própria linguagem da aliança abraâmica, que tinha todos os povos em vista. As palavras em ti engrandecem Abraão como um exemplo de fé.

3:9. Ele foi crente no sentido de ser cheio de fé. Sua justificação está também à disposição das nações. Esta é a bênção que lhes foi prometida.

O Argumento da Lei. 3:10 - 4:11.
A Maldição da Lei, da qual Cristo Tinha de Libertar. 3:10-14.


Paulo, tendo resolvido o caso da confiança dos judeus no seu relacionamento físico com Abraão para justificação, prossegue agora examinando o outro refúgio do Judaísmo, a posse da Lei.

3:10. A fé provoca bênçãos, mas a Lei produz maldição por causa da exigência que faz, de que é preciso continuar obedecendo-lhe fielmente (Dt. 27:26).

3:11, 12. À impossibilidade prática de ser justificado pela lei acrescenta-se agora a verdade que Deus usa outro método, afinal de contas – o justo viverá pela fé. Julgando do contexto, o uso que o apóstolo faz desta citação (Hc. 2:4), dá a entender que tem a intenção de acentuar a verdade que alguém pode se tornar justo diante de Deus apenas pela fé. Só nessa base pode-se viver verdadeiramente a vida de Deus. Um sentido semelhante é o que se requer em Rm. 1:17. Sob a lei, é preciso fazer para poder viver (Lv. 18: 5). Sob o Evangelho recebe-se vida de Deus pela fé, e então se começa a fazer a vontade de Deus na energia dessa fé. Pode parecer que o apóstolo exclui todas as bênçãos recebidas por aqueles que viveram sob a Lei no tempo pré-cristão. E o que dizer do salmo primeiro?

3:13. A Lei é um espelho da vontade de Deus para o povo da Sua aliança e um capataz que provoca a maldição. Mas a esta altura Paulo não está discutindo os aspectos mais gloriosos da Lei, pois ele se limita a considerar a Lei como meio de condenação (cons. II Co. 3:6-9). A maldição da Lei era real. Ela levou Cristo à cruz. A inflexibilidade das exigências da Lei são claramente percebidas no fato de que quando Cristo tomou o lugar do infrator da lei, embora Ele mesmo fosse perfeitamente santo, teve de suportar exatamente a mesma penalidade de qualquer outro que se colocasse sob a maldição da Lei. A circunstância de que Cristo morreu pendurado no madeiro do Calvário enfatizava o elemento da maldição (Dt. 21:23).

3:14. O exemplo de Abraão continua a fornecer antecedentes para o pensamento aqui. A morte de Cristo operou trazendo a bênção de Abraão (justificação) aos gentios. Deus, tendo libertado seu próprio povo, o povo da aliança (os judeus), da maldição da Lei, estava livre de qualquer impedimento para lidar da mesma maneira, pela graça, com os gentios. A pedra de toque para a aceitação com Deus é, o Espírito prometido (cons. 4:6; Atos 1:4,5). O nós inclui ambos, judeus e gentios.

A Inviolabilidade da Aliança da Promessa e Sua Prioridade Sobre a Lei. 3:15-18.
Uma aliança é algo estabelecido pela sua própria natureza, que não está sujeito à mudança, mesmo quando é um arranjo humano. A promessa não podia ser posta de lado pela Lei, que veio muito depois.

3:15. Falo como homem. Esta é uma expressão técnica, uma espécie de pedido de desculpas. A imutabilidade dos arranjos divinos estariam além de qualquer debate, mas Paulo acha que é necessário discutir o assunto para tomar inteiramente compreensível aos seus leitores. Mesmo nos arranjos humanos, uma vez confirmados, uma parte do convênio não pode, por si mesmo, deixá-lo de lado como se não mais vigorasse, nem pode lhe acrescentar algo como nos testamentos.

3:16. Deus fez promessas (a mesma promessa foi repetida) a Abraão e ao seu descendente. Mas o que está incluído na palavra descendente? Nem todos os descendentes de Abraão estavam incluídos (semente e não sementes), nem todas as linhas de descendência estavam sendo consideradas. Somos ensinados a pensar em semente (posteridade) como um termo coletivo. Ele inclui os patriarcas, pois as promessas foram feitas a eles. Mas também olha para Cristo e o inclui, conforme comprovado em 3:19, onde Ele foi mais uma vez chamado de descendente (semente), Aquele que deu fim à dispensação da lei. Este sentido associado do termo Cristo encontra-se novamente em I Co. 12:12.

3:17. A promessa feita a Abraão desfrutou de prioridade sobre a transmissão da Lei, uma vez que veio 430 anos antes. Paulo parece incluir a continuação da promessa aos patriarcas que vieram mais tarde, pois o intervalo entre Abraão e a entrega da Lei foi maior do que isso. A coisa essencial, de acordo com a verdade de 3:15, é a consideração de que a Lei não podia deixar de lado o arranjo anterior que Deus fizera e confirmara.

3:18. Outro aspecto é apresentado. A Lei não condiciona a promessa à mudança de caráter, pois isto violaria a natureza incondicional da promessa. A herança (o desfrute das bênçãos da aliança feita com Abraão – que uma justificação como a dele próprio seria estendida finalmente a todas as famílias da terra) nada tem a ver com a lei. As duas coisas, lei e promessa, são fundamentalmente diferentes. Se a herança fosse condicionada à lei, então a promessa seria nulificada por causa do bem conhecido caráter da lei – que ela é um jugo que ninguém consegue suportar. É fato indiscutível que Deus deu a herança a Abraão pela promessa. Nada pode mudar esta verdade básica.

O Propósito da Lei – Temporária em Sua Duração e Negativa em Sua Operação. 3:19-22.

O aparente desprezo do apóstolo pela Lei conduz a uma pergunta necessária.

3:19. Se a Lei não pôs de lado a promessa de Deus e nem mesmo a condiciona, então por que ela foi dada? Foi adicionada por causa das transgressões, isto é, dar ao pecado o caráter distinto de transgressão (cons. Rm. 4:15; 5:20). Até. A Lei tinha de prosseguir até um certo ponto, cumprindo sua missão de preparar o caminho para o descendente – Cristo, que é “o fim da lei para justiça” (Rm. 10:4). A Lei foi promulgada por meio de anjos, pela mão de um mediador. Além de ser temporária, até o modo pelo qual foi concedida indica o seu caráter inferior. Teve uma dupla mediação, através dos anjos (Atos 7:53; Hb. 2:2) e através de Moisés, o legislador.

3:20. A própria ideia da mediação tem dois lados, e isto aconteceu com a doação da Lei. Mas Deus é um, e isto foi enfatizado na aliança feita com Abraão. Deus agiu soberanamente. Ele não precisava que alguém ficasse entre Ele e o patriarca. O ponto que Paulo apresenta é que a mediação é um sinal de inferioridade da Lei. Ela mostra a deliberada remoção de Deus de todo o cenário. A mediação de Cristo na presente dispensação não recebe, portanto, o rótulo de inferior, pois Ele não é uma terceira pessoa entre Deus e os homens. Deus em Cristo reconciliou o mundo.

3:21, 22. A Lei não deve ser considerada como oposta às promessas de Deus, pois ela operou numa esfera diferente. A vida não podia vir através da Lei. Aqueles que desfrutaram de vida espiritual na dispensação da Lei, desfrutaram dela não por causa da Lei, mas por causa da graça de Deus, a qual perdoava os pecados cometidos contra a Lei. Tais passagens do V.T. que prometem vida em relação à guarda dos mandamentos de Deus (por exemplo, Dt. 8:1), são devidamente interpretadas como se referindo à vida num sentido temporal, o desfrutar dos favores e das bênçãos de Deus nesta existência terrena. A justiça (uma posição de justiça diante de Deus) não era mais viável nos termos da lei no tempo de Moisés do que no de Paulo. Além disso, a Lei não podia se opor às promessas, uma vez que ela ajuda o cumprimento delas mostrando aos homens a necessidade que têm da graça e mostrando-lhes que devem colocar a sua confiança em Cristo (cons. Gl. 3:19).

Filiação não Mediante a Lei mas Mediante a Fé. 3:23-4:7.

3:23. Antes que viesse a fé. A nova dispensação da graça livre deu aos homens a primeira oportunidade, historicamente falando, de colocarem a sua fé em Cristo.

3:24. A dispensação da lei foi um período de disciplina, a Lei servindo de aio (não mestre; na verdade, apenas um ajudante do mestre, geralmente um escravo cuja tarefa era a de garantir a chegada da criança à escola com segurança). Cristo é o verdadeiro mestre, que nos toma pela mão e nos mostra o caminho de Deus em termos de graça. “Uma opinião mesquinha sobre a lei leva ao legalismo na religião; uma opinião elevada leva o homem a buscar a graça” (J. Gresham Machen, The Origin of Paul's Religion, pág. 179).

3:25. A função disciplinar da Lei, no sentido histórico, cessou com a vinda de Cristo. Mas a Lei ainda pode operar em um indivíduo para despertar o senso do pecado e da necessidade, preparando assim o coração para Cristo.

3:26-29. Todos. Tanto os gentios como os judeus são bem recebidos na família de Deus mediante a fé. E assim eles alcançam sua posição em Cristo Jesus. Batizados em Cristo. O batismo nas águas leva uma pessoa a desfrutar da comunhão da Igreja, mas por trás desse fito jaz um aspecto mais significativo do batismo – ser separado pelo Espírito para viver em união com Cristo e o Seu corpo (cons. I Co. 12:13). De Cristo vos revestistes. O Senhor Jesus se torna o segredo e a esfera da nova vida que é participada com outros crentes. Sois um em Cristo Jesus. Filiação com Deus envolve fraternidade em Cristo. Surge um novo homem nele (cons. Ef. 2:15). As costumeiras distinções e divisões da vida desaparecem neste relacionamento. Estar em Cristo Jesus, pertencendo-Lhe, faz-nos parte dos descendentes de Abraão, uma vez que Cristo é essa descendência, conforme já ficou declarado em Gl. 3:16, 19. Filiação faz do crente também um herdeiro (cons. Rm. 8: 17).