Fundo Histórico do Livro de Jeremias

Fundo Histórico do Livro de Jeremias
Por Carlos Osvaldo (2006)



JEREMIAS, PROFETA, LIVRO, HISTÓRICO, FUNDO
Jeremias testemunhou os eventos mais dramáticos da história do antigo Oriente Médio, o declínio abrupto do Império Assírio e a ascensão meteórica do Império Neobabilônico como o poder dominante no Crescente Fértil.
Testemunhou ainda a desintegração final de Judá como nação independente. Contemporâneo do piedoso rei Josias, o profeta sem dúvida apoiou a reforma religiosa promovida pelo trono, mas ficou severamente desapontado (e demonstrou isso de modo bastante audível) com a maneira superficial e hipócrita com que a maioria da nação respondeu a ela. Embora a idolatria oficial tivesse sido banida, perversões grosseiras continuaram a existir como testificam Jeremias (7.18) e Ezequiel (Ez 6.11-14; 8.5-17). Além disso, foi uma época de política desorientada, com Judá buscando a ajuda egípcia para superar a sujeição à Babilônia, a qual o próprio Yahweh ordenara. Foi um tempo de profunda injustiça social (cf. Hc 1.2-4) e de uma falsa sensação de segurança fundamentada em um conceito errado a respeito do Templo (cf. Jr 7.4).
O relacionamento de Jeremias com os cinco últimos reis de Judá não foi sempre agradável. Ele e Josias eram grandes amigos, e o profeta compôs uma elegia quando o rei morreu em 609 a.C. (cf. 2 Cr 35.25).
Jeoacaz teve um reinado extremamente breve e recebe apenas uma menção passageira em 22.10-12, em que sua morte no exílio foi profetizada. Jeoiaquim foi confrontado pelo profeta de três maneiras diferentes. Sua política externa, de se alinhar com o Egito contra a Babilônia, foi denunciada em 9.25,26; seu estilo de vida de ostentação em uma época de escassez nacional foi denunciado em 22.13-19, e sua complacência moral devida à falsa esperança de que o templo serviria como talismã nacional, garantindo imunidade a ataques inimigos (cf. 7.4; 26.1-6), recebeu algumas das críticas mais contundentes do profeta.
Foi de seus conflitos com as autoridades durante o reinado de Jeoiaquim que surgiram muitas (na verdade, a maioria) das “confissões” de Jeremias, suas emocionadas queixas quanto a seu papel como profeta e a aparente injustiça em sua vida como mensageiro de Deus (cf. 11.18-20; 12.1-6; 15.15-18; 18.19-23; 20.7-18).
Joaquim, que havia reinado por apenas 3 meses quando ele e a família real foram levados cativos para Babilônia (597 a.C.), é o alvo de um ataque particularmente severo por parte de Jeremias. O profeta o chama de amaldiçoado, sem descendência sobre o trono, e totalmente rejeitado pelo Senhor (cf. 22.20-30). Tal violência verbal, todavia, é mitigada pelas boas novas de que a dinastia davídica não seria extinta com o exílio de Joaquim, pois este encontrou favor perante os reis de Babilônia (cf. 52.31), mantendo assim vivas as esperanças messiânicas em Israel.
O último rei de Judá, Zedequias, filho de Josias, guardava um pouco da sensibilidade de seu pai às coisas espirituais (cf. 38.7-18). Infelizmente, sofria de uma absoluta falta da coragem paterna para tomar posição ao lado da verdade, tornando-se, por isso, mera figura decorativa, levado de um lado para outro pela nobreza (cf. 38.5, 25-28), que efetivamente governava Judá com uma política suicida de adesão ao Egito (cf. 27.8).
No reinado de Zedequias, Jeremias teve seu famoso conflito com os falsos profetas, que incluiu a “batalha dos jugos” com Hananias (28.1-17). Deste reinado também data a correspondência de Jeremias com os exilados judeus em Babilônia (cf. cap. 29), na qual ele tenta desmascarar os falsos profetas que tinham prometido ao povo um exílio de curta duração.
No período em que Gedalias governou os sobreviventes da destruição de Jerusalém, Jeremias permaneceu em Mizpá, de onde foi levado à força por rebeldes que mantinham a ilusão de que o Egito lhes oferecia segurança. Eles fugiram para lá, e ali caiu o golpe final de Deus contra a nação rebelde (cf. 44.1-30).
Alguns eruditos (cf. J. Bright, Uma história de Israel, pp. 424, 452, n. 71.) tentam fazer com que algumas das profecias de Jeremias sobre o perigo do Norte se refiram a uma suposta invasão de Judá pelos citas, que teria acontecido entre 630 e 624 a.C. Trata-se de uma tentativa óbvia de “historiar” o elemento profético do livro, que não consegue, todavia, passar pelo teste da evidência, pois nem a história nem a arqueologia oferecem qualquer prova de uma invasão de Judá pelos citas. Se os citas jamais chegaram ao Egito, conforme Heródoto deixa implícito, eles devem ter marchado ao longo do litoral, sem entrar na região montanhosa de Judá.
Embora Jeremias nos ofereça o mais fidedigno cenário das condições políticas, religiosas e morais em Judá na virada do século 6 a.C., ele não organizou sua profecia em ordem cronológica, como é possível perceber, mesmo a partir de uma leitura casual do livro. O quadro a seguir resume o cenário histórico da época de Jeremias e o relaciona aos escritos do profeta.[1]









[1]Pinto, C. O. C. (2006; 2010). Foco e Desenvolvimento no Antigo Testamento (p. 620). Editora Hagnos; São Paulo.