Lucas 1 — Comentário de Matthew Henry

Comentário de Lucas 1






Lucas 1


Comentário de Lucas 1:1-4

Lucas não escreve sobre coisas acerca das quais possam diferir entre si os cristãos, e ter vacilações, senão das coisas que são e devem ser cridas com toda certeza. A doutrina de Cristo é no que os mais sábios e melhores homens têm aventurado suas almas com confiança e satisfação. Os grandes acontecimentos dos que dependem nossas esperanças, foram narrados por escrito pelos que, desde o começo, foram testemunhas visuais e ministros da Palavra, e foram aperfeiçoados em seu entendimento por meio da inspiração divina.

Comentário de Lucas 1:5-25

O pai e a mãe de Jesus Cristo eram pecadores como todos somos e foram justificados e salvos da mesma forma que os outros, mas foram eminentes por sua piedade e integridade. Não tinham filhos, e não podia esperar-se que Isabel os tivesse em sua avançada idade.

Enquanto Zacarias queimava o incenso no templo, toda a multidão orava fora. Todas as orações que oferecemos a Deus são aceitas e bem-sucedidas somente pela intercessão de Cristo no templo de Deus no alto. Não podemos ter a expectativa de possuir um interesse ali se não oramos, se não oramos com nosso espírito, e se não oramos com fervor. Tampouco podemos esperar que o melhor de nossas orações sejam aceitas e tragam uma resposta de paz, se não é a mediação de Cristo, que sempre vive fazendo intercessão.

As orações que Zacarias oferecia frequentemente receberam uma resposta de paz. As orações de fé são arquivadas no céu e não se esquecem. As orações feitas quando éramos jovens e entravamos no mundo, podem ser respondidas quando sejamos velhos e estejamos saindo do mundo. As misericórdias são duplamente doces quando são dadas como respostas à oração.

Zacarias terá um filho em idade avançada, o qual será instrumento para a conversão de muitas almas a Deus, e para sua preparação para receber o evangelho de Cristo. Se apresentará ante Ele com coragem, zelo, santidade e uma mente morta aos interesses e prazeres mundanos. Os desobedientes e os rebeldes seriam convertidos à sabedoria de seus antepassados justos, ou melhor, levados a atentar à sabedoria do Justo que viria a eles.

Zacarias ouviu tudo o que disse o anjo, mas falou com incredulidade. Deus o tratou justamente ao deixá-lo mudo, pois ele tinha objetado a palavra de Deus. Podemos admirar a paciência de Deus para conosco. Deus o tratou amavelmente, porque assim lhe impediu de falar mais coisas afastadas da fé e em incredulidade. Assim, também, Deus confirmou sua fé. Se pelas repreensões a que estamos submetidos por nosso pecado, somos guiados a dar mais crédito à palavra de Deus, não temos razão para queixar-nos. Ainda os crentes verdadeiros são dados a desonrar a Deus com incredulidade; e suas bocas são fechadas com silêncio e confissão, quando pelo contrário, teriam devido estar louvando a Deus com gozo e gratidão.

Nos tratos da graça de Deus devemos observar suas considerações bondosas para conosco. Ele nos olhou com compaixão e favor e, portanto, assim nos tratou.

Comentário de Lucas 1:26-38

Aqui temos um relato da mãe de nosso Senhor; embora não devamos orar a ela, de todos modos devemos louvar a Deus por ela. Cristo devia nascer miraculosamente. O discurso do anjo somente significa: "Salve, tu que és a escolhida e favorecida especial do Altíssimo para ter a honra que as mães judias desejaram por tanto tempo".

Esta aparição e saúdo prodigiosos atordoaram a Maria. O anjo lhe assegurou então que ela tinha achado favor com Deus e que seria a mãe de um filho cujo nome ela devia chamar de Jesus, o Filho do Altíssimo, um em natureza e perfeição com o Senhor Deus. Jesus! o nome que refresca os espíritos desfalecentes dos pecadores humilhados; doce para pronunciar e doce para ouvir, Jesus, o Salvador. Não conhecemos sua riqueza e nossa pobreza, portanto, não corremos a Ele; não percebemos que estamos perdidos e perecendo, em conseqüência, Salvador é palavra de pouco deleite. Se estivermos convencidos da imensa massa de culpa que há em nós, e a ira que pende sobre nossas cabeças, preste a cair sobre nós, seria nosso pensamento contínuo: É meu o Salvador? Para que possamos achá-lo, devemos pisotear todo o que estorva nosso caminho a Ele. A resposta de Maria ao anjo foi a linguagem da fé e humilde admiração, e ela não pediu sinal para confirmar sua fé. Sem controvérsia, grande foi o mistério da santidade, Deus manifestado em carne (1 Tm 3.16). A natureza humana de Cristo devia produzir-se dessa forma, para que fosse adequada para Aquele que seria unido com a natureza divina. Devemos, como Maria aqui, guiar nossos desejos pela palavra de Deus. Em todos os conflitos devemos lembrar que nada é impossível para Deus; e ao lermos e ouvirmos suas promessas, convertamo-las em orações: "Eis aqui a serva do Senhor; cumpra-se em mim segundo a tua palavra".

Comentário de Lucas 1:39-56

Muito bom é que aqueles em cujas almas tem começado a obra da graça se comuniquem entre si. Isabel estava ciente, quando chegou Maria, de que se aproximava a que seria a mãe do grande Redentor. Ao mesmo tempo, foi cheia do Espírito Santo, e sob sua influência declarou que Maria e ela esperavam filhos que seriam altamente abençoados e felizes, e particularmente honrados e queridos pelo Deus Altíssimo.

Maria, animada pelo discurso de Isabel, e também sob a influência do Espírito Santo, prorrompeu em gozo, admiração e gratidão. Sabia-se pecadora que necessitava uma Salvador, e que, caso contrário, não poderia regozijar-se em Deus mais que como interessada em sua salvação por meio do Messias prometido. Os que captam sua necessidade de Cristo, e que estão desejosos de ter justiça e vida nEle, a estes enche com coisas boas, com as coisas melhores; e são abundantemente satisfeitos com as bênçãos que dá. Ele satisfará os desejos do pobre de espírito que anseia bênçãos espirituais, enquanto que os auto-suficientes serão lançados longe.

Comentário de Lucas 1:57-66

Nestes versículos temos um relato do nascimento de João Batista, e do grande gozo de todos os familiares. Se chamaria João ou "cheio de graça", pois introduziria o evangelho de Cristo, no qual brilha mais a graça de Deus.

Zacarias recuperou a fala. A incredulidade fechou sua boca e ao crer voltou a ser aberta: crê, portanto fala. Quando Deus abre nossos lábios, as bocas devem mostrar seu louvor; e melhor estar mudo que não usar a fala para louvar a Deus. Diz-se que a mão do Senhor estava operando em João. Deus tem formas de operar nas crianças, em sua infância, que nós não podemos entender. Devemos observar os tratos de Deus e esperar o acontecimento.

Comentário de Lucas 1:67-80

Zacarias pronuncia uma profecia acerca do reino e a salvação do Messias. O Evangelho traz luz consigo: nele clareia o dia. Em João Batista começou a nascer e sua luz foi aumentando até que o dia foi perfeito. O evangelho é conhecimento; mostra aquilo no qual estávamos completamente em trevas; é para dar luz aos que se sentem a escuras, a luz do conhecimento da glória de Deus na face de Jesus Cristo. Revive; traz luz aos que se sentam em sombra de morte, como prisioneiros condenados na masmorra. Conduz, encaminha nossos passos pelo caminho da paz, a esse caminho que nos trará finalmente a paz (Rm 3.17). João deu provas de fé firme, afetos fortes e piedosos e de estar acima do medo e do amor pelo mundo. Assim, ele amadureceu para o serviço, mas levou uma vida retirada, até que sai à cena, abertamente, como o precursor do Messias. Continuemos a paz com todos os homens, e procuremos a paz com Deus e com nossas próprias consciências. Se é a vontade de Deus que vivamos desconhecidos para o mundo, ainda assim busquemos diligentemente crescer firmes na graça de Jesus Cristo.

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