Comentário de Romanos 6:1-23 (J. W. Scott)

Comentário de Romanos 6:1-23 (J. W. Scott)

Comentário de Romanos 6


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Romanos 6

Prossegue Paulo na defesa da doutrina da justificação pela fé contra a acusação de ser ela incompatível com a moralidade comum. E o faz afirmando a doutrina da santificação. Não se trata de mera sequência teórica da justificação; é um fato nítido da experiência do apóstolo. Como os vers. 1-11 mostram, Paulo não somente sabia o que significava ajustar relações com Deus, mas igualmente o que era manter-se nessa posição. Ver também Rm 7.7-25. “Tinha em tão alta estima o Espírito de Cristo como poder de santidade, quanto o sacrifício do mesmo Cristo como razão para o perdão de seus pecados”. Este problema de ética assume duas formas. Primeiro, ser considerado justo por Deus não é apenas estimular o pecado? Segundo, não resulta em depravação?

A doutrina de Paulo sobre a justificação - argumenta o impugnador - implica em “quanto mais pecado, tanto mais graça”. Se mais pecado significa mais graça, por que não continuar pecando? A réplica do apóstolo centraliza-se no fato da união do crente com Cristo. Esta relação mística com o Salvador é apresentada aqui pela primeira vez nesta epístola. O pensamento característico do apóstolo é ilustrado no rito do batismo por imersão. Nesta os três movimentos são simbólicos: para dentro d’água - morte; debaixo d’água-sepultamento; fora d’água-ressurreição. Ser batizado em Jesus Cristo é entrar em união com a Sua morte (3), Seu sepultamento (4) e Sua ressurreição (5). O sepultamento é de fato uma confirmação da realidade da morte. A morte de Cristo dizia respeito ao pecado. Foi o sacrifício pelo qual o pecado foi extinto (cfr. Hb 9.26). De uma vez para sempre morreu para o pecado (10) (cfr. 1Pe 3.18; Hb 7.27; Hb 9.12- 28-10.10). A ressurreição assinalou sua entrada numa nova vida “à parte o pecado”. Nessa conformidade, o crente passa pelas mesmas experiências. O resultado da justificação é a vida de santificação. Deus não somente ajusta nossas relações consigo, mas conserva-nos nessa posição. Sua justiça primeiro é imputada, depois é-nos comunicada. Até aqui Paulo está tratando da parte de Deus na santificação mediante a união com Cristo operada pela fé. Agora, nos vers. 12-14, declara o aspecto humano dessa transação. O esforço moral é necessário na justiça progressiva do crente. Este não deve apresentar seus membros como instrumentos de iniqüidade (13). Trata-se de pecado habitual (gr. paristanete; tempo presente, ação continuada). A segunda apresentação, como instrumentos de justiça, é “um ato de escolha” (gr. parastesate; pretérito de ação completa) pelo qual os crentes se entregam definidamente a uma vida de santidade, embora que não continuamente isenta de pecado. “Não prossigais apresentando vossos membros ao pecado como armas de iniquidade. Apresentai-vos definitivamente a Deus”.

A transição para o próximo aspecto do problema de ética acha-se no vers. 14, onde Paulo exulta com a certeza de justiça progressiva, e exclama: “O pecado não terá domínio sobre vós. Não estais debaixo da lei e, sim, da graça”. O “não farás” da lei deve ceder lugar ao poder do Espírito.

Outra vez se alega que este evangelho da "justiça de Deus" resulta em completo desrespeito à lei. Esta é a principal acusação judaica à doutrina da graça ensinada por Paulo. Ora essa! a lei agora pode ser desconsiderada e o pecado, estimulado. Temos aí a heresia do antinomianismo. Paulo responde à objeção contra a livre graça dizendo que, embora seja verdade que o crente não está sob a lei, mas sob a graça isto não significa que ele esteja sem lei. Deve lealdade a Deus. De dois possíveis senhores, um exerce domínio sobre nós-Deus ou o pecado (16). Para esclarecer o ponto, o apóstolo ilustra com a lei da escravatura, vigente em seus dias. Um escravo podia comprar sua liberdade, pagando seu preço ao templo, isto é, dava o dinheiro do seu resgate a algum deus ou deusa, e por essa forma reivindicava sua liberdade; mas o dinheiro ia de fato parar, por via do templo, às mãos do senhor. Assim a divindade resgatava o escravo do poder de seu senhor, e ele ia embora liberto, se bem que ainda escravo do deus. De semelhante modo, o crente é livre no sentido de se haver tornado escravo de Deus. Não é um irresponsável, sem senhor, porque Jesus é o Senhor de toda a sua vida. O apóstolo reconhece a insuficiência da analogia, lembrando porém aos leitores que ele fala como homem (cfr. Gl 3.15) e, devido à fraqueza de vossa carne, isto é, a imaturidade deles (19). Paulo conclui seu argumento apelando para resultados ou frutos dos dois serviços, pecado ou justiça. Aquele dá lugar a vergonha e morte; esta resulta em santificação e vida eterna.