Comentário de Apocalipse 12:1-18 (J. W. Scott)

Comentário de Apocalipse 12

APOCALIPSE 12, COMENTÁRIO, ESTUDO, LIVRODesde que as sete trombetas seguem os sete selos, é uma expectação natural que as sete taças serão imediatamente derramadas, de sorte que a história das dores de parto do reino se possa completar. Em vez disto, entretanto, se intervém um parêntese comprido. É necessário revelar o verdadeiro caráter do conflito, que o Messias termina com o seu aparecimento antes que a própria derrocada possa ser apreciada e entendida. A luta em que os santos se envolvem não é simplesmente o esforço de uma comunidade religiosa menor para resistir às perseguições de um Império; isto não forma senão a plataforma de um conteúdo mais pavoroso, em que o adversário perene de Deus e do homem luta por todo o subterfúgio de política e paganismo para frustrar o propósito de Deus centralizado na sua Igreja. O "parêntese" entende-se assim ser o âmago do livro. Ele cobre o período messiânico inteiro, desde o nascimento de Cristo até a consumação.

Os gregos contavam uma história do nascimento de Apolo marcadamente paralela à dos vers. 1-6. Os egípcios semelhantemente relatavam o nascimento de Hórus; um fato é que a história, em formas modificadas, parece ter sido universalmente contada. Claramente, João tem empregado uma narrativa bem conhecida (primeiramente adaptada, aparentemente, por um judeu) tanto para ilustrar o seu próprio tema, como para tacitamente excluir todos os heróis de outras crenças da posição de Redentor
universal. Tal emprego de fontes pagãs é semelhante ao uso das narrativas judaicas, tais como as dos capítulos 7 e 11; a mensagem que elas pretendem apresentar é, em ambos os casos, nem pagã nem judaica, mas cristã, de ponta a ponta. Para as nações pagãs do mundo antigo, a mulher grávida (Ap 12.1-2) teria sido uma deusa coroada com as doze estrelas do zodíaco. O judeu teria visto nela o seu próprio povo, encabeçado pelos doze patriarcas. João mostra que ela não representa nenhum destes, mas o verdadeiro povo crente de Deus, tanto da velha, como da nova dispensação, a comunidade messiânica.

O dragão se identifica no vers. 9 com Satanás. Suas sete cabeças e dez chifres (3) revelam ser ele o anticristo do mundo espiritual, assim como o seu agente, "a besta" (Ap 13.1) é o anticristo terrestre compartilhando de suas características. A figura foi usada em Daniel para descrever a natureza das quatro sucessivas potências mundiais da história. Em Daniel, as sete cabeças foram divididas entre as quatro bestas, enquanto aqui elas são retidas em uma concentração horrível do mal. Os dez chifres são semelhantemente tradicionais e na potência terrestre anticristã se aplicam aos dez reis (Dn 7.24; Ap 17.12). E a sua cauda, levou após si a terça parte das estrelas do céu (4) ecoa a vitória de Satanás sobre os poderes angélicos, mas, se João pretendia por este fenômeno qualquer coisa mais do que uma alusão ao grande poder do dragão, é difícil dizer. A afirmação do destino da criança (5; Sl 2.9) explica o desejo do dragão de devorá-la, pois as nações, ele as reconhecia como a sua legítima presa. Na sua referência original, o sentido seria que a criança foi arrebatada ao trono de Deus por segurança, enquanto ainda um infante; mas o "arrebatamento" é suficientemente semelhante à ascensão triunfante de Jesus, para tornar claro o seu real sentido neste contexto.

O povo de Deus é seguro das artimanhas do diabo durante o período do reino de terror do anticristo (6). Isto está de acordo com o ensino de Ap 7.1-8; Ap 11.1-2; antecipa a queda de Satanás, descrita nos vers. 7-12, e é ampliado em 13-17. A batalha no céu (Ap 12.7-12) pode significar uma tentativa para investir-se contra o refúgio da "Criança-redentora". Daí o protagonista celeste ser um arcanjo que dirige as hostes de Deus; é ele que ganha a vitória sobre o diabo e os seus seguidores demoníacos. A sua conquista traz o reino de nosso Deus (10; cfr. Dn 12.1-3). Mas o acréscimo do vers. 11, por nosso profeta, transforma a cena toda. O meio real da conquista do dragão foi a obra redentora de Cristo; o seu povo compartilha essa vitória pelo seu testemunho ao poder salvador nas suas vidas. A conquista angélica torna-se mera figura para a vitória de Cristo e os seus santos. O início do reino de Deus através da redenção na cruz é um paralelo próximo ao ensino joanino e paulino de que a morte e a ressurreição do nosso Senhor foram a ocasião da derrota de Satanás e o estabelecimento da era do reino com todas as suas bênçãos concomitantes. O , desta forma, não pode ser considerado, como se diga, totalmente livre de escatologia "concretizada". Charles tem solucionado, com bom êxito, uma dificuldade linguística de há muito tempo, traduzindo no vers. 7 "Miguel e seus anjos tiveram que lutar com o dragão". Ver I. C. C. págs. 321-322.

A antiga serpente (9) é aquela que tentou a Eva no Éden. Diabo (diabolos) é o equivalente grego do hebraico Satan, ambos significando "caluniador". O texto sugere que nunca Satanás pode cumprir a sua função de falsamente acusar os santos perante Deus. (Ver Jó l, e Zc 3), pois Cristo lhes tem assegurado o seu perdão e os reconciliado com Deus através da sua expiação. Consequentemente, o diabo concentra a sua capacidade como dragão, serpente e enganador.

Reino (10) é talvez traduzido melhor aqui "soberania"; mas cfr. Cl 1.13-14, onde o pensamento é muito semelhante; para o derribar de Satanás, cfr. Jo 12.31-33. A redenção de Cristo é a causa principal da vitória dos santos (11); o seu testemunho testifica de sua eficácia nas suas vidas. No vers. 12 leia-se "ai da terra e do mar". A expressão corresponde à designação freqüente, de João, do mundo descrente como "os habitantes da terra" (Ap 11.10; Ap 13.8; etc.); Usa-se aqui em distinção da esfera celeste onde outrora habitava. O pouco tempo (12) define-se no vers. 14; o período do reino do anticristo é aqui visto como uma administração do diabo através daquele. O dragão agora volta a sua atenção para a mulher, isto é, a Igreja, tendo falhado no caso do Senhor dela: cfr. Jo 15.20. Para Ap 12.14, ver vers. 6n. A mulher é nutrida mais "por causa da" do que "fora da vista da" serpente. No simbolismo que revela o ataque contra a mulher, a serpente é considerada como um monstro da água, inclusive a personificação do mar. Daí a mulher foge para refúgio no deserto (14), onde um monstro marítimo não pode ter lugar. Para não ser superada, a serpente manda após ela um dilúvio, mas a terra o traga, de maneira que não se faça mais nada por ele (15-16). O retrato bem ilustra a segurança espiritual dos crentes contra tudo que o diabo possa fazer em suas tentativas para destruí-los.






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