Comentário de Apocalipse 1:1-20 (J. W. Scott)


Comentário de Apocalipse 1

APOCALIPSE 20, COMENTÁRIO, ESTUDO, LIVRO
Aqui se apresentam a fonte do livro (1), a natureza do seu conteúdo (2) e os abençoados resultados para quem o tomar a sério (3). O (1) é a descoberta de alguma coisa escondida, empregado aqui no sentido de “uma visão e a sua interpretação” (Charles). A última fonte desta revelação é o próprio Deus; Ele a deu a Jesus Cristo para o beneficio da Igreja (seus servos); foi, portanto, enviada por intermédio de um anjo a João que, por sua vez, a transmitiu às "sete igrejas" (4) e, deste modo, a toda a Igreja de Deus. Relata as coisas que brevemente devem acontecer (1); “brevemente” exprime a atitude profética normal e é acentuada através do Novo Testamento (veja Lc 18.8; Rm 16.20; 1Co 7.29-31; Tg 5.8; 1Pe 4.7; Ap 1.3; Ap 22.20).

Além disso, o define-se como a palavra de Deus, o testemunho de (dado por) Jesus Cristo, quanto a tudo o que (o vidente) viu. Em Ap 1.9 e Ap 20.4 se unem as primeiras duas frases para representar toda a verdade de Deus; aqui significa as palavras desta profecia (3). Invoca-se a bênção sobre quem o lê; em voz alta, à congregação em assembléia e sobre os que ouvem e observam o que se ordena. São duas classes aqui e não três; os últimos dois particípios se regem por um sujeito. Cfr. Lc 11.28.

Às sete igrejas que estão na Ásia (4), isto é, na província romana daquele nome, são enumeradas no vers. 11. Quase não se deve duvidar de que elas representem também a Igreja em sua integralidade, como se vê na conclusão de cada uma das sete cartas, “Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas”. Aquele que é, e que era, e que há de vir (4) é um título para Deus, acentuando tanto a sua eternidade, como a sua relação vital à história. A última frase (“que há de vir”, ao invés do esperado “que será”) constitui não somente uma alusão cônscia à segunda vinda de Cristo, mas dá a entender que o evento mais importante do futuro é aquele aparecimento que será também a vinda de Deus. Os sete espíritos que estão diante do seu trono (4) é provavelmente uma designação do Espírito Santo. Pode ter-se originado no pensamento do vidente através da interpretação popular de Is 11.2-3 como sendo uma sétupla dotação espiritual do Messias ("os sete olhos do Senhor que discorrem por toda a terra", de Zc 4.10; ver Ap 4.5-6) e a sua representação da Igreja universal pelas sete igrejas locais a que ele escreve em particular. Expositores modernos (e alguns antigos, v. g. Andreas e Aretas) freqüentemente interpretam os sete Espíritos como sendo seres angélicos, talvez os sete arcanjos da angelologia judaica e considerando o conceito como remontando, através da religião persa, ao culto babilônico do sol, lua e cinco planetas. Charles opina a favor desta interpretação (se bem que considere a sua presença aqui devido à interpolação), porque em Ap 3.1 os sete Espíritos de Deus parecem assemelhar-se às sete “estrelas” (que representam os anjos das igrejas). Porém, em parte nenhuma, é dito que esses Espíritos cultuem a Deus, ainda que todas as demais classes de seres angélicos sejam mencionadas como assim fazendo. A respeito de Ap 3.1, escreve Kiddle, “Quando reconhecemos que o “sete” em cada caso tem a idéia de unidade e integridade, ao invés de diversidade, de tal modo que devemos pensar dum só Espírito e de uma só Igreja, em vez dos sete Espíritos e das sete igrejas, então temos em vista uma possível solução... Os sete Espíritos e as sete estrelas desta forma significam o Espírito profético e o caráter celeste da Igreja, que o Espírito vivifica” (Revelation, Moff. Comm., pág. 87).

Jesus é a fiel testemunha (5) não só com respeito a esta revelação, mas no que diz respeito a toda a verdade de Deus. Cfr. Jo 18.37. Ele é o primogênito dos mortos (5), no sentido de ser o primeiro a ressuscitar dos mortos e, deste modo, "as primícias dos que dormem" (ver Cl 1.18 e 1Co 15.20). João, porém, pode estar citando Sl 89.27-28. Nesta passagem o “primogênito” foi interpretado, pelos judeus, como referência ao Messias, no sentido de “soberano” (até mesmo Deus era às vezes chamado “primogênito”). Se este pensamento predomina na mente de João, então Jesus aqui é chamado “soberano dos mortos”, um apto paralelo ao "príncipe dos reis da terra" (5), sendo ambos os títulos aplicáveis a Ele, em virtude de sua ressurreição.

Àquele que nos ama, e em seu sangue nos libertou dos nossos pecados, e nos constitui reino, sacerdotes para o seu Deus. Esta tradução da ARA é superior à da ARC. (A tradução “lavou” (ARC) em vez de “libertou” sente a influência de Ap 7.14). É significante a diferença no tempos dos verbos, o amor (“nos ama”) sendo constante e a redenção (“libertou”) uma vez para sempre. A bênção toda remonta ao êxodo do Egito, o vers. 6, sendo citação de Êx 19.6. Através do livramento realizado pela sua morte e ressurreição, Cristo já trouxe o seu povo do domínio do pecado e fez dele um reino que todos nós somos sacerdotes. Consideram alguns que o “reino” significa uma nação debaixo de um rei, mas, à vista de tais passagens como Ap 5.10; Ap 20.6; Ap 22.5, parece provável que aqui significa uma nação de reis.

O vers. 7 reproduz Mt 24.30, exceto que são transpostas as cláusulas seguintes: “Então aparecerá no céu o sinal do Filho do homem; e todas as tribos da terra se lamentarão, e verão o Filho do homem, vindo sobre as nuvens do céu, com poder e grande glória”. A declaração une duas escrituras do Velho Testamento. Dn 7.13 e Zc 12.10. O ponto correspondente na visão deste livro é Ap 19.11-21. Como no término do livro, assim também aqui, o profeta registra sua aprovação ardente desta promessa com as palavras “sim, Amém”.

Alfa e Ômega (8) a primeira e a última letras do alfabeto grego. É provável que a frase traduza para os leitores gregos um idiotismo hebraico pelo qual a primeira e última letras do alfabeto eram usadas para exprimir totalidade. Era dito, por exemplo, que Adão transgrediu a lei “de álefe a tau”; Abraão, pelo contrário, guardou a lei “de álefe a tau”. Neste vers. 8 o sentido é que Deus é o Senhor de toda a história, seu princípio, seu fim e todo o seu decurso. Tal afirmação é necessária para os crentes num dia quando as potestades que há se opõem à Igreja. Podemos notar que essas palavras são atribuídas a Cristo em Ap 22.13; os expositores mais antigos, às vezes, pensavam que fosse Ele quem fala aqui também, mas é patente que este conceito está errado; são palavras do “Senhor Deus” (ARA). O Todo-Poderoso, título este que João freqüentemente emprega e que os LXX de Os 12.6 e Am 9.5, traduzem "Senhor Deus dos Exércitos".

A aflição e o reino em que João e os seus leitores participam como cristãos são uma experiência e possessão presentes, como também a paciência que Jesus supre. Os três elementos nos são proporcionados por nossa união com Ele, mas o primeiro e o terceiro nos conduzem a uma apropriação mais completa do segundo, na consumação do mesmo. Comparar Jo 16.33; Rm 5.3; 2Tm 2.12. Alude-se à participação de João na aflição, quando se menciona o fato dele estar em Patmos por causa da palavra de Deus e pelo testemunho de Jesus Cristo (9); estava lá em conseqüência da sua fidelidade ao evangelho, não em exílio voluntário, a fim de receber mais revelações. Cfr. Ap 6.9. O fato que ele diz que "estava" (ou "se achava") em Patmos dará a entender que ele escreveu o livro depois de deixar a ilha?

Eu fui arrebatado em espírito (10) significa que João caiu em estado de êxtase (lit. "achei-me no Espírito", ARA) e deste modo ocasiona a visão que se segue. Ocorreu no dia do Senhor (10), não, como entendem alguns “no dia do Senhor” no sentido escatológico, como se João tivesse sido transportado para viver naquele dia, mas “no dia consagrado ao Senhor”, uma frase que se usava já no segundo século referindo-se ao domingo. O termo “o dia do Senhor”, como Deissmann tem mostrado, é provavelmente a substituição desafiadora dos cristãos ao “dia do Imperador”, que era celebrado ao menos mensalmente na Ásia Menor, se não semanalmente. Indicava originalmente o dia da elevação de Faraó ao trono do Egito, ou seu dia natalício; a idéia foi apropriada pelos imperadores romanos. Como memorial do dia da ressurreição de Cristo, e assim, da sua exaltação à soberania, o título “o dia do Senhor” é especialmente apropriado. A grande voz, como de trombeta (10) foi presumivelmente a do Filho do homem. É difícil não sentir que sete igrejas (11) foram escolhidas por causa da natureza sagrada daquele número. As sete que foram singularizadas, contudo, tiveram uma reivindicação especial para serem recipientes destas cartas, posto que elas se situavam nas estradas que uniam, em via circular, a província da Ásia. Outrossim, segundo Ramsay, estas cidades serviam de centros distribuidores dos sete distritos postais da região e desta forma seriam os melhores pontos para divulgarem as cartas às demais Igrejas na província. Os sete castiçais de ouro (12) (candeeiros, ARA), nos lembram o castiçal de ouro, com seus sete braços, ou hásteas, no santo lugar do tabernáculo e do templo (Êx 25.31; Zc 4.2). Com a destruição do templo, o castiçal foi transportado para um templo pagão em Roma. Naquilo em que os judeus falharam, as igrejas cristãs são chamadas para serem bem sucedidas, dando luz a um mundo em trevas. A frase um semelhante ao Filho do homem (13), ou “um semelhante a filho de homem” (ARA) recorda Dn 7.13; dá a entender que esta Pessoa não é apenas um homem e lembra indubitavelmente o uso deste título por nosso Senhor. (Não ocorre, porém, nas Epístolas). A descrição que se segue tira livremente de Dn 10.5-6. O significado desta presença no meio dos sete castiçais (13), isto é, das igrejas, mal requer menção. O vestido comprido usado por Cristo (13) pode ser alusão às vestes talares (ARA) do sumo sacerdote; porém, há certa dúvida de que tal associação esteja em mente aqui, pois este vestido era usado também por qualquer pessoa de alta categoria. A descrição dos cabelos brancos é reminiscência estudada de Dn 7.9, onde se descreve o “Ancião de dias”. A aplicação a Cristo dos atributos de Deus é fenômeno constante deste livro. Comparar os pés semelhantes a latão reluzente (15) com Dn 2.33-35. Swete pensa que as muitas águas (15) são o bramir do mar Egeu em torno de Patmos. 

Um quadro simbólico é dado no vers. 16, que nunca deve ser representado numa tela. As estrelas estão no poder de Cristo, a espada simboliza a sua autoridade e poder judiciais. O sol resplandecendo na sua força, relembraJz 5.31, mas também recorda a transfiguração (Mt 17.2). Para o vers. 17, comparar Dn 10.9; ver também Js 5.14; Is 6.5; Ez 1.28. Eu sou o primeiro e o último (17; também em Ap 2.8 e Ap 22.13) se diz em relação a Jeová, em Is 44.6 e Is 48.12. Seu sentido é o mesmo do vers. 8. A frase O que vivo e fui morto salienta o contraste entre a vida eterna, inerente no Filho, e a morte abjeta que Ele sofreu. Aquela vida triunfou sobre a morte, consequentemente Ele diz: vivo para todo o sempre, este último predicado é atribuído ao pai em Ap 4.9- 10 e Ap 10.6. A posse das chaves da morte e do Hades (18) foi adquirida pela Sua ressurreição e significa a conquista da morte. 

Uma divisão rudimentar do de João é fornecida no vers. 19. As coisas que tens visto constituem a visão dada naquele instante; as que são se relacionam ao estado existente nas igrejas e às cartas já preparadas para serem entregues; a frase, as que depois destas hão de acontecer refere-se às subseqüentes visões do livro. Isto não deve ser dado como prova de que tudo, sem exceção, nos caps. 4 a 22 refere-se ao tempo futuro, quando João escreveu e muito menos ao tempo do fim de todas as coisas. As sete estrelas e os sete castiçais da visão são agora interpretadas para João (20). Estes representam as igrejas, enquanto aquelas são mais equívocas. Parece estranho interpretar as sete estrelas como sendo sete "anjos", no sentido comum do termo, nem que sejam anjos da guarda; pois seria supérfluo escrever-lhes por intermédio de João (vers. #Ap 2.1) e, de qualquer forma, o conteúdo das cartas se relaciona inteiramente com as próprias igrejas. Muitos expositores, portanto, mantêm que os anjos representam alguns dos oficiais das Igrejas, quer delegados, quer administradores. Ainda que seja uma interpretação possível, é muito excepcional, na literatura apocalíptica, que os anjos simbolizem homens. Talvez seja preferível entendê-los como personificações da vida celeste, ou sobrenatural, das igrejas vistas em Cristo, de sorte que os anjos exteriorizem o caráter que as igrejas deviam realizar, do mesmo modo como os castiçais representam a vida terrestre das igrejas vista pelos homens.





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