Fé e Sabedoria — Tiago 3:13-18

SABEDORIA, FÉ, ESTUDO BIBLICO, CARTA DE TIAGO
Depois de apresentar esses argumentos impressivos, Tiago passa a uma pergunta-Quem entre vós é sábio e entendido gr. epistemon)? (13) “De acordo com Mayor, epistemon usa-se no grego clássico para indicar pessoa perita ou cientista, em oposição ao que não tem conhecimentos especiais ou adestramento” (Cent. Bibio). A pergunta faz-nos retroceder ao vers. 1. Tiago ainda está tratando daqueles que desejavam ser mostres na Igreja. Para os tais, a sabedoria deve sempre ser uma qualificação indispensável. Há uma distinção entre conhecimento e sabedoria. O sábio é aquele que tem fé, é submisso a Deus e ensinado por Ele. É possível alguém conhecer muita coisa e ter pouca sabedoria. É necessário que um mestre possua as duas coisas. Se somos ou não capazes de perceber notável diferença entre sábio e dotado de conhecimentos, isto é de pouca importância. O ponto prático que Tiago quer sublinhar é que todo aquele que se arroga uma superioridade que lhe dá direito de ensinar os outros, esse deve provar do modo prático e modestamente tal superioridade, por meio de seu bom procedimento entre seus companheiros cristãos. “A sabedoria tanto nos ensina fazer como falar” (Sêneca). A expressão condigno proceder (13) significa uma vida que manifesta verdadeira bondade.

Há, entretanto, uma sabedoria falsa ou espúria, simulada, que produz inveja e rivalidades. Onde tais sentimentos existem, não há lugar para ninguém se gloriar sobre outrem, baseado em privilégios superiores (14). Vê-se a falsidade de tal pretensão nos motejos amargos que tais pessoas proferem contra os que diferem das opiniões deles. Tal espécie de sabedoria não é dom divino, recebido nos termos de Tg 1.5-8. É terrena (cfr. “a sabedoria do mundo”, 1Co 1.20), inteiramente falha de iluminação espiritual. É natural ou animal. O grego é psychikos, termo que descrevo o homem em Adão (isto é, “natural”), em contraste com pneumatikos, “espiritual”. Daí limitar-se tal sabedoria à vida meramente física ou animal, sem relação com o divino. É demoníaca, isto é, de origem satânica, procedendo dos demônios, ou com eles se assemelhando. Sua fonte é a mesma que põe em chamas a carreira da existência humana (ver o vers. 6). “Onde há inveja e sentimento faccioso, aí há confusão” (16); gr. akatastasia, isto é, desordem, distúrbio, tumulto; daí vem, como aqui, revolução ou anarquia.

Em vivo contraste com essa falsa sabedoria está a verdadeira. Quanto à sua origem, é lá do alto (cfr. vers. 15). Sua natureza não é terrena, sensual, demoníaca; antes é sobrenatural tanto na origem como em sua natureza e suas conseqüências. Sua excelência é sétupla: pura pacífica, meiga, conciliadora, misericordiosa, de bons frutos, simples e sincera (cfr. Gl 5.22 e segs.; 2Pe 1.5-9). Tiago dirige a atenção para as características íntimas da pessoa sábia, visto como que é íntimo é de primeira importância Pura quer dizer livre de mancha ou contaminação seja qual for. Quem no seu íntimo não é moralmente puro não começou ainda a ser sábio. Pacífica, isto é, não dada a conflitos ou dissensões. Não pode haver paz real sem pureza ou retidão. Meiga, tratável, “docemente razoável”, gentil. Gentileza aí não é tanto ternura ou meiguice, como é imparcialidade, contrastando com imoderação, exorbitância. “A mansidão de Cristo” é o padrão do crente, que o leva a submeter interesses pessoais a finalidades mais elevadas. Indulgente, isto é, fácil de se persuadir; conciliatória, pronta a ser dirigida (gr. eupeithes, pronta a obedecer; donde complacente). Plena de misericórdia e de bons frutos, isto é, sempre disposta a tomar a iniciativa de mostrar compaixão e oferecer perdão; produzindo bons frutos (obras); porque uma língua governada pela graça divina pode tornar-se forte influência para o bem. Sem parcialidade, isto é, não dada a contendas ou disputas acerca de honrarias. Sem hipocrisia, isto é, sincera, sem pretender ser o que não é, dizendo só aquilo em que se possa confiar (Moff. “retilíneo, sem rodeios”). Ora, é em paz que se semeia o fruto da justiça, para os que promovem a paz (18). Quem possui sabedoria semeia a boa semente que produz justiça, retidão. Semeia em paz, porque é pacificador. “A messe da justiça é semeada em paz por aqueles que fazem a paz”.