Fé e Oração — Tiago 5:13-20

ORAÇÃO, FÉ, ESTUDO BIBLICO, CARTA DE TIAGO
Fé e Oração  (Tiago 5:13-20) Este parágrafo final da epístola contêm uma de suas notas características. Desde o princípio Tiago vem insistindo na necessidade de orar e no valor da oração. Nenhuma filosofia de oração tem para oferecer, mas ele próprio cultivava o hábito de orar. Uma tradição a seu respeito diz terem-se calejado os seus joelhos, ficando como os de camelo, devido ao hábito constante de orar. Por conseguinte, seu conselho aos que sofrem é que orem, pois daí vem auxílio e conforto. Quanto aos que sentem alegria, aconselha-lhes que cantem louvores. A palavra alegre é no grego euthymeo (formada de eu, “bem”, e thymos, “alma”), que significa forte sentimento, seja de emoção ou paixão. Se alguém se sente assim, lembre-se de Deus em sua alegria e cante louvores. Oração e louvor devem ser os centros ao redor dos quais a vida se movimente.

Nos vers. 14-15 o apóstolo trata da função da oração ao lado do leito dos enfermos; estes versos têm dado lugar a muita controvérsia. A orientação que Tiago apresenta é importante, visto sua relação com a vida da Igreja Cristã. Entre os seus membros deve haver a amizade mais íntima possível e simpatia. Os presbíteros devem estar prontos para em todo o tempo servir a qualquer membro da igreja com oração, simpatia e conselho espiritual. Devem ser homens que possam elevar a Deus oração de fé, e que atendam chamados para visitar doentes e aflitos. Vem declarado como devem os presbíteros proceder na presença de enfermos. Devem orar sobre estes, ungindo-os com óleo em nome do Senhor (14). Aqui não há lugar algum para o rito romanista da extrema unção, o qual é administrado apenas aos moribundos. Os doze apóstolos, ao serem enviados, “curavam numerosos enfermos, ungindo-os com óleo” (Mc 6.13). Parece ser este o outro único exemplo, no Novo Testamento, do emprego desse método. O óleo em si podia ter qualidades terapêuticas, e Deus podia abençoar os meios empregados com relação aos enfermos. Todavia Tiago diz que a oração da fé salvará o enfermo, e o Senhor o levantará. Nada indica que Tiago proibisse o uso de meios. O fato de Deus poder curar e algumas vezes cura mesmo sem o emprego de meios, não nos deve levar a pensar que recorrer à medicina é desonrá-Lo. O descrente usa a medicina sem oração; o crente pode usar a oração com a medicina, contudo ambos, afinal, dependerão de Deus. Se houver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados (15). A causa fundamental das enfermidades e sofrimentos é o pecado; Tiago aí parece sugerir que a doença faz parte do castigo divino pelos pecados cometidos. O fato de serem chamados os anciãos (gr. presbyteroi), os quais, sendo despertados e aparelhados pelo Espírito Santo, tendo eles, conforme o indica o nome, maturidade espiritual, eram designados a exercer cuidado espiritual e a supervisão da Igreja ao lado dos bispos ou supervisores (gr. episkopoi), implicaria em Si mesmo, até certo ponto, um reconhecimento de fracasso.

Cf. Livro de Ezequiel
Cf. O Significado da Inspiração Divina
Cf. Origens do Evangelho de Mateus
Cf. Inspiração do Novo Testamento

Passa agora Tiago ao assunto das orações de uns pelos outros. Confessai, pois, os vossos pecados uns aos outros, e orai uns pelos outros, para serdes curados (16). Nenhuma justificativa há aqui da prática viciosa da confissão auricular. A orientação aí se refere ao que foi dito antes. Quando os anciãos ungiam o doente, este provavelmente animava-se a confessar suas faltas a Deus em oração, a fim de que os circunstantes tivessem certeza do seu arrependimento, ou, talvez, para que tivessem alguma explicação das causas que deram lugar à enfermidade. Ou ainda, Tiago pode referir-se a pecados que têm ofendido ambas as partes e não a pecados que não têm relação com a vida de outrem. Neste caso a confissão seria o meio de procurar perdão mútuo, no espírito da recomendação de nosso Senhor em Mt 5.23-24. Confissão indiscriminada não é coisa que se deva fomentar: é tal como semear germes de doença no espírito e na vida dos outros. A maior coisa que podemos fazer pelo próximo está declarada nas palavras, orai uns pelos outros (16). “O escritor insiste no hábito da oração intercessória, para que, quando vier a doença, a cura se realize mais rapidamente, na ausência de impedimentos espirituais ao exercício dos poderes sobrenaturais, agindo por meios naturais” (Cam. Bible).

Ilustrando a oração eficaz, Tiago se volta para o Velho Testamento. Lembra a seus leitores que Elias era homem semelhante a nós, sujeito aos mesmos sentimentos (17), e no entanto orou fervorosamente, primeiro para que não chovesse, e depois para que chovesse, sendo respondidas as duas orações (1Rs 17-18). Elias soube usar o instrumento poderoso da oração eficaz. Pela oração ele se tornou o que foi, e exerceu o poder que manifestou. Muito pode, por sua eficácia, a súplica do justo (16); “a súplica do justo pode muito em seus efeitos”, isto é, opera com tanta eficácia que dá lugar a grandes e benditos resultados. O homem que ora deve ser justo, isto é, deve estar em relações justas com Deus e o próximo. As palavras fervorosa e eficaz empregam-se para traduzir o vocábulo grego energoumene. Energeo significa operar com eficácia, e aqui nenhuma referência tem à energia da oração. Para o justo a oração é dinâmica: é proveitosa, induz e persuade.

A epístola termina abruptamente, não com uma palavra de despedida, mas com uma exortação. Se algum entre vós se desviar da verdade (19), isto é, da fé e obediência à verdade, é dever e privilégio do cristão procurar restaurá-lo. Quem o fizer, compreenda que aquele que converte o pecador do seu caminho errado, salvará da morte a alma dele, e cobrirá multidão de pecados (20). Embora não especifique a maneira de realizar isso, todo o contexto dá a entender que o método particular, na mente do escritor, de restaurar o pecador é o da oração. Pela oração restaura-se o que erra, as almas se salvam da morte e se purificam do pecado. Quem se desvia de Cristo está em perigo de morte. Tiago queria que tais pessoas fossem trazidas de volta ao verdadeiro convívio de Cristo e à experiência do Seu perdão. “Aquele que recupera o que se extraviou da verdade, recupera a alma tanto quanto a pessoa, e cobre com o véu do amor uma multidão de pecados” (Williams, Students’ Commentary). A fé operosa evidencia-se, não somente por uma vida devotada ao Senhor, como também se interessando pelo bem dos outros, particularmente pelos irmãos em Cristo.