Corinto — Viagens Missionárias de Paulo

Corinto — Viagens Missionárias de Paulo
Corinto — Viagens Missionárias de Paulo

Das viagens missionárias, partindo de Atenas, Paulo foi para Corinto, uma cidade de caráter totalmente diferente. Saqueada e incendiada pelos romanos em 146 a.C., fora reconstruída por Júlio César em 46 a.C., transformando-se na capital política da Acaia, que era uma província senatorial. Corinto era a residência do governante proconsular, como lemos em Atos 18:12.

Situada no istmo que ligava o Peloponeso ao continente, entre o Golfo de Lequeu a ocidente e o Egeu a leste, Corinto transformou-se num centro comercial. Em vez de contornar o Cabo Malea no extremo sul do Peloponeso, onde a navegação era perigosa, muitos pilotos preferiam proceder ao transbordo das suas cargas em Corinto e enviá-las para ocidente, de Lequeu para os portos(2) Para uma descrição do epicurismo e do estoicismo, ver págs. 105-107. do Adriático na Itália. Corinto, com os seus dois portos de mar, Lequeu no poente e Cencreia a nascente, beneficiava de um monopólio comercial e depressa enriqueceu.

Do ponto de vista governativo, era uma colônia romana como Filipos. A sua população era cosmopolita. Os habitantes tinham sido mortos ou dispersos quando a cidade foi destruída pela primeira vez e, quando foi reconstruída, novos elementos fixaram ali residência. Surgiram judeus para traficar; havia romanos ali em missões oficiais ou descendentes dos colonos primitivos. À cidade afluíam gregos vindos dos campos, e o comércio arrastou para Corinto a miscelânea usual de marinheiros, comerciantes, banqueiros e povos de todos os recantos do mundo mediterrâneo.

Este enriquecimento rápido deu origem a uma falsa cultura. Corinto era uma cidade próspera que procurava o luxo, o aparato, a sensualidade e o desporto. Moralmente, os coríntios eram considerados inferiores, mesmo à luz dos padrões elásticos do paganismo. No palco romano, eram geralmente representados como ébrios. “Viver como os corintos” era um eufemismo que designava uma vida das mais ignóbeis. Houve uma altura em que o templo de Afrodite em Corinto alojava mil sacerdotisas que eram prostitutas profissionais, e o fluxo e refluxo das viagens e do comércio traziam à cidade uma população flutuante que incluía a escumalha do Mediterrâneo. Em Corinto roçavam ombros a riqueza e a miséria, a beleza e a desgraça, a cultura e a pobreza.

Uma vez que Paulo não passou muito tempo em Atenas, é lícito supor que a sua chegada a Corinto se verificasse no outono do mesmo ano em que saiu da Macedônia. A administração de Gálio, perante o qual foi julgado, começou provavelmente com o início do ano proconsular em julho de 52 d.C. A estada total de Paulo em Corinto foi de ano e meio (18:11). Mas quanto desse tempo precedeu o seu julgamento e quanto se lhe seguiu é incerto. Lucas diz que, depois de Gálio ter encerrado o caso, o apóstolo permaneceu na cidade durante muitos dias (18:18). Talvez a cronologia mais aceitável seja a que o traz a Corinto no outuno de 51 d.C., situando a sua partida da cidade no começo da primavera de 53 d.C.

Como já se disse, a zombaria com que a sua mensagem fora acolhida em Atenas fez com que o apostolo entrasse em Corinto num estado de grande depressão de espírito. Os seus colegas não tinham voltado da Macedônia, e o dinheiro estava provavelmente a acabar. Quando chegou a Corinto, recorreu ao seu velho ofício de fazer tendas, tornando-se empregado de Áquila e Priscila, que haviam sido expulsos de Roma pelo édito de Cláudio. Não se sabe se eram conversos cristãos antes de chegarem a Corinto, ou se se converteram devido ao contacto com Paulo. Seja como for, foi junto destas pessoas que Paulo encontrou abrigo, emprego e comunhão.

Dentro de pouco tempo, Silas e Timóteo voltaram da Macedônia trazendo notícia do crescimento das igrejas. Nesta altura, é possível que tenha vindo também a contribuição para o sustento de Paulo, da qual ele falou na carta aos Filipenses:

“... quando parti da Macedônia, nenhuma igreja comunicou comigo com respeito a dar e a receber senão vós semente, porque também uma e outra vez me mandaste o necessário para Tessalônica” (Fp 4:15,16).

Este trecho implica que as igrejas da Macedônia começaram a ser mais generosas depois dele haver partido. Encorajado pelas boas notícias e pelo apoio da Macedônia, a sua pregação tornou-se mais vigorosa e mais definida quanto ao fato de ser Jesus o Messias (18:5). A reação na sinagoga foi tal que Paulo se retirou, afirmando que os deixaria entregues à sua descrença e iria para os gentios. Assim, saindo da sinagoga, transferiu o seu quartel general para o lar de um prosélito, Tito Justo, que vivia ali perto. O dirigente da sinagoga creu, bem como muitos dos coríntios, que foram batizados.

O ministério de Paulo em Corinto nesta altura parece ter decorrido debaixo de uma tensão considerável. Reorganizava ele então a sua tática missionária, pois em 1 aos Coríntios diz ele que, “quando fui ter convosco anunciando-vos o testemunho de Deus, não fui com sublimidade de palavras ou de sabedoria” (1 Co 2:1). Não se lembrava exatamente de quantas pessoas teria batizado (1 Co 1:16). Os dezoito meses de trabalho de pioneiro naquela cidade corrupta e idólatra devem ter exigido dele grande desgaste de energias físicas e nervosas. É possível que o seu regresso da Acaia à Palestina fosse motivado por doença, se bem que Lucas nada diga a este respeito.

Acompanhado por Áquila e Priscila, Paulo saiu de Corinto rumo ao Oriente. Em caminho, detiveram-se em Éfeso, onde Áquila e Priscila estabeleceram o seu novo quartel general e deram início ao seu ministério. Paulo pregou na sinagoga, mas apenas durante pouco tempo, pois estava desejoso de chegar rapidamente à Palestina.

Não há quaisquer pormenores com respeito à sua viagem; apenas se menciona a chegada do apóstolo ao seu destino. Desembarcou em Cesareia, saudou “a igreja” (18:22), se de Cesareia, se de Jerusalém não o sabemos, e depois prosseguiu para Antioquia, a sua última visita à igreja por cuja incumbência partira. Provavelmente na fase oriental da viagem gastou a maior parte do verão, de forma que, no outono de 53 d.C., se encontrava novamente a caminho do Ocidente (18:22,23).

O fim do verão e começo do outono podem ter sido gastos na viagem pela Galácia e pela Frigia. A perturbação nas igrejas da Galácia, que começou na altura da Assembléia (48 ou 49 d.C.), talvez não tivesse serenado ainda por completo, de forma que Paulo teve de “estabelecer” os discípulos. Antes do inverno ter chegado, Paulo encontrava-se de novo em Éfeso, onde deu início à sua missão na Ásia, o ministério mais longo e talvez mais agitado na sua experiência.