Hebraico Bíblico — Estados Verbais

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(Enciclopédia Bíblica Online)
Em português, os verbos são considerados especialmente do ponto de vista do tempo: passado, presente, futuro. No hebraico, porém, a coisa mais importante é a condição da ação, em vez de o tempo envolvido. A ação é considerada ou concluída (completa) ou não concluída (incompleta).

Quando o verbo retrata uma ação concluída (completa), então está no perfeito. Por exemplo, Gênesis 1:1 diz: “No princípio Deus criou os céus e a terra.” A ação foi concluída; Deus “criou”, isto é, terminou a criação dos céus e da terra.

Quando a ação é considerada como não concluída (incompleta), então o verbo está no imperfeito. Isto pode ser ilustrado com Êxodo 15:1: “Moisés e os filhos de Israel passaram a cantar.” Vemos aqui que a ação, embora começada (“passaram” a cantar), não tinha sido terminada e assim era “imperfeita”, inacabada.

Naturalmente, visto que o perfeito, no hebraico, já pelo seu próprio caráter representa uma ação como concluída (completa), ele pertence de modo mais natural ao pretérito. Portanto, katháv (verbo ativo no perfeito) significa, basicamente, “(ele) escreveu”, “escreveram”, e é frequentemente traduzido assim. (2Rs 17:37; 2Cr 30:1; 32:17; Esd 4:7; Est 8:5) A idéia de ação concluída (completa) no passado pode também ser observada na tradução “foi(ram) escrito(s)”, “escreveu” e “escrevera”. (2Cr 26:22; Est 9:23; Jó 31:35; Je 36:27). “Tem de escrever” também é usado para traduzir este verbo no perfeito, e mostra a certeza de se executar a ação. (Núm 5:23; De 17:18) Esta versão subentende corretamente ação concluída (completa), mas não no passado. De modo que o verbo ativo em si não necessariamente transmite um conceito de tempo. O perfeito pode descrever uma ação concluída (completa) em qualquer tempo: passado (pretérito), presente ou futuro; em contraste, o imperfeito, embora também possa mostrar ação em qualquer tempo, sempre a considera como não concluída (incompleta).

Portanto, embora os antigos hebreus obviamente podiam compreender a idéia do tempo, este ocupa na sua língua uma posição secundária. The Essentials of Biblical Hebrew (Os Elementos Básicos do Hebraico Bíblico), de K. Yates, declara:

“O tempo, conforme entendido na maioria das línguas modernas, não é a mesma coisa que o é para a mente semítica. O discernimento do tempo da ação não é de importância vital para o padrão hebreu de idéias. É necessário para o pensador indo-germânico apenas para enquadrar a ação em sua avaliação exagerada do tempo. Para o semita bastava, em geral, o entendimento da condição da ação quanto a se era concluída ou não concluída (completa ou incompleta), e caso isso não bastasse, havia alguma palavra de significado temporal ou histórico que enfocava o tempo.” (Revisado por J. Owens, 1954, p. 129)

Se o hebraico, conforme a Bíblia indica, foi a língua original usada no Éden, esta falta de ênfase ao tempo do verbo pode refletir o ponto de vista do homem na sua perfeição, quando Adão tinha a perspectiva de ter vida eterna e quando a vida ainda não havia ficado reduzida a uns meros 70 ou 80 anos. Yahweh supriu o hebraico como meio perfeitamente satisfatório de comunicação entre Deus e os homens, bem como entre os humanos. Para a tradução em português, o tempo do verbo é determinado pelo contexto. O contexto indica se a ação narrada é considerada como já ocorrida, como ocorrendo no momento ou como a ocorrer ainda no futuro.