Evangelho de João — Data e Local

Data e Local do Evangelho de João

Quem confia plenamente na tradição da igreja antiga, vai aceitar a Ásia Menor, mais exatamente Éfeso, como local em que João escreveu esse evangelho. Quem tem uma posição crítica em relação a essa tradição, vai incluir outros fatores na reflexão, como a proximidade linguística com as Odes de Salomão e, sobretudo, com o ambiente linguístico semítico. Com base nessas observações, W. G. Kümmel chega à conjetura de que o evangelho tenha sido escrito na Síria.

Na segunda metade do nosso século os intérpretes do NT estão bastante unidos em torno da posição de que o quarto evangelho tenha sido escrito com muita probabilidade no final do primeiro século, provavelmente entre os anos 90 e 100. Nem sempre foi assim. No século passado houve uma disputa ferrenha entre conservadores e liberais sobre esse assunto.

Um defensor extremo da posição crítica radical sobre a data de João foi F. C. Baur. Ele considerava o quarto evangelho um escrito surgido em torno de 170 d.C., com certeza não antes de 160 d.C. Para chegar a essa conclusão, ele se baseou nas concordâncias linguísticas e de conteúdo entre esse evangelho e o gnosticismo, cuja influência sobre a igreja antiga alcançara o seu ápice na segunda metade do século II. F. C. Baur entendia que o quarto evangelho era uma tentativa de manter a união da igreja ameaçada de cisão, ao usar a linguagem do gnosticismo, dando, no entanto, uma interpretação antignóstica à sua mensagem. Ele também achava que o evangelho era muito apropriado para afirmar aqueles elementos do movimento espiritualizante dos Montanistas que considerava importantes para toda a igreja. Com essa posição quanto à data, F. C. Baur evidentemente supunha que o quarto evangelho não era obra de um apóstolo. Por isso colheu oposição veemente de teólogos conservadores.

A disputa entre os teólogos ficou pendente até que C. H. Roberts publicou o Papiro Rylands (p52) em 1935. Trata-se de um fragmento de um manuscrito de papiro que na frente tem escrito João 18.31-33 e no verso João 18.37-38. Não há dúvidas de que esse manuscrito foi escrito em torno 125 d.C. Foi achado no Egito. Isso significa que no início do século II o evangelho de João já era conhecido no Egito. Por isso evidentemente já fora escrito antes do fim do primeiro século. Desde essa descoberta isso é convicção comum e aceita pelos intérpretes do NT.

Mas em que parte do primeiro século d.C. o quarto evangelho foi escrito? Alguns estudiosos argumentam a favor dos anos 90, pois creem que o autor já conhecia e fez uso do evangelho de Lucas, que, segundo a convicção de muitos autores do NT, foi escrito entre 80 e 90 d.C.

Entretanto, a dependência literária de João em relação a Lucas é improvável. A concordância no conteúdo em passagens isoladas pode ser explicada pelo uso da mesma tradição que serviu de base para os dois evangelhos. Para aqueles que dão outra data para Lucas essa argumentação não serve.

J. A. T. Robinson escolheu um caminho totalmente diferente.40 Ele chama a atenção para o fato de que no evangelho de João, se comparado com os sinópticos, a destruição de Jerusalém não é anunciada de nenhuma maneira. O evangelho omite um tema que aparece em todos os escritos judaicos ou cristãos que podem ser datados com segurança entre 70 e 100 d.C. Levando em conta o conteúdo do quarto evangelho, a observação sobre a destruição de Jerusalém não poderia ter faltado. Robinson não se limita, no entanto, ao argumento do silêncio, que por si só seria insuficiente. Ele o complementa com duas observações sobre o texto.

De acordo com João 2.20 o templo de Herodes está em construção há 46 anos. Isso corresponde à época em que Jesus pregou. O evangelista cita esse dado sem comentá-lo, o que em outras passagens ele faz sem restrições. De acordo com João 5.2 o tanque Betesda “tem” cinco pavilhões. Ele não diz “tinha”. Em outras palavras, os pavilhões ainda estão em pé quando ele escreve. Com base nessas observações Robinson conclui que o quarto evangelho foi escrito nos anos 50 na sua composição básica. Na metade dos anos 60 teria recebido a sua forma definitiva.

Até hoje essa datação rara não foi aceita entre os estudiosos alemães. A sua fundamentação, no entanto, exige que a data exata dentro do primeiro século seja mantida em aberto. A datação mais antiga não pode ser excluída.